Ilha Verde, 19 de outubro de 2024

A casa estava silenciosa, nem parecia um dia comum, Anna acordou sentindo a cama vazia, virou o corpo e percebeu que a luz do banheiro estava acesa, como Kayra sempre fazia quando saia atrasada  – Mas poxa, ela podia ter me chamado – Pelo silêncio presente no lugar, constatou que de certo tinha levado as crianças na escola - Nossa, porque ela não me deu nem um beijo antes de ir? – Falou alto, ressentida com o fato.

Desceu as escadas irritada, balançando os ombros, indo em direção a cozinha – Bem, o que não tem remédio, remediado está, vou fazer o meu próprio café da manhã – Separou então o que precisava para o sanduiche, enquanto o café com leite de avelãs estava terminando de ficar pronto na cafeteira elétrica. Balançou a cabeça estalando o pescoço tenso, foi quando ouviu um barulho estranho vindo da sala, um dos gatos soltava um lamento triste, mesmo sem entender correu em direção ao miado, chegando a tempo de ver Liriel enforcando Salem com as duas mãos enquanto ria baixinho.

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- Solta ele Liriel, está louca!? – Anna não teve tempo de pensar, com um mata leão imobilizou a menina, enquanto o gato ofegante correu trêmulo para debaixo do sofá. Foi só o tempo de Kayra chegar, empurrando Anna para abraçar a menina com todo amor.

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- O que está fazendo seu ser perverso? Queria matar minha filhinha, logo eu que dei todo o meu amor para suas filhas, custava se esforçar para amar a minha Liriel, que só sofreu nessa vida. Como você está minha filha? Saiba que hoje mesmo Anna, sua filha e pets vão embora.

- Ela tentou me matar mamãe, eu juro que eu só queria dar um abraço nela.

- É o que sua pestinha? Kay, é mentira dela, ela...ela estava tentando matar Salem.

-Não é verdade mami...

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Kayra acordou assustada com o grito de Anna após o pesadelo, o suor descia em sua fronte, e tremia como se tivesse visto algo muito ruim, parecendo um animalzinho acuado, aconchegou seu corpo junto ao da mulher.

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- Anna, calma meu amor, seja lá o que foi que sonhou, está tudo bem, você está na sua casa, comigo.

- Amor, a Liriel enforcou o gato, fui separar e ela inventou que eu tinha tentado matar ela, foi horrível Kayra.

- Mas, meu amor, Liriel está dormindo, depois você sabe que ela ama os bichinhos.

- Ela não gosta de mim amor, eu sei.

- Que é isso Anna, não seja criança, as coisas melhoraram muito entre vocês...

- Tudo bem, me perdoa. – Anna respondeu isso, mas, ficou ressabiada com o sonho, que poderia sim, ser um aviso. Kayra fingiu normalidade, mas, tinha ficado sentida com o sonho da mulher, constatou que em algum lugar de sua alma ela não aceitava Liriel muito bem. Quando percebeu que Anna estava mais calma, deu um suspiro decepcionado, seguido de um beijo rápido e praticamente correu do quarto, descendo para arrumar a mesa do café da manhã como sempre fazia.

Ao contrário dos outros dias o café foi silencioso, Liriel olhava as mães que estavam mudas e comiam desanimadas, Amélia seguia alheia aos detalhes, sem nada perceber.

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- É hoje que nós viajamos para São Paulo, não é?

- Sim meu amor – Respondeu Kayra sem nenhuma animação.

- E vocês vão chegar brigadas na casa da Tia Maria Rosa? eu que não queria receber visitas de cara feia, é o aniversário dela, lembram?

- Claro que lembro bruxinha... – Respondeu Anna bagunçando seus cabelos loiros.

- Aí tia, para...hahahahah...

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De alguma forma Liriel conseguiu quebrar o clima ruim, até Amélia riu do acontecido, e o casal se abraçou com sinceridade. Depois que Anna tinha relaxado, subiu para terminar de arrumar as malas – Eu tenho que aprender a não levar meus sonhos tão a sério...

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São Paulo, 20 de outubro de 2024

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A festa de Maria Rosa estava impecável, o jantar para família e poucos amigos tinha uma decoração discreta e elegante, tudo na cor prata e preta. Por trás do bolo de três andares, da mesma cor da decoração da festa, tinha no topo uma boneca sua em miniatura, toda feita em biscuit, estava com o mesmo vestido de Maria Rosa, preto com uma borda fininha em prata, além do grande decote nas costas, evidenciando a pele morena. A única diferença era que a miniatura segurava uma rosa vermelha, enquanto Maria Rosa segurava uma taça com seu nome, caminhando pela sala para cumprimentar as pessoas.

A decoração da parede também chamava atenção, pois um grande  painel com fotos de Maria Rosa também enfeitava o ambiente, eram fotos em viagens, com a família, com as filhas, com a neta, com os amigos, e até clicks inusitados em seu ambiente de trabalho.

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- Maria Rosa, quanto bom gosto, achei tudo lindo, elegante, exatamente como você é...

- Como me esforço pra ser, não é?. Hahahahah...

- Prima, você tem cada uma. – A aniversariante sorriu e em seguida puxou Kayra para um abraço, dizendo:

- Fico feliz que trouxe sua família linda, obrigada por fazer minha prima tão feliz.

- Eu quem agradeço pelo convite, estávamos precisando mesmo de uma festa animada assim. Adorei a seleção musical...

- Eu escolhi cada uma delas – Falou e logo depois se inclinou para falar:

- Oi Liriel, como está linda? Isabella está brincando no jardim, ela está lá te esperando querida.

- Tia, só uma coisa, a mesa dos doces está liberada? Está tudo com uma cara ótima.

- Ainda não, daqui a pouco, depois dos parabéns.

- Tudo bem, estou indo brincar.

- Vá querida!

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Os adultos conversavam, e Amélia se juntou aos adolescentes da família para tocar violão e conversar, estava se esforçando para continuar a vida, mesmo que as vezes chorasse sozinha no seu travesseiro.

As atenções se voltaram para porta, quando uma moça de longos cabelos castanhos e cacheados entrou, trazia um enorme buquê de rosas e um presente que todos ficaram curiosos para saber o que é, Maria Rosa bateu com um pequeno garfo no corpo com seu nome, para em seguida dizer:

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- Família, amigos...quero apresentar a todos de uma vez, essa aqui é Samira, minha namorada.

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A irmã mais velha de Maria Rosa riu e todos seguiram na risada, tinham certeza que era algum tipo de piada.

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- Ai mana, você tem cada uma, é brincadeira, né?.

- Não, é verdade...Samira foi minha professora na especialização e estamos namorando, achei que não tinha ocasião melhor para apresenta-la.

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A irmã de Maria Rosa gaguejou um “bem vinda a família” então. Anna foi a primeira a abraça-la, dizendo em seguida.

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- Ué, eles pensam que é a primeira? Sabem de nada, inocentes. Hahahah...

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E foi ai que o drama de família italiana começou, as irmãs de Maria Rosa ficaram inconformadas por serem as últimas a saber, e enquanto Anna ria, Maria Rosa tentava acalmar os ânimos, que só se ajustaram quando o jantar foi servido.

A mesa do jantar foi considerada o ápice da festa, no meio estavam os arranjos de rosas vermelhas, que misturava-se com o legumes e verduras. Além das rosas, haviam vasos com flores do campo, ao lado do prato principal, Lagostas à Thermidor, dentro de um de pão italiano amarradinho no papel com cordão e alecrim. Em cima de uma pequena tábua de madeira estava o Filé ao molho madeira, a segunda opção de prato, além de uma segunda mesa ao lado, onde seriam servidas as massas italianas.

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- Amor, parabéns... – Falou Samira escorregando a mão pelo decote nas costas de Maria Rosa.

- Você é safada, sabia? Não se atiça uma pessoa assim.

- Que horas vamos poder fugir?

- Vamos ter que esperar, ainda falta gente chegar, e se conheço minha família ainda vão demorar bastante, estão curiosos sobre você e ninguém vai dispensar aquela linda cascata de chocolate com frutas e os docinhos, não é?.

- Jamais amor, você sabe o quanto sou formiguinha...

- Sei, claro que sei.

- Está linda, viu aniversariante...

- Você também está meu bem.

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Samira pediu licença, voltando com um violão na mão para cantar, deixando MAria Rosa emocionada:

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She may be the face I can't forget

A trace of pleasure or regret

May be my treasure or the price I have to pay

She may be the song that summer sings

May be the chill that autumn brings

May be a hundred different things

Within the measure of a day

She may be the beauty or the beast

May be the famine or the feast

May turn each day into a Heaven or a Hell

She may be the mirror of my dreams

A smile reflected in a stream

She may not be what she may seem

Inside her shell

She, who always seems so happy in a crowd

Whose eyes can be so private and so proud

No one's allowed to see them when they cry

She may be the love that cannot hope to last

May come to me from shadows of the past

That I remember 'til the day I die

She may be the reason I survive

The why and wherefore I'm alive

The one I'll care for through the rough and ready years

Me, I'll take her laughter and her tears

And make them all my souvenirs

For where she goes I've got to be

The meaning of my life is

She, she

Oh, she

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Quando Anna e Kayra voltaram para o hotel estavam animadas pelo vinho e pelo clima da festa, mas, sabiam que nada podiam fazer pois Liriel dormia entre as duas, então se olharam, riram, e adormeceram com a menina entre elas...eram felizes.

Fim do capítulo