Concentro todas as minhas forças no ato de levantar, meu corpo está doendo por inteiro, porém ignoro toda dor, enquanto tento levantar, Savannah não irá sair dessa casa, pelo menos não dessa forma.

 Dome não apoia minha ideia, ela não quer me ajudar a levantar temendo que meu estado piore, mas se dar por vencida ao notar que com ou sem sua ajuda eu acabaria me levantando e seria bem mais arriscado sem ela por perto.

 Passo meu braço por cima do seu ombro e ela passa o seu por minha cintura, levanto usando-a como apoio.
— Caramba! Emma o que você anda comendo?
— Não comece,  Dominique!
— Só quero saber onde você esconde todo esse peso que estou sentindo.
— Não estou pesada, você que é uma fracote. — Digo enquanto vamos em direção ao quarto de  Savannah.
Aos tombos atravessamos o corredor, assim que chegamos ao quarto Dome bate na porta com o pé, ela está tão vermelha por estar praticamente me carregando. Felizmente Savannah abre a porta e ao nos ver imediatamente me segura fazendo Dome respirar aliviada.

— Obrigada… Ela... são muito… pesada — Dome diz tentando recuperar o folego — Preciso fazer exercícios com urgência.
— Que ideia maluca é essa? Emma você tem que ficar em repouso.- Savannah me leva até sua cama, onde me deita.
— Dome disse que você estava indo embora.- Digo feito uma criança prestes a levar bronca.
—  Dominique, você poderia ter piorado o estado dela. O que você tem na cabeça? Aliás. O que vocês duas tem na cabeça? — Savannah pergunta irritada.
— Eu disse a ela, mas ela ameaçou vir sozinha.
— Emma, por que fez isso?
— Eu precisava falar com você. Por que está indo embora?
— Eu...- Savannah para olhando para Dome, que está interessada demais na nossa conversa. — Dome, poderia nos dar licença?
— O quê? Eu quero saber também!
—  Dominique, fora!- Falo de forma firme.
— E se eu não quiser sair?- Ela pergunta desafiante.
— Conto para Paige sobre as revistas de mulher pelada que você esconde no banheiro.- Digo para uma Dome rubra, enquanto isso Savannah tenta segurar uma risada.
— Vou esperar lê embaixo.- Dome sai e fecha a porta.
—  Dominique, sei que está tentando ouvir atrás da porta, posso ver a sombra dos seus pés daqui.
— Droga!- Dome resmunga.
Finalmente ouvimos seus passos descendo a escada, Savannah me olha divertida e me entrega um travesseiro para que eu possa colocar-atrás das minhas costas na tentativa de me deixar mais confortável.
— Então...
— Emma, é complicado!
— Me explique então.
— Minha mente está confusa, por mais que eu me force a lembrar, não consigo. — Savannah diz sentando-se ao meu lado e em segundos surge aquele calor estranho dentro de mim.
— Talvez você não devesse forçar, apenas esperar que suas memórias voltem. O que Tilly diz sobre isso?
— Que minha mente está tentando me privar de algo, também me contou sobre as condições em que fui encontrada... sobre a possível tortura.- Savannah fecha os olhos e massageia as têmporas.- Caso eu tenha sido mesmo torturada quero descobrir quem fez isso e porquê.
— E você quer enfrentar tudo isso longe mim... de todos nós?
— Você e todos os outros fizeram muito por mim, não posso pedir mais nada. Além disso, caso eu tenha um inimigo a solta posso até colocar todos em perigo e eu não suportaria que se machucassem por minha causa, principalmente você.- ela coloca sua mão sobre a minha e sinto minha pele formigar de um jeito bom.
— Você me machucaria se partisse. — Nos encaramos.
— Precisarei ir em algum momento.
— Eu sei, mas precisa se recuperar inteiramente antes. E não precisa enfrentar tudo sozinha, estaremos todos com você, como uma família.
— Somos uma família?
— Claro! Nos tornamos uma família muito especial.
— E pitoresca.
— Somos bem normais. Temos uma médica, uma psicóloga, uma enfermeira, uma advogada, uma botânica e para fechar uma agente do FBI. — Rimos.
— Bem, a advogada é apaixonada pela médica, a psicóloga tem tratamentos futuristas meio questionáveis, a enfermeira está possivelmente apaixonada por um cara mais novo, a Botânica está com uma contusão no bumbum e a Agente do FBI está sem memória.
— Somos realmente uma família original.- Digo me perdendo cada vez mais em seus olhos.
— Obrigada por tudo Emma.
— Obrigada por não ir embora Savannah.
— Eu não irei, não sem levar você comigo.
— Como? — Pergunto, meu coração batendo forte em meu peito.
— Seja minha amiga Emma, ajude-me descobrir quem sou.
— Estarei sempre com você Savannah!
— E eu com você!- Savannah segura em minha mão mais uma vez, a leva até seus lábios e deposita um terno beijo na mesma. Um sorriso bobo surge em meu rosto, assim como no dela.

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Uma semana depois já me sinto como nova, uma dor aqui, outra ali, mas perfeitamente normal, ainda não posso trabalhar segundo Paige, mas devo praticar algum tipo de exercício, Savannah sugeriu caminhadas leves pelo quarteirão, aceitei prontamente, ela me faria companhia, assim como Dome que insiste em dizer que está fora de forma.

 Começamos ontem, andei por 30 minutos ao lado de Savannah, Dome decidiu correr, parando 5 minutos depois alegando um princípio de enfarte, hoje pela manhã ela se recusou a ir novamente, o que arrancou boas risadas de Savannah e Ellen.

— Preciso ir ao médico.- Dome diz, ela está jogada no sofá com três bolças de gelo sobre o corpo.
—  Dominique, pare com isso.
— Ora, Emma você e Savannah não são desse mundo.
— Talvez você só deva parar de comer tanta batata frita.
— Não culpe as batatas, Emma!- ela reclama.
Dirijo-me para cozinha, Savannah está cozinhando, ela é ótima nisso. Na verdade, penso que ela é boa em tudo, é uma mulher muito inteligente e culta, desde que ela começou a cozinhar paramos de comer pizza e torradas, Dome não faz outra coisa a não ser comer, ela ataca todas as criações gastronômicas de Savannah. Desde a conversa que tivemos ela se mostrou uma verdadeira amiga não só comigo, mas com todos. Tilly fala sobre sua melhora crescente, ela não esconde a empolgação com a recuperação cada vez mais acelerada.

 Savannah acompanha Dome e Ellen em suas loucuras, temos a noite das garotas uma vez por semana, com direito a pijamas diferentes para cada encontro.

— O que está fazendo?- digo pegando um copo com água.
— Sopa para Dome.
— Ela não está doente, e você sabe disso.
— Eu sei, mas essa sopa tem um alto teor enérgico, Dome terá que se movimentar.
— Onde aprendeu essas coisas?
— Com minha mãe, ela morreu em 2008, acidente de carro.- Era a primeira vez que ela falava sobre a mãe.
— Sinto muito.
— Tudo bem, eu sempre me sinto bem ao falar dela.
— Aposto que ela era incrível, assim como você.
— Sim, somos incríveis.- ela ri e vejo que lembrar da  mãe realmente lhe faz bem.
A campainha  toca e segundos depois ouço a voz de Ellen, ela traz nossa correspondência, era para Dome ter apanhado na caixa do correio essa manhã, mas como sempre ela não o fez.
— Hey, garotas. Ocupadas demais para pegar a própria correspondência?
—   Dominique é incapaz de fazer isso.
— Estou impossibilitada. - Dome diz dramaticamente.

Pego a correspondência com Ellen, descarto algumas propagandas, até que um envelope vermelho chama minha atenção, abro e vejo ser um convite de casamento

— Temos dessa vez, Emma? — Infelizmente não terei como polpar Dome disso.
— E o convite para o casamento de Paige. Será daqui a duas semanas.

Dome não diz nada, apenas se levanta do sofá e vai para quarto, minutos depois o som de Rock invade a casa, Ellen tenta conversar, mas ela permanece trancada.  Minha irmã está sofrendo, realmente sofrendo.

— Farei um bolo de chocolate para ela.- Savannah diz.
— Capriche no chocolate, ela vai precisar.

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Uma semana havia se passado após a notícia do casamento de Paige, e Dome ainda estava destruída. Seu humor horrível, ela se afundou no trabalho, casos e mais casos em suas mãos, enquanto o pobre Jimmy pagava as consequências, nem mesmo a comida de Savannah conseguiu anima-la, estávamos todos preocupados.
— Dome não quis almoçar com você de novo? — Savannah pergunta assim que chego na cozinha, já são 22:00 e nenhum sinal de  Dominique.
— Não, ela está incomunicável, não quer ouvir nada referente ao casamento.
— Ela chegou tarde ontem e parecia bem cansada.
— Temo que minha irmã fique doente Savannah.
— Ela já está Emma, doente de amor.
— Savannah, isso foi muito cafona. — Caímos na gargalhada.
— Foi bonitinho.
— Não, não foi. — Somos interrompidas pelo meu celular.  — Alô... ah! Oi! Michael… Sério… que pena... não, não me importo... certo, certo... até mais.- Finalizo a ligação. — Michael teve que esticar a viagem por mais algumas semanas.- me sinto estranhamente aliviada.
— Pena, você vai ter que ir ao casamento sem ele — Savannah fala se sentando ao meu lado.
— Boa noite pessoal. Será que podem me ajudar com isso?— Ellen diz enquanto tenta segurar uma Dome completamente bêbada.
— O que aconteceu?- Vou em direção às duas ajudando a segurar Dome.
— Ela precisava beber, e bebeu tudo que precisava.
— Paige... aquela filha da mãe vai se casar... E o noivo dela tem um nome idiota. E os filhos deles terão nomes idiotas.- Dome diz, seu corpo indo para frente e para trás.- Ela terá uma casa perfeita com flores na varanda... uma vida chata de merd*... — lágrimas escorrem por rosto.
— Dome, acalme-se!
— Está doendo tanto Emma.- Meu coração fica apertado com essa confissão.
—  Dominique, pare já com isso! — Ellen tenta parecer forte, mas sua voz soa embargada. Caímos as três no sofá aos prantos. Savannah observa a cena com os braços cruzados, tenho certeza que a situação é cômica. Dome se levanta, pega um dos vasos de cristal presentes na sala e atira contra a parede.
— Dome, a mamãe me deu esse vaso. — Dome pega mais objetos e começa a joga-los contra a parede. Observo Savannah voltar para cozinha, eu entro em desespero tentando segurar Dome antes que ela quebre nossa casa toda.  

Savannah volta segundos depois, ela traz um copo com água em uma das mãos, ela se aproxima de Dome segurando em seu ombro, então ela simplesmente joga a água aparentemente gelada no rosto de  Dominique. O silêncio reina por alguns segundos até que Dome se joga nos braços de Savannah. Ellen e eu respiramos aliviadas.
A noite foi tensa, Dome derramou todas as lágrimas possíveis, Ellen acabou chorando junto e Savannah segurou a barra das duas, na manhã seguinte estávamos espalhadas pela sala dormindo nos lugares mais improváveis. Fui para o trabalho na parte da tarde, Dome ficou no quarto o dia inteiro, Jimmy levou o escritório para dentro da nossa casa e Ellen fez novos pijamas.

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Faltavam quatro dias para o casamento, eu não poderia deixar de ir, Dome teria que entender, devo muito a Dra. Paige, assim como Savannah. Tenho que comprar um vestido, Savannah não quis me acompanhar, disse ter muitas coisas para fazer com Tilly, quando perguntei sobre o que ela iria usar, disse que iria se virar. Não insisti no assunto, ela fica bonita em qualquer coisa mesmo, mesmo indo de jeans e camiseta ainda iria parecer elegante. 

Aproveitando a presença de Jimmy o convidei para me ajudar com o vestido, ele sempre dá sugestões incríveis e deve entender mais de roupa que eu.
— Oh! Emma, vermelho fica tão bem em você, mas não acho apropriado para esse evento.- Jimmy diz analisando alguns modelos.
— Que tal esse azul?
— Muito simples.
— E esse preto?
— Muito formal.
Duas longas horas depois, finalmente conseguimos encontrar algo apropriado. Um vestido sem mangas, no tom cinza com uma renda delicada abaixo do busto, evidenciando a cintura, o comprimento vai até metade das minhas coxas, o vestido solta suavemente na parte de baixo, justo apenas nas partes realmente necessárias.
— Emma, ficou lindo em você, será a mais bela da festa.- Jimmy diz entusiasmado.
— Acha que estou traindo Dome?
— Claro que não! Dome, sabia que a Doutora era durona, e ela pagou o preço.
— Obrigada por tudo Jimmy.
— Não me agradeça, eu adoro fazer compras.
Jimmy ainda me arrastou por mais uma hora até encontrar os sapatos perfeitos, confesso que ele tem um bom gosto admirável. Chego em casa exausta e com inúmeras sacolas na mão, Savannah e Dome estão vendo uma luta de MMA na TV.
— Onde você estava?- Dome pergunta olhando as sacolas em minhas mãos.
— Precisei fazer algumas compras.
— Para o casamento?
— Sim.
— Então, você vai mesmo?
— Dome...
— Tudo bem, eu sei que vocês são amigas.
— Você entende mesmo?- digo a abraçando.
— Sim, eu entendo mesmo.

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O dia do casamento finalmente chegou, Dome foi muito cedo para o escritório, acredito que hoje não será um dia fácil.

 Vou até à floricultura e como sempre encontro Polly atolada em meios a documentos, nos falamos rapidamente, ela está correndo contra o tempo, passo toda manhã comparando resultados de análises, na hora do Almoço tento falar com Dome, mas ela não atende o celular, ao ligar para Jimmy em busca de notícias ele alega que Dome está terrivelmente ocupada. Resolvo almoçar com Polly, comemos em sua sala, ela está animada com a chegada do bebê, não fala em outra coisa, a alegria dela é contagiante. Saio do trabalho por volta das 17:00, o casamento será as 19:00 na casa da mãe da noiva.

— Família, cheguei.
— Olá. Como foi seu dia?
— Cansativo, muitas e muitas obrigações. Onde está Dome?
— No quarto, faz algumas horas.
— Como ela está?
— Humm… Normal, a maneira Dome, é claro!
— Vou começar a me arrumar, você devia fazer o mesmo.
— Não se preocupe, não irei me atrasar.

Faltando exatamente 40 minutos para o casamento fico pronta, Penélope e Tilly vão conosco, às duas chegaram a alguns minutos. Desço as escadas e as comprimento.
— Olá garotas e. Tom?- fico surpresa ao vê-lo.
— Olá Emma, vou acompanhar Penélope, belo vestido.
— Obrigada, você está muito bonito e elegante.- Tom vestia um terno caro e bem cortado, sua gravata borboleta lhe dava muito charme.
— Uau... Savannah.- Tilly diz e me viro em direção as escadas.
La estava ela, minha boca deve estar aberta e meus olhos extremamente arregalados.  Savannah está em um vestido preto, com mangas longas de renda, o forro por baixo do vestido é branco e vai até um pouco acima do joelho, seu cabelo está jogado para o lado e tem alguns cachos, nunca a vi tão bonita. Ela me olha da cabeça aos pés, seus olhos ganham um brilho particular e ela sorrir.
— Você está linda Emma.
— Não mais que você.- Respondo rápido, rápido demais.
— Obrigada.
— Então, vamos?- Tilly chama quebrando nosso contato visual.
— Vamos!- Todos nós viramos para o topo da escada novamente.

 Dominique está trajando um lindo vestido prateado de alças finas e um salto que deve ter lhe dado uns 10 cm de Altura.

— Dome...
— O convite dizia "Família Clark" e eu sou uma Clark.

Fim do capítulo