Capitulo 18
CAPÍTULO 18
Melisandre
Os feixes de luz incandescentes combinados com o calor insuportável que entrou nos meus olhos, fez com que eu sentisse uma ardência no fundo da minha íris quase cegando-me, me obrigando a fechar os olhos e proteger com o braço na frente do meu rosto, mas foi tão rápido que antes mesmo de perceber o local onde eu estava, novamente a escuridão tomou conta de tudo e mais uma vez senti o chão faltar embaixo dos meus pés e outra vez a claridade só que desta vez vinha de lâmpadas iluminando todo o ambiente. Massageio a pele do meu pulso onde estava visível uma mancha vermelha muito intensa no local, no momento que foi libertado da mão que me segurou contra minha vontade momentos antes e que até aquele instante não tinha visto o rosto do meu raptor, não que fosse preciso ver para saber de quem era aquela mão, o que mais me intrigava era não saber onde estava, e por quantas horas ou na pior das hipóteses dias.
Uma brisa suave invadiu o ambiente acompanhei com o faro para onde ele caminhava tentando me orientar nas entradas e saídas do local para uma fuga, mesmo que ainda não soubesse para onde, tudo que tinha que fazer era ficar calma, bastava somente me acalmar e me concentrar no caminho de casa e voilá! Estaria de volta, e foi o que fiz, mas para meu espanto não sai do lugar, me concentrei dessa vez seguindo o mantra, limpando a mente e fechando os olhos, pensei na minha casa na reserva, nos rios e na mata, quando abri os olhos permanecia no mesmo local, em pé no que parecia ser uma sala ou um hall para as visitas. Passei o olhar por todo o local, a cor branca predominava, sem portas ou janelas, sem uma cadeira ou qualquer coisa que servisse de apoio para sentar, a mesma brisa passou e dessa vez fui mais rápida e vi de onde estava vindo, do alto, muito alto, de mais ou menos uns vinte metros acima da minha cabeça lá se abria uma imensa claraboia dessas construídas em igrejas no século xv e como se meus pensamentos tivessem sido ouvidos um canto dentro da igreja um canto gregoriano se espalhou no ar junto com a brisa, não um canto conhecido por mim, nunca tinha escutado essa melodia, era um canto triste como uma alma se despedindo da vida e se perdendo no infinito essa era a sensação que tinha ao ouvir a bela música.
― O que diabos está acontecendo? Quem será que está por trás dessa brincadeira de mau gosto? ― Examinava detalhadamente as colunas imensas que se erguiam do chão e subiam uma pilastra tão imensa assim deve ter demorado muito tempo para erguer e ter custado muito caro, mas parecia que esse não era o problema porque naquele local estranho tinha mais oitos pilastras espalhadas sustentando talvez uma construção muito grande lá em cima. Talvez ali onde estava servisse de sala de espera.
Ouvi passos e meu sexto sentido ordenou que me escondesse, mas ali não existia um local onde pudesse se esconder, as pilastras não eram boas para um esconderijo. Fosse o que fosse que estava vindo, eu estava preparada para o ataque, só não contava ser surpreendida da forma que estava sendo.
― Eu não atacaria se fosse você, até porque eu salvei seu lindo traseiro, e seria uma pena esse rostinho lindo ficar desfigurado de tanto levar porr*da, aqueles caras não são de brincadeiras. — Reconheci a voz e o cheiro e mesmo querendo mandar o dono da voz ir para o inferno, estava feliz em saber com que estava, não resisti permanecendo parada aguardando a dona da voz resolver querer soltar meu corpo o que parecia não ser sua vontade, pois a garota com uma mão me puxava para junto de si e com a outra erguia meu cabelo para ter livre acesso a meu pescoço onde distribuía beijos enquanto sussurrava em minha orelha. ― Que saudade desse seu cheiro, dona de mim, quantas vezes eu me transportei para você em sonhos para não perder a razão, você minha Mel, é a razão de não eu ter enlouquecido, você é dona de mim, só você e mais ninguém.
Mesmo não entendendo o porquê de toda aquela demonstração de submissão, eu estava adorando, mesmo que não confessasse, também tinha sentido falta da garotinha que chegava junto com as almas sempre a meia noite e vinha para dormir comigo, nas noites de lua cheia eu fazia questão de dormir sozinha no terraço da casa, só para esperar aquela coisa linda chegar entrar embaixo da minha coberta e dormirmos abraçadas, naquela época Gilles já dominava seus poderes, quando alguém se aproximava, ela se vestia de escuridão e cobria nós duas ficando invisível para quem se aproximasse.
Olhei de esguelha para os lados, não tinha ninguém mesmo me sentindo abraçada a Gilles, que estava nas sombras.
― Acho que eu também tenho o direito de te cheirar e te sentir assim como está fazendo comigo, há quanto tempo eu não te vejo fisicamente? Nem mesmo sei como você está. Vai que está um dragão de feia.
Em resposta ela passou para minha frente ainda abraçada e vestida de escuridão e sorriu, senti o cheiro do seu hálito, eu sabia o porquê de nunca querer homem ou mulher na minha vida, era porque eu pertencia a essa garota misteriosa, sempre pertenci, desde a primeira vez que a encontrei desmaiada no meio dos matos já quase morrendo de inanição, coberta de queimaduras e escoriações. Quando ela abriu os olhos, da cor de ouro derretido e não disse nada, só ficou me olhando e desmaiou outra vez, eu sabia que éramos uma só.
― Eu poderia ser a miss universo da feiura ainda assim você seria minha, eu fui criada para ser sua, meu anjo.
Gilles tirou o véu da escuridão de cima do seu corpo aparecendo completamente na minha frente, levei a mão à boca fingindo surpresa mas estava admirada quando vi a mulher linda e perfeita que no começo da noite eu quase mato atropelada, na minha frente estava minha linda deusa, a garota do acidente.
― Alguma coisa me dizia que era você que eu vivia sentindo, era você nos meus sonhos molhados e também sabia que era você no dia que aqueles homens queriam me atacar? Não e que eu tivesse certeza mas no fundo é o que eu queria.
― Não esqueça da faculdade.. era eu—Quando comentou deu aquele sorrisinho sacana ao lembrar do que fez com o pobre do Charles. Aliás o que ela tinha feito mesmo? Ia perguntar depois agora estava mais interessada em saber onde ela estava— como eu não podia aparecer fisicamente nas noites de lua cheia eu ia dormir com você nos seus sonhos, eu nunca fiquei longe.
― Mas por que tanto mistério você desapareceu desde seus doze anos, para todos mesmo que raramente eu pudesse te ver , e quando tivemos nossa primeira vez desapareceu total, já tem o quê? Dez anos? Onde estava esse tempo todo.
― Aqui nunca saí daqui, estou presa a este local, tenho coisas para resolver, e eu não desapareci, eu não deixei que ninguém me visse, é diferente e você só não me via porque não olhava com os olhos da alma. Venha. — Estendeu a mão que eu peguei sem titubear, nós duas caminhamos para a pilastra mais próxima, quando pensei que a garota fosse acionar um botão na coluna ela passou a mão e a coluna desapareceu e em seu lugar surgiu uma porta muito parecida com a de um elevador, quando esta se abriu eu tive a certeza era realmente um elevador, olhei para Gilles cheia de perguntas, ela piscou pra mim falou com a cara mais cínica do mundo. ― Magia. ― E me puxou para seus braços, me beijando com loucura e saudade, no início aceitei porque também estava cheia de saudades, mas logo a realidade bateu na minha porta e contra minha vontade empurrei a garota.
― Pára Gilles… A gente tem muito que conversar, você não pode desaparecer e aparecer quando bem entender e vir me beijando e achar que tudo está às mil maravilhas. Por que você desapareceu? Por que se veste de escuridão? Está fugindo de quem e por quê?
Gilles parou momentaneamente os carinhos encarando-me com aquele olhar que me dizia não estar com raiva por ter sido rejeitada, seu olhar era de quem tinha ganho algo inestimável e me assustava pensar que esse algo fosse eu.
― Vou dizer tudo que quer saber, mas não aqui isso não é uma conversa para ser dita dentro de um elevador quando chegarmos na minha casa eu conto.
Foi tudo que falou, se aproximou novamente me abraçando forte como se tivesse medo que a qualquer momento eu desaparecesse.
A porta abriu e Gilles me puxou por um longo corredor onde não se via portas ou entradas de ar, mas ele estava lá dava para sentir na pele como o local era arejado e com cheiro bom, cheiro de mata, de água corrente, mas eu sabia que ali, naquele local, por onde andávamos era quase impossível ter essas duas coisas, de vez em quando Gilles olhava para minha cara de espanto quando olhava tudo e guardava na mente cada milímetro por onde eu passava, ela com certeza percebeu quando eu testei minha magia para fazer a travessia e desaparecer no ar, pois eu vi quando ela sorriu ao saber que isso era impossível, provavelmente ela protegeu com um escudo, ela tinha esse dom também, erguer escudos isolando qualquer ambiente do mundo exterior, aquele local não existia para outro ser de qualquer mundo, e para entrar precisaria o escudo reconhecer a magia de quem estava entrando ainda assim não passava do local a não ser que a própria Gilles permitisse.
Paramos em frente a uma porta de madeira comum preta com as laterais douradas, mas o quando olhei mais detalhadamente, é que vi a porta não era preta era dourada como ouro a cor preta que vi eram gavinhas, muitas gavinhas se erguendo na madeira e se misturando formando uma porta preta, a maçaneta era uma aldrava feita com minha aparência toda em ouro maciço rodeada de cobras o que lembrava a deusa medusa.
― Sério isso Gilles?? Mandou fazer uma aldrava com meu rosto cercado de cobras? Eu simplesmente não acredito que me vê assim. ― Ergui involuntariamente as sobrancelhas de cara fechada puxei a mão que estava entrelaçada com a dela desde que começamos a caminhar, estava me sentindo ofendida, o rosto da aldrava era idêntico ao meu até mesmo o sorriso, o tamanho e formato dos seios, os cabelos encaracolados e passando dos ombros até aí dava para admirar mais aquelas cobras, aquilo era demais. Gilles segurou com força meu rosto ficando frente a frente e sem baixar a vista falou.
― Se você vê... mas vê com os olhos da alma, e não com esses aqui, vai ver que cada cacho de cabelo que se parece com cobra são só seus cachos anelados e que cada um não tem formato de olhos ou boca, portanto é só seu cabelo lindo e cheiroso, precisamos olhar duas vezes para a mesma coisa e se for o caso até cinco, nunca devemos julgar pela primeira impressão.
Sustentei o olhar por alguns segundos avaliando as palavras ditas e estas foram invadindo meu peito e concordei com a garota, que ainda a olhava dentro dos meus olhos, parece ter visto a luta que eu travava para aceitar o que ela tinha dito e sorriu beijando meu rosto me puxando pela mão.
― Aldrava essa é sua mestra, a partir de agora tudo que ela mandar abrir você abra.
― Bem vinda a sua casa, minha dona, seu desejo será meu desejo, olhando para a senhora eu percebo o quanto somos lindas. Agora eu quero ver o que aquele louco vai falar voc....
― Entre caso contrário ela vai falar até cair os parafusos da boca. ― Gilles falou enquanto me puxava e eu olhava maravilhada a aldrava que parecia uma velha fofoqueira e não consegui segurar o riso quando ela gritou.
― Você é grossa, Gilles!
Fim do capítulo
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