Capítulo 21

-Vamos dar uma volta? - disse Nicole, com Lianna ainda presa entre seus braços.

-Eu... Está tarde, Nick... Amanhã acordo super cedo... -ela fez uma expressão envergonhada que Nicole achou simplesmente adorável.

-Eu queria, mas... – ela riu. – Sou uma administradora responsável! Não me tente!

A loira colocou uma mecha do cabelo castanho da outra mulher para trás de sua orelha e ternamente deu-lhe um beijo na testa.

-Então entra comigo no carro um pouco... Eu só quero ficar uns minutinhos com você... Não vou tomar muito seu tempo, Bela Adormecida. Só matar um pouquinho das saudades, pode ser? -ela falou, fazendo o gesto de quase encostar o dedo indicador no polegar para demonstrar que seria rápido. 

Lianna assentiu e Nicole correu para abrir a porta do carro para ela.

-Sempre galante, não é Srta.?

-Pra você? Sempre. – a loira disse, piscando para a outra.

Dentro do carro, ambas se olharam e suspiraram simultaneamente. Os sorrisos tomaram conta das faces, também ao mesmo tempo.

-Nicole, eu deveria brigar com você por ter vindo a essa hora, tão longe e ainda falando ao telefone enquanto dirige! -começou Lianna, mas a loira fez uma expressão de arrependimento e culpa tão fofa que ela não conseguiu continuar com a bronca.

Então, delicadamente, passou a mão no rosto de Nicole ao que ela encaixou a bochecha em sua palma, como se quisesse que o carinho durasse um pouco mais. Seus olhos brilhavam intensamente.

Lentamente, Lianna aproximou o rosto do dela e beijou-lhe o nariz na mais leve das carícias. Ela sorriu e enrugou o nariz. Lianna também sorriu e então lhe beijou o queixo. Nicole suspirou. Olhando-a nos olhos carinhosamente, Lianna subiu a boca e encostou os lábios nos dela. De olhos fechados, ouviu mais um suspiro, profundo dessa vez. O som repercutiu em um estalo na cabeça de Lianna, se espalhando como uma carga elétrica por todos os nervos de seu corpo. Não sendo capaz de resistir mais, ela pousou as mãos na nuca loira e intensificou o beijo. Os lábios se moviam febris. Saudades. As línguas buscavam-se algo afoitas. A morena gem*u baixinho e a loira sorriu no meio do beijo. O coração de Lianna errou uma batida como resultado àquele sorriso dentro de sua boca. Nicole mordeu-lhe o lábio inferior e puxou suavemente e Lianna sentiu que poderia levitar. Nada muito diferente do que a outra também sentia.

O contato seguiu até que a ar rareou e obrigou-as a diminuir o ritmo.

Algum tempo depois, Nicole distribuía pequenos beijos por toda a face da morena, tendo o rosto dela entre as mãos.

-Lila... Lila! Tenho certeza que você deve ter se saído muito bem em Hogwarts...

-Como assim? - a expressão dela era confusa.

-Sim, porque você só pode ser uma bruxa e me lançou algum feitiço! E olha, meus parabéns, porque eu estou uma bobona enfeitiçada que só pensa em você!

A administradora gargalhou.

-Não devo ser tão boa, pois acho que um pouco do feitiço acabou pegando em mim também...

-Um pouco é? -Nicole beijou-lhe a linha da mandíbula, até chegar ao pescoço que estava amostra na blusa de gola canoa que ela usava. Sorriu satisfeita ao perceber quando um arrepio fez Lianna estremecer.

-Só um pouquinho... Digamos que eu tenho pensado bastante em você também...

-Humm... Que bom, não é? Que estamos afinadas nos pensamentos... -ela continuou a beijar a pele bronzeada do ombro de Lianna. Inesperadamente ela deu uma leve mordida junto à clavícula dela, que tremeu e soltou um som baixinho que Nicole só foi capaz de ouvir porque estava muito próxima da garganta dela.

-Ai Nick, assim fica difícil... -foi a débil reclamação que se seguiu, que, no entanto, não surtiu muito efeito uma vez que o corpo dela dizia outra coisa. 

A pele era quente sob lábios de Nicole, os pelos estavam permanentemente arrepiados. Inspirando o cheiro doce dela, Nicole não resistiu e pressionou os lábios sobre o ponto de pulso de Lianna.

Esse foi o momento de rompimento. Lianna segurou o rosto de Nicole nas mãos e a olhou profundamente, havia chamas nos olhos castanhos. A loira engoliu em seco e sentiu seu estômago afundar ante o desejo puro estampado na expressão da outra mulher. Lianna deslizou as mãos para a nuca de Nicole onde arranhou a pele sensível com as pontas das unhas. Em seguida mergulhou na boca de Nicole em um beijo sôfrego, profundo, como se sua vida dependesse unicamente disso.

A loira apertou a morena junto a si e em segundos estavam ambas se espremendo em um único banco do carro. Os corpos milimetricamente colados, as bocas só se se desgrudavam o suficiente para permitir a respiração que ficava cada vez mais pesada e rápida. Nicole enfiou as mãos por baixo da blusa de Lianna, tocando a pele escaldante da barriga dela. Ao toque, a administradora instintivamente retesou o abdômen. O movimento e o que ele significava fez Nicole gem*r rouca contra a boca dela. 

Lianna a enlaçava pela cintura com um dos braços, a outra mão apertava a coxa esquerda da loira.

Quando Nicole a puxou para que se sentasse em suas pernas, Lianna pareceu despertar. Afastou-se suavemente, mas ainda assim rompendo o encontro desesperado das bocas.

-Ah, Nick... Pelo amor de Deus, estamos na rua... -sua respiração estava descompassada, o rosto afogueado. Nicole não estava diferente, os olhos crepitavam um brilho sensual. Os cabelos começavam a grudar ao redor do rosto. A boca entreaberta e muito vermelha.

-Você é tão linda, Lila... - ela falou, mordendo o lábio inferior e tentando aproximar-se novamente da boca da morena, que a prendeu contra o banco do carro segurando seus ombros com ambas as mãos.

-Nick, sério... Acalma esse coração! - ela sorriu ao perceber que em algum momento abrira os 3 primeiros botões da camisa da outra mulher sem ao menos se dar conta de que o fizera.

-Ah, o coração é fácil acalmar... Agora outras coisas... - ela riu, passando as mãos pelos cabelos os empurrando para tráz.

Lianna riu e corou. Passou para o outro banco de onde mal percebera que havia saído.

-Nós podemos ir lá pra casa... Eu trago você de volta mais tarde... - Nicole ofereceu, mesmo sabendo que a outra recusaria.

-Nick...

-Ok, eu sei, eu sei... - falou respirando profundamente.

-Teremos tempo para isso... Agora feche essa camisa, mulher! -disse rindo.

-Ah, agora é pra fechar né... Há dois minutos seu pensamento era bem diferente, dona Lianna.

A morena enrubesceu e Nicole jurou que seu coração iria se expandir tanto que explodiria o peito e tomaria conta do carro. Com um olhar extremamente meigo, tomou as mãos de Lianna e beijou-lhe as palmas.

-Lianna, eu não sei o que está acontecendo... Mas eu não quero que pare...

-Nem eu, Nick. Nem eu.

O abraço que se seguiu selou vários sentimentos que ambas as mulheres nem sabiam conscientemente que existiam.

*****

Alguns dias depois, durante o trabalho, mais uma vez Lianna encontrou um erro, aparentemente simples no trabalho. Mas isso vinha ocorrendo vezes demais para ser puramente aleatório. Parecia que podia ouvir sua amiga Fernanda dizendo que deveria benzer seu notebook.

Seguidamente seus arquivos corrompiam, documentos eram enviados para lugares errados, ofícios de ordem iam com informações incorretas, projetos que ela tinha certeza de ter salvo, simplesmente sumiam e, assim por diante.

Já havia falado com Graça sobre isso. Os técnicos já haviam formatado seu computador pessoal e Graça enviara um novo para seu escritório. Mas não parecia ser suficiente. Agora tinha que checar duas ou três vezes cada trabalho que fazia e enviava. Isso resultava em morosidade e, principalmente muito estresse. Estava saindo todos os dias mais tarde do que o horário do expediente. Chegava em casa exausta, apenas para dormir e ir trabalhar no outro dia.

Mal falara com Nicole, apenas algumas mensagens por celular. Sentia a falta que a leveza da presença dela lhe trazia.

Entretanto, havia a grata surpresa de Manoela ter mudado radicalmente sua atitude. Não que tivessem se tornado melhores amigas. Longe disso. Mas pelo menos, a morena a cumprimentava quando chegava e lhe respondia quando lhe perguntava algo sem que suas palavras parecessem espadas afiadas. Além disso, o trabalho dela evoluía a olhos vistos. Manoela não era boa no trato com as pessoas, seja funcionários ou clientes, mas era extremamente inteligente quando se tratava de tendências de marketing e expansão de tecnologia.

Era sexta-feira e elas terminavam o briefing que seria apresentado via reunião remota sobre o novo projeto de marketing olfativo. Já havia passado algum tempo do fim do expediente e Lianna estava surpresa que Manoela ainda se encontrava trabalhando. Normalmente, ela era extremamente pontual para ir embora. Às 17 horas, pegava sua bolsa e se retirava.

Após algum tempo, ela esticou os braços a frente do corpo e bocejou.

-Manoela, acho que já está bom! Temos bastante material, creio que será suficiente para a reunião de amanhã.

-Ah, ainda bem que você disse isso, Lianna! Minha cabeça já não consegue processar mais nada! – ela riu, jovial. – Olha a hora! Não acredito que às 19 horas de uma sexta-feira eu estou no escritório!

-Viu só, quem te viu e quem te vê Srta. Manoela Alcântara!

-Se quiser ir, deixe que eu desligo as coisas aqui! Sua tia deve estar lhe esperando e acho que Graça já deve ter ido embora há muito tempo!

-Graça já foi, você que não percebeu quando ela entrou e se despediu! Pode ir você, eu cuido de finalizar, minha tia sai às 20h hoje, vou esperá-la. Vou ultimar tudo e salvar em uns três lugares diferentes para nos livrarmos dos erros que tem brotado do chão por aqui!

-Bom você quem sabe! – a filha da dona do hotel a olhou com um brilho incomum no olhar o qual Lianna não foi capaz de decifrar. – Mas não quero ser a culpada por Nicole não poder desfrutar de sua companhia em uma sexta-feira! Até amanhã!

Lianna riu e ignorando o gracejo sobre Nicole apenas desejou-lhe boa noite.

*******

A administradora sorriu ao ver a outra mulher ir embora. Mudanças eram muito bem vindas, ainda mais quando não se tem mais esperanças de que aconteçam. Jamais ela imaginaria, depois do início conturbado com Manoela, que trabalhariam em franca paz do jeito que estavam.

Manoela entrou em sua suíte, o corpo estava cansado, mas de alguma forma ela se sentia satisfeita. Era uma sensação estranha, que ela não lembrava de ter sentido. Alguma coisa estava diferente. Talvez ela mesma. Mas não pensaria nisso em uma sexta-feira a noite. Pegou o telefone e ligou para Bruno. Com certeza ele saberia de alguma festa maravilhosa. Iria beber, dançar e beijar muito. Essa sim era a Manoela que conhecia e gostava de ser.

Fim do capítulo