Capitulo 6
“Eu quis você
E me perdi”[i]
Dezembro de 1998
Marília estava na casa da avó materna com toda a família. Além dos pais e da irmã, tios e primos enchiam a enorme residência. Sempre gostou daquele tipo de confraternização familiar, amava as comidas e o tradicional amigo secreto. Mas nesse ano, não conseguia relaxar e nem desgrudar o olho do celular. Tinha convidado Isis para passar o Natal consigo, mas a morena achou melhor ficar com o pai e o irmão e combinou de pegá-la após a ceia. André e sua avó participaram da festa da família da amiga, como faziam todo ano. Sua presença sempre era aguardada por todos.
- Má, relaxa. Já está dando na cara que você quer sair correndo daqui. Já já vamos fazer o amigo secreto e você poderá se jogar nos braços da Isis.
- Não sei pra que tanta enrolação pra terminar isso logo. Daqui há pouco até a vovó vai deitar e o povo não termina essa festa. Bufou.
- Só não fujo com você agora porque minha avó está amando a conversa e não tenho como sair à francesa. Porque, ó, não tô aguentando mais essa tua agonia.
Já passava da meia noite quando encerraram a troca de presentes. Marília se despediu rapidamente da irmã e disse que não tinha hora para voltar. Saiu apressada e abriu o sorriso quando viu que sua morena lhe esperava no carro. Resolveram ir para a festa de Natal da boate e fizeram a primeira aparição como casal. Os olhares nada discretos lhes acompanharam durante todo o tempo que estiveram na casa noturna e alguns cochichos puderam ser percebidos.
Nada disso as incomodou. Estavam felizes.
Por volta de 3h30 da manhã decidiram terminar a noite no apartamento da morena.
- Má, quero tomar banho com você. Vamos?
Entraram juntas no box do banheiro e demoraram muito entre beijos e amassos quentes. Se enxugaram e foram para o quarto.
Isis colocou um pijama, enquanto Marília vestiu uma camisa da namorada. Sentaram na cama e trocaram presentes.
Marília comprou um relógio para a morena que escolheu um delicado colar de ouro com dois pingentes: M e I.
Marília não se conteve e chorou emocionada com a delicadeza do presente, enquanto levantava os cabelos para que a morena colocasse o colar em seu pescoço. Isis puxou a namorada para a cama, lhe enchendo de beijos apaixonados por todo o corpo.
Se amaram sem pressa até adormecerem enroscadas. No dia seguinte, chegaram cedo na praia e escolheram a barraca Biruta para ficar. Isis foi surfar, enquanto a namorada admirava sua performance da areia.
Por volta das 13h, André e Marcos chegaram e o quarteto resolveu almoçar na praia mesmo. Aproveitaram a conversa para combinar a viagem para Canoa Quebrada no réveillon.
Ficariam na casa de uma tia de Marcos que abrigaria apenas três casais: Marília e Isis, André e Marcos e Daniel, primo de Marcos e filho da dona da casa, e seu namorado Marcelo. Definiram quem seria responsável pelas compras e pela bebida e ficou decidido que os quatro iriam no carro da morena. Estava tudo tão perfeito que Marília acreditava estar vivendo um sonho bom.
***
A semana passou voando e no dia 30 pegaram estrada em direção ao município de Aracati onde fica localizada a praia de Canoa Quebrada, destino de todos os veados e sapatonas de Fortaleza e adjacências.
E foi na noite da virada de ano que aconteceu a primeira briga entre as duas namoradas.
***
Os três casais fizeram um jantar em casa e desceram para o bar do reggae para acompanhar a queima de fogos. O local estava cheio e a impressão que se tinha era que todo mundo desceu para Canoa. As ruas estreitas estavam intransitáveis. Isis e André não conseguiam dar dois passos sem esbarrar em pessoas conhecidas.
Já era perto de meia noite quando Cibele apareceu visivelmente embriagada e deu um show quando encontrou sua ex acompanhada de Marília. Além das ofensas verbais, ela desferiu vários tapas em Isis que não revidou. Ela tentou acalmar a loira com toda a paciência enquanto era observada a uma distância segura pela namorada.
Quando a morena disse que ia deixar a ex na pousada, Marília perdeu completamente a compostura. Gritou com Isis que se ela fosse ficasse por lá. Achou um desaforo e uma falta de respeito.
- Eu vou ficar sozinha na virada do ano enquanto você fica com ela? Isso é sério? Eu não estou acreditando.
Marília falava alto, passando as mãos nos cabelos, tentando conter as lágrimas que ameaçavam rolar de seus olhos.
- Ma, entenda, por favor. Eu não posso deixar a Cibele sozinha nesse estado.
- Mas pode me deixar, né? Vai com ela. Mas não se atreva a voltar. Eu vou pra casa. A noite acabou pra mim.
E saiu correndo desviando da multidão que ocupava todo o espaço entre os pequenos imóveis ocupados por bares e lojinhas.
Correu e parou quando os soluços não permitiram que ela se movesse mais. O choro podia ser ouvido a distância mesmo com o barulho dos fogos que indicavam que já era 1999.
Marília não imaginou, nem em seus piores pesadelos, que seu ano se iniciaria dessa forma. Sentou na calçada e colocou a cabeça entre as mãos tentando recuperar o fôlego para continuar sua caminhada até a casa onde estava hospedada.
- Ma, pelo amor de Deus. Quase não te encontro no meio dessa muvuca. Não faz isso. Aqui é perigoso, você sabe.
- Valha! Você não está com sua ex? Ela ficou boa do pileque ou foi armar barraco em outro lugar? - Disse com ódio no olhar.
- Meu amor, não faz isso. Não me mata de preocupação desse jeito. Jamais deixaria de passar a virada de ano com você para ficar com mais ninguém.
- Não sou louca! Eu vi o que aconteceu! Levantou e caminhou apressada em direção a casa.
Isis correu e a abraçou por trás, beijando seu pescoço e ombros.
- Feliz ano novo, meu amor. Não dúvida nunca dos meus sentimentos por você. Eu te amo, Ma.
Marília ficou paralisada. Foi a primeira vez que a morena disse que a amava. A declaração acabou com toda a raiva que estava sentindo. Os carinhos de Isis e suas demonstrações de afeto lhe tirava qualquer capacidade de julgamento.
Caminharam abraçadas até em casa e comemoraram a chegada do novo ano na piscina, com muito sex*, do jeito que Marília só sabia fazer nos braços de Isis.
Quando os meninos chegaram em casa, com o sol já se mostrando, encontraram as duas dormindo abraçadas em uma rede na varanda. Qualquer pessoa que visse a cena não imaginaria a turbulência que viveram nos primeiros minutos daquele ano.
***
[i] As flores do mal, Legião Urbana
Fim do capítulo
Meninas,
Essa semana postei um capítulo extra de nossa história.
Sempre que der, teremos surpresinhas.
Bjs e obrigada pela companhia.
Z
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