Pra começar essa história, é necessário voltarmos no tempo pois ela não começa aqui. 

Tudo começa em 2019, 3 anos atrás na época que talvez tenha sido a mais doida da minha vida até agora. 

Eu não era uma garota comum, pra falar a verdade acho que eu nunca fui,  pelo menos não em relação a aparência, sempre fui olhada torto pelo cabelo  tingido com várias cores misturadas, pelos piercings espalhados pela cara óbvio, pelas tatuagens e estilo que nunca foi nem um pouco fofo e delicado.

Em 2019 eu estava em uma época de descobertas sobre quem eu estava me tornando e sobre  quem eu queria que fosse, tudo era completamente intenso, em casa, na faculdade, nos passeios, com as amizades e com as bebidas. 

Todo mundo me conhecia como Lua, um nome social que estabeleceu o recomeço de uma vida cheia de traumas e da vida que vesti. Quem conhecia a lua, conhecia uma mulher de fases, as quais em apenas um mês podia-se observar uma personalidade quieta e introvertida, uma completamente extrovertida, a explosiva e brava e a maluca. 

Era a amiga presente todos os finais de semana no centro de São Paulo, que sempre chegava com os braços cheios de corote, a caixa de som pendurada e maços de cigarro na cintura. 

Quem me olhava naquela época não via minha solidão, eu mascarava muito bem todos os meus sentimentos com a figura sorridente e palhaça na roda de amigos, em todos os finais de semana estava rodeada de grupos com mais de 20 mulheres tão doidas quanto eu era no ápice da descoberta de sua sexualidade ou reafirmação. Mas, quando a semana começava e a morbidez da segunda-feira me alcançava  o brilho da lua já não era tão cheio, o cabelo bagunçado, a cara amarrotada, o bafo de álcool e o celular despertando às 15 horas eram o que resumia todas as segundas daquele ano. 

Um café longo e sem açúcar pra me acordar, um cigarro escondido na laje enquanto minha avó dormia pra não ter o escândalo do século, o fone de ouvido no máximo e um toque bem marcante de depressão. Quando o relógio batia 16:30 eu me erguia da preguiça, passava um delineado grosso e ia pra faculdade.

 Em 2019 completavam-se 4 anos estudando sem parar e sem poder trabalhar pra manter a bolsa de estudos mas apesar de estar realizando um sonho a faculdade não era regada de flores. Minha sala só tinha meninas padrão, bem sucedidas que substituiam o caderno pelo ipad ou notebook e que não tinham preocupação alguma com o horário do ônibus. Um meio social que eu nunca me encaixei e nunca me senti bem, mesmo depois de quatro anos sempre que chegava na sala sentia olhares pesados de cima a baixo me analisando, alguns com cara de nojo e outros tentando entender o porquê eu só usava roupa larga, preta e com estampas pesadas.  Sempre fiquei sentada no canto esquerdo da sala exatamente na quarta fileira pra evitar que os professores se direcionassem a mim para qualquer interação. Apesar  de 89 alunos me olharem com estranheza e falar de mim quando não estava presente, tinha garotas específicas que não se espantavam com meu jeito e se sentavam ao meu lado, sempre do lado esquerdo da sala e me acompanhavam com o cigarro e a cerveja na hora do intervalo.  Sim, eu bebia todos os dias e não me orgulho disso.

O álcool era um refúgio temporário que tinha encontrado para lidar com minha ansiedade, timidez e  com a tristeza que pesava tanto em meus ombros mas o que eu não percebi naquela época foi que o breve refúgio tinha se tornado um vício incontrolável.

Sempre tive problema com vícios, tanto em substâncias quanto em pessoas, e o processo de abdicação de costumes nunca foi minha praia, sempre odiei mudança de hábitos. 

Apesar da bebida excessiva e dos finais de semana sem pausa, meus resultados na faculdade permaneciam bons e dentro das exigências para manter a bolsa de estudos, eu só não sabia até quando eu iria aguentar aquela rotina que eu sabia que estava me matando, cada segunda parecia que levava uma eternidade pra levantar da cama e qualquer coisa que fosse alimento não conseguia sentir o cheiro. E foi assim, o ano interio.

Fim do capítulo