Como vim parar nessa situação não me lembrava, tinha um branco na minha cabeça, me encontrava naquele momento com minhas roupas ensanguentadas, várias pessoas se esbarravam em mim, eu tentava passar por elas e só via correndo de um lado para o outro e aquele zumbido não saia da minha cabeça me deixando atordoada, logo senti uma mão tocar em meu braço. 

Acordo desesperada suando mais que tudo, olho em volta e estava no meu quarto, passo minhas mãos trêmulas pelo rosto vendo que tudo não se passava de um mero pesadelo, olho as horas e se passavam das 8:30 am, me arrasto para fora da cama e vou direto para o banheiro lavar o meu rosto, olho meu reflexo e não me reconheço, já faziam dois dias que não dormia direito por conta dos pesadelos, noites mal dormidas seguiam pela semana, fora o trabalho duro durante os dias.

Me chamo Samantha Franchetti, nasci na Itália, porém depois que fui deixada em um orfanato acabei sendo adotada por um senhor chamado George Antonelli Franco, um dos grandes chefes da Máfia. George foi um grande pai para mim e sempre me ensinou muitas coisas para que pudesse fazer parte dos seus negócios, onde seria o braço direito de sua filha Raquel quando assumisse seu império, porém nunca foi o sonho de sua filha, mas por via das consequências do destino depois de uns anos ele veio a falecer por conta de um trágico acidente de carro quando se encaminhava para o restaurante onde iria nos encontrar, o pior dia para todos, Raquel se viu obrigada a assumir seu lugar dentro da organização tomando conta de todas as empresas ilegais e legais de seu pai. Eu como prometido virei uma grande amiga e seu braço direito, sempre jurando dar minha vida para protegê-la a todo custo. 

Os anos se passaram nós fomos se aproximando cada vez mais, acabei nutrindo sentimentos por ela que não achava certo por sermos praticamente irmãs, o que me fez me afastar dela e foi onde ela conheceu seu namorado Luís, um cara de vida humilde, mas que quando soube que Raquel estava grávida sumiu no mapa, tentei procurá-lo por todos os lugares, só que não encontrávamos de jeito nenhum e tomei a decisão de ajudá-la a criar nossa menina Chiara. Desci as escadas dando um sorriso no final quando escuto risadinhas de criança, chego na porta da cozinha e encontro a cena mais linda, Raquel estava fazendo cócegas com a boca na barriguinha de Chiara e a pequena morria de dar risada, quando fiz um som com a boca elas me olharam parando o que faziam.

 - Mamãe! - Gritou a pequena se soltando do abraço da mãe e vindo correndo para os meus, amava quando ela me chamava daquela forma. 

- Oi minha linda. - Disse beijando seu rostinho que ficou toda feliz. 

- Mamãe sabia que a Mãe Raquel tem um novo namolado? - Perguntou ela me deixando sem reação e fiquei séria.

- Ei Chiara era nosso segredo! - Repreendeu Raquel séria e a menina colocou as duas mãozinhas na boca sapeca. 

- Vai brincar pequena, preciso falar com sua mãe. - Falei dando um tapa na bundinha dela que deu um gritinho correndo. 

Caminhei até a bancada e me sentei em um dos bancos pegando a garrafa de café e me servindo, passei geleia em uma torrada e mordi, senti os olhos de Raquel pesar em mim sempre me observando, não disse uma palavra e continuei a comer esperando ela falar alguma coisa. 

- Vai ficar calada? - Perguntou se encostando na bancada. 

- O que tem para dizer, você sempre toma suas decisões e não me comunica. - Falei séria, aquela manhã estava difícil para mim.

- Não é bem assim Sam... Eita que acordou me alfinetando. - Falou cruzando os braços irritada, suspirei antes de encara-la. 

- Desculpa, eu só não quero que você se machuque novamente, sabe o que aconteceu com aquele maldito do Luís. - Falei a encarando, ela me analisou por um momento e veio se sentar ao meu lado. 

- Eu sei que você tem essa mania de querer sempre me proteger Sam, mas tenho que dar um passo maior em minha vida. - Falou e começou a brincar com o pano. - Eu não vou ficar a vida toda sozinha. - Queria que aquelas palavras não tivesse me atingindo mas atingiu, mas tentei o máximo disfarçar, como sempre fazia a vida toda. 

- Mas você tem a mim e a Chiara. - Falei fazendo charme e ela sorriu, fiquei sem ar naquele momento, mas desviei meus olhos pegando outra torrada para não parecer uma retardada olhando para ela. 

- Ei não fica assim, você sabe que são minhas vidas, mas eu preciso ter algo mais com alguém. - Falou e eu acenei concordando, ela tinha o direito de ser feliz, mas ainda sim era difícil vê-la sendo feliz com outro e não comigo.

Estava cada vez mais difícil ficar indiferente, achei que se ficasse com outras ou se me afetasse aquilo sumiria, só que não era assim, estava me pegando cada dia mais apaixonada pela Raquel. 

- Você devia também arrumar uma namoradinha Sam. - Falou me cutucando e a olhei.

- Sem chances, estou bem assim! - Falei tentando me convencer daquilo. - Sei... acha que ficando com essas qualquer vai arrumar alguém descente? - Perguntou arqueando a sobrancelha. 

- Por que está interessada? - Perguntei sem pensar, queria que a resposta dela fosse sim, mas como dizia "querer não é poder".

Recebi um tapa na orelha em resposta e ela se levantou sorrindo com a minha brincadeira, mas não respondeu nada, aquilo me deixou com uma pontinha de tristeza, queria muito que a resposta dela fosse um sim, mas ao mesmo tempo queria que fosse não pelo fato de sermos família.

- Está tudo bem? - Perguntou me olhando.

- Está sim, só tive um sonho ruim. - Falei dando meu melhor sorriso e voltando para o meu café. - Eu vou dar uma saída, vou levar a Chiara comigo pode ser? - Perguntei sugestiva. 

- Claro, só tomem cuidado, as coisas não estão fáceis. - Falou vindo me dar o famoso beijo na bochecha que ela sempre fazia. 

Dessa vez senti que ela demorou mais do que o normal naquele beijo e assim que se afastou rolou um baita clima, vi seus olhos caindo para os meu lábios, mas foi muito rápido porque ela desviou o olhar na mesma hora indo lavar a louça. "Que porr* foi essa?", minha mente ficou uma confusão naquela hora. 

Era de tardezinha quando saímos de casa, ia levar minha pequena para o shopping, mas resolvi levá-la em um parque novo que tinha aberto. 

- Mamãe Sam, eu não quero que a mãe Raquel fique com outra pessoa. - Aquele comentário me fez gelar no banco e olhei para ela pelo retrovisor franzindo o cenho, Chiara apertava seu unicórnio no peito.

- Por que meu amor?- Perguntei, meu peito se apertou ao vê-la me abraçar pelo pescoço com suas mãozinhas pequenas.

- Porque eu quero que minhas mamães fiquem juntas.- Falou e eu sorrir, fazendo um carinho na sua mão.

- Chiara eu e sua mãe somos amigas, mas eu sempre vou estar aqui para você pequena. - Falei e ela me deu um beijo estalado.
Chiara era uma menina de gênio forte, mas muito inteligente, quando contamos a respeito de seu pai ela entendeu perfeitamente e acabou me adotando como sua mãe, aquilo me fez transbordar porque amava aquela pequena e daria minha vida por ela e sua mãe. 

A tarde foi bem divertida, levei-a para brincar no balanço e fizemos um castelinho de areia, Chiara estava toda feliz que acabou fazendo amizade com algumas crianças. Meu celular começou a tocar estridente me distraindo por um momento.

- Fala querida! - Gritou Lucy do outro lado.

- Eu que te digo isso Lucy, o que me conta? - Perguntei divertida.

- Te liguei para saber se está tudo de pé para hoje? - Vi pela sua voz que estava muito animada. 

- Eu não sei se vou Lucy, não estou com clima para festas. - Disse sentida. 

- Hora essa Samantha o que aconteceu mulher? Ontem você estava bem animada para o baile. - Perguntou intrigada, realmente estava super animada para ir no baile da favela, porém essa manhã meu humor estava azedo. - Desembucha logo. - Suspirei passando minha mão no rosto.

- Eu tive um pesadelo essa noite com ela, hoje acordei e tive a notícia que está namorando. - Falei de uma vez, ouvi ela suspirar também.

- Oh amiga, quando que você vai dizer a ela Sam, já faz anos isso, não é saudável guardar esses sentimentos por muito tempo. - Falou e eu olhei para cima tentando não chorar. 

- Eu sei Lu, mas não posso fazer isso, ela é quase minha irmã, seria tão errado, além disso eu prometi para seu pai. - Meu peito doía só de imaginar Raquel com outro cara.

- Amiga você tem que se colocar também em primeiro lugar, sei da sua promessa, mas precisa colocar isso para fora, além disso vai deixá-la de mão beijada para outro cara? - Perguntou, sabia que ela tinha razão, mas o que fazer quando se estava naquela guerra. - Pensa um pouco Sam, sei que Raquel te ama, acredite em mim nossa chefinha é durona, mas perto de você ela é toda doce. - Não teve como não rir daquele comentário.

- Certo, eu vou pensar com carinho. - Disse e olhei em volta procurando Chiara e não achava. - Lu eu vou ter que desligar, tenho uma pestinha para achar. - Falei nervosa.

- Ela sumiu de novo? - Perguntou sorrindo, fiz um som nasal concordando. - Espero que Raquel não descubra. - Gargalhou e fiquei em desespero lembrando da última vez que a Chiara sumiu, quase fiquei sem meus lindos dedos.

- Você fique de boca calada garota, meu Deus eu vou ficar sem mãos hoje! - Falei em desespero a fazendo dar risada e desliguei o celular.Saí desesperada procurando Chiara pelo parque e logo fiquei aliviada quando há vi sentada tomando um sorvete com uma estranha, caminhei as pressas.

- Chiara meu pai quer me matar do coração! - Gritei e ela se virou em minha direção a moça foi se levantando também.

- Oi mamãe eu não te achei e encontrei a tia Mel. - Falou comendo seu sorvete despreocupada, eu olhei para a moça desconfiada. 

- Olá eu sou Melissa Hastings. - Falou ela estendendo sua mão, eu analisei-a e suspirei.

- Obrigada por ter achado ela, sua mãe vai me matar Chiara! - Falei exasperada. 

- Desculpa mamãe, eu digo para a mãe Raquel que foi minha culpa. - Falou com uma carinha que me deixou com muita dó e sorrir passando a mão em seus cabelos.

- Tudo bem pequena, vamos para casa. - Falei a pegando no colo e olhei a mulher que nos analisava atentamente. - Obrigada novamente moça. - Disse educada e ela sorriu para mim, um sorriso lindo que mexeu comigo, mas não foi tanto quanto Raquel. 

- Não tem o que agradecer adorei conhecer essa princesa linda. - Falou e deu um beijo rápido na bochecha de Chiara que fez a criança rir. - Tchau tia Mel! - Gritou acenando e ela acenou de volta. 

Chegamos em casa já estava de noite e ouvi algumas vozes vindo da sala de reuniões, subi com Chiara para o quarto já que ela estava dormindo e a coloquei na cama dando um beijo em sua testa e me assustei quando vi Raquel parada de braços cruzados. 

- Você não tem jeito Samantha! - Disse seria, "merd* Lucy, vou matar aquela vadia!"

- Já ficou sabendo?! - Disse passando por ela sem lhe dar atenção. 

- Já arranquei de Lucy, se ela não fala você nem me dá um telefonema Samantha. - Falou brava, e continuei andando até ela me puxar pela camisa me assustando. - Não me dê as costas quando estou falando com você! - Gritou me prensando na parede. 

Arregalei meus olhos com aquele ato, não vou mentir que me deixou até excitada por ela ter me prensado daquela forma, nossas respirações estavam poucos centímetros uma da outra, qualquer movimento podia até beija-la, vi seus olhos caírem para minha boca. "Bingo!", percebi que não era só eu que era indiferente a ela, Raquel também sentia vontade de me beijar, então para provoca-la umedeci meus lábios e cada movimento ela acompanhou sem desviar seus olhos, quando curvei meus lábios em um sorriso ela me deu um tapa no braço me soltando. 

- Eu vou te matar da próxima vez que deixar Chiara sair por aí sozinha! - Disse nervosa e seu rosto estava mais vermelho que pimentão. 

- Calma baixinha, desculpa por isso, eu fui atender uma ligação. - Disse tentando me explicar e rindo dela.

- Claro que foi Samantha! - Bufou - Você é muito irresponsável. - Disse e a olhei.

- E você é muito gostosa bravinha assim. - Falei e ela abriu a boca incrédula ficando parecendo um pimentão vermelho. 

Raquel saiu pisando duro sem me falar nada e percebi que aquela mulher estava caidinha por mim, que me fez sorrir com a possibilidade daquilo ser verdade. Mas será que teria algum jeito de ficarmos juntas?

Fim do capítulo