Segurem-se de onde estão, porque hoje o negócio pega fogo por aqui.
14. Coração e alma
Ana Clara olhou para o reflexo no espelho. Olheiras evidentes, o cabelo fora de corte ao qual necessitava uma hidratação, pelos corporais aparentes, um novo sinal em seu braço. Se sentia tudo, menos atraente aos olhos de alguém.
Procurou disfarçar a falta de estima na roupa em que usaria: uma bermuda curta de tecido solto que ia até o meio de suas coxas, uma camiseta branca de bordas pretas e estampa praiana típica de lojas de departamento, seu tênis de cano médio preferido de um preto já desbotado e meias coloridas. Passou perfume nos pulsos, no pescoço e entre os cotovelos, escovou os dentes e depois de se olhar mais uma vez, jogou o cabelo para trás. Só assim se sentiu melhor.
Júlia estava sentada no quintal, se balançando na cadeira com o costumeiro olhar de poucos amigos. Dona Graça, a dona da casa, conversava com ela sobre algum acontecido na cidade enquanto ouvia a rádio local tocar alguma música hit do momento, via Ana Clara ir para a sala distraída, sem nem mesmo que Coralina reparava no jeito formoso que transbordava de Ana Clara enquanto fazia o trabalho de conclusão de semestre sozinha.
Só um idiota, segundo Cora, não perceberia a relação entre a possível saída de sua colega de quarto com a desculpa de sua amiga de que não poderia comparecer na sua casa para ajudar com o trabalho, mas que iria no próximo dia. Na verdade tudo estava evidente demais, e só não tinha tido uma conversa com ela sobre porque, quanto mais pensava, menos sabia em como faria isso.
— Eu vou dar uma volta, Cora – Ana Clara disse abrindo a porta, dez minutos antes da hora marcada – até mais tarde.
Júlia a seguiu com o olhar sem dizer nada. Desde a discussão, não tinham trocado uma palavra, mas não por pirraça, e sim porque Júlia estava absorta em seus próprios pensamentos desde que tinha analisado seu caderno. Formava as possibilidades, chegava em algumas conclusões, mas não chegava a lugar nenhum. Talvez chegasse quando conversasse com ela sobre, porém precisava amadurecer a ideia. Estava andando em um campo minado.
Só que a introspecção dela não passou despercebida por Coralina, que fitava o olhar em Júlia, que só saia do seu transe para piscar algumas vezes e concordar com que sua mãe dizia para assim voltar para a pose em que estava. Júlia vivia em um mundo à parte na maioria das vezes, e Cora tinha certeza que ela devia estar planejando alguma coisa e que tinha sido deixada de fora. Aquilo causou uma pontada de incômodo, mas viu que ela tinha que seguir com sua rotina. Se as coisas piorassem, aí sim interveria.
Em um ponto não tão longe dali, Laura usava seu vestido florido preferido e balançava os pés descalços fora do sofá, assistindo a alguma programação vespertina quando ouviu alguém bateu no portão. Sentiu seu coração disparar, e se levantou para ver que Ana Clara a esperava do outro lado, com as bochechas levemente coradas embaixo daquele boné gasto e o cabelo esvoaçando pelo vento que batia.
Abriu o portão, e se cumprimentaram com um olá tímido. Seus pais tinham saíram e levaram suas irmãs em uma ida para a cidade próxima, e seu irmão tomava conta dos negócios. Faziam isso pelo menos uma vez na semana, e era a oportunidade perfeita para ter um momento a sós com Ana Clara se tudo desse certo. Ofereceu água para ela, que dessa vez aceitou, terminando o líquido em poucos goles. Limpou o rosto úmido e sentiu uma leve vergonha ao perceber que estavam realmente a sós, assim como da vez que foi embora abruptamente.
— E aí, tem ouvido alguma coisa nova? – Ana Clara perguntou, se encostando na mesa da cozinha.
— Ah, algumas – ela respondeu batendo os dedos levemente contra a mesa ao seu lado – quer ver?
Ana Clara concordou e foram em direção ao quarto, em passos tímidos. Estava do mesmo jeito da última vez, com exceção das roupas de cama trocada e um ou outro item fora do lugar. Ela ligou o aparelho de som, pegou a caixa de fitas e começou a mexer, até que Ana Clara teve uma ideia.
— Por que você não me mostra a sua preferida?
Já Laura, surpresa com a proposta, colocou a caixa no lugar em que estava anteriormente e foi até o som, pegando um case solitário em cima deste.
— Com certeza essa daqui – disse abrindo a caixa de acrílico já gasta – posso colocar mesmo? – e Ana Clara concordou de imediato.
Iniciou uma música estranhamente familiar, talvez tivesse ouvido ela em algum momento desde que chegaram, mas não tinha certeza. Laura sentou ao seu lado, e Ana Clara encostou sua mão na dela, que sorriu consigo. No entanto, assim que acabou a primeira música, uma outra melodiosa começou em seguida, o que fez Ana Clara cerrar as sobrancelhas e Laura rir.
— O que foi? Não gostou? – ela perguntou a Ana, que fez uma careta.
— Me deu foi vontade de chorar essa...
— Então vou passar paras as da Cyndi Lauper – Laura se levantou de prontidão. Ana Clara sabia bem que ela adorava a artista, que se duvidar, era a sua preferida – Tem uma do álbum novo dela que não sei se você já ouviu, vou colocar aqui...pronto.
A música já era mais lenta, e Ana Clara percebeu que aquela música realmente mexia com a ouvinte ao seu lado, que fez uma cara satisfeita quando ela começou a cantar.
— Qual o nome dessa?
— "True Colors" – respondeu Laura em um inglês parco, voltando a se sentar na cama. Ana Clara prestava atenção na letra o tanto que conseguia da caixa de som que chiava vez ou outra. Tinha gostado da música, era exatamente o tipo de coisa que sua companhia gostava de ouvir.
Só que a aproximação tinha ficado demais. Laura praticamente estava em cima de Ana Clara, que sorria de forma sugestiva. Queria dizer que entendia o significado da música, mas não podia dizer como sabia disso.
Laura, por outro lado, podia sentir o ar sair da boca de Ana Clara, as sutis rachaduras de seus lábios, o cheiro característico dela e um perfume que nunca tinha sentido antes... Deslizou as mãos contra a delas, e encontrou o seu rosto, ficando a centímetros do dela. Suas pernas encontravam a dela, encaixando-se, e a música dando continuidade ao fundo.
— Ana... – as palavras dela eram um sussurro etéreo, segurando o rosto dela com a ponta dos dedos – Não foi um sonho.
E a beijou. Não como a primeira e única vez que tinham o feito, mas sim com urgência. Ana Clara a agarrou com firmeza e deu continuidade ao beijo, entrelaçando os dedos contra o seu cabelo, trazendo-a para si. Laura ofegava diante tudo aquilo sem saber o que fazer além de se permitir sentir aquilo. Queria mais do que podia admitir, isso ela sabia, mas não sabia o tanto que a queria.
Suas mãos procuravam uma a outra, e Ana Clara quando percebeu, já estava com as mãos em sua coxa, levantando lentamente o vestido. Laura sequer notava o que acontecia, beijando-a com mais avidez, ofegante entre o beijo, os olhos fechados sem pensar em se abrir porque assim tinha o risco de deixar toda aquela sensação se esvair. Os lábios de Ana Clara que desciam por seu pescoço e pressionavam sua pele, o calor se intensificando...
Aquilo estava indo rápido demais.
— Ana... – Laura murmurou consigo, sem saber se queria aquilo ou não, mas sequer teve tempo para pensar já que ela voltou a beijá-la com afinco, e Laura sentiu seu corpo se arrepiar, e suas pernas instantaneamente se contraírem uma com a outra.
Segurou a pele da garota que proporcionava isso a ela com as unhas, e as arrastou lentamente, deixando escapar um gemid* contido de prazer. Aproveitou desse breve lapso para segurar os ombros de Ana Clara, chamando sua atenção, o que a fez logo recuar.
— Me desculpe, de verdade – ela dizia com a sinceridade resplandecente dos seus atos – eu pensei que estivesse a fim.
— Eu estou, quer dizer... – ela dizia com o rosto tomado pelo rubor da timidez ao quase dizer que queria muito aquilo – é que eu não sei bem como faz essas coisas...e pra irmos logo...
Ana Clara pensou em formular uma pergunta, mas ao ver que ela tinha dado com os ombros, viu que, qualquer que fosse a resposta, seria óbvia. Ela franziu as sobrancelhas, e balançou a cabeça em negativa, deitando ao seu lado.
— Então deixa isso pra lá – Ana Clara abriu os braços – só fique aqui comigo.
Laura se deleitou no abraço apertado de Ana Clara, que cheirava a banho recém-tomado e ao calor da pele em um dia de sol. Aconchegante como deveria ser, assim como a música que tocava de fundo.
— Nossa, eu amo essa música... – ela fechou os olhos, e se aninhou ao lado de Ana Clara, já íntima e sem se importar que há pouco tempo atrás, jamais pensaria em estar assim com alguém, sobretudo com a forasteira de lugar algum.
— "Time After Time", não é? – Laura ouviu o sussurro de Ana Clara próximo a ela. Lembrou de ter ouvido a música em sua companhia quando estava mostrando alguns artistas que gostava, e tudo que ela falava, Ana Clara notava, principalmente quando se dizia respeito a coisas que ela gostava.
Laura sentiu um calor em seu peito ao ver que ela sabia, e apoiou suas mãos contra Ana, sentindo sua respiração ir e voltar, e as mãos de sua amante acariciando seu cabelo.
— Só tem um problema agora... – Ana Clara dizia em um tom divertido, se virando para sua companhia, que a olhou curiosa. Segurou suas mãos contra seu peito, e olhou em seus olhos – toda vez que eu ouvir agora, vou lembrar de ti, e agora?
Laura riu timidamente, mostrando os dentes, coisa que quase não fazia por vergonha, e negou com a cabeça.
— Agora é o momento em que eu te beijo, pode ser? – disse Laura, já se sentindo bem mais à vontade para falar as coisas que passavam por sua cabeça, e Ana Clara concordou com um sorriso de canto enquanto os lábios urgentes dela encontravam os seus.
A tarde se seguiu em conversas aleatórias, profundas como costumavam ser, mas dessa vez, era repleta de beijos, dos tímidos aos mais incitantes, de abraços a sussurros, do roçar de dedos um contra os outros, contra os rostos, minutos de silêncio a momentos de risada, até que o despertador tocou ao lado da cama. Faltava menos de uma hora para que chegassem, e ela não podia correr riscos. O tempo tinha passado voando, e nem mesmo tinha reparado que a música tinha parado de tocar.
— Tenho mesmo que ir? – a voz de Ana Clara ressoava magoada enquanto continuava abraçada a Laura.
— Não faz isso comigo – a voz de Laura soava tão ressentida quanto – por mim, você não vai embora nunca.
Ana Clara sabia que ela tinha dito aquilo em uma só intenção, mas a recebeu em outras. Sentiu seu coração apertar, não queria lembrar das outras coisas. Se levantou e foi para a sala colocar seus sapatos, mas antes de sair, Laura a puxou pela camiseta já amassada e a beijou novamente.
— Eu te acompanho.
Seguiram o caminho uma ao lado da outra, sem dizer nada, nem mesmo se tocar por mais que quisessem. Já era final da tarde, e a caminhada de poucos minutos resultou até a casa de Coralina, que nem expressou surpresa ao vê-las juntas.
— Nos encontramos no caminho e vim com ela até em casa... – Laura procurava se justificar, mas estava estampado no rosto de Cora que ela sequer acreditava em tal desculpa.
— Não quer nem entrar? – disse Coralina indo até o portão.
— Não, eu tenho que...
Laura se silenciou após notar os olhos de Júlia fixados nos dela. Seus lábios tremiam de tensão, e seus punhos estavam cerrados, como se temesse por algo. Em um primeiro momento, pensou que ela a xingaria por estar com sua irmã e ter sido o pivô do seu sumiço repentino, mas logo percebeu que não parecia nada disso. Até mesmo Ana Clara parecia surpresa com aquela ação de alguém tão contido como ela costumava ser.
Ela tinha a forte impressão de que ela queria dizer alguma coisa, mas logo recuou, dando as costas e saindo a passos pesados para dentro da casa, fazendo com que todas ali se entreolhassem. Ana Clara beijou o rosto de Laura, e se despediu, seguindo o caminho que Júlia tomou.
Júlia entrou no quarto e fechou a porta. Era mais fácil quando não tinha olhado para ela. Mil e um pensamentos disformes passaram por sua cabeça, e ela puxava o ar entre os dentes, tentando se concentrar, tentando se manter firme, mas sem sucesso. Como ia conseguir manter isso consigo? Ela se sentia hipócrita em ter julgado Ana Clara por querer ficar em silêncio, mas fazia o mesmo com medo de magoá-las. Por mais que as motivações fossem diferentes, o resultado acabava sendo o mesmo.
— Júlia, o que aconteceu? – ela ouviu Ana Clara abrindo a porta, indo ao seu encontro – Você está...
Júlia hiperventilava com a respiração pesada como se aquilo a sufocasse, e logo Ana Clara apoiou as mãos em seus ombros, se voltando para ela.
— Ju, o que está acontecendo? – Cora veio em seguida, e estranhou a reação torturada de Júlia se desfazendo em uma enxurrada de nervosismo, como se tudo estivesse ruindo de uma vez – Eu vou pegar uma água.
— Vem, senta aqui comigo – ela a levou para se sentar na cama, e se pôs ao seu lado. Júlia não conseguia dizer nada além de entrar em uma crise que se alastrava durante aqueles dias, só esperando o momento de vir à tona. Cora trouxe a água de imediato, e Ana Clara a ajudou a se servir, já que mal segurava o copo.
— Ju – Coralina sentou ao seu outro lado – você está bem?
Júlia negou, o que chamou atenção de ambas. Coralina segurou em sua mão e encarou seus olhos que se desviavam.
— Me desculpe pelas coisas que falei, sério – Ana Clara dizia com pesar, imaginando se tratar do que tinha acontecido entre elas – eu sou uma idiota e às vezes nem percebo que...
Júlia segurou o ombro de Ana Clara com notável firmeza, e a olhou com a seriedade de alguém que olha no fundo dos seus olhos.
— Você está gostando dela, Ana Clara? Está apaixonada?
Ana Clara emudeceu sentindo o calor do seu rosto sumir, e os lábios ficaram entreabertos sem dizer nada. Coralina, por outro lado, se prestou a apenas levantar as sobrancelhas.
— Me responda, por favor – Júlia voltou a repetir.
Ela olhou para Coralina com temor de uma suposta repreensão, mas ela deu de ombros, como se dissesse que já sabia de tudo que estava acontecendo. Suspirou baixo, e a encarou de volta mediante aquele aval silencioso de que estava tudo bem em dizer aquilo.
— Sim, estou – ela pressionava os lábios e os olhos, como se sua exposição fosse dolorosa, mas necessária.
Júlia ao ouvir aquilo prontamente se levantou, e começou a andar de um lado para o outro, tensa. Tanto Coralina quanto Ana Clara sentiam o nervosismo transparecer em ambas por conta das ações que viam, sobretudo quando ela parou em frente ao quadro negro e se apoiou na escrivaninha como se tomasse ar para fazer o que iria. Respirou fundo, encarando o que tinha à frente, de costas para elas, e abriu lentamente os lábios.
— Laura – ela falava pausadamente, apagando o que tinha no quadro com as mãos e escrevendo em letras grosseiras e rápidas – Takahashi, nascida em treze de março de mil novecentos e sessenta e oito...
Ana Clara tinha uma péssima impressão daquilo, principalmente ao ver a expressão de choque de Coralina, que olhava para o que discorria à frente delas com as mãos contra a boca. Era impossível ela saber a data de nascimento dela, nunca tinha sequer citado tal informação para elas, muito menos para Júlia, que fez um risco depois da data, e voltou a escrever.
— Vinte e três de julho de dois mil e... seis.
E largou o giz, voltando a olhar para elas. Ana Clara não expressava qualquer reação, estava em choque como nunca tinha ficado antes.
— O que isso quer dizer? – Coralina perguntava já com a voz falhada.
— É o dia do atentado – Ana Clara respondeu de antemão – ela vai morrer.
Júlia concordou, e Coralina abafou o grito tortuoso com a boca. Ana Clara, por outro lado, não sabia sequer o que sentir. Porém, a pior parte ainda estava por vir.
— Como é que eu... – Ana Clara balançava a cabeça, a voz distante – nós não percebemos isso antes?
— Você tem certeza, Júlia? – era a única coisa que Coralina conseguia dizer.
Ela saiu do quarto, pegou a agenda que estava escondida, procurou na página marcada e correu de volta, mostrando para elas. Coralina, ao perceber o nome da amiga quase entrou em prantos, mas logo se ateve a um ponto em dissonância.
— Não, Ju, não é essa o nome dela, está errado... – e apontou para o nome grifado – é Oliveira, e...de onde saiu esse segundo nome?
Foi quando ela respirou fundo, fechou os olhos e voltou para o quadro, abriu-os e voltou a anotar.
— Laura...Akemi...Takahashi...Salles – ela escrevia em letras garrafais e repetia as palavras – isso não é familiar, Ana Clara?
Ela negou, sem entender o que Júlia queria dizer com aquilo.
Ou talvez não queria associar uma coisa a outra, pensou Júlia, cerrando os dentes. Era uma teoria dolorosa e infeliz, mas era a única que fazia sentido. Quando Coralina proferiu aquele sobrenome, foi como um gatilho em sua mente que levou ela a revisitar tudo o que tinha em sua mente e, sem querer acreditar em si mesmo, teve que tirar a prova quando procurou por suas anotações.
Ela, dessa vez, desejou e torceu para estar errada, mas sem sucesso. Por isso era tão doloroso, e por isso precisava saber o quão Ana Clara já estava envolvida, e agora tinha certeza de que deveria conversar com ela. Doía porque sabia que o que tinha a dizer seria como uma bomba prestes a explodir e machucar a todos ali envolvidos.
Pegou o giz novamente, e escreveu com letras trêmulas.
— Igor...Kazuo...Takahashi...Salles? – Coralina foi lendo conforme era escrito. Foi quando leu o nome um abaixo do outro que Ana Clara entendeu o motivo de tanto temor de Júlia.
Porque sabia exatamente como ela ia reagir. Ana Clara, como se tivesse sido atingida por uma bala direto em seu coração, o estilhaçando em mil pedaços, colocou a mão contra o peito e se agachou.
— Acho que eu vou vomitar... – Ana Clara sentiu seu estômago dar voltas, e colocou os braços contra a barriga, sentindo o ar faltar na medida em que percebia o que Júlia quis realmente dizer com aquilo. Coralina continuou sem entender o que estava acontecendo, e começou a se desesperar.
— Júlia, pode me explicar o que está acontecendo? – sua voz era quase um grito – O que uma coisa tem a ver com a outra?
Ana Clara começou a sentir seus sentidos irem embora, e arfava com o enjoo ficando cada vez mais latente na medida em que parecia desaparecer dali. Seu corpo quente começava a ficar frio, e ameaçava convulsionar na tentativa de expelir todo aquele sentimento horrível que apossava dela. Coralina balançava seu braço, mas ela não conseguia responder.
As informações foram se seguindo em um efeito dominó para Ana Clara. Júlia já devia desconfiar que ela tinha alguma relação e por isso falou daquilo com ela, que discutiram e ela quis deixar para lá. Em algum momento ela teve alguma informação a mais, possivelmente falando com Coralina e foi procurar juntar as coisas para tirar a dúvida.
E em vez disso, teve a confirmação, o que a deixou com medo de comentar com elas. Primeiro, para Coralina que era a melhor amiga, e segundo para ela que já estava envolvida emocionalmente. Cogitou que ia estragar as coisas se falasse, mas não conseguiria manter isso em segredo por muito tempo por mais que quisesse as proteger do impacto. Porque, para Júlia, era mais doloroso as enganar do que mostrar a verdade tortuosa.
— Igor, Coralina – Júlia riscava o nome abruptamente em círculos desenfreados – foi um dos alvos principais dos atiradores, lembra que falamos sobre eles?
— Mais ou menos, mas... O que ele tem a ver com a Lalá? Ele é sobrinho, primo? O que ela tem a ver com...
— Filho, Coralina... – Ana Clara dizia em uma voz rasgada pela dor, a olhando de soslaio – ele é filho dela.
E dessa vez, era Coralina que perdia o chão.
Fim do capítulo
E aí, esperavam por essa? E agora, o que acontece daqui em diante?
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Marta Andrade dos Santos
Em: 05/08/2022
Nossa que rolo misericórdia.
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