9. Carmesim
Só que as coisas não se desenrolavam tão fáceis assim. Enquanto Coralina tinha que dividir sua vida entre uma estudante de magistério comum e fingir que sua rotina continuava a mesma, de noite ou em qualquer momento de folga que tinha se debruçava sobre os livros alugados da biblioteca. Livros de física e matemática deixavam sua escrivaninha repleta, uns abertos, outro com extensas anotações presas a eles.
E quanto mais estudava, menos sabia. Suas pesquisas normalmente não davam a lugar nenhum, e Júlia ao seu lado como uma companheira perfeita de crime, refletia sobre suas anotações o que tinha de errado ali. Não podia prever o futuro daqui a alguns dias, mas tinha bastante noção do que ocorreria daqui a uns anos.
A menos interessada era Ana Clara, que ouvia as propostas das duas aérea, prestando-se a concordar com o que fosse dito ou somente intervir quando achava necessário.
Diferente de Júlia, não tinha motivos pra voltar. Na verdade, desde que tinha chego havia um pouco de paz e tranquilidade em sua alma atormentada pelas constantes cobranças de sua família. Lá eles não existiam como ela os conhecia, e estava desprendida das responsabilidades impostas.
Logo, foi natural que ela se aproximasse de Laura, que também sentia sua melhor amiga distante, olhando a esmo, com a cabeça em outro canto menos no presente e passando maior parte do tempo com Júlia. Não sentiu ciúmes, a curiosidade era maior. O que tinha naquela pessoa mal-encarada e de poucas palavras que chamava tanta atenção de Coralina? E como ela era tão diferente de Ana Clara?
Ana Clara era vívida, inteligente, sorridente. Tinha um ótimo gosto tanto para se vestir – afinal nunca tinha visto alguém com seu estilo – para ouvir música – gostavam dos mesmos artistas – e cada vez gostava mais de passar o tempo conversando com ela. Enquanto as garotas se trancafiavam depois das tarefas, comumente Laura ia para a casa de Coralina com o pretexto de ver a amiga, mas passava maior parte do tempo na companhia de Ana Clara, sentada na frente de casa no final da tarde, tomando café, típica programação de cidade pequena. Antes, ia com o único intuito de ver sua amiga, mas agora isso ficava em segundo plano.
Isso tinha se tornado tão rotineiro que Ana Clara já a esperava no sofá da sala assistindo alguma coisa e, ao ouvir o barulho no portão, olhava de relance e logo se levantava para pegar a chave.
Uma companhia que outrora era ocasional, mas rapidamente se tornou diária, e nem um pouco cansativa, monótona. Conversavam sobre música, cinema, livros. Ana Clara sempre dava a vez para Laura falar para não ter o risco de falar algo equivocado, e naquele dia não estava sendo diferente. Talvez por um breve detalhe.
Laura tinha chegado mais cedo naquela tarde amena. Ana Clara estava no quarto vendo as duas discutindo sobre questões de probabilidade quando ela ouviu a voz da visita conversando com a dona da casa. Bateu na porta, e Coralina gritou para que ela esperasse enquanto tentava esconder a todo custo as anotações. Correu até a porta, deixando-a entreaberta enquanto Laura olhava ao redor.
— Lalá – ela ria nervoso – você já chegou? É que eu ainda estou...
— A Ana Clara está aí? – ela deu com a mão no ar.
Coralina logo se calou, e olhou para Ana Clara, que estava um tanto surpresa, mas ignorou e gesticulou para que Ana fosse até ela, e assim o fez. Acenou para Laura, que correspondera sorrindo.
— Está ocupada?
— É... – ela olhou para trás, e para suas duas companheira, e se apoiou na porta – não, não exatamente.
— Eu queria te mostrar uma coisa que consegui hoje.
Puxou da sua bolsa uma fita pirata, e entregou nas mãos de Ana Clara, que olhou para a inscrição feita em caneta permanente ao lado. Seus olhos brilharam de emoção.
— Onde conseguiu isso? – sua animação era latente na voz, olhando minuciosamente cada parte daquele item.
— Com um amigo, eu comentei com ele sobre e ele conseguiu uma cópia pra mim – Laura pegou das mãos de Ana a fita – só foi mais complicado porque esse álbum é novo e disco importado é mais difícil de chegar.
— Novo? – Ana Clara cerrou as sobrancelhas – Mas esse álbum...
Sentiu o cutucar de leve de Coralina de fundo, e logo voltou a compostura, balançando a cabeça. Por um instante quase falou que “The Queen is Dead é um clássico indispensável”. Também logo se lembrou que quando ela perguntou quais bandas ela gostava, esse foi um dos que ela logo citou, e tentou não mostrar a felicidade latente ao perceber que ela tinha se atentado a isso e conseguido uma cópia do mesmo.
— Eu ainda não ouvi, acredita?
Já tinha ouvido inúmeras vezes, e chorado tantas outras com ele.
— Eu imaginei, por isso...está a fim de ouvir lá em casa?
— Com certeza – e nisso ela não pensou duas vezes antes de falar, mas ouviu Júlia pigarrear de fundo – é, posso ir?
— Claro, Ana – Coralina a empurrou lentamente para fora do quarto – vocês voltam pra jantar né?
— Sim – Laura respondeu em seguida, e elas seguiram o caminho para fora da casa. No quarto, Coralina revirou os olhos.
— Qual seu problema com a Laura, Ju? – voltou a se sentar ao lado dela – Toda vez que ela fala com a Ana Clara, você fica com essa cara fechada.
— Não é nada pessoal – ela disse cruzando os braços – só que não acho que isso vai acabar bem.
— O que quer dizer com isso?
— Não está percebendo o que está acontecendo entre elas? – Júlia voltou a dizer ríspida, e Coralina levantou uma das sobrancelhas.
— Seja mais específica, por favor? Acho que não estou entendendo...
— Olha como elas estão próximas, Coralina – Júlia apontou para fora – não acha que isso pode dar um problema depois?
Coralina exasperou, cerrando os olhos. Em nenhum momento tinha passado em sua cabeça que isso poderia ser um problema. Porém, Júlia tinha certeza que elas não estavam falando da mesma coisa.
— É, você tem razão Ju, mas... – ela ponderou – não acho que isso possa causar um problema. De qualquer jeito, vocês vão acabar voltando e ela vai acreditar que isso tudo foi só um passeio mesmo, assim como o pai e a mãe.
Júlia colocou a caneta entre os lábios, mordiscando a ponta, olhando para o horizonte atrás da janela, vendo as garotas caminhando ao longo da rua.
— É, você tem razão, e outra...Emoções não são bem coisas que podemos controlar, não é? – e se voltou a pegar um livro ainda não aberto, entregando para Coralina – Toma, tem muito o que fazer ainda.
Já do lado de fora, depois de alguns minutos, chegaram ao destino da casa de Laura. Ao abrir o portão e convidar sua visita para entrar, deparou que não tinha ninguém na casa, um caso raro. Justamente por isso Laura a convidou, evitando as inúmeras perguntas de sua mãe e intromissão repentina de algum irmão.
— Fica à vontade – Laura gesticulou ao redor – quer uma água?
— Não, estou de boa.
A casa era simples, mas não tão modesta quando a de Coralina. Grande, espaçada e característica, tinha um quê a mais, mas ela não se atentou aos pequenos detalhes. Laura logo seguiu para o seu quarto e Ana Clara foi atrás.
O quarto dela era um típico quarto adolescente migrando para a vida adulta: pôsteres de artistas, matérias, revistas de variedades empilhada ao redor, um tocador de discos que ficava no canto do quarto em cima de uma pequena mesa e duas caixas autofalantes do lado, discos em uma caixa de madeira e fitas acumulando ao lado deles. Sua cama era de solteiro e estava arrumada, assim como alguns bibelôs dispostos em duas prateleiras. Ao lado da cama, um tapete felpudo e próximo do toca-discos seu modesto guarda-roupa, e na pequena janela uma cortina de miçangas.
Laura não demorou para ligar o toca-discos e acoplar a fita no lugar dela, aumentando o som. Um barulho chiado que durou alguns segundos antecedeu o discurso do começo do disco o qual Ana Clara conhecia tão bem, mas que logo chamou a atenção de Laura. O estrondo inicial das guitarras e a voz melódica preencheu o quarto, e Ana Clara controlou-se muito para não cantar junto a ele.
Porém sua animação era latente. Gostava da banda e ouvir algo tão familiar dava uma sensação de conforto, então ela sentou no tapete felpudo e fechou os olhos, curtindo aquele momento.
Já Laura estava inebriada com aquela música. Era tudo diferente do que ela já tinha ouvido, e a banda a fisgou na primeira audição. Sentou-se ao lado de Ana Clara e se prestou a ficar ouvindo, olhando para a fita rodando lentamente no tocador, reproduzindo a música.
Aquele tinha sido um começo aterrador. Ana Clara de olhos fechados movimentando as mãos conforme o ritmo da música parecia uma velha conhecida da banda, mas Laura nem se importou com aquilo. Estava apreciando aquele momento tanto quanto ela.
— Eu adoro essa banda – Ana Clara murmurou enquanto a primeira música acabava, extasiada – você curtiu?
— É ótima – ela pegou o case da fita – como você achou esse grupo?
“O Spotify me recomendou, naquele tempo que ainda podia acessar a Internet do meu smartphone”.
— Ah, me recomendaram, acharam que eu ia gostar e acertaram.
— É muito bom.
Ficaram em silêncio mais uma vez. Só que Laura tinha algo preso na garganta e já se sentia íntima o suficiente para falar.
— Vocês têm previsão de voltar para casa?
— Estamos resolvendo umas coisas, mas por enquanto não – “ ou quando descobrirem um jeito de mandarem a gente para o futuro”, pensou Ana Clara antes de falar.
— É isso que a Cora e sua irmã vivem fazendo agora?
— É... – ela deu com os ombros – tipo isso.
— Como vocês conseguem ficar tanto tempo longe de casa assim? – ela se deitou no tapete, ficando de lado.
— A gente se acostuma – ela deu um sorriso torto, e Laura cerrou os olhos.
— Vocês não sentem falta de ninguém?
— A Júlia sim – ela concordou com a cabeça em um aceno – sente saudades dos...nossos pais – e se corrigiu em seguida – ela é mais apegada, já eu não.
Pegou o case da fita ao lado, e procurou pela música que estava sedenta de ouvir.
— Tenho a impressão de que essa aqui é boa – apontou para o número da música – pode colocar essa?
Era o pretexto perfeito para ouvi-la, e de quebra esconder que não fazia ideia de como mexer naquele aparelho sem quebrar ou causar algum constrangimento, afinal nunca tinha visto um daquele pessoalmente.
Depois de alguns ajustes, a guitarra melódica ecoou novamente. Ana Clara quase chorou quando ouviu o primeiro verso, e Laura levantou as sobrancelhas, maravilhada com a melodia. As outras eram boas, mas essa em especial a atingiu do mesmo jeito que Ana Clara.
— Você dá ótimos palpites, olha, já é a minha preferida.
Ana Clara se deitou de peito para cima, olhando para o ventilador de teto do quarto de Laura.
— Eu também não me dou bem com meus pais – ela ouvia a voz de Laura murmurando – discuto muito com minha mãe.
— Sério? – ela virou o rosto para encará-la – Por quê?
— Ah, eu tenho um jeito de ver a vida e ela quer que eu veja de outro... – ela resmungou – quer que eu case, tenha filhos, não quero nada disso.
— Também não me dou bem com minha mãe pelo mesmo motivo – ela riu constrangida – mas assim, não de casar e essas coisas, mas ela quer que eu seja uma coisa que não sou, sacas?
— E ela quer que você seja o quê? – Laura apoiou a mão no rosto, olhando para a visitante.
— Perfeita, talvez - ela deu com os ombros, fazendo uma careta – até hoje não entendi o que ela espera de mim, mas sei que nada que faço é suficiente.
— É – Laura falou em um tom assertivo – é bem isso mesmo.
Ana Clara colocou a mão contra o rosto, rindo, e Laura riu mesmo sem saber exatamente o motivo.
— Desculpa, é que... – ela levantava as sobrancelhas, incrédula consigo – eu conheci tanta gente, mas você é a primeira que eu realmente me identifico. Digo, até as desgraças nós temos em comum, não é engraçado?
Laura pressionou os lábios, tentando esconder que também ria como ela.
— É, eu digo o mesmo.
— Sério? – Ana Clara a olhou surpresa, e ela concordou com latente sinceridade.
Formou-se um silêncio, mas não aquele silêncio constrangedor. Era um silêncio de olhares cúmplices, aproveitando cada segundo da música e daquela quietude, até que foi quebrado novamente por Laura.
— E você não tem um namorado?
Ana Clara virou-se para ela, e riu. Não aquela risada tímida, mas uma gargalhada desacreditada.
— Eu, namorado? Pra minha sorte, os carinhas nem se chegam em mim, e se chegassem...azar o deles.
Laura cerrou os olhos, sem entender bem o que tinha sido dito.
— O quê? Por quê?
— Ah, com todo o respeito, mas a última coisa que quero é um homem se chegando em mim. Se for uma menina, eu agradeço, mas...
Laura arregalou os olhos, e recuou um pouco para trás. Já Ana Clara deu com os ombros, sem entender bem o choque dela.
— Você... – ela deixou os lábios semiabertos – é entendida?
— Não sei o que é isso, mas...
“Merd*, merd*, merd*, merd*, merd*! Ana Clara, como você deu um vacilo desse?”
— É... – ela já disse se levantando – eu tenho que ir.
“Corre, Ana, corre! Como é que esquece que não está falando com teus amigos de rolê que sequer se importam com esse detalhe?” pensava Ana Clara constrangida com o rosto enrubescido saindo pela porta do quarto.
— Espera, Ana Clara – Laura se levantou de prontidão, e a alcançou já chegando na porta. Para a surpresa dela, a garota segurou seu pulso, chamando sua atenção.
Ana Clara se virou, temerosa pela represália, mas só viu o olhar confuso de Laura encontrando o seu.
— Você é entendida?
— O que é isso? – ela murmurou entre os dentes, tão assustada quanto.
— Você gosta de meninas?
Seus lábios tremeram, mas ela não podia mais voltar atrás. Já tinha dito o que tinha dito.
— Eu...– sua voz tremulava – eu...
Laura soltou o pulso lentamente dela. Ana Clara estava receosa, vulnerável de uma forma que ela ainda não tinha visto. O medo da repreensão estava estampado no seu rosto, mas ela estava tão chocada que não conseguia falar mais nada sobre.
E Ana Clara, também sem dizer mais nada, caminhou para trás ofegante e saiu a passos rápidos para fora da casa, deixando Laura consternada. Seu coração estava acelerado a ponto que colocou a mão contra o peito, e respirou profundamente.
“E agora?” pensou ambas enquanto Laura continuava parada na sala e Ana Clara corria em fuga de volta para casa.
Já no quarto, ambas olhavam para a foto da hipótese mais crível até ali: o Efeito Borboleta, aquele que já tinham citado, mas não faziam ideia de como exatamente funcionaria, e ali dava uma explicação mais detalhada.
O Efeito Borboleta, pelo que liam, tratava da análise de como pequenas alterações nas condições iniciais de grandes sistemas, podem gerar transformações drásticas e significativas nestes e como sistemas, poderia considerar padrões climáticos, a movimentação de grandes grupos de asteroides, ou a forma como as pessoas interagem entre si e com todo o universo ao seu redor, em seu dia a dia.
Tudo estava conectado, sabiam disso, e qualquer mudança funcionaria como um ciclo no qual, aonde tivesse esse ponto de tensão, teria essa mudança no futuro, como jogar uma pedra no meio de um rio e por conta dessa interferência, criar onda que impacta as coisas ao redor.
— Tá, mas como isso – Júlia apontou para a página do livro – vai acontecer? Como vamos saber o que fazer?
— E se for uma coisa que tiver que acontecer, Ju? – Coralina arrumou seus óculos e a olhou de relance, que colocou a mão no queixo, pensativa.
— Pode ser, mas...fica difícil sem saber que rumo tem que tomar, porque qualquer coisa que fazemos pode ser esse tal gatilho.
— E é impossível apostar em probabilidades que não conhecemos... – Coralina deu de ombros, cansada – sinceramente, acho que não tem o que fazer além de esperar...
Só que foram interrompidas por Ana Clara entrando às pressas no quarto, fechando a porta, ofegante, se dirigindo a elas.
— Eu fiz merd*, Júlia.
Ela se levantou de prontidão, mais preocupada com a feição de Ana Clara do que com propriamente o que ela tenha dito.
— O que aconteceu? – ela disse em tom assertivo.
— Falei pra ela que eu sou gay.
— Você é o quê?! – Coralina disse em um tom mais alto que imaginava, colocando a mão na boca. Já Júlia a encarou séria, levantando as mãos em tom de indignação.
— Por que você fez isso, Ana Clara? – ela dizia entre os dentes – Perdeu o juízo?
— Sei lá, só fluiu – Ana Clara dizia em tom choroso, já se sentando na cama, pressionando os lábios – fodi com tudo, não foi? Eu só faço merd*...
— Você é entendida, Ana Clara? – Coralina voltava a dizer, e Júlia se voltou para ela sem entender o que ela quis dizer com aquilo.
— Não, ela gosta de menina mesmo – e revirou os olhos – mas ela fez alguma coisa contigo? – e se aproximou de Ana Clara, procurando por alguma possível agressão – Não, né? Acho bom ela...
— Gente... – Coralina continuava chocada, com a mão na boca – nunca percebi, sério.
— Isso é um problema, Coralina? – Júlia se virou para ela, mas a mesma deu com os ombros sem se importar.
— Por mim mesmo não, nada contra – e levantou as mãos, como se rendesse – mas pra outras pessoas podem ser. Vocês entendem, né?
— Entendo... – Ana Clara murmurou antes de abaixar a cabeça e grunhir consigo descontente – mas que merd*, não dou uma dentro!
— Mas explica pra gente como é que isso aconteceu – Júlia se abaixou para ver Ana Clara de perto, já que estava de cabeça baixa – como foi pra você falar?
— Sei lá, estávamos conversando e aí trocamos uma ideia de como a gente tinha muito em comum, aí ela perguntou de namorado – ela falava ofegante, descompassada e ainda nervosa – e falei que não queria saber de homem, que preferia as garotas se chegando com certeza, mas gente, eu juro que foi espontâneo, é que...isso pra mim é tão natural que...
Ana Clara fez menção de chorar, mas Júlia colocou as mãos em seus ombros, chamando sua atenção.
— Relaxa, tá bom? – e os apertou, gesticulando para que ela respirasse mais compassado, e assim o fez. Só que Coralina tinha se desligado do que estava acontecendo. Quando Ana Clara começou a falar sobre, foi questão de segundos para que as coisas se intercalassem em sua mente e ela desse um gritinho consigo e se levantasse, indo até Júlia, que nada entendeu.
— Ju, é isso!
E correu até o quadro anteriormente coberto, riscando o nome de Ana Clara.
— Eu acho que não entendi... – Ana Clara disse com os olhos cerrados, olhando para seu nome escrito em letras maiúsculas no meio do quadro, junto com outras anotações.
— O que a Ana Clara fez ainda não tinha acontecido. Pensem comigo – ela começou a andar de um lado para o outro rapidamente – lá no tempo de vocês era impossível a Ana conhecer a Laura, mas aqui tem essa possibilidade. O tempo que elas ficaram juntas fez com que essa conversa acontecesse, e... caramba, eu acho que isso tem alguma coisa a ver, entendem? Porque querendo ou não, isso vai ter algum impacto, bom ou ruim vai acontecer, estão me entendendo?
— Você pensou nisso tudo agora? – Júlia levantou uma das sobrancelhas, e Coralina assentiu que sim, frenética.
Júlia foi até ela e segurou seus braços, dando um leve aceno.
— Você é um gênio, Cora – pegou o giz e circulou o nome de Ana Clara, que continuou sem entender nada.
— Estão querendo me dizer que meu vacilo vai adiantar de alguma coisa? É isso?
— Eu tenho certeza que sim, porque se pararem pra pensar, é a coisa mais inusitada que aconteceu até agora – Cora falou pausadamente, apontando para o quadro – Só é questão de tempo até sabermos como.
— Meninas, jantar! – a mãe de Cora chamou da cozinha, e todas concordaram que tinham que dar uma pausa e voltar para sua rotina.
Já na outra casa, Laura estava deitada na cama, ainda ouvindo a fita, que já estava no final. Girava entre os dedos o caso, imersa em pensamentos.
Ana Clara era a pessoa mais próxima dela nos últimos dias e nunca percebeu que ela poderia ser. Se tinha dado indícios, nunca percebeu. Falou sem receio de primeira, mas quando percebeu que estava pensando alto, foi embora com vergonha. Estava com medo da sua reação, e com razão, afinal não era o tipo de coisa que se dizia por aí sem medo da repreensão. Será que Coralina sabia disso?
Vai ver era por isso que Júlia a olhava torto. Talvez tivessem passado por muitos problemas em relação a isso e agora ela temia por alguém fazer algo de errado com a irmã.
Mas ela não queria fazer isso. Só queria ter a coragem de, naquele momento, ter feito a pergunta que invadia sua mente.
“Como você soube que gostava?”
A fita parou de tocar, e ouviu os passos de alguém entrando. Pelo jeito pesado de caminhar, sabia que era seu irmão mais velho bateu na porta entreaberta.
— Ei, já comeu? – e gesticulou com uma sacola em mãos – Trouxe janta.
— Estou sem fome, mas obrigada – ela se virou para encará-lo, e ele fez uma careta.
— Só não demora então, porque senão vai ficar sem sua parte.
Estava enjoada demais para comer. Aquele enjoo ocasionado pelo nervosismo e a ansiedade latente nos poros, e ela respirava fundo. Se ele visse, se preocuparia e perguntaria o motivo dela estar assim, e se seus pais notassem, a interrogariam sem parar e logo perceberia que tinha alguma coisa errada, e ela não sabia o que inventar.
Não tinha cabeça para pensar em desculpas. A única coisa que ela pensava era como falar com Ana Clara sobre o que aconteceu, mas sabia que aquilo teria que ficar para depois, se assim tivesse coragem.
Fim do capítulo
No que será que vai dar nisso? Façam suas apostas rs
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Lea
Em: 24/08/2022
Laura gosta de meninas, também. Está se descobrindo!
*
O jeito que a Júlia cuida da Ana Clara é muito fofo. Quase shippava elas,agora não entra na minha cabeça essa possibilidade!
*
A curiosidade sofre o desenrolar da estória, está queimando meus neurônios.
Resposta do autor:
Uma pessoa me falou que esperava que elas tivessem alguma coisa, mas eu logo neguei, porque não era a intenção, mas se está queimando os neurônios, espero que seja por uma boa coisa kkk
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