JUSTIÇA IMPLACÁVEL

SEGUNDO CAPÍTULO

— A silhueta era feminina, tenho certeza! Um homem nunca erra, nesse sentido. — Declarou com orgulho, o homem que havia sido testemunha ocular do crime.

— Imagino que não. Tem algo a mais, que você queira acrescentar? Não percebeu mais nada, fora do normal?

— Não me lembro!

— Okay. Esse é o meu cartão, caso você lembre de alguma coisa. Qualquer detalhe pode significar muito, para a justiça.

— A mesma justiça, que libertou esses maníacos e assassinos de mulheres?

A investigadora Aileen não respondeu. Não podia julgar aquele homem, por fazer tal comentário. Ela própria não conseguia entender, porque aqueles malditos haviam saído impunes. Ela tinha sido um dos responsáveis, por colocá-los na cadeia.

...

"O caso segue em sigilo total da justiça, mas uma testemunha ocular me deu detalhes do ocorrido. Ele afirma que viu toda a ação no caso Felipe Carvalho, e disse que viu uma moto de cor preta se aproximar do veículo da vítima que estava com a janela aberta, e jogar algo dentro do carro. Alguns segundos depois, o carro explodiu matando o condutor. A testemunha afirma ainda que pela silhueta era uma mulher. Felipe Carvalho é mais um dos cinco réus absolvidos no caso de tráfico de mulheres e adolescentes, para exploração sexual na Europa e na Ásia, pelo juiz Ricardo Zambronni... que foi muito criticado, na época. Será que a justiça nesse caso, está sendo feita pelas mãos de uma mulher? No próximo vídeo que postarei irei falar sobre esse caso que atingiu a nossa sociedade em meio à crise presidencial que o nosso país estava vivendo naquela época. Infelizmente dezenas de mulheres e adolescentes foram vítimas de abuso físico e mental e algumas foram covardemente assassinadas nas mãos de homens frios e impiedosos. Por considerar que as provas apresentadas eram circunstanciais, o juiz Zambronni determinou que os réus fossem soltos e considerados inocentes das acusações. Eu estava no tribunal no último dia de julgamento, e pude ver o desespero estampado no rosto de uma das vítimas, que estava ali presente."

— Chloe, você está se arriscando!

— Eu sei. Mas não vou ceder. — Ao olhar para tela do notebook, a loira falou pensativa. — Preciso descobrir algo sobre essa justiceira.

— Pra quê? Vai denunciá-la? — Letícia perguntou curiosa.

— Claro que não! Você viu só, quantas visualizações o meu vídeo está recebendo? Isso é nitroglicerina pura, para o meu canal. Não posso perder essa oportunidade. — Chloe respondeu empolgada.

— Fazendo justiça ou não, ela é uma assassina. Chloe… como você conseguiu contato com a testemunha... como você chegou até ela?

— Essa parte, é um segredo! — Ela falou enigmática. — Sim, eu sei que ela matou esse sujeito, mas não cabe a mim, julgá-la ou prendê-la.

— Tenho medo por você. — A morena comentou sincera. — Medo que te aconteça alguma coisa, por causa dessa matéria.

— Não vai me acontecer nada. Não estou fazendo, nada demais. Estou apenas, falando a verdade.

— Você julga ser “nada demais”, mexer com pessoas poderosas como esse tal, juiz Zambronni? Eu o conheço, e sei que não é fácil lidar com esse homem.

— Zambronni é alguém que está entalado na minha garganta, há muito tempo. Não vou ceder. E você, o conhece de onde? — A loira sabia que Letícia era uma mulher que circulava sempre no grande escalão da alta sociedade, mas a família Zambronni era conhecida pela pouca participação ativa em atividades sociais. Apesar do juiz Zambronni, ser conhecido pelo país inteiro, por sua carreira impecável no magistrado, poucas foram as aparições públicas, e aparições em eventos sociais.

— Ele é o pai da minha amiga Toni. Na época, em que eu o conheci... — Letícia baixou o olhar melancólica. — ... ele ainda era promotor de justiça. — A morena parecia esconder algo.

— Então... você conhece a tal Toni. — Foi mais um comentário, do que verdadeiramente uma pergunta. — Me conta um pouco sobre ela... por favor, Letícia?   

Os olhos... aqueles malditos olhos azuis, eram de derreter o coração de qualquer pessoa. No entanto, Letícia não iria ceder tão fácil, assim.

— Te conto tudo que sei sobre ela, se você me disser quem foi a sua fonte.

— Besta, te odeio! — Letícia soltou uma risada gostosa, que empolgou Chloe a rir também. Era muito bom conversar com a morena de olhos castanhos.

— Agora, falando sério. Eu ficaria mais tranquila Chloe, se você deixasse que um segurança te acompanhasse durante esse caso. Posso falar com o Tiger…

— Não! Imagina! — A loira recusou determinada. — Nem sabemos direito, até onde isso tudo vai parar. Não vou ser escoltada por um segurança, no meu dia a dia. — Ela imaginou a fortuna que seria gasta. — Você está acostumada, mas eu jamais me acostumaria com uma situação dessa.

— Eu não estou acostumada, mas precisei me adaptar. Você sabe, muitas ameaças por causa da minha família. — A morena respondeu calma. Mas, ela sentia um gosto amargo na boca.

— Desculpe! Eu não tinha a intenção de te deixar chateada.

— Tudo bem. Então, você aceita jantar comigo essa noite?

— Jamais recusaria! Jantar com você significa comida boa, em restaurante caro. — A loira comentou com um sorriso estampado no rosto, e um olhar que brilhava em antecipação.

— Ué! Pensei que fosse a minha companhia... que te agradasse. — Letícia falou, fingindo que estava desolada.

— Também! — A morena revirou os olhos, com a resposta. — Já podemos ir? — Perguntou ansiosa.

— Sim, vamos! Antes que a lombriga que você tem na barriga, acabe te devorando!

— Que nojo! — A cara de nojo que a loira fez, provocou mais uma risada gostosa na morena.

Mais tarde, naquela noite...

Apesar da pouca informação que Letícia tinha dado, a curiosidade a respeito da tal Toni filha do juiz, não havia deixado a loira em paz a noite inteira. Agora ali, sentada no sofá com a morena dormindo ao seu lado, Chloe não conseguia mais resistir, e pegou o not para pesquisar sobre a moça. Depois, de alguns minutos de muita frustração, (porque ela não conseguiu nada de importante sobre a garota) finalmente, ela encontrou uma reportagem que a fez olhar curiosa para a amiga.

Ela estava deitada no sofá, com as pernas em cima das pernas da loira. Os cabelos que antes estavam impecáveis, agora estavam presos num coque mal feito, e alguns fios soltos estavam cobrindo parcialmente, o rosto da morena.

Letícia tinha os cabelos negros levemente cacheados e os seus olhos eram castanhos claros. A sua pele era branquinha, e os seus lábios estavam sempre pintados de batom vermelho... sem perceber o que estava fazendo, Chloe havia fixado o olhar nos lábios da morena. Depois, inclinou um pouco o corpo e aproximou lentamente a sua mão, ajeitando com as pontas dos dedos, alguns fios teimosos atrás de sua orelha.

Chloe lamentava o fato, que a sua amiga estava sempre correndo perigo. Eram amigas a pouco tempo, mas sentia como se a conhecesse a vida inteira. A partir do segundo encontro desastroso entre elas, as duas mulheres trocaram os números de celulares e passaram a sair juntas sempre que podiam.

Elas jantavam juntas, se encontravam na cafeteria para colocar o papo em dia, faziam sessão de filmes ou séries, que ocasionalmente, levava uma das duas a dormir na casa da outra. O apartamento da loira era pequeno e só tinha um quarto, e por ser muito desconfortável, Chloe jamais permitiu que a morena dormisse no sofá da sala.

...

Fim do capítulo