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Amoras por Klarowsky

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Palavras: 5302
Acessos: 1159   |  Postado em: 25/03/2022

Notas iniciais:

https://www.youtube.com/watch?v=C4HeeSug3J8

Estranho seria se eu não me apaixonasse por você

Alice

Ao abrir os olhos, os raios de sol penetram minha íris e me fizeram ter ciência de que já amanhecera. A primeira coisa que meus olhos contemplam, é uma bexiga amarela inflada com gás hélio, amarrada na guarda inferior da cama, com escritas feitas à mão por uma caneta permanente: "Bom Dia, bela adormecida". Imediatamente um sorriso nasceu em meus lábios e a certeza de que a promessa do bom dia a qualquer momento, foi cumprida. Procuro ao redor a dona da ideia, mas estou sozinha. Fico observando a agradável e singela surpresa, tentando descobrir em qual momento esse objeto foi colocado aqui, e se, essa letra, é da própria senhorita mandona, ou foi comprada e escrita por alguém que, nem sabe o significado desse "bela adormecida". Entre meus desvaneios, as enfermeiras chegaram e começaram à rotina matinal, com uma feliz notificação:

- Hoje iremos tirar sua sonda!!

Que alegria senti ao ouvir essa frase. Ficar livre desse objeto invasivo, é uma vitória e tanto.

- Só falta me falarem que posso voltar a tomar café – brinquei com as sorridentes mulheres que cuidam tão bem de mim.

- Uma coisinha de cada vez – respondeu-me uma delas, me lançando uma piscada amigável.

Concluíram toda a rotina e se ausentaram, me deixando sentada na poltrona, o que muito me animou. Aproveitei para me inteirar das notícias e visitar meu e-mail, onde uma grata surpresa me aguardava:

"Cara Srta Alice Stromps,

É com muita estima que noticiamos o aceite de sua proposta em palestrar em nosso evento sobre Negócios, Carreira e Gestão, que realizar-se-á entre os dias 23,24 e 25 de março de 2021 no Jatiúca Hotel & Resort – Maceió/AL. Seu momento de fala, está programado para ser a palestra final, possibilitando assim, o encerramento do evento com chave de ouro. Estamos no aguardo da sua confirmação de presença, para darmos continuidade aos serviços de reservas e negociações de valores."

Meus olhos se encheram de emoção! Palestrar sobre meu tema de pesquisa do mestrado, em um evento corporativo dessa magnitude, é o auge da minha carreira. Olhei no calendário, e tenho exatos quatorze dias para estar completamente apta para tal compromisso. A vontade de sair gritando pelos corredores do hospital noticiando essa conquista, é imensa. Porém, me contive apenas em printar e enviar para a Carol, minha amiga que me acompanha desde sempre. Sua resposta, não poderia ser melhor:

Carol: Alice Stromps, minha alma gêmea! Você é o maior dos meus orgulhos. Seu cérebro é brilhante e não foi, nem será uma concussão cerebral que apagará esse brilho. Que felicidade!! Estarei na torcida e vou te montar, a palestrante mais linda que Maceió já viu. Te amo!! Cabeçuda do meu coração.

Quem dera todas as pessoas tivessem o privilégio em ter uma amiga como a Carol. Ela é impecável em todos os detalhes. Até nos seus "dedos podres" para escolher homens que não a merecem, ela consegue ser a mais engraçada e distinta, com suas histórias mirabolantes dos encontros esquizofrênicos. Sou imensa grata por ela em minha vida.

Pensei em contar para minha mãe, mas é melhor ser pessoalmente. Quero me poupar na alegria do momento, e evitar receber palavras de desânimos. Quando já estiver com a passagem em mãos e a conta remunerada, compartilharei da alegria. Ouvi duas batidas na porta que, prontamente se abriu e surgiu a mais linda das criaturas já desenhadas pelo Eterno. Vestida com uma calça pantalona na cor palha, camisa de seda cru e uma blusa de tricoline rosê, com um sapato de salto fino animal print e cabelos soltos, armados como seu sorriso estonteante que me fizeram piscar repetidamente na tentativa de acreditar na paisagem que via. A olhei de baixo pra cima, sentindo meu coração descompassar e meu rosto ruborizar por não conseguir esconder a cara de boba. Logo atrás dela, surgiu a Dra Vitória, estampando igualmente um lindo sorriso.

- Bom dia!!! – cumprimentaram-me juntas.

Meus olhos não se desviavam de Laura. Ela é aquele tipo de mulher que, onde chega, preenche o ambiente e nada mais se nota a não ser sua presença.

- Bom dia! Mas que surpresa agradável! – as respondi, esboçando um grato sorriso.

- Vamos para casa? – falou a médica com um sorriso confortante – Estive conversando com a senhorita Veigas – e olhou para ela, que olhava para mim com um sorriso encantador fixo nos lábios – E ela se comprometeu que, pessoalmente, te levará em meu consultório daqui quinze dias.

- Ah é? – fiz uma expressão de espanto e sorri olhando para Laura – Se ela diz, é melhor obedecer!

Laura deu um sorriso alto e me fitou, cerrando levemente os olhos.

- Irá para casa, mas com algumas restrições – continuou a médica – Poupar-se de muito esforço e grandes emoções, praticar atividade física moderada, como por exemplo caminhar todos os dias, e voltar aos poucos para o trabalho.

- Pode me explicar o que é poupar-se de grandes emoções, doutora? – perguntei sorrindo.

- Muita adrenalina, por exemplo, corridas, esportes radicais...

- Paraquedas então não pode? – a interrompi – Nem rappel?

Ambas sorriram, achando que eu estava brincando.

- Nem pensar!! Por enquanto, não!! – respondeu a Dra Vitória, mudando sua expressão para séria – Você pratica esses esportes?

- Sim! E amo! – e pude ver a expressão de espanto da Laura ao ouvir – E moto, posso?

- Melhor esperar ainda essa semana, pode ser? Semana que vem você volta aqui para tirar os pontos, e então, estará liberada! – falou gentilmente a neurologista.

- Muito obrigada, doutora!! Nem sei como posso te agradecer por todo cuidado. E a você, também, Laura! – dirigi o olhar a ela.

Ambas responderam que era uma satisfação ajudar e me senti lisonjeada com isso. Permanecemos ainda conversando sobre detalhes de consultas e cuidados até que a médica se ausentou, deixando, eu e Laura sozinhas.

- Muito obrigada pelo bom dia! - falei a ela sorrindo e apontando para a bexiga.

Ela olhou para a bexiga e sorriu.

- Quis te dar bom dia antes do Sol – e me fitou os olhos – Espero ter conseguido!

É impossível estar na presença dela e não sentir arrepios na espinha. Essa simples frase, despertou todas as borboletas que habitam meu estômago.

- Com certeza conseguiu – retribui o olhar fixo – Só queria saber se essa, é a letra que verei em algum possível contrato, futuramente.

- Mas é claro que sim – dirigiu-se até a bexiga e segurou com as duas mãos, examinando a escrita – Só que nos contratos é um pouco mais rabiscada – e sorriu graciosamente.

- Ufa! Me sinto aliviada em saber que meu apelido de bela adormecida, continua só entre nós – sorri em resposta.

- De agora em diante, terei que tirar a "adormecida", não é?! – fez uma careta sapeca ao falar – Será só, bela acordada.

Senti minhas bochechas corarem e sorri timidamente. Ela acabou de me chamar de bela, e eu não sei como reagir a esse elogio. Me sinto como uma adolescente, tentando encontrar as palavras corretas a dizer a ela.

- Suas coisas já estão arrumadas? – me perguntou.

- Só preciso trocar de roupas – respondi rapidamente – Não trouxe muita coisa – e sorri da minha situação – E vou ligar para a Carol vir me buscar.

- Não precisa! – falou se dirigindo à porta – Eu já estou aqui e te levo, se você aceitar, claro?!

- Eu aceito sim, mas já incomodei demais – falei me levantando – Não se preocupe, peço à Carol.

Ela revirou os olhos e respirou fundo, voltou os olhos para mim e falou seriamente.

- Não é incômodo algum, já te disse várias vezes. Eu te levo, prometo te deixar em casa, e segura – sorriu ironicamente – Enquanto você se arruma, vou resolver umas coisinhas com a doutora Vitória e já volto.

- Estarei pronta! – e sorri, batendo continência ironicamente.

Ela cerrou os olhos e sorriu também, ausentando-se.

Fiz uma lista de transmissão para meus pais, Carol e dona Chica:

Alice: Oie! Estou de alta!! Laura está aqui e me levará para casa. Dêem-me Boas vindas de volta à vida! Beijos.

Apressei-me em me arrumar e esperar a Laura retornar ao quarto. Sinto tanta gratidão em meu peito, que nem sei explicar. Gratidão a Deus pela pronta recuperação. A Laura por todo apoio. Minha mãe, Carol, Léo. Tantas pessoas boas ao meu redor, torcendo por mim. Agora é focar em ficar plena e viajar para Maceió. As enfermeiras chegaram para tirar o acesso venoso que estava no braço e me desejaram boa sorte na vida. Meu coração se encheu de felicidade por todo esse carinho. Logo, Laura também entrou, junto com a médica, me trazendo o documento de alta e algumas prescrições. A médica me entregou um cartão de visitas e colocou-se inteiramente à disposição, caso fosse preciso. Agradeci a todas por tanto cuidado e atenção. Não sei o que me trouxe até aqui, mas certamente o acaso foi surpreendido com essa reviravolta de cuidados.

-- x --

Na portaria do imponente hospital, um manobrista  trazia uma BMW azul, maravilhosa. Perguntei discretamente se esse era o carro, e a Laura disse que sim, sem se importar com o luxo do automóvel a nossa frente. O homem abriu a porta do passageiro para eu entrar e ela, o observava. Eu estava atônita com a imponência do interior do veículo. Observava cada detalhe, discretamente, enquanto segurava minha linda bexiga amarela nas mãos. Ela então me olhou, sorriu e, com esse lindo sorriso nos lábios me propôs:

- Casa ou um suco?

- Suco! – respondi sem titubear e correspondi ao sorriso.

- Oui m'dame (*) – e ligou o carro, olhando-me animada.

Não posso quantificar o quanto eu estou feliz. Todo o meu corpo sente a vibração desse momento. Estar ao lado de Laura, é como encontrar tudo o que eu sempre desejei, em um só lugar. Ela é linda, extrovertida, atenciosa. Carrega uma leveza no olhar, impossível de mensurar. Essa Laura, que está dirigindo, ao meu lado, me levando para algum lugar que eu não faço ideia onde seja, é muito diferente da senhorita Veigas, que eu sempre segui pelas notícias. A senhorita Veigas já me encantava, mas essa Laura Veigas, me propõe sentimentos inimagináveis.

- Quel genre de musique voulez-vous entendre, madame (**)? – perguntou-me com expressão imponente.

- Uau! – respondi sorrindo – então, tu parles français (***)? – dirigi a ela um olhar também imponente – Pour correspondre à la langue et à l'occasion, il peut être "Non, Je Ne Regrette Rien" da Edith Piaf (***).

Ela apenas sorriu e falou o nome da canção que prontamente começou a tocar, enquanto o caminho era percorrido e frequentemente trocávamos olhares e sorrisos.

- Intrigante essa canção – me falou ao final dos versos – Se é para combinar com a ocasião, parabéns! Belíssima sugestão.

- Merci mademoiselle – a respondi, acenando levemente a cabeça em agradecimento.

- Então, Alice Stromps esconde surpresinhas clássicas – falou com expressão misteriosa.

- Eu sou uma caixinha de surpresas, mas Laura Veigas é uma caixa enorme, não é?! – a olhei encantada com tanta beleza.

Ela sorriu alto e balançou a cabeça em negação.

- Por vezes, me acho bem previsível – deu de ombros – Mas, todos temos um lado secretinho – e fez uma careta seguida de sorriso.

Ainda não sei se o tempo passou muito rápido por estar ao lado dela, ou se o trajeto que foi curto. Paramos em frente a um renomado restaurante, ainda no Morumbi. Foi então que percebi o quanto eu estava despojada e ela, elegantérrima.

- Laura, não se importa em eu não estar vestida adequadamente para este ambiente? – perguntei franzindo o cenho com expressão preocupada.

- E por qual motivo, eu me importaria? – imediatamente me respondeu – Você me parece perfeitamente adequada...

- É que, acabei de sair de um hospital e minha roupa não é ... – a interrompi e fui interrompida da forma mais inesperada possível. Ela tocou meus lábios com o dedo indicador, pedindo silêncio.

- Não fale mais nada! – piscou lentamente com expressão imponente – Você é completamente bem vinda a um dos meus restaurantes, e quem achar ruim, que venha falar diretamente comigo – sorriu ironicamente ao final da frase.

Eu estava viajando em algum lugar da galáxia, depois desse toque em meus lábios. Meu coração batia na garganta se misturando a respiração curta e ofegante.

Entramos no ambiente que se encontrara completamente vazio, apenas um garçom veio rapidamente ao encontro, cumprimentando-nos:

- Bom dia, senhorita Veigas. Satisfação tê-la em nossa companhia.

- Obrigada. Bom dia! – ela respondeu cordialmente – Arrume uma mesa para nós, por favor?

Eu observava a composição do lugar que dispunha de uma faixada toda em vidro e mesas redondas, com quatro cadeiras na cor marfim. Ao centro de cada mesa, orquídeas brancas e nada mais. Um lugar minimalista e luxuoso por essência. O garçom nos alocou em uma das mesas próximo à janela, e longe do bar e cozinha. Nos ofereceu o cardápio e fizemos as escolhas. Ela pediu um suco de abacaxi com hortelã e eu, frutas vermelhas. Ao garçom se ausentar, ela apoiou os cotovelos sobre a mesa e o queixo sobre as mãos e me olhou profundamente:

- E então, quem é Alice Stromps?

Repeti seus movimentos e a olhei profundamente:

- E quem é Laura Veigas? – devolvi a pergunta com um breve sorriso nos lábios.

- Eu já sou figurinha conhecida – revirou os olhos.

- Definitivamente, não, senhorita Veigas – a respondi fitando-a.

- Como não? – deu de ombros – Vai me dizer que há uma semana atrás, no shopping, não sabia quem eu era?

Desci os braços e encostei-me na cadeira, franzindo o cenho com a pergunta. Por um momento, tive a impressão de que ela acredita que eu a defendi, só por saber quem é.

- Saber quem você é, já fazem seis anos que sei – continuei a explicando com expressão séria – Sua rápida e cuidadosa ascensão no mercado financeiro, despertou todos os olhares para você. Porém, semana passada, no shopping, só me dei conta que era você, quando já estava à sua frente – a olhava fixamente – E posso dizer, que foi uma surpresa e tanto.

- Então você foi justiceira daquele modo, por alguém que você nem sabia quem era? – perguntou-me com expressão surpresa.

- Sim – dei de ombros – Até onde eu sei, respeito e justiça, são para todas as pessoas, não é?! – fiz uma careta de desdém – Eu não preciso conhecer alguém para exigir que sejam tratadas adequadamente.

Ela me olhava atentamente, como se estivesse examinando as minhas palavras.

- Pelo visto, você é mais caixinha de surpresas do que eu imaginei, Alice Stromps.

Franzi o cenho expressando estranheza em sua fala.

- Digamos que, estou acostumada a pessoas que são diferentes de você – me olhava com admiração – Me sinto ainda mais grata e convicta do que pude proporcionar a você, em gratidão.

- Laura, acredite! – elevei o tronco para perto da mesa – Sou imensamente grata pelo que fez. E se as pessoas que você está acostumada a conviver, não agem com humanidade, sugiro você trocar de companhia.

Ela sorriu despretensiosamente e balançou a cabeça em concordância.

- Sempre tem uma resposta na ponta da língua, não é?! – ela sorria

Arqueei a sobrancelha e percebi que isso foi um elogio. Senti meu rosto ruborizar e sorri timidamente.

- Foi você quem disse que sou esperta e aprendo rápido. Isso faz parte do pacote.

Nossos sucos chegaram e ao tomar um gole, olhei para a rua, através da fachada de vidros. Avistei dois carros parados, cada um, com um homem dentro e olhavam atentamente para onde estávamos. Senti um gelo na espinha, por medo.

- Laura, disfarça – falei a ela – Mas tem dois homens lá fora, nos olhando.

Ela tranquilamente os olhou e sorriu.

- Fica tranquila! São meus seguranças. Estão aqui para garantir que tenhamos um momento tranquilo e seguro.

Arregalei os olhos e consenti. - Mas que inocência a minha. É claro que Laura Veigas teria seguranças à espreita. Estou em um dos seus restaurantes, sendo vigiada por dois de seus seguranças, acabei de sair do hospital que ela me arrumou e ainda tenho coragem de fazer piada com o seu controle. Sou realmente hilária! – refletia isso enquanto tomava um gole do suco e sentia os olhos dela voltados à minha pessoa.

- Quero saber mais de você, Alice. De verdade! – me falou, causando uma secura na garganta e frio na espinha.

- O que quer saber? – a respondi, segurando o canudo na boca, sem tomar o suco.

Ela mexeu os olhos como quem procura as palavras que deseja dentro da mente e esboçou um sorriso tímido.

- Se falar, tudo, vou te assustar?

Sorri com sua pergunta. Afastei o copo e cruzei os braços sobre a mesa.

- Um jogo! – respondi a fitando

- Jogo? – ela arqueou as sobrancelhas e imitou meu gesto.

- Sim! Jogo de perguntas. Eu pergunto e você responde e vice versa. Uma vez de cada. Topa?

- Topo! Quem começa? – respondeu com um sorriso sapeca

- Você – falei revirando os olhos – Que adora um poder!!

Ela sorriu e cerrou os olhos me olhando graciosamente. Suspirei com a visão que me era proposta.

- Idade?

- 36 e você?

- 34.

- Signo?

- Leão e você?

- Sabia! – revirei os olhos e gargalhei – Capricórnio.

- Sabia por quê? – ela sorria despretensiosamente

- Porque você é exibida e mandona. Nunca perde a pose e está sempre por cima de suas "presas" – fiz sinal de aspas com os dedos.

- Aniversário?

- Três de janeiro, e você?

- Três de agosto! – sorriu lindamente

- Nossa! Que coincidência! – sorri também – Não vai trabalhar hoje?

- Essa é sua pergunta? – falou tirando sarro.

- Sim. Estou preocupada com você – dei de ombros.

- De quinta-feira eu folgo! – revirou os olhos – Também sou filha de Deus. Mas agora é a minha vez! Você queimou uma pergunta – tomou um gole do suco e encostou na cadeira – Estado civil?

- Viúva! – e a encarei, tentando segurar o riso da trolagem.

- Nossa!! Meus sentimentos!! – falou colocando as mãos no peito – Não fazia ideia disso.

Não resisti e gargalhei. Ela me olhava com expressão furiosa, ao mesmo tempo que sorria.

- Solteira!! – falei em meio ao riso – E você?

- Chata! – revirou os olhos e em seguida me fitou esboçando um sorriso sapeca – Solteira, também.

- Praia ou campo?

- Campo! E você?

- Difícil. Gosto de tudo. Praia, campo, montanha, estrada – dei de ombros e sorri.

- Bicho solto, então?

- Muito!! Até demais. Minha mãe que o diga.

- Por falar em mãe, tenho a impressão de que conheço sua mãe de algum lugar, mas não consegui me lembrar de onde. O que ela faz?

- Essa é a sua pergunta? – não resisti e agora foi a minha vez de retribuir a zombaria. Ela apenas revirou os olhos e sorriu - Minha mãe a vida toda foi cozinheira. Hoje em dia ela é apenas a sombra do meu pai.

- Cozinheira? – ela falou com espanto – Dona Fátima, não é?!

- Sim. A conhece?

Ela deu um tapa na mesa e levou as mãos à boca.

- É claro!! A dona Fátima!! – seus olhos estavam arregalados e brilhando – Ela trabalhou no orfanato?

- Sim – e dei de ombros com a pergunta.

- Meu Deus!!! – continuava com as mãos na boca – Dona Fátima!! – me olhava com os olhos marejados e eu, a observava, sem entender aquela reação – Sua mãe, foi cozinheira no orfanato que fiquei, logo que me tornei órfã. Ela foi uma querida que todos os dias falava comigo. Tenho um carinho imenso por ela.

- Nossa! Que mundo pequeno!! – a respondi igualmente surpresa e feliz – Ela ficará imensamente feliz em saber disso. Você tinha quantos anos?

- 10 anos – continuava a falar extasiada – Nossa! Sua mãe é a dona Fátima, não posso acreditar nisso – me olhava e eu podia sentir sua emoção – Quando a vi, tive a impressão de que a conhecia. Ela certamente não se lembra de mim, eu era uma pirralha, minúscula e toda assustada – ela meneava a cabeça, incrédula – Todos os dias a dona Fátima me procurava e falava: Vim saber de você! E apertava minhas bochechas – seus olhos voltaram a se marejar – Ela fez isso, até o dia em que a Didi foi me buscar. Nunca me esqueci daqueles grandes olhos verdes que me olhavam com tanto carinho. Nossa conversa se limitava a isso, e eu sempre a respondia: Estou bem! Vou ficar bem! Mesmo não tendo noção do porque falava isso. Mas apenas esse gesto dela, significou tanto pra mim, que me marcou pra vida toda.

- Nossa, Laura! – eu a olhava ainda mais encantada – Minha mãe não faz ideia disso. Algum dia você deveria contar a ela. Será muito importante.

Ela me olhava com olhos de surpresa. Seus olhos marejados estampavam a descoberta de algo muito importante para sua memória. E isso, a tornou ainda mais bela aos meus olhos. O que trás de história essa linda mulher? Eu, enquanto menina com pai e mãe vivos, branca, privilegiada, jamais conseguirei mensurar o que Laura Veigas carrega dentro de si. Mas estou completamente disposta em descobrir.

Tomou um gole do suco e eu também o fiz. Me olhou fixamente e sorriu.

- Não tenho palavras para esses encontros da vida! – me falou com os olhos vibrantes – Quando que eu ia imaginar, esbarrar com a filha da dona Fátima e estar aqui, vinte e quatro anos depois, tomando um suco, em um dia de folga.

- Nem fale em surpresas!! – a respondi também com os olhos vibrantes – Se há uma semana atrás me falassem que hoje estaria aqui, de frente com você, chamaria essa pessoa de louca – e sorri.

- E nosso jogo? Vai continuar? – falou com um belíssimo sorriso.

- Por mim, pode continuar! Parou na sua vez – e sorri.

- Claro que não! Minha pergunta foi sobre sua mãe – deu de ombros

- Fica como brinde! – pisquei a ela que retribuiu.

- Hum...Deixe-me pensar o que posso te perguntar! – falou apoiando os cotovelos à mesa, o polegar na bochecha e o dedo indicador batia em sua têmpora - Hobbie?

- Esportes radicais e viajar. E você?

- Cavalgar e tocar cello – sorriu timidamente

- Cello? De violoncello? – perguntei surpresa e fiz o gesto de quem toca o referido instrumento.

- Sim! – ela deu de ombros sorrindo timidamente

- E depois, eu que sou a caixinha de surpresas? – sorri encantada – Eu
amo cello – revirei os olhos ao dizer - Sou encantada por esse instrumento.

- Você toca alguma coisa?

Gargalhei com sua pergunta de duplo sentido e a olhei fixamente, fazendo-a sorrir com vergonha.

- Você entendeu o que perguntei, Alice Stromps! – falou segurando o riso.

- Entendi, mas não podia perder a piada – continuava a sorrir – Não toco nada! De instrumento musical, não toco nada – e voltei a sorrir.

- Engraçadinha você! Nem parece que acabou de sair do hospital! – disse revirando os olhos.

- Ok! Tomarei minha postura de doente! – falei sorrindo e tentando manter uma expressão séria, rapidamente.

- Vai! É a sua vez!! – falou revirando os olhos e tomando mais um pouco do suco.

Minha vontade era perguntar onde ela esteve por todo esse tempo. A sensação de bem estar quando estou com ela, é o que procurei a vida toda ter com outras pessoas. O tempo está passando, o restaurante se enchendo, e eu só consigo prestar atenção nessa linda mulher negra, sentada à minha frente, querendo saber de mim e eu, dela. Mas não posso me permitir ser tão iludida a ponto de encarar isso como uma paquera. Ela já me falou que busca uma amiga, e tentarei ser.

- Onde você cavalga? – tirei essa pergunta não sei de onde.

Ela começou a gargalhar e fechava os olhos. Por um instante não tinha entendido o motivo da repentina alegria, mas rapidamente entendi o duplo sentido da minha fala. Corei de vergonha e a olhei, sem graça.

- Estou mais aliviada que não sou a única a falar coisas ambíguas – e continuava a sorrir – Cavalgo na minha fazenda. Sempre que posso vou pra lá e esqueço da cidade.

Claro. Ela tem uma fazenda. Básica. E eu tenho um mini apartamento e também a alegria de ter sido chamada para ser palestrante em um evento – revirei os olhos para meus pensamentos e ela percebeu.

- Que foi? Falei alguma coisa que não gostou? – perguntou-me preocupada.

- Não!! – corei de vergonha – Desculpa! Estava pensando em outra coisa, desculpa.

- Que tipo de coisa? – perguntou intrigada.

- Laura... – como vou dizer a ela o que estava pensando – Não é nada demais. Desculpa! Vamos continuar o jogo. É sua vez!

- Não é a minha vez, e quero saber o que estava pensando! – falou com expressão nada amigável.

- Estava pensando que é óbvio que você tem uma fazenda. E que eu tenho um mini apartamento! – falei com os olhos fechados e com as bochechas ruborizadas de vergonha.

- Não vejo problema algum em você ter um mini apartamento e eu uma fazenda, Alice! – falou bastante séria – Eu não ligo para nada dessas coisas que comprei. Tento usufruir quando dá. Não sou presa a isso.

- Perdão, Laura – estou arrasada com o que falei - Devo ter me expressado mal. Me perdoa, mesmo. – continuei - Eu tenho por você, completa admiração e inspiração. Estar tendo essa oportunidade de conversarmos, é algo que jamais achei ser possível. Não quis ser mesquinha em desdenhar de você. Eu sou sua admiradora nada secreta há tempos. E se quiser, pode me levar pra sua fazenda que será um imenso prazer conhecê-la. Pode também me ensinar a cavalgar e tenho certeza que tudo lá é tão lindo como você é – falei tudo rápido e sem filtro de consciência.

Ela me olhava com vontade sorrir, mas não perdeu o ar de imponência.

- Perdão concedido! – arqueou as sobrancelhas – E vou pensar sobre seu auto-convite. Talvez leve sua mãe, mas você, terá que conquistar sua ida, depois dessa – revirou os olhos – E não sei as coisas são tão lindas quanto a mim. Espero que não se decepcione. – e esboçou um lindo sorriso.

Deus é minha testemunha que tive vontade voar por cima da mesa e beijar essa mulher, com todo o meu ser! Ela me tira de órbita. Meu coração voltou a se acelerar, desacostumando-se rapidamente com sua presença, me olhando com esses olhos de arrogância misturado a mistério.

- Desafio aceito! Irei conquistar minha ida – sorri carinhosamente.

O celular dela tocou e ela pediu licença para atender. A ouvi marcando algum encontro em sua casa e subentendi que meu valioso momento, tinha se acabado. Terminei o suco e procurei minha carteira, porém, me dei conta de que não me lembro de onde ela está. Me bateu um certo desespero por isso. Não apenas pela vergonha em não pagar nem o suco que tomei, mas também, por não saber de fato onde estão meus documentos. Laura voltou à mesa e percebeu meu olhar aflito.

- O que aconteceu? – perguntou preocupada.

- Não sei onde está minha carteira com dinheiro e documentos – respondi expressando desespero.

Ela sorriu e sentou-se novamente.

- Seus pertences estão com a Carol – revirou os olhos – Ela que ficou responsável por tudo que é seu. Fique tranquila. Logo estará em sua casa e encontrará tudo o que precisa.

- Ufa!! Mas então – corei de vergonha e fiz uma careta – Você acerta o suco?

- Vou pensar melhor sobre isso – falou sorrindo debochadamente – Talvez tenha que vender minha égua preferida, para poder arcar com esse custo.

Apenas dirigi a ela um olhar irônico e um sorriso igualmente debochado. Minha vontade, mais uma vez, é agarrar-lhe e beijar-lhe a boca de um jeito que a faça sorrir.

- Apesar de estar de folga, o dever me chama! – falou baixando os olhos – Infelizmente terei que ir resolver umas pendências.

- Tudo bem! Foi maravilhoso estar aqui com você – olhei-a fixamente nos olhos – Obrigada por esse momento.

- Eu que agradeço! Você não pode imaginar o quanto eu amei estar aqui, com você! – falou retribuindo o olhar – Agora, vou saber onde você mora – e sorriu ironicamente.

Após fazer o pagamento, nos dirigimos até o carro e seguimos rumo a minha casa, ouvindo a continuação das músicas de Edith Piaff.

- Então, é aqui que me escondo!! – falei, apontando para o prédio – Andar 12, apartamento 12. Só aparecer, sempre que quiser e puder.

- Aperto o 12 que é o seu andar... - começou a cantarolar a canção de Cássia Eller, me olhando diretamente nos olhos e por um breve momento, para meus lábios – Não vejo a hora de te encontrar e continuar aquela conversa..

- Que não terminamos ontem! – continuei a canção, também a olhando fixamente os olhos e seus lábios – Ficou pra hoje!

Por um momento nossos olhos se encontraram em meio ao silêncio que se instaurou pós breve cantarolar da canção. Eu olhava sua boca, carnuda, perfeitamente desenhada e voltava os olhos para seus olhos pretos, tão pretos quanto duas amoras maduras. Ela olhava para minha boca e igualmente voltava para meus olhos. Ouvia o som de nossa respiração ofegante e a continuação da música ecoava em minha mente - "Estranho seria se eu não me apaixonasse por você..."

- É melhor eu ir – ela interrompeu o breve silêncio, fechando os olhos e virando-se para frente – Tenho pessoas à minha espera.

Respirei fundo, recompondo-me! Engoli em seco e recobrei meu lugar no mundo.

- Obrigada mais uma vez, por tudo! – falei a ela e toquei na maçaneta da porta para abrir.

Senti ela segurar minha mão, que segurava a bexiga. Virei-me para vê-la e ela já estava encostando seu rosto macio no meu, beijando-me a bochecha. Senti em câmera lenta o toque dos seus lábios em meu rosto, e sua respiração que me cheirou enquanto beijou.

- Eu que agradeço! – falou ao voltar para seu encosto – Se cuida!! Bela adormecida – e me sorriu, com os olhos e com os lábios.

Eu devo ter estampado a maior cara de boba que alguém pode ter, pois ainda estava sentindo o toque dos seus lábios em meu rosto, com o coração disparado e sem um pingo de vontade me ausentar de perto dela.

- Você também, se cuida! – a olhei e pisquei vagarosamente com os dois olhos apertados e tão logo sai do carro. Ela saiu e eu continuei a seguindo, desejando que não tivesse ido, estampando um sorriso bobo e coração disparado por tudo que acabara de acontecer.

Tradução:

(*) Sim, senhorita

(**) Que tipo de música gostaria de ouvir?

(***) Você fala francês. Para combinar com o idioma e a ocasião, pode ser "Non, Je Ne Regrette Rien" da Edith Piaf .


Fim do capítulo


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Comentários para 35 - Estranho seria se eu não me apaixonasse por você:
Eva Bahia
Eva Bahia

Em: 15/04/2022

Cara autora, preciso muito parabenizar-te por este encantador enredo... Meu Deus, que espetáculo viu.. as palavras, os parágrafos, os personagens, a estória em si, tudo me envolve como poucas vezes acontecera. As protagonistas são lindas. PARABÉNS mais uma vez. 

Com carinho 

Eva


Resposta do autor:

Recebi aqui o carinho!! Gratidão

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amoler
amoler

Em: 10/04/2022

A música é do Nando Reis, Kassia só interpretou, belissimamente.

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mtereza
mtereza

Em: 29/03/2022

Nossa jurava que iria rolar o primeiro beijo a química entre elas realmente é palpável 


Resposta do autor:

Quaaaaase!! Te garanto que vai valer ainda mais a pena a hora que acontecer.

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paulaOliveira
paulaOliveira

Em: 25/03/2022

Meu Deus essas duas...
Resposta do autor:

Os dias de glória que pediu, estão chegando rsrs

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