Quero isto, ordeno isto, que a vontade sirva de razão
CAPÍTULO 39: Hoc volo, sic jubeo; sit pro ratione voluntas
Natalia manteve seu estado de exílio até o final da semana, refugiando-se nos estudos para disfarçar a angústia do peso de suas decisões iminentes. O conselho de Rosana ecoava na proporção que seus pensamentos e seu corpo clamavam por Diana.
Com muito custo, a loirinha optou por manter distância de Natalia como prometera na última conversa. Intensificou os preparativos para o próximo trabalho para o site de Julia, deixando a sua agenda livre para a festa das repúblicas no final de semana, em comemoração ao final das provas, voltar a pilotar suas “pickups” empolgava Diana, e a tal festa era uma oportunidade de rever Natalia.
O Clube Metro era o local de tradição para as festas das repúblicas unificadas, igualmente tradicionais no curso de Direito. Essas festas geralmente objetivavam angariar fundos para as festas de formaturas das turmas dos últimos semestres, tal fato dava uma pilha a mais para os estudantes se empenharem na divulgação do evento.
E como esperado, a sexta a noite estava perfeita para a Night Republic. Convencer Natalia a ir não foi tarefa fácil. As meninas da república utilizaram todos os argumentos, até Carla jogar com suas suspeitas e disparou:
-- Vai perder um show da Diana, dizem que ela está arrasando no repertório novo.
Minutos depois Natalia estava pronta, sua beleza não exigia grandes produções para saltar aos olhos. Entretanto, os cabelos com as pontas amassadas mescladas aos seus trajes simples e delicados lhe davam um aspecto despojado único, que chamavam a atenção mesmo que essa não fosse sua intenção.
Diana ao contrário caprichou no seu look, carregado com seu estilo urbano nada convencional. O jeans justo, as botas cano longo e o colete de couro preto lhes conferiram uma sensualidade incomum enquanto dançava, contrastando com seu jeito moleque de dominar a mesa de som e mixagem, até o seu headphone se transformou em artifício para a loirinha esbanjar seu charme peculiar.
A performance empolgante da DJ, pioneira em mesclar os hits do momento das maiores festas eletrônicas da Europa e elementos dos clássicos do rock mixados e novas versões do pop nacional, levou a plateia de estudantes e convidados à loucura.
Apesar de envolvida naquela atmosfera, Diana não tirava os olhos da pista buscando Natalia entre o jogo de luzes e as centenas de pessoas ensandecidas se entregando ao ritmo. E como se ensaiadas pelo desejo de suas almas de encontrarem, seus olhares se cruzaram no exato momento em que Natalia entrou no Clube.
Segundos de uma conexão transcendente foram o suficiente para despertar certezas, transformar a saudade em tortura insuportável e o desejo tomar a forma de algo tão vital quanto o ato de respirar. Natalia surgiu para Diana ainda mais linda e apaixonante e Diana por sua vez, estava diante de Natalia como a criatura mais envolvente e igualmente bela que ela já conhecera. As almas se entenderam como antigas conhecidas, mesmo que os olhos transmitissem a eminência de uma nova paixão surgindo. Permitindo o neologismo, o que definiu aquele momento foi o “reapaixonar-se”. Inexplicável? Talvez. Mas quem ousa explicar o poder da paixão se reinventar?
A super festa agora era coadjuvante naquela noite, pelo menos para Diana e Natalia que não consideram se desligar uma da outra, mesmo com os metros de distância impostos. A energia que as unia infelizmente sofreu interferências de terceiros, antagonistas daquela história. Ao perceber a presença de Natalia no clube, Pedro se apressou em procurar o alvo da sua cobiça.
-- Natalia, que bom que veio.
-- Oi Pedro.
-- Quer beber alguma coisa? Deixa eu te pagar uma bebida.
-- Obrigada Pedro, mas não vou beber.
-- Vamos dançar então? A Di está arrebentando no som hoje...
-- Pedro... Não quero ser grossa, mas vou poupar seu esforço... Eu ainda não quero conversar com você, ainda não consegui absorver o que aconteceu essa semana...
-- Mas Natalia... Eu sou seu namorado... Essas intimidades são comuns entre casais e eu sou completamente apaixonado por você... Não foi nada demais... Nós bebemos muito e...
-- Então você acha mesmo que não foi nada demais?
-- Natalia você está super valorizando um fato isolado...
-- Pedro eu te disse que não queria conversar com você, mas já que você está sendo tão inconveniente insistindo, vou ser direta: para mim foi demais sim, tanto que foi suficiente para eu definir nossa situação, esse namoro está acabado!
Pedro arregalou os olhos e berrou:
-- O que?! Não faz isso comigo, por favor!
Segurou o braço de Natalia agressivamente forçando um abraço:
-- Não me deixe, preciso de você...
De longe Diana se distraía com a cena, se controlando para não intervir na discussão, esquecendo-se até de trocar a sequência de músicas e jogar seus efeitos. Pedro forçava a aproximação com Natalia que o repudiava veementemente sem sucesso até a intervenção de Lucas.
-- O que está acontecendo aqui? Qual foi mano?
-- Não se intrometa Lucas!
-- Solta a Natalia agora Pedro.
Lucas mudou o tom de voz, segurando o ombro do irmão. O olhar lançado por Lucas parece ter trazido Pedro de volta a razão, fazendo com que este se afastasse da garota, e seguisse para o bar.
-- Está tudo bem Natalia? – Lucas indagou preocupado.
-- Está sim, obrigada Lucas.
-- Você quer uma água? Ou algo mais forte?
-- Obrigada, mas não vou beber. Vou comprar uma água.
-- Trago pra você.
Lucas se afastou e essa foi a deixa para Natalia voltar sua atenção para o motivo de estar ali: a DJ. A visão não foi nada agradável: a sua colega de sala, Sheila, se insinuava acintosamente para Diana, colando o seu corpo na loirinha que tentava se esquivar, mas, o pouco espaço do quadrado não permitia uma distância segura.
Lucas se aproximou com uma garrafa de água quando Natalia o surpreendeu:
-- Mudei de ideia Lucas, quero uma tequila.
-- Opa! Já é!
As doses de tequila se repetiram duas vezes antes de Natalia se render ao som da DJ e usá-lo ao seu favor. Se Sheila aproveitava o pouco espaço para esfregar o seu corpo em Diana, Natalia decidiu atiçar o desejo da ex à distância da pista.
A atenção de Diana ela conseguiu fácil. Lucas distraído com os movimentos sensuais da moça não teve a perspicácia de entender o que se passava, e tentou acompanhá-la na dança. O rebol*do dos quadris de Natalia deixava à mostra sua barriga moldada por uma natureza impecável, os cabelos despenteados eram segurados pelas duas mãos pela moça enquanto ousava um gesto mais sexy.
Sheila cochichava elogios maliciosos aos ouvidos de Diana, que pouco se importava com o assedio, com os olhos fixos em cada movimento de Natalia na pista. Como se quisesse gritar o que sentia, a DJ enviou sua mensagem em forma de música, tocando “Crazy in Love” da Beyoncé.
“Got me looking so crazy right now, your love's
Got me looking so crazy right now (your love)
Got me looking so crazy right now,your touch
Got me looking so crazy right now (your touch)
Got me hoping you'll page me right now, your kiss
Got me hoping you'll save me right now
Looking so crazy in love's,
Got me looking, got me looking so crazy in love.”
Me parecendo tão louco agora, do seu amor
Me parecendo tão louco agora (seu amor)
Me parecendo tão louco agora, o seu toque
Me parecendo tão louco agora (seu toque)
Me esperando que você me página agora, o seu beijo
Me esperando você me salvar agora
Parecendo tão louco no amor,
Me olhando, me olhando tão louco de amor.
A apresentação de Diana se aproximava do fim, tal evento nunca foi tão esperado. Natalia se esquivava das típicas investidas dos rapazes, contando com a “proteção” do suposto cunhado, inocente ao flerte entre ela e Diana.
Observando Diana deixar a cabine de som, Natalia tratou de providenciar a distração de Lucas.
-- Lucas, eu vou procurar as meninas da república, volto já. Fique aqui.
-- Mas, Natalia...
Antes que Lucas discordasse a menina sumiu no meio da pequena multidão. Diana buscava entre os rostos conhecidos apenas um: o da sua ex-namorada, parou no bar, mas antes que Natalia a encontrasse, Sheila o fez, abordando-a com a mesma ousadia de outrora, falou bem próximo aos lábios da loirinha:
-- O que você acha de irmos para um lugar menos convencional? Onde eu não precise segurar minha vontade de te beijar na frente de todos?
Tentando não ser mal educada com a colega, Diana desviou o rosto e pediu uma bebida no balcão.
-- Sheila eu vou dar uma volta por aí. Depois nos falamos.
-- Diana você está mesmo me dispensando? – Sheila falou irritada.
-- Sheila... Metade do curso de Direito da USP está aqui, eu já tenho motivos o suficiente para me preservar e me preocupar, não vou dar munição pra ser fuzilada pelas fofocas dessa gente, desculpa linda, mas eu tenho outros planos pra essa noite.
Diana pegou sua cerveja e deixou o bar e continuou a procurar Natalia pelo clube, mas, o acaso não era aliado do casal naquela noite, um antigo affair de Diana da faculdade atiçada pelo estrelato da DJ foi incisiva na sua abordagem, pegando a loirinha de surpresa na escadaria que dava acesso ao primeiro piso.
-- Você está uma delicia Di... Eu não sei resistir a tentações, que tal tocar outra coisa hoje?
-- Por exemplo...?
-- Aquele ponto que você conhece como ninguém...
Monica mordiscou a orelha de Diana sem o menor pudor por estar em um ambiente heterossexual. Péssimo momento para a loirinha ser encontrada por Natalia, que avistou a cena de longe.
Mais uma vez Diana se esquivou, mesmo atraída pela sensualidade exuberante da moça.
-- Monica eu sou obrigada a ser seu anjo e te ajudar a fugir de tentações hoje.
Diana sorriu com seu jeito amolecado para Monica e sumiu entre as dezenas de pessoas que lotavam o primeiro piso. Natalia fez o mesmo trajeto, e viu a oportunidade perfeita quando Diana se aproximava do depósito do clube. Apressou-se para alcançá-la, surpreendendo a ex-namorada, empurrando-a para dentro do depósito, pressionando-a contra a porta.
-- Chega! Chega de tantas mãos te cercando! Você é minha!
Afobada, Natalia invadiu a boca de Diana com sua língua, roubando um beijo tórrido, urgente, sufocando qualquer insite de sensatez. As duas prolongaram aquele contato, intensificando a entrega dos lábios, aliada à busca frenética das mãos pelos corpos uma da outra, trocando gemidos de prazer entrecortados pela respiração ofegante denunciando a excitação óbvia, anunciando a força daquela paixão.
O desejo apossado de ambas calou qualquer palavra. A razão era secundária naquele contexto. A vontade justificava todas as atitudes do casal. Diana inverteu a posição e jogou Natalia contra a parede, encaixou sua coxa entre as pernas da outra, suplicante, sentindo seu sex* encharcar-se, Natalia fechou as pernas e roçou seu sex* na coxa de Diana aumentando a excitação de ambas.
-- Te quero tanto Nat...
-- Que saudade das suas mãos, me toca Di...
As mãos de Diana que passeavam pela cintura de Natalia, desceram a fim de cumprir o que esta pedia, sem grande esforço desabotoou a calça de Natalia iniciando uma sensual massagem com os dedos na altura do clit*ris dela, até enfim ganhar espaço e introduzir seus dedos por dentro da calcinha. Diana se deliciou com a umidade abundante ali encontrada, tocou Natalia na intensidade ditada pelas expressões de prazer evidentes no rosto desta e acolheu-a em seguida nos seus braços sentindo-a trêmula, goz*ndo plenamente.
A paixão não tinha limites naquela noite, as bocas continuavam a se procurar, sedentas por sua fusão cálida. As mãos exploraram as peles quentes, e as frases soltas sussurradas ao ouvido tinham uma única mensagem:
-- Quero mais, quero mais de você...
Os abraços e as trocas de carícias sôfregas mantiveram a excitação que culminaria com uma nova entrega e os orgasmos incontroláveis que se desenhavam em cada gesto e movimento de Natalia e Diana, quando o barulho, provavelmente de algum funcionário do clube as interrompeu.
Calaram até mesmo a respiração acelerada e se esconderam atrás das caixas de cerveja para não serem descobertas. Livres do flagrante, Natalia pediu:
-- Di, me tira daqui.
-- Vem comigo?
Diana ofereceu a mão. Constrangida, Natalia hesitou.
-- Algum problema?
-- Não, nenhum, vamos sair daqui.
Natalia segurou a mão de Diana.
-- Meu carro está nos fundos do clube, vamos pra casa minha linda.
-- Vá à frente, vou avisar as meninas que não volto com elas pra casa.
Diana ignorou a suspeita de que Natalia inventara uma desculpa para não ser vista com ela, não era hora para discutir questões mais complexas, sua vontade de estar com Natalia em seus braços era muito superior a essas suspeitas, assim, apenas consentiu, fazendo como Natalia sugerira.
O que Natalia parecia ter se esquecido, era do seu guarda-costas compulsório da noite: Lucas, que surpreendeu a garota quando esta se dirigia ao bar onde Carla estava com Ricardo.
-- Onde você estava?!
-- Lucas eu estou indo embora.
-- Mas sozinha? Eu te levo!
-- Não! Já chamei um táxi.
-- Vou te acompanhar então.
-- Lucas pare!
Natalia berrou irritada.
-- Chega! Obrigada pela preocupação, pelo cuidado, mas, estou bem e não quero companhia!
Lucas balançou a cabeça negativamente, colocou as mãos na nuca e retrucou em tom interrogativo, visivelmente perturbado:
-- Você está atrás dela não é?
-- O quê?
-- Você está procurando ela! O que quer? Vai se oferecer pra ela? Deu um chute no meu irmão pra isso não é? Ela já deu em cima de você não foi?
Os berros de Lucas despertaram a atenção de Carla que se aproximou perguntando:
-- O que está acontecendo aqui? De quem você está falando Lucas?
Natalia sentiu suas mãos gelarem, temendo que Lucas revelasse para a colega de república seu segredo, e para piorar a situação, Fernanda e Gisela, outras moradoras da república chegaram fazendo a mesma pergunta, claramente tocadas pelo álcool.
-- Que climão é esse minha gente?! Vamos pra pista meu povo!
Carla recuou, notando a troca de olhares tensos entre Lucas e Natalia. Mas o rapaz se aproveitando da situação insistiu:
-- Por que não responde às suas amigas? Diga de quem estamos falando.
-- Lucas, eu acho que você exagerou nos gorós, para de atormentar a guria meu irmão! - Ricardo interviu puxando o rapaz para longe do círculo das meninas ao sinal de Carla.
-- Natalia está tudo bem? – Carla indagou segurando o braço da amiga.
-- Está obrigada Carlinha. Eu só estava procurando vocês para avisar que estou indo embora.
-- Com quem? Mas já?
-- Ah Natalia para com isso! Está cedo ainda! – Fernanda berrou.
-- Estou indisposta gente, a tequila não me fez bem... – Natalia simulou uma careta de mal estar.
-- Vou com você então, o melhor da noite era o som da Diana, esse amador que está tocando agora é muito fraquinho. – Gisela disse ficando ao lado de Natalia.
-- Não precisa Gisela, vou de táxi... – Natalia tentou argumentar.
-- Deixa a Gi ir com você Natalia, vocês racham um taxi e ela ainda te faz companhia já que você não se sente bem. – Carla comentou.
-- E eu fico sozinha? – Fernanda revirou a cabeça indignada.
-- Não dramatiza Nanda! Daqui a pouco você vai estar se atracando com um calouro, eu te conheço! – Gisela bufou.
Enquanto Natalia tentava fugir das amigas sem despertar suspeitas, Diana esperava em seu carro, nos fundos do clube. Esperou vinte minutos, meia hora, quarenta minutos. Aquela espera Diana não conhecia. Atestou que a postura expectante se configurava em tortura. Uma tortura que minava sua imaginação com todas as possibilidades responsáveis pela demora de Natalia.
Quase uma hora se passou, e a essa altura Lucas já estava ao lado de Natalia mais uma vez, junto com as outras meninas da república dela e Ricardo, namorado de Carla. Ainda irritado, não deixou de provocar a garota:
-- Ela não está mais aqui, não adianta procurar, já deve estar se esfregando em meia dúzia de menininhas curiosas...
Natalia fez cara de poucos amigos para o rapaz e se afastou dele caminhando em direção a saída, e foi seguida por Gisela.
-- Nat agora sou eu que não estou passando bem, vamos comigo?
Acuada a menina não conseguiu dizer não. Tinha esperanças de conseguir falar com Diana quando chegasse à república onde havia deixado seu celular. Entretanto, minutos antes de Natalia sair do clube com Gisela, Diana assistiu a cena deplorável de Sheila totalmente embriagada, vomitando na calçada.
Diante da situação, deduzindo que recebera de Natalia um bolo após uma hora de espera, a DJ socorreu a colega, levando-a para seu apartamento.
Sheila estava praticamente inconsciente quando chegou ao apartamento de Diana. A loirinha acomodou a moça no sofá da sala, depois de quase empurrar goela abaixo litros de água, antevendo a ressaca da sua admiradora.
A caminho da república a angústia de Natalia só aumentou. Gisela dava sinais que sua embriaguez passara do limite aceitável:
-- Eu não estou bem... Sinto dor... Estou enjoada...
-- Senhor pare o carro agora!
O taxista obedeceu, mas o estado da jovem não melhorara como esperado.
-- Moça, é melhor levar sua amiga pro hospital, tem um daqui a duas quadras. – O taxista aconselhou.
Natalia concordou, e lá permaneceu com a amiga até a madrugada dar lugar ao novo dia. Passou a noite em claro, não só por preocupação com a colega, mas, principalmente pela angústia de não conseguir falar com Diana para esclarecer o desencontro da noite. Quando finalmente foi liberada pelo hospital, levou Gisela para república, aproveitou que todas dormiam e no mesmo táxi seguiu para o apartamento de Diana.
Como era conhecida do porteiro, Natalia subiu direto sem problemas. As insistentes batidas na porta e na campainha foram proporcionais à pressa dela se explicar com Diana.
A loirinha despertou assustada, aliás, não só ela, a sua hóspede no sofá também.
Sheila praticamente desabou do sofá, amargando a ressaca previsível com a náusea insuportável. Sem conseguir identificar onde estava Sheila apertou os olhos, e pensou alto:
-- Puta que pariu! Onde estou?
O mal estar da moça compôs a urgência que justificou sua eficiência em achar o banheiro naquele apartamento desconhecido, no trajeto, encontrou Diana apressada pelo corredor, esfregando os olhos, trajando apenas uma camiseta surrada e um short minúsculo, a loirinha abriu a porta, se deparando com Natalia que ansiosa se precipitou em suas desculpas:
-- Di eu vim assim que pude, precisava te explicar pessoalmente, aconteceu tanta coisa...
Natalia falava atropelada até ser interrompida pelo barulho do que parecia alguém derrubando vidros no chão. Sem cerimônia Natalia forçou a entrada, adentrando no apartamento. Qual não foi sua surpresa, melhor dizendo, sua desilusão, ao encontrar no corredor, Sheila envolvida em apenas uma toalha.
Diana não teve tempo de sequer tomar ciência do quanto aquele cenário a incriminava, ao menos conseguiu discernir a sua suposta culpa, e antes que fosse forçada pelas circunstâncias a pronunciar o clichê: “Não é nada disso que você está pensando”, viu Natalia lhe encarar por milésimos de segundos com lágrimas nos olhos, balançando negativamente a cabeça, demonstrando sua mágoa pela dedução feita, agora a loirinha se dava conta do que aquela confusão se transformara aos olhos de Natalia. Mas, não havia mais tempo ou clima, espaço ou justificativa para explicações.
Natalia bateu a porta com violência deixando o apartamento e mais uma chance de reiniciar seu entendimento com sua amada. Diana permaneceu inerte. Não por falta de vontade de escutar as explicações de Natalia e passar por cima de tudo para retomar o namoro, não pela ausência de motivos para não permitir que ela se afastasse alargando o fosso existente com mais um desencontro. Diana não se moveu por lhe faltar energia para mais uma discussão, sentia-se fatigada de lutas e concluiu interiormente:
-- Ela não viu nada e tirou a conclusão sozinha, não vou lutar para que ela acredite em mim.
Sheila ainda aturdida com o que testemunhara acrescida a sua ressaca se limitou a explicar o que não sabia se tinha importância aquela altura.
-- Eu... Acho que preciso me desculpar, mas, juro que não imaginava, aliás, nem sei o que imaginar... Sujei minhas roupas acidentalmente e...
-- Sheila poupe as explicações. Só me faz um favor, esqueça o que você viu, quem você viu e vá para casa. Preciso ficar sozinha, desculpe-me.
************
A noite que Sheila passara inconsciente no apartamento de Diana, na sua versão fantasiosa e vil, se transformou na narração de uma tórrida e inconsequente maratona de sex* lésbico depois de muito álcool e paquera na festa das repúblicas. Os boatos se espalharam nas rodinhas dos estudantes, pouco importava a veracidade dos fatos, especialmente porque Sheila ainda tinha o desejo não saciado de fazer acontecer tal fantasia, e para tanto, sabia agora que era necessário tirar Natalia do seu caminho.
Exausta de estar vez por outra envolvida nessas fofocas pós-festa, Diana não perdeu seu tempo negando o que acidentalmente escutava, aprendera com a experiência de anos naquela faculdade, que essas histórias apesar de fugazes, alcançam uma proporção inenarrável, fazendo-a lembrar na parábola que sua mãe lhe repetira desde a adolescência: se você jogar um saco de penas de cima do telhado, por mais leves que elas sejam, algumas se perderão e rapidamente serão espalhadas pelo vento, você pode até recuperar grande parte delas, mas nunca todas, assim são as palavras quando pronunciadas. Dessa forma, Diana fez-se de surda. Mergulhou no seu novo projeto de trabalho, despendendo todas suas energias nele, fugindo da violenta falta que Natalia lhe fazia, driblando sua saudade e seu ímpeto de lhe procurar.
Natalia, no entanto, não conseguiu ficar surda às fofocas que surgiam de todas as formas, algumas com detalhes que beiravam a comicidade de tão irreais que se apresentavam, fazendo-a suspeitar enfim que tudo não passava de um amontoado de mentiras. Tal conclusão não foi o suficiente para fazê-la procurar Diana. A exemplo da loirinha, Natalia se sentia cansada, frustrada, desiludida com relacionamentos, com as pessoas. A fofoca sobre Sheila e Diana poderia até ser falsa nas bizarrices, mas, o que mais justificaria a presença dela no apartamento de Diana àquela hora, naqueles trajes, depois de uma noite de flerte descarado e de seu suposto bolo em Diana? Sua história conturbada com Diana, os acontecimentos que a cercaram, tudo parecia contra elas. E o que dizer do seu relacionamento com os rapazes? Motivações que surgiram com amizades inocentes, ou paqueras descompromissadas, evoluíram para ataques criminosos, relações possessivas e desejos desenfreados. Por tudo isso, Natalia optou por se defender de mais decepções, mas, era Diana seu primeiro pensamento ao acordar e o último antes de dormir. Por dias, nutria o desejo de ao menos vê-la de longe, inconscientemente alimentando a esperança de que o destino as aproximasse mais uma vez.
Mas, não foi o destino que as aproximou. Sentindo-se humilhada por Diana continuar a rejeitá-la, Sheila foi teatral para protagonizar uma discussão de casal com Diana, na biblioteca, onde as equipes de trabalho de IED se reuniam.
-- Posso ir pra sua casa depois que terminarmos o trabalho?
Sheila perguntou acariciando o braço de Diana, diante de todos, inclusive de Natalia.
-- Eu vou trabalhar quando sair daqui Sheila.
Diana respondeu seca, constrangida procurando Natalia com o olhar a fim de observar sua reação. Natalia estava atenta, assim como os demais que as cercavam.
-- Não importa, me dá a chave do apartamento que te espero lá.
Diana franziu o cenho, estranhando o súbito ataque de intimidade que Sheila demonstrava.
-- Por que eu te daria a chave do meu apartamento Sheila?
-- Não precisa ficar tímida minha linda, comigo você não precisa esconder nada, não tenho problema em mostrar o que temos.
Sheila falou encarando Natalia.
-- Sheila para com isso, por favor! – Diana falou trincando os dentes.
-- Do que tem medo Diana? Que eu tire a máscara de santa de certas pessoas nessa mesa?
O clima de tensão se instalou de vez. Natalia empalideceu. As trocas de olhares entre Diana, Sheila e ela deixava evidente que naquela mesa só elas três compreendiam o que estava nas entrelinhas.
-- Chega! Vamos voltar a fazer o trabalho, depois nós conversamos Sheila.
Diana tentou encerrar a discussão antes que a garota falasse demais.
-- Dessa vez você não vai me enrolar viu meu amor? Espero não ter interrupções de nenhuma caipira arrependida pelo que perdeu.
O ataque foi tão claro, que Natalia chegou a sentir fisicamente. Involuntariamente partiu ao meio o lápis que segurava tamanha era sua tensão. Diana perdeu a compostura, segurou Sheila pelo braço e a arrastou para fora da biblioteca depois do terceiro pedido de silêncio de Dona Miriam, a bibliotecária.
-- O que você pensa que está fazendo Sheila?
Diana cochichou irritada no canto do corredor, empurrando Sheila para baixo de um lance de escadas.
-- Estou fazendo o que aquela sonsa não faz: estou lutando por você!
-- Pois me deixe informar: você está conseguindo exatamente o contrário, se eu tinha alguma atração por você, ela sumiu, acabou depois dessa tarde. Você extinguiu toda possibilidade de termos uma aventura sequer.
-- Não é justo isso! Ela não te quer! É uma jeca! Estava lá morrendo de medo que eu a desmascarasse, com aquele jeitinho de menina hetero perfeitinha, certinha.
-- Não se trata dela, se trata desse papel ridículo que você está fazendo. O que acha que vai conseguir me chantageando pra ficar com você? Não percebe o quanto isso é humilhante?
Sheila se calou. Pareceu ter pela primeira vez a dimensão do jogo equivocado que escolheu para seduzir Diana. Tentou abraçar a loirinha, chorando sua vergonha, penalizada Diana retribuiu o abraço e só então percebeu que era assistida por Natalia. Outra vez não houve discussão, as conclusões foram subentendidas por ambas.
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O ataque de Sheila apesar de não ter declarado a verdade sobre Natalia e Diana claramente, deu margem para especulações que abalaram a moça do interior, se vendo mais uma vez como assunto de fofocas pelos corredores e banheiros do curso de Direito.
A gota dágua foi uma discussão fatídica na aula de IED, a polêmica sobre adoção de crianças por casais homossexuais. Instigados por Dorothea, os alunos explanaram diversos pontos de vista, alguns nitidamente homofóbicos, combatidos com veemência pela professora. No calor do combate de opiniões, Henrique lançou a pergunta para Natalia que até então se mantinha serena no domínio do assunto usando os princípios do Direito para embasar sua opinião.
-- E aí Natalia? Você e a Diana já pensaram em quantos vão adotar?
Depois de algumas risadas e burburinhos, com muito esforço, Dorothea conseguiu o silêncio da sala e sabiamente mudou o foco da aula, notando os olhos de Natalia marejarem e Diana apertar as unhas contra as palmas das mãos. Certamente o gesto da professora não objetivava proteger Diana, mas uma retirada estratégica precisava manter o controle, uma vez que acerca desse assunto, Dorothea estava alheia, e nada que dissesse respeito à vida da filha do senador Acrisio poderia passar despercebido por ela, precisava se inteirar daquela insinuação, acreditando que lhe seria útil em algum momento.
Ao final da aula, Natalia saiu em disparada. Não queria enfrentar mais piadas preconceituosas, mais fofocas e insinuações, nem tampouco os olhares cheios de suspeitas de suas colegas mais próximas.
Preocupada com a situação de Natalia, uma vez que para a loirinha aquele tipo de diálogo não era novidade, Diana pensou que naquele momento, Natalia precisava dela, pelo menos com seu colo. Tinha necessidade de ampará-la, de cuidar, acolher. Assim, enviou uma mensagem de texto para a ex.
-- “Precisamos conversar. Espero você nesse endereço no final da tarde”.
Diana escreveu o endereço do seu estúdio temporário no bairro da Liberdade e no horário marcado, com o coração quase saltando à boca diante de qualquer movimentação no prédio, aguardou Natalia bater à porta.
Era quase noite quando enfim, a loirinha sentiu a chegada de Natalia antes mesmo de ela bater à porta de madeira antiga. Sentiu seu perfume adentrar o espaço, despertando suas memórias, transportando-a aos momentos nos quais a teve em seus braços, e sorriu ouvir as batidas.
-- Desculpe a demora, me perdi algumas vezes até chegar aqui de ônibus.
Diana sorriu e abriu espaço para que Natalia entrasse. Por alguns minutos a menina observou o lugar, as esculturas dispostas, os equipamentos montados. Fez menção de perguntar algo a respeito daquele cenário, mas não o fez por amargar o fato incômodo e doloroso de não mais participar da vida de Diana, o desconhecimento dela acerca daquele cenário era mais um sinal do distanciamento de suas vidas em um curto espaço de tempo, o mesmo tempo curto que as uniu, teve a intensidade de separá-las.
Quando o campo de visão de Natalia se estreitou, e nada mais daquele ambiente desconhecido lhe desviou a atenção, ela encontrou os olhos de Diana. A loirinha a contemplava, com um pensamento bem diferente:
-”Deus, como ela está linda! Eu a amo?”
As indagações íntimas de Diana davam ao seu olhar um brilho apaixonado. Natalia se desarmou do seu abatimento ao ler sua amada e caminhou dois passos em sua direção, gesto repetido por Diana e sem nada falarem caminharam juntas até ficarem frente a frente e se entregarem a um longo abraço, cheio de saudade, carregado de esperanças e puro como os sentimentos que as uniam.
Por minutos permaneceram com os corpos fundidos. Pele com pele, face com face, corações batendo no mesmo compasso acelerado, e as palavras... Bem essas não ousaram interromper aquela harmonia. Os lábios expressaram o que era urgente, o que vital: tocaram-se delicadamente, desenharam um sorriso honesto e voltaram a se encontrarem. Trêmula Diana contornou os lábios de Natalia com a ponta dos dedos, em seguida colheu uma lágrima emocionada que riscava sua bochecha rosada.
Natalia fechou os olhos como se quisesse guardar cada detalhe daquele momento, perpetuando a digital da loirinha em seu rosto. Diana beijou seus olhos, afastou uma mecha de cabelos e tomou sua boca com um beijo faminto, Natalia sentiu seu ventre estremecer, abriu sua boca para exploração da língua quente de Diana que saboreava sem pressa aquela entrega.
Pausaram o beijo e trocaram um sorriso puro. Natalia fez menção de falar, mas Diana a calou com um beijo delicado.
-- Di... Você me chamou para conversarmos...
-- Nós estamos conversando, não percebeu?
Sorriram. Trocaram outro beijo e Diana cedeu à necessidade de se entenderem de outra forma.
-- Venha, sente-se aqui.
Sentaram-se em meio a um acolchoado na janelas laterais espaçosas. Natalia acomodada no peito de Diana, recebendo seu carinho, sentiu-se segura, mas, sabia que isso não era o bastante.
-- Sobre o que aconteceu hoje na aula de IED... Eu sei que te afetou, eu quis dar uma resposta na hora, mas sabia que não valia a pena, e poderia confirmar os boatos, te defendendo apaixonadamente.
-- Não merecia resposta.
-- E sobre a Sheila...
Natalia a encarou esperando a declaração.
-- Não aconteceu nada entre nós. Na noite da festa, eu te esperei por mais de uma hora dentro do carro, a vi passando mal, tive pena de deixá-la sozinha, ela só dormiu no meu sofá, estava só de toalha porque suas roupas estavam sujas de vômito.
-- Você espera mesmo que eu acredite nisso?
-- Por que não? – Diana retrucou indignada.
-- A Sheila está agindo como sua namorada, e você permite assim sem que tenham nada?
-- Você está se esquecendo do pequeno detalhe dela ter te visto e sutilmente ameaçado espalhar isso, como começou a fazer...
-- Isso não me convence Diana.
Natalia baixou os olhos. Diana ponderou o que falar, mas deixou escapar o ressentimento.
-- Depois de tudo que fiz, depois do espaço que te dei depois que fiquei passivamente esperando que as coisas se acalmassem e você voltasse pra mim... Não te pressionei, não fiquei com ninguém enquanto te via namorar o Pedro... Perdi a amizade do Lucas e tive que me afastar do Pedro também, meus melhores amigos. Fui fiel ao que sinto por você, nunca esperei dez minutos por alguém, estou te esperando há meses... Passei uma hora dentro do meu carro naquela noite, por que você não teve coragem de aparecer comigo em público, respeitei isso...
-- Você fala como se pra mim tivesse sido um período fácil.
-- Sei que não foi. Sei que não está sendo. Mas, o que eu queria era estar ao seu lado agora, e não posso.
-- Por isso, fez a fila andar...
Diana afastou Natalia, pôs-se de pé, andou de um lado para outro e disse em tom magoado:
-- Não é possível que você ainda duvide do que sinto por você. O que preciso fazer mais para confiar em mim? Talvez se eu me jogar na frente de um carro pra te salvar não é?
-- Como você tem coragem de dizer isso? Sabe o que me custou esse ato heroico dele! Sabe o que custou a ele essa bravura, e você ironiza isso? Você não leva nada a sério Diana?
-- Natalia acho que você não me lê tão bem quanto acha. Não me conhece, só por fazer essa pergunta, vejo que não me conhece.
O tom de Diana era de mágoa. Não demorou a Natalia se dar conta do quão injusto estava sendo com a loirinha.
-- Di me desculpe. Estou muito atordoada com tanta coisa acontecendo em minha vida. Agora esses boatos, eu não achei que era tão vulnerável a preconceitos, mas tenho ouvido cada coisa... Fiquei apavorada, assustada, não sei se consigo enfrentar isso...
-- Eu nunca disse que seria fácil, mas se estivéssemos juntas, seria menos doloroso enfrentar isso.
-- Não consigo Diana. Quando estou assim com você, só nós, é perfeito, me sinto a mulher mais forte do mundo, acredito na nossa felicidade. Mas, basta nos afastarmos e encarar a realidade vejo como sou vulnerável, vejo o quanto ainda tenho daquela menina do interior superprotegida pela família, vejo o quanto sou insegura, ciumenta. Estou enfrentando meus traumas alguns preciso até de ajuda profissional para tratar, tenho medos que me impedem de fazer tanta coisa, inclusive te amar como você merece, como eu quero te amar.
-- Então me deixa te ajudar a enfrentar isso Nat!
Diana suplicou, sentando-se mais uma vez perto de Natalia segurando suas mãos.
-- Di... Não tenho nenhuma estrutura emocional para fazer isso agora. Em menos de seis meses nós brigamos mais do que meus pais em 25 anos de casados.
Natalia brincou arrancando um sorriso de Diana.
-- O que temos é tão forte, tão sagrado... Diana, eu te amo.
Os olhos de Diana marejaram.
-- É por esse amor que não posso continuar assim. Sei que não tenho o direito de te pedir isso, mas preciso de um tempo pra resolver a confusão que se tornou minha vida.
-- Mais tempo Nat?
-- Di... Meu amor...
-- É uma tortura ficar longe de você, não vê que essa distancia nos maltrata? Não quero perder mais tempo separada de você!
-- Di... Quero te amar inteira. Estou aos pedaços. A gente não merece um amor assim, você não merece isso. Se continuar assim eu sei que vamos acabar destruindo as nossas chances com problemas que são tão menos importantes do que nós...
-- Eu não quero...
Natalia afagou o rosto de Diana, segurou-os entre suas mãos, beijou seus olhos, enxugou suas lágrimas e prosseguiu:
-- Não quero macular nosso amor com sentimentos torpes, com a influência de preconceitos, com receios, restrições... Acredite em nós, me dá um tempo pra me encontrar pra que eu possa estar inteira nessa relação.
-- Não vou esperar a vida toda Nat.
Diana soluçava enquanto tentava se convencer que Natalia estava certa.
-- É um risco que estou correndo. Mas, é minha vez de te deixar livre.
Trocaram mais um beijo, dessa vez o sabor era salgado. Banhado a lágrimas. Natalia se desvencilhou com dificuldade de Diana, relutando em separar seus corpos. Quando enfim alcançou a porta, Diana gritou:
-- Espera!
Diana a beijou com paixão e declarou:
-- Eu também te amo como nunca amei ninguém, e vou te amar pra sempre.
Diante dessa declaração, Natalia não teve alternativa que não fosse se entregar ao momento. Amou Diana com toda intensidade que o instante lhe inspirava, selou cada pedaço de sua pele alva com seus beijos e sentindo uma dor dilacerante, a deixou dormindo, com a visão magnífica do seu corpo nu sob a luz dos letreiros coloridos, desejando que aquele corpo fosse seu quando se reencontrassem inteira para amá-lo.
Fim do capítulo
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