Quatro dias antes.

Deve estar por aqui em algum lugar. Mas, onde? Releio tudo que tenho sobre Dennes tentando encontrar uma pista de seu possível cúmplice. A morte dos irmãos Walter é uma manifestação da mente doentia de Erick, então não deve se tratar de alguém com as mesmas tendências que ele. Talvez ele tenha encontrado um admirador, uma marionete, alguém que ele certamente consegue manipular com facilidade.
Os fanáticos têm uma verdadeira devoção por seus ídolos, talvez Erick tenha encontrado um. Alguém totalmente disposto a matar e morrer por ele. Mas, existe também a possibilidade de uma troca de favores. Não, não! Nenhum dos outros criminosos teriam condições de se juntar a ele. Algo muito sério move Dennes até mim, ele me acusa de ter matado Jonh, mas eu não o fiz, eu… não… Uma ideia passa por minha mente, no mesmo segundo ligo para Vick;
— Savannah?
— Envie todos os arquivos referentes a morte de Jonh Dennes para mim o mais rápido possível.
— Providenciarei agora mesmo. — Desligo.
Começo  a fazer anotações totalmente aleatórias, frases desconexas marcam o papel enquanto tento encontrar uma solução, preciso organizar meus pensamentos, preciso encontrar uma forma de proteger Emma sem que Erick descubra ou se antecipe a mim. Meu computador começa a piscar e vejo que Vick já conseguiu o que pedi, incrivelmente eficiente, como sempre.
Matérias e mais matérias surgem em meu computador,  inclusive um laudo sobre a situação metal de Erick, envio esse arquivo rapidamente para Tilly rezando para ela possa me apontar alguma luz, entre os arquivos comportamentais de Jonh recebo também o vídeo da câmera de segurança  que gravou a troca de tiros entre os agentes e os irmãos Dennes, abro o vídeo e toda aquela cena se reconstrói novamente em minha mente.

Jonh foi o primeiro a atirar, ele parece enfurecido enquanto Erick tenta lhe dar cobertura, observo sua postura ao atirar, não é a praia dele, Jonh tem mais habilidade, ele acerta em cheio o braço de Bryan um dos agentes que acabara de entrar no departamento. John ri e atira feito um louco, está claramente descontrolado certamente em meio a um dos seus surtos. Erick começa a gritar tentando chamar a atenção do irmão. Ben aponta sua arma e dispara, o tiro acerta um dos pneus do furgão que serve de proteção aos irmãos Dennes. Avisto um telhado com boas condições, aviso Ben para me dar cobertura. Subo rapidamente até o local, tenho uma boa visão dos dois e estou razoavelmente protegida. Aponto, checo a mira, um tiro certeiro no braço direito deve ser suficiente. Quando meu dedo se posiciona no gatilho vejo Erick segurar sua arma de forma tosca mais uma vez, puxo o gatilho acertando seu braço, sua mão balança feito um chicote, sua arma dispara, a bala atinge de forma impiedosa cabeça de John. Volto a imagem uma, duas… incontáveis vezes. Erick disparou de forma acidental e matou o próprio irmão. 
Levo minhas mãos as têmporas massageando-as. Como Erick pode me acusar de matar John? Se ele que fez o disparo? Meu celular começa a tocar, é Tilly.
—  Alô.
— Suponho que esteja à procura de respostas. — Ela diz com sua calma de sempre.
— Você as tem?
— Um clássico psicopata, é inteligente e tem tendências a instabilidade emocional apesar de nega-la. Ele não quer ser fraco, se nega a sentir, se julga a cima dos dilemas humanos, ele almeja a ausência de sentimentos, deseja ser oco.
— Ele diz que matei Jonh Dennes, mas eu não fiz, ele o matou.
— Não na mente dele, ele quer projetar a culpa em você para poder se livrar dela. Ele não deseja sentir nada que o torne humano e a culpa é um sinal de humanidade.
— Está dizendo que ele matou Emy para se tornar menos humano?
— Também, mas acima de tudo ele matou Emy para você mostrar o quão humana é. Sua dor e seu sofrimento o satisfaz.
— Ele tentará o mesmo com Emma!
— O quê?
— Ele disse que sabe onde meu coração está.
— Savannah, você deve agir rapidamente. Ele não medirá esforços para machuca-la.
— Acha que não sei disso? Estou quase enlouquecendo, não sei por onde começar, fora que estou sendo espionada, Erick está sempre um passo à frente.
— O perfil dele não condiz com alguém que utiliza cúmplices, ele certamente não procuraria um. E provável que alguém o tenha procurado.
— Por que alguém procuraria Erick?
— Esse é o x da questão.
— Quem sabe alguém tenha procurado por ele... Talvez na prisão.
— Seja rápida, Savannah, o tempo está correndo.

Me despeço de Tilly e volto as minhas divagações, alguém deve ter ido visita-lo na cadeia antes do julgamento. Pegou o telefone novamente já passa das 3:00 da manhã, mesmo assim ligo para Ben.
— Savannah você nunca dorme? - Ele diz, sua voz está sonolenta.
— Preciso da lista com os nomes das pessoas que visitaram Erick Dennes na prisão antes do julgamento.
— Você me pede cada coisa.
— Não perca tempo, faça o que eu disse!
— Agora mesmo madame. — Reviro os olhos e desligo.

Levanto e vou até à janela, encaro a rua vazia e silenciosa, dentro de mim tudo é confuso, milhões e milhões de perguntas sem explicação. Aproximo meu rosto da janela deixando a superfície fria tocar minha pele e inalo profundamente.
— Savannah? — Levo um breve susto, Nancy está logo atrás de mim, seus braços enlaçam minha cintura. — Você não vem para a cama?
— Estou sem sono. 
— Sinto sua falta. Venha para cama comigo. 
— Estou trabalhando Silvie. — Tento dizer da forma menos rude possível.
— Você está sempre trabalhando! — Ela se exalta.
— Por favor, venha! A pequena Nancy está com frio.
— O que você disse? — Pergunto segurando em seus braços.
— Estou com frio, preciso do seu calor. — Ela me abraça e vejo mais uma notificação de e-mail chegar. Afasto Nancy que vem logo atrás de mim, sento novamente na cadeira e Nancy se joga em meu colo e começa a beijar meu pescoço.
— Pare com isso! — Digo tentado me livrar de seus beijos e ler o e-mail. Abro a mensagem e vejo a curta lista com cinco nomes de pessoas que visitaram Dennes.
Julie Foster.
Mal consigo acreditar, clico na foto e ela é aberta, Julie  Foster é a irmã de Nancy, mas ao ver a imagem noto que apesar de muito parecida com Julie não é ela que aparece, e sim Nancy. Levanto-me bruscamente fazendo com que Nancy cai do meu colo.
— Ai.
Um cúmplice... alguém próximo... Ele não procuraria um ajudante... Talvez alguém tenha se oferecido para ajudá-lo...

— Savannah o que houve? — Ela diz se levantando.

Movida por uma raiva descomunal avanço sobre Nancy minhas mãos apertam seu pescoço, seus olhos arregalados, enquanto ela segura em minhas mãos  tentando afasta-las do seu corpo. O rosto de Nancy fica vermelha e seus olhos começam a revirar.

—  Savannah, não, não faça isso!- Ben surge do nada e me afasta de Nancy. — O que acha que está fazendo?
— Ela ajudou Erick, ela é a informante! Essa maldita ajudou a matar Emy.
— Isso não faz o menor sentido!
— Você checou o arquivo que me enviou?
— Não, eu pensei em vir até aqui e ajudar você com os arquivos.
— Julie Foster aparece na lista de visitantes de Erick Dennes. Julie Foster é a irmã de Nancy, elas são praticamente iguais para alguém que não observa atentamente, mas para mim não! Veja a foto, é Nancy que está conversando com Erick, ela foi atrás dele.
— Como assim?
— Você é surdo? Eu disse que ela é a cúmplice.
— Por que ela faria isso?
— Por amor. — Nancy diz com voz afetada, seu pescoço já começa a inchar. — Você só tinha olhos para ela, você só via ela, eu não existia para você, apenas Emy era digna de sua atenção. Procurei Erick porque ele jurou se vingar de você por matar o irmão dele, eu ofereci Emy, disse que isso quebraria você. Ele concordou, disse que a mataria e você teria que suportar essa dor para sempre. Mas, eu a consolaria, você seria minha novamente, só minha. — Vou em direção a Nancy mais uma vez, porém Ben me impede me segurando pela cintura.
— Savannah não, ela está fora de si.
— Você é minha Savannah, só minha, Erick fará Emma queimar também.
— Cala a boca! Eu vou matar você Nancy. Como pode entregar minha filha? Você é um monstro!
— Ela era minha filha, minha! Seu sangue nunca correu nas veias dela. Ela foi um erro, no início Emy me trouxe você, depois ela roubou você de mim. — Nancy se apoia na mesa, um sorriso lunático nasce em seus lábios. — Então eu a tirei do caminho, tudo por amor a você Savannah. Diga que me ama também, diga que me entende.
— Eu odeio você! Ouviu? Você me enoja.
— Não, não… Por favor, diga que me ama! — Ela se joga aos meus pés.
— Eu nunca amei você e jamais irei ama-la. Você é um nada!
— Savannah.- Ela começa a chorar e isso só me faz ficar enjoada.
— Nancy, levante-se!- Ben a ajuda a ficar de pé.
— Tire essa mulher da minha frente antes que eu a mate com minhas próprias mãos.

Ben leva Nancy para o quarto, ele volta minutos depois. Estou sentada com o rosto entre as mãos e contando mentalmente para não subir e matar Nancy, ela claramente está fora de si, acredito que ela sempre esteve.  Ligo para Tilly e ela me indica uma clínica, peço para que Ben tome as providências. Enquanto esperamos ele me serve um café, é a primeira coisa que ponho no estômago após horas.
— Como conseguiu entrar? — Pergunto a Ben.
— Pensei em ajuda-la com a lista de suspeitos e você me deu uma cópia da chave. Lembra? 
— Esqueci completamente. Obrigada por estar aqui, Ben.

 Pouco tempo depois ouvimos a campainha, duas mulheres e três homens enormes, todos vestidos de branco entram e acompanham Ben até o quarto, volto para o escritório, não quero ter que ver essa cena. Assim que encaro novamente a janela, ouço um grito.
— Savannah... Savannah… Venha cá, agora! — Subo os degraus rapidamente, em questão de segundos já estou na presença dos enfermeiros, entro no quarto e vou até o banheiro onde a maioria se encontra. Entro lentamente no local, avisto um Ben desesperado com as mãos na cabeça andando de um lado para o outro. Vejo a expressão chocada das duas enfermeiras e por fim foco na banheira. O corpo de Nancy está mergulhado em uma banheira de sangue, seu pulso direito repousa do lado de fora da mesma, gotas de sangue caem dele ao encontro do chão. Seus olhos levemente abertos, porém, sem vida, em seu peito esquerdo uma tesoura aparece cravada firmemente.
— Ela cometeu suicido. Sinto muito Senhora Owens. — Uma das enfermeiras diz.

A polícia é chamada, minha casa é invadida por homens e mulheres que sobem e descem as escadas, tiram fotos com câmeras irritantes. Presto depoimento, explico o que aconteceu assim como Ben, horas e horas são gastas, até que finalmente levam o corpo de Nancy, peço para que Ben notifique a família e entrego as questões do enterro nas mãos de Vick.
Pego minhas malas e começo a arrumar minhas coisas, não posso passar mais nenhum segundo nesse lugar.  Tudo que encontro pela frente vou jogando na mala.

 Vou para a garagem, pego meu carro e sigo para um hotel. Uma hora depois estou em um quarto livre de qualquer lembrança, me jogo sobre a cama e finalmente deixo as lágrimas caírem, choro tudo que tenho direito, começo a soluçar e deixo tudo que me sufoca sair de dentro de mim, não sei quando ou como, mas finalmente meu corpo se entregou ao sono.

Não sei quantas horas depois desperto, sinto que meus olhos estão inchados e ainda trajo a mesma roupa de horas atrás. Levanto, tomo um banho, assim que termino de me vestir me ligam da recepção avisando que Ben me aguarda, peço para ele subir. Em poucos minutos ele bate na porta.
— Como você está? — Ele me abraça.
— Não sei como responder isso.
— O que você fará agora?
— Irei para San Francisco. Erick tentará pegar Emma, e eu não vou permitir.
— O que você tem em mente?
— Vamos raptar Emma primeiro.

 

Fim do capítulo