BOA BLEITURA!
CAPÍTULO 32
LORENA
- Encontrem o demônio, se ele não estiver aqui venham nos avisar imediatamente. - Com rosnados Igor e Matheus desaparecem no meio da confusão mais uma vez.
Miranda e Elisângela saíram da barraca somente agora e estranhei, contudo, não tive tempo de perguntar, um grupo de rebeldes veio em nossa direção pela esquerda. Os guardas e seguranças fazendo nossa escolta passaram a lutar cada um com um rebelde. Bernardo se transformou num grande lobo cinzento e avançou sobre o grupo. Hera e o Supremo trocaram alguns olhares até que ela veio em minha direção.
- No meio dessa bagunça eles não vão pensar em procurar dentro das barracas, fica lá dentro com a Miranda e a Elisângela. - A olho indignada.
"Quer que eu fique quieta e segura sem fazer nada?"
- Não vou ficar parada enquanto vocês lutam!
- Você não vai, a Miranda, a Eli e a Rainha Freya precisam de proteção, e ninguém é melhor que você para protegê-las, ou estou errada? - A encaro ainda irritada. - Por favor? - Ela olha ao redor.
- Ok. - Hera segura meu rosto com as duas mãos e beija minha testa.
- Toma cuidado por favor, não faça besteira e não tente dar uma de heroína. - Rosno para ela.
Entro na barraca sentindo a presença de Miranda e Eli atrás de mim, para minha surpresa, quando me viro, Hera também está atrás de mim.
- Qual é o plano? - Hera suspira.
- Não tem plano, fomos pegos de surpresa, precisamos resistir e evitar mortes, esse é o objetivo de vocês também. - Contive uma série de xingamentos que subiram pela minha garganta e observei a correria do lado de fora da barraca pela fresta aberta. Está tudo uma bagunça, se nossos soldados não estivessem com roupa preta e cinza os distinguindo do grupo inimigo, não saberíamos quem é quem.
- Certo. - Hera acena e corre para o lado de fora.
Inspiro e expiro tentando alcançar o poder que se agitava em mim. Aliandra ainda não me ensinou a usá-los, somente como mantê-lo sob controle quando estiver muito nervosa, ansiosa, ou com medo para não me descontrolar. Nesse momento, desejei saber usá-los da forma que precisava, mas como não é o caso, só me resta fazer o que sempre fiz com ele e torcer para que dê certo quando o momento chegar.
- Ele está aqui. - Elisângela empalideceu e olhou fixamente para fora da barraca. Gritos, rosnados e uivos enchiam o acampamento tornando difícil de ouvir até mesmo a voz de Elisângela.
- Quem? - Pergunto já sabendo a resposta. Elisângela mantém o olhar fixo na porta, como se estivesse hipnotizada por algo do lado de fora.
- O demônio. Ele quer algo, e tenho quase certeza que não é só... - Elisângela põe uma das mãos nas têmporas fazendo uma careta de dor. - Merda... - Miranda se aproxima e puxa um banco para Elisângela sentar.
- Se você treinasse seus dons como sempre mandei, não estaria passando por isso. Pare de barrar as visões, deixe elas virem, abra sua mente a elas para que consiga ver o que Gaia quer mostrar. - Miranda diz com firmeza enquanto Eli mantém as mãos nas têmporas.
- Não é tão simples assim mãe. - Ela resmunga.
- Precisamos avisá-los de que ele está aqui. - Freya se vira para a porta, pelo seu olhar soube que ela estava considerando ir lá fora avisar o Supremo. Ela se virou para o único Guarda ao seu lado e somente com um aceno de cabeça, ele saiu em disparada para fora da barraca.
De repente, a barraca em que estamos é lançada no ar, nos deixando expostas no meio do acampamento. Pude ver os Guardas Reais mantendo um círculo ao redor da barraca e Hera ficou visível para mim, ela está transformada, seu lobo preto devora e esquarteja todo inimigo que chega perto. Do meu lado Freya arregaçou as mangas de seu vestido branco e ergueu as mãos ao mesmo tempo, o chão estremeceu e paredes grossas de terra se levantaram do chão num passe de mágica. Quando ela terminou tínhamos quatro paredes de terra ao nosso redor impedindo que as balas nos acertassem. Elisângela ainda está sentada no banco com os olhos fechados, alheia a tudo o que está acontecendo ao nosso redor.
Meu corpo formigou e meu interior se agitou de ansiedade e medo. Não esperava presenciar uma guerra alguma vez na vida, muito menos estar no centro dela. Um uivo alto e forte cortou o acampamento e soube que era o Supremo Alfa.
Eles descobriram alguma coisa.
Com o escudo temporário de Freya ao nosso redor, Hera deve estar procurando o líder demônio.
- Não podemos continuar aqui, estamos bem no centro, somos alvos fáceis demais. - Digo enquanto procuro em minha mente algum lugar da floresta para nos esconder. Com os escudos de terra levantados eu não posso visualizar os arredores, e isso me impede de reconhecer para qual lado devemos ir.
- Hera pediu que ficássemos aqui. - Miranda tira os olhos de Elisângela por um momento. Eli está com o rosto nos joelhos e as mãos nos ouvidos, mesmo com todo o barulho ao nosso redor ainda consegui ouvir os gemidos de dor vindo dela.
- Porque tinha diversas barracas espalhadas pelo acampamento, inclusive a nossa, agora quase não tem nenhuma e estamos no meio do fogo cruzado.
- Ela tem razão. - Freya concorda.
- E pra quê lugar vamos? Não podemos ir pra alcateia. - O leve desespero na voz de Miranda me deixou apreensiva, afinal, se ela, muitos anos mais velha que eu, mais experiente que eu, parece desesperada, por que eu também não devo ficar?
- Qualquer lugar é melhor que o meio do fogo cruzado.
- Ela tem razão, de novo. - Freya emenda. Elisângela continuou sentada, dessa vez, com as duas mãos no rosto. Talvez, a preocupação de Miranda não seja com a guerra em si, mas com a própria filha. A Profeta volta sua atenção para Eli.
- Para de resistir Eli, deixe elas virem, nós precisamos dessas visões! - Miranda repreende Elisângela, que parece distante demais da realidade para sequer ouvir o que a mãe disse.
Um plano começou a se formar em minha mente, no entanto, quando abri a boca para compartilhá-lo, as paredes de terra estremeceram fazendo camadas de terra caírem sobre nós.
- São os bruxos, estão revidando. - Freya ergue as mãos novamente para manter as paredes firmes.
- Você acha que consegue movimentar as paredes enquanto nos movemos, para ficar ao nosso redor? - Pergunto, antes que seja interrompida novamente. Freya concorda com a cabeça.
- Posso, mas não com terra, posso fazer um escudo de ar e desviar as balas que tentarem passar. - Encaro Miranda.
- Ela consegue andar? - Miranda olha preocupada para Elisângela, que está absorta em sua bolha de dor.
- Não sei. - Paro ao lado de Elisângela e puxo seu corpo para cima, ela cambaleia com as mãos na cabeça, mas seguro sua cintura com firmeza. Miranda se coloca no lado oposto e encaramos Freya quando estamos prontas.
- Para que lado? - Penso na pergunta de Freya. Se formos para o sul, levaremos a guerra até o condomínio, e não é o que quero. Penso por mais um tempo, até que a cachoeira onde costumo visitar surge em minha mente. Existe uma pequena caverna atrás da queda d'água, se puder colocar Miranda e Elisângela lá sem que os inimigos vejam, elas estarão seguras.
- Norte. - Freya concorda com a cabeça e as paredes de terra começam a desmanchar, logo, algo semelhante a uma bolha se forma ao nosso redor. Tento não parecer embasbacada com o poder da Rainha bruxa enquanto corremos.
Começamos a caminhar para o Norte, inimigos se aproximam da bolha de ar, mas acabam voando para longe, nenhum dos tiros destinados a nós, nos acerta. Miranda e eu carregamos Elisângela alguns passos até a bolha de Freya ser acertada por algo escuro. O impacto é tão forte que voamos cada um para um lado desmanchando a formação. Minha cabeça se choca contra uma das caixas espalhadas pelo acampamento e minha visão oscila entre breu e um embaçado de confusão. Pisco tentando enxergar enquanto ignoro o apito em meus ouvidos. Consigo me levantar depois de algumas tentativas falhas. Vejo um rebelde lycan vindo em minha direção com uma faca grande, desvio de seu ataque desajeitadamente, minha cabeça explode de dor e sinto algo pegajoso escorrer pelo meu rosto, não precisei conferir para saber se tratar de sangue. Cambaleante e vendo tudo girar, desvio mais algumas vezes até ver meu oponente ser atacado por trás. Logo depois seu corpo cai aos meus pés.
- Ei Lore. - Bruno se aproxima rapidamente e me puxa pela cintura. - Não tem nem dez minutos de ataque e você já está cambaleando, e pior, apanhando de um lycan totalmente destreinado? - Sorrio. Bruno não perde uma oportunidade de fazer piada. - Fez um corte feio aí na cabeça.
- É muito grande?
- Não sei, tem muito sangue. - Solto uma maldição.
Olho ao redor à procura de Miranda, Elisângela e Freya. Senti minha visão se normalizar e meu senso de equilíbrio voltar aos poucos.
- Preciso encontrar as meninas, viu elas?
- Não. - Procuro com mais atenção. Nenhuma barraca está em pé. As caixas com armas estão espalhadas pelo chão e aproveito para me armar com uma Pistola 9mm. Bruno olha a arma nas minhas mãos com uma careta - Não é grande coisa, mas, dá pro gasto. - Ele sorri. - Posso deixar você agora?
- Não sei o que ainda tá fazendo aqui. - Ironizo.
- Eu mereci. - Bruno some no meio da confusão logo em seguida.
Sem perder tempo, corri para o centro do acampamento sem me importar com os tiros, Elisângela e Miranda não sabem lutar, não até onde sei, preciso achá-las antes que um inimigo as ache primeiro.
Avistei as duas próximas à Freya, que lutava erguendo paredes de terra do chão e fazia os inimigos ao redor voarem longe com uma enxurrada de ar lançada por suas mãos. Junto delas está Aliandra, Mia e Misca, que surgiram de algum lugar e fico mais aliviada.
Antes que pudesse me aproximar o suficiente, uma parede negra de algo nunca visto por mim antes surge em minha frente e me rodeia, escurecendo minha visão.
"Que merd* é essa?"
Sem entender o que é essa escuridão, somente olho ao redor procurando por uma saída. Uma corrente de ar fria me atinge fazendo meus pelos se arrepiarem e um silêncio se abate sobre o acampamento.
Os gritos, os tiros, tudo ficou em silêncio.
Fim do capítulo
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