Capitulo 1 - A pousada
Terminava de arrumar a mala jogando as roupas de forma aleatória, sem o menor cuidado na escolha e na organização, pouco importava na verdade, só queria fugir do vazio que ocupava cada fibra do meu ser, há dias fazia tudo no automático, causando um desgaste imensurável, por sorte meu nível de esgotamento acabou impulsionando a fazer algo por mim. Resolvi viajar...
Parei um instante, prendi os cabelos, que seriam castanhos bem claros, se não os pintasse de preto para evidenciar os olhos verdes, suspirei alto, com a nítida impressão que andava em círculos pelo apartamento inteiro tentando dar cabo a sensação que estava esquecendo de algo, ao mesmo tempo que recolhia tudo o que julgava ser necessário para uma semana na praia, minha mãe sempre fala que o mar lava todas as dores, o meu lado esperançoso queria acreditar nisso, mas, o descrente gritava que já havia marcado uma psicóloga para semana seguinte.
Atrás de mim vinha Lucélia, ela me acompanhava estalando os dedos da mão direita para em seguida passar uma mão na outra, girando os pulsos, característica que reparo desde o primeiro dia de aula no Ensino Médio, quando a Professora de Inglês pediu para ler um texto, o gesto peculiar não mudou nos bancos da faculdade, e perdurava até os dias atuais. Somos uma espécie de “amigas gêmeas”, dividindo a vida e o escritório de contabilidade.
Olhei de rabo de olho para observar Lu, de forma discreta, sem ser invasiva, percebi que ela havia parado no meio do caminho, e junto as mãos girantes balançava um dos pés, sinal que seu stress estava absoluto. Não disse nada, apenas sorri, para depois continuar minha busca, o que será que estou esquecendo? perguntei mil vezes sem resposta.
Dei mais uma volta pelo apartamento e bati palmas ao ver o meu Kindle largado no sofá, enquanto Clara, minha gatinha, terminava de destruir a capa afofando suas unhas, era isso, precisava fremente dos meus livros, afaguei a cabeça da minha pequena terrorista de pelagem branca, que girou o corpo gostando do carinho.
- Ah Clarinha, se você não fosse tão terrível te levava. Você promete que cuida da minha menina, Lu? – Falei enquanto esboçava um sorriso.
- Você sabe que sim, por isso cheguei mais cedo para te ajudar arrumar tudo, inclusive cuidar da sua gata pistola, mas e você? estou tão preocupada contigo, amiga.
Pousei meus olhos nos dela, observando o caminho da pequena lágrima que desceu dos seus olhos azuis em seu rosto, prontamente enxugada com a palma de sua mão, tinha certeza absoluta de sua preocupação e amizade, mas, estava cansada demais para conversar sobre qualquer coisa, inclusive sobre o término do meu namoro, um assunto recorrente na roda das meninas, embora mudassem de assunto com minha chegada, eu olhava a cena e sentia o lamento, os olhares de dó entregavam todas, muito mais do que qualquer palavra não dita.
- Tem certeza que não quer que eu vá?
- Obrigada, estou precisando ficar sozinha nesse momento, me ajuda muito cuidando da minha Clarinha.
- Vou respeitar sua decisão, mas, promete que se precisar, se sentir qualquer coisa, nem que seja a mínima vontade de chorar, vai tirar esse orgulho do bolso e me ligar?
- Não é orgulho, preciso mesmo desse tempo, principalmente do mar e do silêncio para me encontrar. – Falei fechando a mala, para caminhar em direção ao elevador, já com a chave do carro na mão, ao mesmo tempo que arrastava a mala lilás com sereias rosas em toda sua extensão, que claro foi um presente da minha mãe. Lu começou uma frase, mas, a engoliu no meio do caminho, soltando outra de um fôlego só.
- Tudo bem, só me resta desejar boa viagem, já que encontrou o que tanto procurava, embora praticamente destruído por Clara.
- Não tem importância, uma capa não é nada!
Em seguida dei um forte abraço em minha amiga, um beijo estalado em seu rosto, acarinhei Clara, e apressei os últimos passos, pegando o elevador antes que as lágrimas que não desceram nos últimos três meses resolvessem dar as caras.
A estrada para a Praia dos amores parecia infinita, as três horas pareciam se multiplicar tamanha a ansiedade de chegar, no fundo acreditava que o mar curaria minha tristeza. Respirei aliviada quando avistei a placa da cidade, desliguei Penny Lane dos Beatles que começava a tocar, tentando lembrar o caminho para a pousada.
- Que falta de sorte – Falei batendo de leve na direção – a mesma música da última vez que vim com... bem, com aquela que segundo as amigas deve cair no esquecimento. Virei os olhos lembrando que também ficamos na mesma pousada, logo depois pensei, quer saber? vou ressignificar o lugar e a música, sorri deixando Penny Lane rolar solta.
Desci do carro para admirar a fachada da Pousada Vida Inteira, o lugar era lindo. De longe avistei a dona, não lembrava seu nome, mas, os cabelos loiros eram inesquecíveis e agitavam-se com o vento.
- Boa tarde, tenho uma reserva para a semana, no nome de Nina Corte Real.
Ela veio sorrindo em minha direção.
- Seja bem vinda, seu quarto está pronto.
Fim do capítulo
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Simone Bradley
Em: 23/08/2022
Ela deu um nome falso na entrada?
Resposta do autor:
Deu sim, vai fazer sentido depois kkkkkk
Rosa Maria
Em: 22/08/2022
Olá Gabriella...
Já gostei do primeiro capítulo, muito curiosa por esse coração partido e por e pelas surpressas, dessa pousada...
Beijo
Rosa Maria
PS vou favoritar a história e você, posso?
Resposta do autor:
Claro Rosa,
A vontade, beijos e que bom que gostou.
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Nirvana Aquino
Em: 15/08/2022
Continua Gaby,
Gostei viu? bj
Resposta do autor:
vou continuar, obg bj
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brinamiranda
Em: 15/08/2022
Gostei amiga, continue!!, e avisa lá na minha história que está escrevendo esse conto, as meninas vão amar saber. bjs
Resposta do autor:
bom dia amiga, vindo de você é um alento kkkk bjs
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