Maria Luiza

Eu deixaria Olivia tomar todo sorvete que quisesse hoje, quando fomos em direção ao elevador percebi que a tal Cris, tenho quer perguntar a Patrícia quem é essa, quase correu para parar ao lado de Gabriela, mas Olivia foi mais rápida, coloquei a mão em sua cintura e notei quando ela pareceu se arrepiar um pouco. Entrei nessa posição no elevador e a mantive ali por toda descida, quando chegamos ao saguão perguntei a Bianca onde elas almoçariam, a alguma coisa respondeu que no restaurante vizinho. Normalmente era onde eu almoçava com Olivia, mas eu não estava com vontade de dividir a atenção de Gabriela com mais ninguém, eu estava adorando nossos momentos, acho que ou endossar o pedido de Liv para Gabriela conhecer nossa casa.

- Quem quer massa?

- Mamãe, batata frita é massa?

- Não minha filha.

- Ah, eu queria batata frita.

- Sério Liv? Eu estou com uma vontade de comer nhoque, sabe o que é?

-Não, é gostoso tia Gabi?

- É uma delícia, quer experimentar?

- Mamãe, quero nhoque, pede logo. Você nem trabalhou, só eu e a tia Gabi.

- Mas que cara de pau, eu trabalhei muito também.

- Liv, conta pra mamãe o que você achou do manuscrito?

Minha filha se ajeitou na cara, fez uma expressão séria cruzando os dedos antes de falar.

- Mamãe, eu fiz lelatório, mas tá no computador da tia Gabi, eu achei o livro muito bom, ele tem um princesa que fica presa na torre, ela fica presa muitos anos só esperando. Mas o ninguém chega pra salvar ela, ai sabe o que ela? Ela se esconde embaixo da cama quando o dragão vai levar comida pra ela, mas deixa o lençol, que não era do Miracolous, pendurado na janela. Aí quando o dragão tá lá olhando se ela desceu, ela sai debaixo da cama, corre pra porta, tranca o dragão e foge. Quando ela chega no castelo do papai e da mamãe dela, tem um monte de príncipe brigando pra salvar ela, e ela fala assim mesmo oh: Ninguém precisa me salvar, eu já me salvei. E os papais dela ficam muito feliz e fim.

Minha filha contou a história com uma animação incrível, sorria, gesticulava, observei Gabriela sentada ao lado dela, a olhava como se fosse a coisa mais preciosa do mundo, como nem pai dela a olhava, sorria e vez ou outra passava a mão nos cabelos dela. Essa mulher estava me encantando e conquistando, sem nem notar isso.

Gabriela

Eu não conseguia parar de sorrir enquanto Liv contava sobre seu primeiro manuscrito, vou pedir que Maria Luiza publique o livro, é bom, não é convencional, acho que vai interessar a pais que não querem que suas filhas sejam as meninas que precisam ser salvas, mas mesmo que o livro fosse péssimo, ele precisaria ser publicado, só para ver o sorriso de Olivia quando o vir pronto. Ela vai saber como é incrível a sensação de ter feito parte de uma coisa tão maravilhosa, vou lutar por esse livro, como nunca lutei por nada na vida.  Quando levantei os olhos percebi que Maria Luiza me observava, não sei se ela percebeu a forma como me fez ficar arrepiada quando tocou minhas costas. Não tinha esse tipo de interesse por ninguém há muito tempo, e não acho que ela sinta o mesmo, afinal, acabou de sair de um casamento com um homem.

- Olivia, quando voltarmos ao escritório, vamos fazer um relatório completo de todas as nossas impressões sobre o livro, marcamos uma reunião com sua mãe e usamos nossos argumentos para publicá-lo, o que você acha da minha ideia?

- Tia Gabi, você é a mais inteligente de todas as pessoas que eu conheço.

- Nossa minha, obrigada.

- Mamãe, você não vai fazer isso tudo que a tia Gabi disse que a gente vai fazer. Não fica triste, eu te deixo em segundo lugar.

Não tive como não rir, pelo contrário, ri com vontade, nosso almoço passou dessa forma, tranquilo e leve, em algum momento Olivia pulou para meu colo enquanto comia sua sobremesa, uma travessa de sorvete, que pela sua reação não era uma coisa que fizesse comumente.

- Gabi!

Ouvi Maria Luiza me chamando, olhei para ela, ia apenas olhar para seu rosto, mas seus olhos me chamarão atenção, tão lindos, como dia Machado, “Olhos de ressaca”. Me deu uma vontade imensa de mergulhar naquele olhar.

- Você realmente está mimando minha filha.

- Me perdoa, mas não tem como ser de outra forma, estou encantada por ela.

- Eu percebi, eu queria te dizer que coloquei um anúncio para babá da Liv em uma agência hoje pela manhã, eles devem pedir que algumas pessoas entrem em contato hoje no decorrer da tarde, gostaria que agendasse as entrevistas para amanhã de manhã, no horário que ele estiver na escola.

Não consegui não me chatear, com uma babá Liv não iria tanto ao escritório, eu sentiria tanto sua falta.

- Como quiser...

- Ei, ficou aborrecida com alguma coisa? Fiz ou falei algo?

- Não, bobagem minha, estava pensando que com uma babá, eu não verei tanto Olivia, como disse bobagem minha...

- Não é bobagem, fico encantada com o carinho que tem por ela, antes só tinha isso de mim, fico muito feliz que ela posso sentir como é importante para mais alguém, pode ter certeza que ela sente o mesmo. Passou o fim de semana inteiro falando e perguntando por você, quando eu disse que ela não iria a escola hoje, quase teve outra crise de asma, de tanto que pulava e gritava.

- Você não sabe como fico feliz de ouvir isso, não a parte da crise, mas que ela gosta de mim..

- Ela adora, por isso quero pedir um favor, será que pode estar presente nas entrevistas? Você conhece a Liv, mesmo em pouco tempo, sabe do que ela gosta, e levando em consideração as péssimas escolhas de funcionárias que fiz no passado, acho que poderia me ajudar.

- Claro que ajudo.

- Bom, acho que está na hora de irmos.

Depois de Maria Luiza insistir em pagar a conta, saímos as três de mãos dadas do restaurante, com Olivia entre nós duas, poderíamos passar por uma família para quem olhasse por uns minutos. O restante do dia foi tranquilo, consegui montar com Liv um relatório sobre o livro que ela tinha lido, ela foi embora com Maria Luiza pouco antes do fim da tarde, eu fiquei fazendo uma pesquisa sobre o mercado editorial infantil e fazendo levantamentos para de oferta e procura desse tipo de livros. Levantei os olhos e dei de cara com uma Bianca que me olhava cinicamente, as mãos apoiadas na cintura.

- Estava esperando nossa chefe ir embora para falar com você, o que está acontecendo entre vocês duas?

- Como assim? Nada ué, temos uma relação profissional, não sei do que você está falando.

- Olha Gabriela, lesada você sempre foi, mas dessa vez se superou. 

Continuei olhando para Bianca sem entender o que ela sugeria.

- Sério? Você não notou? Ela está caidinha por você.

- É oficial, você surtou. Temos uma relação profissional, e a ajudo com Liv quando precisa, ela é uma princesinha...

- Amiga, ela correu para colocar a mão em você quando percebe que a Cris está interessada, te levou para outro restaurante, mesmo todo mundo sabendo que ela almoça ali todos os dias, te olha como se fosse te devorar. E você fica com uma cara de boba perto dela, percebi isso tudo e só fiquei 5 minutos com vocês duas.

- Eu acho que não passa de coisa da sua cabeça, não posso negar que Maria Luiza não seja uma mulher bonita e atraente, principalmente os olhos, o olhar que ela tem, sem contar que é muito atenciosa, com Olivia então, consegue ser delicada e firme ao mesmo tempo. E a voz dela, notou como tem uma voz gostosa de se ouvir?

- Notei amiga, notei que você está apaixonada, isso que eu notei.

- Você é louca, apaixonada coisa nenhuma, só porque sou lésbica não posso admirar outra mulher sem estar interessada?

- Isso pode, mas babar falando da mulher, isso com certeza é estar apaixonada.

Fiquei pensando por um instante, eu realmente pensava em Maria Luiza mas do que o comum, não diria que estava apaixona, mas com certeza me encaminhando para isso. Chegar a essa conclusão me assustou, por uns segundos apenas, nunca fui mulher de esconder o que eu sentia, nem de negar, pra qualquer pessoa que fosse. Se Maria Luiza se interessasse por mim também, eu não me faria de difícil, a única exigência que eu teria seria proteger Olivia.

- Acho que você tem razão, estou interessada em Maria Luiza.

- Que maravilha!!!!

- Mas não fica tão empolgada, não sei se ela também está interessada em mim.

- Amiga, confia em mim, ela está. E amanhã você vem com aquela sua saia, risca de giz aquele vermelha maravilhosa e uma blusa social branca, e nada de se fechar que nem você faz, botões abertos.

- Não se me revolto por achar que não sei me vestir ou fico surpresa por saber o que tenho no meu guarda-roupas.

- Primeiro, você não sabe se vestir, parece uma noviça. Se eu tivesse sua cintura, coxas, perna e bunda, meu amor... EU NUNCA vestiria uma calça, confia em mim...

No dia seguinte eu não sabia o que tinha passado pela cabeça para seguir o conselho da louca da Bianca, mas aqui estou eu esperando o elevador, vestida exatamente como ela havia dito.

- Gabriela, você está linda.

Não me virei para responder, não era a pessoa de quem eu esperava o elogio, apenas sorri quando Cris parou ao meu lado.

- Preciso concordar com ela, você está ainda mais linda hoje, Gabi.

A porta do elevador abriu e entramos as três, novamente com a mão de Maria Luiza em minha cintura, me virei para ela com a intenção de agradecer, mas fiquei presa naqueles olhos de ressaca, não me dei conta quando chegamos ao nosso andar e muito menos quando Cris desceu, só segui com ela apoiando minhas costas, passamos direto pela minha mesa, ela me direcionava a sua sala e eu só conseguia seguir...

Fim do capítulo