Meu queixo simplesmente caiu depois que finalizei a leitura da carta. Eu não conseguia entender de onde ela tirou tal absurdo. Pior que eu nem sei como será quando a encontrar. É muita loucura junta. Parece que o mundo está desmoronando em minha cabeça novamente. Decidi ficar na sala esperando o primeiro que aparecer. Confesso que não estou preparada para nenhum embate, mas é necessário.

                                                -----//-----

Depois de ficar um bom tempo esperando meu pai ou Bárbara chegar. Decidi voltar para o quarto. Ao entrar em meu quarto e ir até a cama, dei de cara com a carta e acabei abrindo, relendo e ficando mais pretérita ainda. E quando estava finalizando a leitura, a porta do quarto se abre e Babi aparece. Estava com uma cara estranha e ficou pior quando ela viu o que eu tinha em mãos. A vi tentando sair do quarto, mas corri e a peguei pelo braço.

-- Babi, não adianta fugir. Nós precisamos conversar.

-- Diana, o que precisa ser dito? O que eu queria que você soubesse, já falei através desta carta.

-- Não é tão simples assim. Eu preciso de respostas.

Babi entrou no quarto de vez e a segui. Sentamos na mesma cama e eu perguntei.

-- Desde quando?

-- Desde aquela época. Aquela menina. - Me respondeu sem olhar em meus olhos.

-- Não, Babi. Vamos conversar direito... Olhe pra mim.

-- Tá certo. - Me olhou nos olhos e continuou dizendo. - Eu comecei a me incomodar com aquela garota que você apresentou como namorada. Quando a verdade veio à tona, eu surtei. Não queria você namorando ninguém e também não me queria lésbica. Aí eu passei a te perseguir e ser essa pessoa que sou hoje. - Parou para respirar e prosseguiu sem desviar seus olhos dos meus. - Eu nunca soube lidar com meus sentimentos por você e, pra escondê-los, preferi agir lhe atacando, duvidando de você e te afastando cada vez mais.

-- E o que fez você mudar? Porque quando eu cheguei aqui você ainda estava agindo como a "antiga" Bárbara.

-- Não nos víamos há tanto tempo... Eu estava ansiosa e nervosa pra te reencontrar e você foi demorando a chegar e eu ficando desesperada... Aí deu no que deu.

-- E o que fez você mudar?

-- Você continuava distante de mim. E eu queria muito me reaproximar. Aí você se envolveu com a filha daquele lá... Meu mundo foi ao chão. Eu poderia ter voltado a agir como antes, mas aí desencadeou essas coisas...

-- Por que só agora resolveu contar o que sente?

-- Eu mereço uma chance. Quero te fazer feliz. Não sei se conseguirei, mas me esforçarei ao máximo. Se me permitir, claro.

-- Babi, somos irmãs!

-- Não, Didi! Não somos irmãs. Não temos o mesmo sangue. Eu fui deixada na porta da casa da Matilde. Nem sei quem são meus pais. Fui registrada pelo Téo e o chamo de pai, pois para mim, ele é meu pai.

-- Fomos criadas como irmãs.

-- Eu sei, mas nunca te vi como irmã. Eu sempre te vi como uma rival até que descobri meus sentimentos por ti.

-- Isso é loucura.

-- Não é loucura, é amor.

E, após Babi me dizer esse disparate, ela veio pra cima de mim e me beijou. Mas querem saber? Loucura maior ainda foi eu ter gostado. Sim! Retribuí e passei a beijá-la com vontade. Nossas línguas se encontraram e bailavam de forma única e urgente. Senti que ela me deitou na cama e o encaixe de nossos corpos foi perfeito. Eu sei que parece estranho tudo isso, mas...

O beijo fluía maravilhosamente. Nossas línguas encaixavam, nossos corpos estavam desejosos um do outro. Mãos explorando partes que incitavam e excitaram... Até que ouvimos a porta bater. Paramos o beijo e eu me desesperei, claro.

-- Babi... Nosso pai. - Constatei nervosa.

-- Fica aqui, vou lá falar com ele.

Babi saiu e eu até ficaria no quarto, mas a curiosidade e o medo me fizeram encarar os fatos. Fui para a sala esperando um escândalo, mas meu pai e Babi conversam numa boa. Apenas estranhei a fisionomia de ambos.

-- Didi... - Babi tentou falar, mas a interrompi.

-- O que aconteceu? Foi você que bateu a porta do quarto, pai?

-- Não, filha. Até estava perguntando pra Babi o motivo da Aretha sair daqui feito um furacão.

Meu Deus! Aretha viu o beijo. Óbvio que estou em pânico... Como iria explicar a ela o beijo em Bárbara? Corri até lá fora e vi a poeira da terra se levantando e lágrimas surgirem em meus olhos.

                                                      -----//-----

Já fazia quase duas horas que estava trancada no quarto e permaneci assim. Não queria ver ninguém, mas meu pai insistiu e eu tive que abrir a porta.  Papai entrou e, com sua melhor cara, me perguntou.

-- Está melhor?

-- Não, pai. Posso dizer que eu perdi a Aretha de vez.

-- Babi me contou tudo. Passei a entender as atitudes dela.

-- O senhor não vai fazer escândalo?

-- Não posso condená-la por sentir o que ela sente por você. Apesar de não concordar com isso. Vocês foram criadas como irmãs. Não podem nutrir sentimentos carnais uma pela outra.

-- Pai, os sentimentos são dela por mim, não o contrário. Não pretendo corresponder os sentimentos dela. Eu amo Aretha.

-- Já disse isso a Babi?

-- Estava tentando dizer lá no quarto quando... - Parei de falar ao lembrar do beijo trocado entre Babi e eu instantes atrás.

-- A Aretha esteve no quarto. Acho que ela ouviu a declaração de Bárbara, por isso aquela reação dela. Se bem que achei um pouco estranho.

-- Só pode ser, pai. - Respondi aliviada.

-- Você precisa conversar com ela, filha. Eu falei pouco com ela e expus minha opinião... Não é fácil e eu espero que tome a decisão certa.

-- Pode deixar, pai. Agora tenho outro assunto para tratar contigo.

-- Fale, filha.

-- Que história é essa de você ser amigo do Bóris?

-- Que loucura é essa? - Meu pai começou a ficar pálido de nervoso.

-- Vocês se conhecem há uns 20 ou 30 anos, meus avós o pegaram pra criar depois que ele foi expulso de casa, o empréstimo que ele fez a você e que o senhor deixou o haras como garantia, por isso ele quer tomá-lo de nós.

-- Aquele maldito me paga! Ele não poderia ter falado isso.

-- Então é verdade.

-- O que mais ele lhe disse?

-- Justo o Bóris Monte Belo a falar a verdade. Por que o senhor mentiu pra mim?

-- Por isso! Não quero minhas filhas contra mim.

-- Pai, se nos falasse a verdade, evitaria muita coisa.

-- O que mais ele falou? - Me perguntou alterado.

-- Tudo, pai. Falou da amizade de vocês, da mãe, da fuga dela com o irmão dele, do dinheiro roubado, do empréstimo...

-- Realmente, ele falou tudo.

-- Até dos sentimentos dele pelo senhor, pai.

-- Até isso? - Papai me perguntou chocado.

-- Sim. Deixou para o final, deixando-me mais em choque ainda. - Falei em tom pensativo e emendei em seguida. - Pai, por que mentiu pra nós? Não confia na gente?

-- Nada disso, filha. Eu não falei pra não preocupar vocês e também não queria mexer nesse passado nebuloso.

-- Você e o Bóris tiveram alguma coisa?

-- Nada. Mas confesso que, quando era adolescente, ele mexeu muito comigo. Depois veio a sua mãe... Agora você sabe de toda a história.

-- Só não entendi uma coisa... Se o Bóris não quer tomar o haras, por que ele faz essa pressão psicológica em você?

-- Não sei, mas irei descobrir agora.

-- Pai, deixa isso pra amanhã.

-- Não conseguirei dormir pensando nisso.

Meu pai saiu do quarto e eu o acompanhei até a porta, percebendo que ficaria sozinha em casa.

-- E a Babi, pai?

-- Disse que ia dar uma volta.

-- Ainda acho que o senhor deve ir atrás dele amanhã.

-- Filha, já disse que não conseguirei dormir com isso na cabeça. Não se preocupe. Boa noite.

Vi o papai saindo de casa e voltei para o quarto. Troquei de roupa e fiz mil esforços para dormir, todos em vão.

Fim do capítulo