Pontualmente às nove horas, Nicole estacionava o carro em frente ao prédio onde funcionava o escritório do advogado da família Caire. Durante todo o trajeto, Aline permaneceu em silêncio e era totalmente compreensível, e o que me deixava tranquila era saber o final de semana, cercada de cuidados, a deixou menos apreensiva e aliviou a tensão. Desde que começamos a namorar, ela adquiriu o hábito de fazer carinho na minha nuca, e mesmo quando eu estava dirigindo, ela não deixava aquela mania de lado, porém, diferente das outras vezes, sentia na minha pele o quanto a mão dela estava gelada.

_Amor, está se sentindo bem, ou quer adiar essa reunião?

_Estou bem sim, hoje quero resolver tudo, e pode ter certeza de que quando eu sair por aquela porta, minha vida mudara completamente.

_Estarei na padaria em frente te esperando, vai dar tudo certo.

_Obrigada por isso também.

_Te amo.

Dei um beijo delicado nos lábios da Aline, e fiquei observando ela entrar no prédio, era impressionante como ela conseguia chamar a atenção das pessoas que passavam por ela. Os olhares não eram disfarçados, e ao invés de sentir uma pontinha de ciúmes eu sentia uma satisfação ao pensar que aquela mulher maravilhosa, inteligente, educada, batalhadora e linda, dividia a cama comigo, e me enchia de amor.

Desci do carro e fui em direção a padaria, torcendo pra que tudo corresse bem entre os irmãos, embora tivesse a certeza que aquela reunião seria muito difícil pra Aline.

Sentia em uma mesa mais reservada, mas em uma posição que tinha a visão da entrada do prédio. Pedi apenas um suco e enquanto aguardava, aproveitei para ler alguns e-mails, e enviar currículo para algumas empresas. Eu estava desempregada a quase um mês, e essa situação já estava me incomodando, ainda mais depois da conversa que tive com Aline. Pelo andar da carruagem, não iria demorar muito para começarmos a planejar o nosso casamento, e fazer planos para termos os nossos filhos. Só de pensar na possibilidade de ver a Aline com um barrigão enorme, eu abri um sorriso enorme e enchi o olho de lágrima, definitivamente ela era a mulher da minha vida, e com certeza seria uma mãe incrível.

Distrai-me respondendo alguns e-mails mais importantes, e não vi o tempo passar, e quando vi que já havia mais de uma hora que Aline havia entrado no prédio, comecei a ficar preocupada. Paguei a conta e fui em direção ao carro, e mesmo apreensiva achei melhor aguardar no carro, se houvesse algum problema ela me avisaria.

Eu estava dentro do carro quando vi Aline saindo na companhia de um homem, que provavelmente era o advogado da família, logo atrás vi o Dr. Igor vindo na direção dela, os três conversavam e era possível perceber o nível de estresse entre os irmãos. Quando Aline colocou os óculos de sol no alto da cabeça, vi que ela havia chorado, e parecia estar bastante agitada.

A rua era tranquila, quase não havia movimentação naquele horário, estava tentando entender o que acontecia entre os irmãos, quando observei no inicio da rua um carro parado e um homem estranho encostado nele. Não sei precisar o que senti, mas sem pensar no desconforto que poderia causar, desci do carro e fui na direção deles. Eu havia dado alguns passos quando ouvi o barulho de um carro cantando pneu, e minha reação foi quase que automática, corri na direção de Aline e a alcancei puxando o corpo dela para tras de uma pilastra, em uma fração de segundos, ouvi um estampido e o barulho de vidro sendo quebrado,

Passado o susto, consegui me acalmar e sair de cima dela que já estava aos prantos.

_Amor, você está machucada _ apalpava o corpo dela, rezando pra que ela não estivesse machucada.

_Me tira daqui _ foram às únicas palavras que ela pronunciou.

Após me certificar que o Dr. Igor e o advogado estavam bem, levei Aline para o carro, e dirigi o mais rápido possível, minha única preocupação era tirar ela daquele lugar. Não tive tempo nem mesmo de pensar em chamar a policia, eu só precisava ter a certeza que ela estaria em segurança.

Até entender o que havia acontecido, achei melhor levar ela para a minha casa, e assim o fiz. Durante todo o trajeto, Aline ficou com a cabeça apoiada no meu ombro, e eu conseguia sentir o tremor do corpo dela, eu só pensava na sorte que tivemos de ninguém ter sido atingido.

Trinta minutos depois, ao parar o carro em frente a minha casa, tirei o cinto de segurança e a abracei. O meu gesto foi o suficiente para que ela colocasse pra fora todo o medo que estava sentindo, após chorar muito junto com ela, eu finalmente consegui tirar ela do carro e subi as escadas sem desgrudar dela um milímetro. Eu sentia uma mistura de medo, alivio, e me perguntava o tempo todo quem seria o alvo daquele tiro, e provavelmente nunca teríamos essa resposta.

Após ajudar Aline a tomar banho, ela colocou uma camiseta minha e foi direto pra cama, finalizei o meu banho e deitei ao lado dela. Aquele momento era só dela, eu daria espaço pra que ela falasse apenas quando sentisse vontade. Com a cabeça deitada no meu peito, fazia cafune sentindo o cheiro tão característico da mulher que eu amava.

_Amor, você quer comer alguma coisa.

_Estou sem fome, minha vida!

_Quer dar uma volta.

_Não, só quero ficar aqui quietinha, foi tudo tão pesado. Nunca imaginei que a minha vida mudaria tanto. A única coisa boa nisso tudo é ter você do meu lado. _ A voz embargada da Aline denunciava o choro.

_Sempre estarei do seu lado.

_Eu sei meu amor.

_Aline, eu sei que é um assunto chato, pesado, mas precisamos conversar sobre o que aconteceu. Alguém poderia ter sido atingido, precisamos pensar no que fazer. Você precisa de proteção, pois não temos certeza de nada.

_Será que foi o meu irmão?

_Não creio, ele não seria tão burro, pois o tiro poderia ter pego nele. Eu acredito que o alvo era o advogado.

_Faz sentido.

_Mas, mesmo assim, você precisa andar com seguranças.

_Eu sei, amanhã eu vejo isso, ou peço para o Rick resolver isso pra mim.

_Você precisa avisar a Lu que está aqui em casa, ela vai ficar preocupada.

_Ela deve estar apreensiva por causa do testamento, imagine quando souber o que aconteceu.

_Amor, eu sei que está reorganizando sua vida, procurando emprego, mas eu queria te fazer uma proposta, na verdade duas.

_Proposta?_ Sentei na cama ficando de frente pra Aline

_Vem trabalhar comigo, o hospital agora é legalmente meu, e além do Rick, eu preciso de mais alguém da minha confiança pra me ajudar a administrar.

_Como assim amor? _ Falei surpresa.

_Vou marcar uma reunião com o Rick, vou elaborar uma proposta, e depois você analisa e me dá a resposta.

_Adoraria te ajudar, ficar mais perto pra cuidar de você, mas o que as pessoas irão pensar.

_Nicole, mais cedo ou mais tarde aquele hospital vai ser seu também, você será minha esposa. Você está procurando emprego, é só uma questão de praticidade. Terá um salário compatível com as suas funções, cumprir horários como todos os outros funcionários.

_Vamos fazer o seguinte, conversa com o Rick e depois nós decidimos.

_Promete que vai pensar com carinho?

_Já estou pensando.

Como pode a vida de uma pessoa mudar dessa forma em tão pouco tempo. Hoje me vejo, vivendo o amor de forma intensa, errando e aprendendo com os meus erros, e com uma vontade gigantesca de ser feliz, de fazer com que Aline se sinta a mulher mais amada e desejada do mundo. Desde que a conheci, me pego planejando uma família, imagino crianças correndo dentro de casa e sinto que essa é vida que eu quero ter com ela.

Fim do capítulo