LORENA

O restaurante escolhido para o encontro se localiza no centro da cidade humana. Os quarteirões ao redor são movimentados por causa das casas noturnas e restaurantes vinte e quatro horas, consequentemente, o movimento é sempre intenso. Um ótimo lugar para se marcar uma reunião, assim, qualquer atitude estranha é notada pois o que não falta é pessoas para ver.

Como em todas as outras vezes, saímos do carro somente depois que os Guardas reais se posicionaram do lado de fora, Hera deu a sugestão de entrarmos pelas portas dos fundos do restaurante, assim ninguém repararia na escolta ao nosso redor. Dessa forma, Hera, Jeremy, Igor, Matheus e eu nos sentamos em uma mesa que foi reservada no lugar mais privado do restaurante feita para uma ocasião com mais de cinco convidados. Para não chamar atenção, somente Miguel, Pedro e Giovani ficaram conosco dentro do restaurante, em pé, os outros Guardas e seguranças foram instruídos a esperar do lado de fora do restaurante ou se misturar às pessoas dentro do restaurante passando-se por clientes.

Apesar de ser uma terça à noite, o local está quase cheio e as casas noturnas nos quarteirões estão funcionando normalmente. Faltando quinze minutos para a meia-noite, a Rainha Freya apareceu com Aliandra e as outras duas bruxas que sempre acompanham a Profeta, cinco guardas as escoltavam, mas se dispersaram, ocupando mesas próximas a da Rainha como nossos Guardas. Freya e Aliandra se sentaram nas cadeiras vazias ao lado de Matheus, que está ao lado direito do Supremo. Hera, Igor e eu nos sentamos do lado esquerdo do Supremo, não deixando nenhuma outra cadeira vazia do nosso lado da mesa.

Freya e o Supremo começaram a conversar sobre os ataques e as últimas descobertas com os invasores que capturaram, mas o assunto parou quando o Rei dos vampiros surgiu na porta da seção em que nossa mesa estava. É impossível para qualquer pessoa não saber quem é o Rei vampiro, que além de ser um homem grande, também tem uma beleza surreal para esse mundo. Sua pele branca me deixou com a sensação de ser uma alucinação, e seus cabelos loiros quase platinados, longos até a cintura, chamam muita atenção. Ele se aproximou e se sentou no lado oposto da mesa, somente nesse momento pude enxergar com nitidez seus olhos verdes translúcidos como uma lente de contato. Além dele, mais quatro seguranças o acompanhavam e uma mulher ruiva que pude notar o parentesco por alguns traços iguais do rosto.

Assim que ele e seu grupo se sentaram, passou a me avaliar, assim como as outras pessoas que o acompanhavam. Meu corpo sentiu a presença dele e o reconheceu como própria espécie, sentimento que empurrei para o fundo da mente.

- Que bom que vieram. - Sua voz calma e aveludada me causou arrepios, seu tom é totalmente o oposto do que sua aparência predatória e perigosa mostra. Calma que sabemos ser letal. Ele olhou para a Rainha bruxa e não escondeu o sorriso. - Que educado estenderem o convite para vocês. - Rainha Freya, que já tinha um olhar frio, não demonstrou nenhuma surpresa ou abalo com seu comentário.

- O assunto que vão tratar hoje também diz respeito ao meu povo. - O rei dos vampiros sorriu deixando suas presas pontudas aparecerem rapidamente.

- Antes de tudo, acho que é bom nos apresentarmos, nossos antepassados se conheciam, mas nós não. - Jeremy se inclina para frente na mesa, posicionando seus cotovelos sobre a mesma.

- Concordo. - O Rei vampiro responde. Durante milênios vampiros e lycans brigam entre si, ainda assim, o máximo que os lycans sabem sobre os vampiros são seus hábitos de vida e alguns de seus ninhos que são encontrados por aí, qualquer outra informação importante sobre o rei dos vampiros nunca foi descoberta. - Podem me chamar de Ian, e essa é minha irmã Alina, esses são Constantino, Flávio e Franz, meus guerreiros e conselheiros. - A única mulher entre eles era a ruiva de olhar verde musgo. O olhar escrutinador de Alina me percorria sem a mínima modéstia.

Depois que Ian se apresentou, Freya e Jeremy fizeram o mesmo, e depois que as apresentações terminaram, Jeremy deixou para me apresentar por último, aproveitando e dizendo que sou a híbrida. Os olhares curiosos se focaram em mim.

- Me diz Lorena, como descobriu ser uma híbrida? - Remexi na cadeira, desconfortável com a pergunta tão direta do Rei Vampiro.

- Uma profeta do meu povo teve uma visão e me contou. - Eles refletem sobre a minha resposta por um tempo até Alina fazer a próxima pergunta.

- Com que frequência se alimenta? - Tentei esconder a surpresa com a pergunta, que para mim soou indecente e pessoal demais.

- Uma vez por semana. - Eles refletem mais uma vez sobre a resposta e Ian diz se encostando na cadeira.

- Normalmente precisamos nos alimentar diariamente, não sente necessidade de mais sangue nos outros dias? - Contorci as mãos debaixo da mesa, me perguntando se daria algum problema caso eu não respondesse, contudo, sabia o que pareceria se eu não respondesse. Hera pareceu mais interessada nesse momento e senti seu olhar pesar sobre mim.

- Um pouco, nada muito... difícil de lidar. - Hera solta um suspiro insatisfeito e cruza os braços. Quando a reunião acabar ela com certeza vai tocar no assunto.

- Interessante... - Ian reflete em voz alta. - Pode andar durante o dia?

- Sim.

- Interessante...

- Existe outro motivo pelo qual aceitamos vir nessa reunião. - Ian volta sua atenção para o Supremo, agora, os vampiros olham Jeremy atentos. Respirei aliviada pela mudança de assunto.

Jeremy contou sobre tudo o que descobrimos com as bruxas, e o Rei vampiro ouviu tudo atentamente, sem fazer nenhuma pergunta. Sua atenção não desviou do Supremo um segundo sequer, e por mais que eu quisesse vê-lo surpreso pelas revelações, ele não pareceu surpreso em nenhum momento. Quando o Supremo terminou, seguiu-se uns segundos de silêncio antes do Supremo se pronunciar novamente.

- O que eu pretendo te contando todas essas coisas, é uma trégua, assim como a Rainha Freya e eu temos uma. Meu povo está sofrendo baixas todos os meses, quero impedir que isso continue acontecendo. Rainha Freya acreditava que eu mandava pessoas para massacrar o povo dela, sendo que eu sequer sei onde elas vivem, isso é prova o suficiente para ela de que eu não fui o responsável pelas mortes do povo dela. - O Supremo suspira e se ajeita na cadeira. - Com relação a seu povo, mandei sim grupos de lycans para atacar supostos ninhos de vocês, eles não retornaram, mas isso foi a meses atrás, desde então meu povo tem concentrado os esforços na segurança de nossos condomínios, sem revidar os ataques do que supostamente são seu povo nos atacando. E então?

Prendi a respiração ao mesmo tempo em que repetia em minha mente uma mantra. Se por acaso o rei dos vampiros recusar, será praticamente uma guerra declarada.

Ian suspira audivelmente e se inclina para frente na cadeira assim como o Supremo. Ele estende a mão direita para o Supremo, que depois de alguns segundos a aperta. Um suspiro de alívio deixou nossas bocas quando as mãos se apertaram. Um acordo. Temos uma trégua com os vampiros. Depois que soltou a mão do Supremo ele a estendeu para a Freya, que a apertou com um semblante neutro e desinteressado. Ainda sentados, o Ian tomou fôlego.

- Descobri a um mês atrás que nosso povo não estava sendo atacado especificamente por vocês. - Nesse momento, pude ver a boca de todos na mesa, com exceção do grupo vampiro, do Supremo e da Hera, abrirem a boca. - No começo deduzi que talvez fossem os rebeldes do seu povo, mas comecei a desconfiar quando capturamos um suposto rebelde. Ele morreu de uma maneira... peculiar... desconfiamos que fossem as bruxas, mas depois que capturamos outro rebelde, bruxo dessa vez, vimos que estávamos lidando com outra coisa, algo muito mais perigoso, e que essa outra coisa, não podia ter a ver com os líderes de cada espécie, no caso, o Supremo Alfa e a Rainha Branca já que pelos conhecimentos que temos do povo um do outro, nenhum de nós teria habilidades para fazer aquilo.

- Você não pensou em nos contatar? Essa informação podia ter impedido muitas coisas. - Freya não escondeu a indignação, o Rei do vampiros somente a olhou e concordou com a cabeça.

- Pensei, mas se vocês não estivessem desconfiando da mesma coisa que eu não acreditariam em mim, sem contar que não tinha motivo bom o suficiente para exigir um encontro entre nós três que garantisse que aceitariam me encontrar. - Ele olha para mim. - Lorena ter aparecido foi a desculpa perfeita que encontrei para propor esse encontro, e mesmo assim eu estava me perguntando como deveria abordar vocês sobre o assunto, já que pensei que vocês não sabiam sobre esses ataques armados, fico aliviado que sabem, isso evita que eu tenha que contar os detalhes.

- Você sabe quem está por trás disso. - O Supremo comenta, não era uma pergunta. O Rei dos vampiros concorda.

- Não tenho certeza absoluta, mas as chances de que meu palpite esteja certo é oitenta por cento, além disso, o líder dos rebeldes do seu povo. - O rei encara o Supremo. - Está envolvido com a pessoa que planejou tudo isso, acredito que ele esteja fornecendo seus rebeldes ao líder disso para fazer esses ataques. - O Supremo concorda com a cabeça.

- Sim, já estamos cientes disso também, o que não sabemos ainda, é quem está por trás disso tudo, estamos ansiosos para ouvir seu palpite.

- Não se preocupem, vou dizer, mas não pode ser agora. - Franzo o cenho. - Imagino que seu povo tenha um informante assim como o meu, precisamos nos encontrar em um lugar mais restrito para que eu possa falar quem é porque não sei quem é o informante no meu povo, precisamos nos encontrar a sós, e se por acaso você não concordar, aceito que traga seus filhos, se você os considerar de confiança. Guardas e escolta são arriscados demais.

Isso é um risco, mas ele tem razão. Hera compartilhou comigo que Lucas é nosso principal suspeito, no entanto, ainda não temos certeza, podemos estar errados, e sem uma prova concreta não podemos arriscar.

- Rainha Freya está igualmente convidada a participar, vamos precisar de toda ajuda possível se meu palpite estiver certo.

Fim do capítulo