Nono Capítulo

Evelyn passou o domingo, procurando um lugar que pudesse alugar. No final da tarde, quando já estava perdendo as esperanças, conseguiu falar com o dono de uma pequena casa de dois quartos. Não era o que queria, mas era melhor que nada. Ela passaria a ficar na casa, a partir do final de semana seguinte, a parte boa era que a casa já estava mobiliada!

Durante o dia, conversou com a amiga Raquel e as duas decidiram dividir o aluguel. Raquel não precisava ficar direto na Ilha Rochosa e invariavelmente, precisava de um lugar fixo para pernoitar. O seu lance com Joe, não estava mais dando certo!

A morena ficou triste por deixar o apartamento da amiga, mas ficou sem opção. Naquela mesma noite, ela contou para Jéssica as novidades, levando a ruiva a se perguntar, se aquilo estava certo. Evelyn estava erguendo uma barreira entre elas, devido aos boatos... e agora, ela ia passar a dividir uma casa com outra mulher? No final das contas, não daria na mesma coisa?

Então, a ruiva percebeu que a morena não queria ser associada a ela. Aquilo a magoou um pouco... não precisava ser assim...

...

A semana seguinte, transcorreu muito rápido. Na sexta, Evelyn atravessou a distância entre a ilha e o continente na balsa, pensando na ruiva. Ela se sentia ansiosa para ver a amiga, se encontrar com ela e conversar..., mas precisava manter distância entre elas...

...

Jéssica passou a semana concentrada em tentar saber mais, sobre o que realmente aconteceu com o seu pai. Para não pensar na morena, tentou ocupar o seu tempo colocando as suas coisas em dia, também tentou descobrir mais sobre a história que o seu irmão Joe falou sobre os advogados. Tentou várias vezes naquela semana conversar com eles, mas não conseguiu.

Chegava à noite em casa frustrada, e desanimada, e caia de qualquer jeito no sofá. Ficava ali por horas, pensando em tudo que aconteceu na sua vida nos últimos meses... o seu pensamento, sempre acabava na morena. A ruiva não conseguia esquecer os momentos de paixão, que as duas tiveram naquela noite... Era só fechar os olhos, e ainda podia sentir os beijos da morena.

...

Já instalada na nova casa onde passaria a ficar nos finais de semanas, Evelyn se sentia sozinha. Raquel havia saído para se encontrar com alguns amigos num barzinho. A morena preferiu ficar e arrumar algumas coisas no seu novo quarto.

...

No sábado à noite, cansada e faminta, Jéssica parou o carro no estacionamento da lanchonete e quando entrou no local onde compraria algo para comer em casa, viu Evelyn sentada sozinha num espaço para casais.

Evelyn não a notou. Ela estava concentrada, mexendo no celular. Jéssica se sentiu bem em encontrá-la, estava com saudades da morena e imaginou se ela também iria gostar de vê-la.

— Oi, Jéssica. — Evelyn parecia surpresa, quando a ruiva se aproximou de onde ela estava sentada.

— Não imaginei que iria te encontrar aqui! — Jéssica falou sincera.

— É, também não imaginava que você apareceria. — Respondeu tentando não demonstrar o quanto estava nervosa por vê-la. E, depois daquele primeiro olhar em sua direção, ela voltou a olhar o celular deixando Jéssica sem jeito.

“Estava Evelyn tentando ignorá-la?” Pensou Jéssica.

— É, foi bom te ver... — A ruiva comentou começando a se afastar da amiga.

— O quê...? — falou distraída. — Não! Espera! Senta aqui comigo. Vamos conversar um pouco. — Mesmo não se sentindo à vontade na presença da ruiva num lugar público, Evelyn não queria ser mal-educada com ela.

— Você tem certeza? — De modo algum, Jéssica gostaria de incomodá-la.

— Tenho, sim... — Falou sem muita convicção.

— Okay. — A ruiva sentou de frente para ela. — Como você está...? Como tem passado...

— Na mesma. Sem muita novidade. — A garçonete se aproximou delas e Jéssica pediu um café expresso. — E, quanto a você? Alguma novidade?

— Ah, sim! Eu arranjei um novo companheiro de apartamento. — Começou a falar Jéssica deixando Evelyn atenta ao que ela estava dizendo. — Mas... ele as vezes, me dá nos nervos!

— Ah, é? — Evelyn encarou Jéssica para entender melhor.

— No primeiro dia que ele ficou sozinho em casa, ele deve ter ficado entediado...

— Por quê? — “Se o cara ficou entediado ou não, por ficar sozinho, o que Jéssica tinha a ver com aquilo!?” Pensou chateada.

— Quando cheguei em casa, encontrei o meu apartamento todo bagunçado. E, ele estava dormindo na minha cama. — Evelyn sentiu algo estranho, ouvindo o que ela dizia. — Antes que você pense besteira, você lembra daquele cachorrinho que encontramos abandonado na trilha? A veterinária deu alta pra ele, e eu o adotei.

— Sério!? — Evelyn não pôde deixar de sorrir. Porém, a ruiva conseguia perceber que a ansiedade estava lá, por trás daquele sorriso.

E nesse ponto em diante, ela começou a se sentir mal por sua amiga. Ela parecia estar incomodada, no fundo, estava se sentindo totalmente deslocada, mas Jéssica não sabia porquê. Ela só conseguia imaginar que a morena estava se sentindo envergonhada na presença dela. Não queria acreditar, mas parecia ser verdade.

Suspirou desanimada, quando percebeu que a amizade delas já não era a mesma. Olhou triste para a caneca de café que a garçonete havia colocado na sua frente, e que ainda não experimentara.

— Você não está se sentindo bem, Evelyn. — A morena olhou curiosa para ela. — Porque eu me sentei aqui com você...? — Jéssica a encarou com um olhar penetrante.

— Vou ser sincera! — Evelyn começou a falar. — Com essas pessoas nos olhando desse jeito... isso está me incomodando um pouco.

— Faça como eu... e finja que não vê... — Jéssica comentou suspirando decepcionada, olhando novamente para a caneca de café em suas mãos, sobre a mesa...

— É assim, tão fácil para você? — as palavras foram quase sussurradas, para que ninguém mais além delas, ouvissem.

— Quer saber a verdade? — Jéssica perguntou muito irritada com a morena. — Não, não é! Mas não vou deixar que esses idiotas, e as suas mentiras, atrapalhe a minha vida! E quer saber de mais uma coisa? — A ruiva esperou a morena a olhar nos olhos para continuar. — Não vou ficar aqui com você, se você não está se sentindo bem com a minha presença.

 Jéssica se levantou da cadeira e caminhou para a saída da lanchonete, deixando Evelyn desorientada.

Quando saiu para enfrentar a noite fria, sentiu um certo desalento cair sobre ela. Era óbvio, que a amiga estava desconfortável na presença dela, naquela maldita lanchonete. Imagina se ela soubesse ou lembrasse o que houve entre elas naquela noite após a boate. A ruiva sentiu a raiva dominar os seus pensamentos.

Literalmente, voo de volta para casa. No dia seguinte, tinha muitas coisas para resolver e decidiu não perder mais seu tempo, com quem aparentemente, não merecia.

Quando chegou em casa, foi até a sacada para tirar o cãozinho de seu castigo. O bichinho ficou muito empolgado por vê-la e muito feliz a seguia por toda parte em que Jéssica ia. Após colocar ração e água fresca para ele, ela foi tomar um banho rápido antes de ir para a cama tentar dormir, sem fazer ideia do que esperava por ela nos próximos dias.

Os olhos de Evelyn se encheram de lágrimas, enquanto a frustração e o desapontamento pelo próprio comportamento cresciam dentro dela. A morena magoou a amiga, após deixar que coisas pequenas, se interferissem na amizade delas.

Olhou ao redor e notou o ar de satisfação nos rostos das pessoas que ocupavam as mesas ao lado da sua. Percebeu que falhou, ao se deixar levar pelas mãos do próprio preconceito. Chamou a garçonete e pagou a conta... depois, foi embora decepcionada consigo mesma.

...

Alguns dias depois...

— Droga! Errei de novo, essa porcaria! — Dois dias tinham se passado, sem que elas se vissem ou, se falassem.

Aquilo estava deixando Evelyn apática e sem a concentração habitual que tinha quando estava na BIO-LAB. Já errara aquele teste, três vezes com aquela. Era um teste simples, mas que naquele momento para a morena, parecia o mais difícil de sua vida.

— Ei! Eu nunca te vi assim, tão desconcentrada! — observou sua assistente, Raquel. A morena ficou em silêncio e não respondeu. Mal ouvira o que a assistente disse. O pensamento estava na ruiva e de como faria para pedir desculpas para ela. — Aqui estão os resultados dos testes anteriores que você pediu. Também coloquei junto, informações adicionais.

Foi o jeito de Raquel dizer, que colocou entre eles, o relatório que Evelyn havia pedido em sigilo.

— Ótimo, Raquel! — a morena foi tirada dos seus devaneios com aquela informação. — Obrigada!

Após entregar a pasta contendo os documentos, e antes de sair, Raquel jogou com Evelyn.

— Estou voltando para o litoral hoje. Você quer que eu leve algum recado para alguém? — Os olhos da morena, brilharam com a possibilidade. Mas não, o que ela precisava era falar com a ruiva pessoalmente. Pedir perdão, se fosse preciso.

— Obrigada, Raquel. É só isso, por enquanto.

Raquel teria um longo dia pela frente, precisava chegar ao litoral para recepcionar alguns figurões das indústrias farmacêuticas que fariam uma visita rápida na BIO-LAB, naquela tarde. Aquilo era incomum, mas foram ordens superiores e Evelyn a designou para substitui-la.

Não estava com cabeça para apresentar o laboratório para aqueles abutres, tão pouco para sair e jantar com eles no litoral, mais tarde.

Perto do meio-dia, Evelyn caminhou até sua sala particular e a trancou por dentro. Sentou-se no sofá, abriu a pasta que a assistente a entregou mais cedo, e começou a ler o conteúdo.

Foi tomada por um susto, quando leu de quem se tratava. Ficou momentaneamente, perdida. A informação que continha naquele documento, era séria demais. Se sentiu desolada...

...

Fim do capítulo