Operação Karlena (II)
Kara Danvers POV:
Então era assim que acabava e nós nem tínhamos nos beijado. Não entendo de carma mas devo ter feito algo terrível que não me lembro pra ser tão fodida.
Eu me recusava a sair do meu esconderijo entre pilhas de cobertores enquanto ouvia Alex e Maggie falarem acima de mim, era como se estivessem muito longe em segundo plano e não consegui prestar atenção no que estavam dizendo... só escutava aquela voz maligna crescendo em minha mente que me ordenava a endereçar uma bomba relógio a agência de Irma em Manhattan: Faça isto Kara, faça isto e tenha a sua vingança. Não só por hoje mas por todo o resto.
Não sou vingativa mas alguém precisava levar a culpa e já tinha escolhido ela. Era mais fácil assim.
- Vamos lá, Kara, não está tão ruim ... – Alex me incentivava puxando cuidadosamente o cobertor pesado que soltei depois de alguns minutos de insistência dela. Ela era implacável e não iria embora sem que eu cedesse.
- Você está mentindo! Eu sei que estou parecendo uma bruxa verde e horripilante... só que sem seus acessórios. – Disse quase gritando ainda cobrindo parcialmente meu rosto com as mãos. - Quer dizer só falta um caldeirão, vassoura e chapéu pontudo e pronto. Acho que se eu treinar bastante uma risada maquiavélica posso assustar as crianças no Halloween quando vierem bater na minha porta... Menos Ruby, ela não tem medo de nad-
- Eu posso dar um jeito se você me prometer se acalmar. – Alex me interrompeu como se tivesse mesmo uma solução. Eu continuava desacreditada.
Tipo, olá, eu sou Kara Danvers, a garota que sempre se ferra. A garota que está no lugar errado e na hora errado. A garota de incontáveis desastres. Existem mil situações em que me meti e algumas me fizeram parar no pronto socorro ou fazer outra pessoa ir por este caminho e me lembro de todas elas, infelizmente. Poderia enumerá-las catalogando de acordo com o mês só neste ano.
Janeiro: Bati a cabeça tão forte em uma porta giratória do banco de Smallville que acabei rachando o vidro e fiquei desacordada por uns bons minutos.
Fevereiro: Decidi usar um novo creme depilatório para sobrancelhas. Fiquei sem sobrancelhas.
Março: Eu estava andando tranquilamente pela rua e não vi o bueiro. O quê? Ele não estava ali da última vez, apareceu do nada. Os bombeiros riram muito as minhas custas quando me resgataram, odeio aqueles caras.
Abril: Cheguei em National City. Fui assaltada. Ok, o assaltante me ameaçou com uma faca de plástico mas e daí? Dei todo o dinheiro que estava carregando (vinte e três dólares) e um hidratante labial. Acho que ele era vaidoso.
Maio: Minha primeira entrevista de emprego! Eu não fui por que decidi fazer o café da manhã naquele dia para Alex e Maggie e tivemos um principio de incêndio. Enfim, mais bombeiros me dando lição de moral.
Junho: Starbucks. Causei um pequeno tumulto ao errar o pedido de alguém que era alérgico ao amendoim do frappuccino de chocolate com manteiga de amendoim.
Julho: E é isto, temos alerta de rosto verde-berrante aqui. É como se alguém tivesse vomitado na minha cara toda a salada de couve que comeu.
Mas Alex sempre esteve ali, não deixando que meus sucessivos desastres me impedissem de fazer o que eu queria. Ela sempre sabe o que fazer, é por isto que é a irmã mais velha.
– Ei, não desanime. Nós viemos aqui para te ver saindo pela aquela porta para ter um encontro incrível. Vai precisar de muito mais que... hmm... está coisa verde aí para te impedir...– Alex sentou na beira da cama tocando o meu nariz com a ponta do dedo. - Só vou precisar de uma tigela e ... - Ela se levantou de onde estava sentada, na beira da cama, pensativa. - Acho que você tem tudo na sua geladeira.
- Você acha mesmo? – Perguntei animada. Talvez ainda existisse uma salvação. – Você acha que consegue remover... isto? – Tirei o óculos momentaneamente e apontei para o meu próprio rosto esverdeado fazendo uma careta.
- Sim, só não se desespere e nada de ligar para Lena cancelando tudo. Você vai ter seu encontro. – Ela deixou um beijo no topo da minha cabeça antes de sair do quarto.
Eu deixei minhas costas baterem na cama, um pouco mais aliviada e deixei meus olhos caírem na figura da policial. Maggie piscou séria com aquela expressão carrancuda conhecida que suavizaria assim que começasse a falar e inesperadamente deitou do meu lado. Ela procurou por uma posição confortável e cruzou as mãos sobre o estomago olhando para o teto. Eu não quis repreende-la pelos seus coturnos estarem sobre os meus lençóis. Maggie, apesar das implicâncias, era tão protetora quanto Alex só que mais incisiva quando me dava broncas. Ela já era minha família também.
- Eu sei como se sente... Pode não parecer mas quando convidei Alex para sair eu... eu estava uma bagunça. Era Alex, sabe? Eu tinha um quedinha por ela desde a primeira vez que a vi e não podia acreditar que estava mesmo acontecendo. - Ela se espreguiçou e colocou as mãos atrás da nuca com um pequeno sorriso se formando em seu rosto. – Todos acham que sou confiante e imperturbável mas quando se tratava de Alex... – Ela suspirou e mesmo depois de dois anos de idas e vindas era notável o quanto ainda era apaixonada por minha irmã. - Eu me tornava uma garotinha desajeitada que verificava a aparência a cada minuto toda vez que estava perto dela. Então, houve este jantar e eu estava uma pilha de nervos sobre tudo. Aonde leva-la, o que vestir, se seria apropriado beijá-la ao nos despedirmos... era como se nunca tivesse feito isto antes.
- Hmm, e onde exatamente você esta querendo chegar me contando esta estória pela... trigésima vez? – Me virei de lado para poder vê-la. Ela olhava sonhadoramente para seu dedo anelar.- Se acha que tudo isto é uma novidade sinto te decepcionar mas é muito óbvio o quanto você ama minha irmã. É como se você brilhasse quando está com Alex e isto é patético, sabia? Pfft, você não é nada sem ela e ela não é nada sem você. Tão bobas...
Maggie riu e se virou para mim. Seus olhos castanhos me analisavam.
- Esta Lena Luthor... Verifiquei se ela tinha algum antecedente criminal e, bem, ela não teve nenhuma passagem pela polícia. Você está segura quanto a isto.
- Oh, graças a Deus. – Ri. Era o jeito de Maggie dizer que se preocupava comigo.
- Você está apaixonada, Kara? – Direta.
- Uh? N- não, não, é só uma garota com quem vou s-sair. – Se ela me conhecesse bem iria saber que estou mentindo quando começo a gaguejar e mexer na alça dos óculos.
- Você está mentindo! – Droga ELA ME CONHECE BEM! – Quer falar sobre isto?
- Isto é ridículo. Não posso estar apaixonada por alguém que conheço a dois meses e que nem se quer beijei. Sem mencionar que só fui descobrir o nome dela a dois dias atrás.
- Você sabe que não precisa beijar alguém para se apaixonar, certo?
- Você não vai contar para Alex? – Voltei a me virar para o teto fechando os olhos.
- Prometo não contar se ela não perguntar.
- Oh, merd*! Então vamos falar sobre garotas agora? Mas foi... Foi imediato. Sabe, quando você olha para alguém e... é inexplicável, você não consegue dizer o que está sentindo mas sabe que aquele momento vai te mudar pra sempre? É bom na mesma intensidade que é assustador. Tem sido assim desde o dia que ela entrou no Starbucks. É como se... é como se existisse alguma coisa incrível pra caralh* aí fora que poucas pessoas podem ter e eu sinto que possa ter isto com ela. – Me virei para Maggie que me ouvia atentamente. -Isto foi muito gay?
- Muito!– Maggie riu e se virou de costas voltando a fixar luminária no teto. – Mas se te consola senti o mesmo por Alex quando a vi de sutiã no banheiro da Agência. Ela estava tentando tirar uma mancha de café da camiseta nova que havia comprado unicamente para ir até o departamento. Nunca vi alguém ficar tão sexy xingando. Talvez esta coisa incrível pra caralh* seja... amor. – Ele olhou novamente para seu dedo anelar. – E você só sente isto uma única vez na vida.
Maggie pediu Alex em casamento em Smallville no aniversário dela na frente de toda a nossa família. Foi uma surpresa emocionante, Alex quase engoliu a aliança que estava dentro da taça de champagne e minha mãe teve uma síncope nervosa. As vezes volto no vídeo que gravei daquele dia apenas para ver a cara de choro dela no momento do pedido. Ela estava radiante apesar da quase morte por engasgamento.
- Eu sempre vou estar aqui por você, Alex, mas se for minha esposa será mais fácil pra mim estar por perto. Tenho uma vida só e quero viver o resto dela com você. Quer casar comigo?
Algo cresceu em peito e senti o ar faltar . Ansiedade e expectativa. Lena Luthor não deixava de ser intimidadora. Porr*, ela é muito intimidadora, o que estou fazendo?
- Não se antecipe. – Como se soubesse exatamente o que estou pensando Maggie se voltou pra mim. - Eu sei o quanto você deve estar nervosa afinal, Oww é Lena Luthor. E se você está sentindo essas coisas todas a deixe saber gradativamente. Nada de assustar a garota a convidando pra morar com você já no primeiro encontro.
- Eiii, eu não sou assim. – Protestei cruzando os braços.
Maggie riu.
- Você é a lésbica mais emocionada entre as quase duzentas que conheço, trocou algumas mensagens com ela e já acha que é a sua alma gêmea.
- Ow, espera aí, duzentas lésbicas? Isto é incrível, estamos aumentando rapidamente mas... Pare de banalizar meus sentimentos! Eles são reais. Todas foram minha alma gêmea em algum momento até deixarem de ser. Não tenho culpa de amar demais. E Lena é adorável e cheirosa, não consigo resistir. – A cutuquei de leve na barriga e ela revidou me fazendo cócegas.
Quando Alex entrou no quarto estávamos rindo e quase nos estapeando. Era assim que funcionávamos.
- Ah, não. Eu deixo você alguns minutos sozinha com a minha namorada e você a leva pra cama, Kara.
- Eu sou só uma vítima, você sabe o como sua irmã é sedutora. Eu fui atraída por esse lindo rostinho e quando vi estava em sua cama. – Maggie levantou as mãos antes de se colocar de pé ao lado da cama dando espaço para Alex.
- Pegue isto. – Alex me passou uma tigela com uma pasta morna de cor indefinida. – Passe no seu rosto e deixe por alguns minutos antes de lavar. A sua pele vai voltar ao normal e então vamos decidir que lingerie você vai usar.
***** *******
Eu abracei e suspendi Alex no ar tempo o bastante pra ela começar a espernear. Kara Danvers estava de volta, a cor esverdeada havia saído e deixei de me desesperar por isto para me desesperar por estar a três de horas de um encontro com Lena Luthor.
- Eu não tenho nada para vestir! – Disse com fôlego entrecortado depois de colocar todo o meu guarda roupa abaixo.
- Não diria isto... – Maggie pegou um vestido cor de rosa puído nas mangas que eu provavelmente devo te usado a última vez quando estava no ensino médio. – Se você colocar uma jaqueta nem vai dar pra perceber que tem esses furinhos.
- É velho! – Retirei de suas mãos e joguei no assoalho irritada não com ela mas comigo mesmo por não ter nada descente para vestir.
- É vintage! As pessoas pagam uma pequena fortuna em lojinhas no instagram por roupas desbotadas e feias. – Maggie se sentou na cama ao lado de Alex e de todo aquelas camisetas e calças empilhadas. – O que está fazendo?
- Nia garante ter exatamente o que você precisa para impressionar sua futura namorada Kara. Não sei como conseguiu mas ela já está chegando... – Alex digitou algo em seu celular antes de beijar a testa de Maggie contendo o riso e se levantar. - E ah, a Sam não vem. Você conseguiu assustar ela. – Ela reprimiu o riso e eu estava com a sensação de estar perdendo algo.
- Ãhn? Maggie conhece a Sam? Mas como?
- Longa história pequena Danvers, longa historia... – Maggie seguiu Alex. – O que você tem que saber é que precisamos que você relaxe para a operação KarLena não ser arruinada, acha que pode fazer isto?
Operação KarLena. Isto tomou proporções de combate. Mas Karlena? Eu acho que gostei.
- Vou tentar, tem a minha palavra. – Levantei uma das mãos em um juramento de escoteiro.
*******
- Eu conheço este cara que conhece um outro cara que é namorado de um amigo de um ex da Sam que trabalha no Hotel Del Priori em Metropolis...- Nia gesticulada com uma das mãos enquanto segurava seu café em outra. Havia um pequeno pacote no centro da mesa de quatro lugares em que estávamos passando um caixa de rosquinhas e entornando nossas bebidas quentes. – E ele tem um negócio de... como posso explicar sem delatar um roubo ou vários..
Maggie se voltou interessada pela conversa.
- Oh, se Sam está envolvida será uma oportunidade de colocar ela atrás das grades. Não pare, conte tudo!
- Não, não, me escute. Olha só. Vamos ver as coisas por outro lado. Quantos ricaços existem por aí? Este é o verdadeiro crime! – Nia espalmou a mesa como se estivesse irada pela existência de cada milionário do mundo. – Aqueles magnatas filhos da puta vão aos melhores restaurantes, moram nos melhores apartamentos quando não são mansões e fazem viagens que nem se duplicasse a minha jornada de trabalho conseguiria ter o suficiente para sonhar em fazer...
- Espere, espere! – Maggie a interrompeu. – Você está começando isto errado.... Apenas diga o que Sam fez e vamos ver se ela teve os motivos certos
- Sam não tem nada a ver com isto realmente. Eu encaro como um novo tipo de justiça social, pegar algumas coisas caras dos hóspedes do Del Priori sem que eles vejam e revender por 10% do preço original ou quase isto. Eles nunca descobrem por que estão sempre de passagem pela cidade.
- O quê? Você está dizendo que existe uma facção em Metrópolis especializada em roubar roupas de grifes de luxo?
- Ei, democratizar o consumo de Dior e Armani significa dizer que produtos de marca não são exclusivos da elite e eles ficam furiosos com isto. Imaginem só, quando se deparam com a empregada vestindo louis vuitton e explodem de raiva se perguntando no que o mundo está se tornando? Eu daria tudo para ver isto...
- Isto é a coisa mais bizarra que já ouvi. – Maggie se levantou já tirando o celular do bolso. – Ridículo e a polícia de Metrópolis precisa saber disto...
Eu não ouvi direito o resto da conversa, algo como Nia dizendo que pessoas ricas não dão conta dos sumiços uma ou talvez dez peças de roupas e que entregar o esquema implicaria em arruinar gratuitamente a vida de uma recepcionista, dois concierges, todas as camareiras e os caras das câmeras de segurança de algum hotel cinco estrelas de Metrópolis por que estava concentrada demais no papel pardo a minha frente. Abri o pacote movida pela curiosidade pra ver o vestido e a primeira sensação que tive era que o perfume que exalava era muito familiar. Muito familiar mesmo para ser esquecido e eu já deveria ter parado por aí. Aquele cheiro... Qual a possibilidade disto acontecer ? Bobagem, muitas mulheres usavam o mesmo perfume.
- É... lindo! _. Eu nunca tinha visto nada tão bonito. Era um vestido cocktail azul nem muito extravagante nem muito simplório. Era perfeito.
- Não, não, isto não! – Era Maggie ainda incerta sobre pra quem ligar em Metrópolis . - Você realmente quer usar um vestido roubado de sabe se lá quem no primeiro encontro ?
SIM!
- Eu acho que estou meio sem opções no momento... – E olhei para a Alex que até agora não tinha dito nada com a minha melhor expressão de filhotinho quando quer algo.
A ruiva tamborilou os dedos sobre a mesa antes de suspirar longamente e olhar para cada uma de nós como uma carrasca.
- Nia, quando você me disse que tinha exatamente o que Kara precisava para vestir por que não disse que se tratava de um vestido que foi roubado de outra pessoa?
--Roubado? Que rude, eu só queria ajudar e não achei que a procedência importava desde que ela estivesse bonita.
- E não importa – E nisto recebi um olhar fulminante de Maggie que ignorei por já estar nervosa demais pelo mais urgente dos motivos. Deixaria o colapso por ter a afrontado pra outra ocasião. – Estou a menos de duas horas de um encontro e desde que se ajuste bem ao meu corpo isto não importa mesmo ... Me deixe ficar com ele, Alex, por favor, por favor... – Não é como se realmente precisasse da permissão dela (talvez sim?) mas ela estava próxima a Maggie e então poderia tomar mais facilmente o celular dela e jogar pela janela para ela não ligar para a polícia de Metrópolis.
Alex e Maggie se entreolharam. Aquela comunicação que sempre faziam entre olhares e expressões faciais que só pra estar em no último nível de conexão pra ser compreendido pelas duas e por mais ninguém.
Alex: semicerrou os olhos. (Tradução: O que você acha?)
Maggie: deu um pequeno sorriso de boca fechada como se estivesse debochando. ( Tradução: Isto nem é ponto que pode ser discutido.)
Alex: franziu a testa e inclinou a cabeça para o lado de Kara. (Tradução: Qual é? É por Kara, olha só como ela está radiante.)
Maggie: revirou os olhos, cruzou os braços e começou a bater a ponta do pé no assoalho. (Tradução: Eu sou uma agente federal, não posso fingir que não sei que está acontecendo. Isto vai estourar mais cedo ou mais tarde e eles serão descobertos. E não sou tão ingênua a ponto de acreditar que só estejam roubando roupas. Tem muito mais por trás disto!)
Alex: Franziu o cenho, apertou os lábios e colocou a língua de lado na parte interna da bochecha. ( Tradução: Não é dá nossa conta e se você magoar minha irmã farei greve de sex*. )
Maggie: Bufou e ergueu as mãos ( Tradução: Ok, ok. Você venceu!)
Não posso dizer que o vestido, fonte de uma discussão quase que interminável entre Maggie e Nia (e ela ainda estava fazendo isto quando decidi vesti-lo após um banho rápido) tenha se ajustado perfeitamente.
A grã fina lesada pelo roubo tinha seios enormes e ele ficou folgado no peito. E aquele perfume... ok, impossível! Qual a chance de eu estar usando um vestido de Lena? Não, não. Ridículo. Chance zero. Eu estaria em um outro nível de azarada se isto acontecesse.
O comprimento não era bem o que estava acostumada mas mostrar os joelhos não era tão vulgar assim não é? Só precisava de alguns ajustes como um cardigan quase da mesma cor num tom mais claro de azul e um cinto fino em torno da cintura.
Eu deveria fazer algo com o cabelo então tentei vários penteados só para acabar com o cabelo solto. Me olhei no espelho de corpo inteiro que tinha próximo a cama. Nada mal. Minha autoconfiança estava relativamente alta e eu poderia sair com uma mulher deslumbrante sem me sentir mal pela minha aparência. Não que eu me achasse feia mas Lena Luthor era a mulher mais linda que já vi então era natural que fizesse comparações e me sentisse um pouco abalada pela sua beleza. E sua inteligência. E seu status. E seu dinheiro. Certo, minha autoconfiança estremeceu um pouco.
São 11h25 da manhã, em alguns minutos, Lena passaria para me levar sabe-se lá para onde. Eu realmente não me importava. Meu Deus, eu só queria vê-la e estar com ela, saber tudo sobre Lena Luthor e nem ao menos somos namoradas. Ainda.
Há três dias atrás ela era somente uma cliente regular do Starbucks que eu admirava (de uma maneira muito lésbica ) atrás do balcão. Eu sei. Foram dois meses assim mas como eu iria saber que seria tão fácil ter um encontro com ela? Quer dizer, segundo Samantha, muitas mulheres matariam para estar no meu lugar, então, bem, não é tão fácil assim sair com Lena. É muita sorte ou talvez ela também goste de mim. Por quê? Eu não faço ideia.
Quando sai do quarto Alex, Maggie e Nia estavam sentadas no meu sofá em uma vídeo chamada com Sam. Aparentemente Maggie e Sam estavam discutindo e Alex tentando pacificar a situação. Eu realmente precisava saber o que estava acontecendo entre elas mais agora não era a hora.
- UAU! – Alex foi a primeira a me ver.
- Se Lena Luthor te dispensar, eu encaro tranquilamente ser a sua segunda opção. Você tem compromisso para o próximo sábado? – Fiz uma careta para aquele comentário de Nia, ela era quase um bebê.
- Eu também quero ver! – Nia virou o celular na minha direção para que Sam pudesse dar a sua opinião e eu fiz uma pose muito mais exagerada do que sexy. - Eu sabia que iria ficar perfeito em você, mas espero que não passem muito tempo vestidas e me devolva o vestido intacto. Foi um empréstimo de última hora e...
- Hey, ela não vai fazer sex* no primeiro encontro. – Alex mais que ordenou que eu não trans*sse naquele dia como se pudesse me proibir de algo, rá! (Sim, ela podia e sabia disto. O que eu posso fazer? Minha irmã é assustadora e totalmente tirana quando quer).
- Alex está certa. – Maggie apoiou a namorada, óbvio. – Não se faz sex* no primeiro encontro, esta atitude manda um sinal errado como se ela estivesse desesperada por isto. – E eu estou desesperada por isto. A última vez que transei foi a 18 meses. Um ano e meio de grande desespero.
- Ah, meu Deus, vocês são tão puritanas e conservadoras! – Sam começou seu discurso em prol do meu direito de trans*r quando quisesse.
Deixei a pauta sobre minha possível atividade sexual naquele dia com elas e fui até a geladeira pegar um copo de água, precisava molhar a garganta. Olhei pela janelinha sob a pia que dava direto para a rua apenas para conferir. Sabia o quanto Lena era pontual e ainda faltava meia hora para o nosso horário combinado.
Talvez eu devesse treinar mentalmente algumas abordagens iniciais.
- Olá, Lena! Fico feliz em te ver novamente... Não, isto é algo que meu dentista diria.
- Saudações, Srta. Luthor! Estive lendo sobre as ações da L-Corp... Err, o que estou fazendo? Tentando comprar a empresa dela?
- Oiiii, está um lindo dia hoje! Será que vai chover? Psst, ela não é garota da previsão do tempo pra este tipo de pergunta.
- Hey, gatinha... Ai, meu deus o que eu sou? Uma estudante do fundamental?
Eu só parei de caminhar de um lado para o outro no pequeno espaço da minha cozinha quando ouvi Alex pigarrear. Já disse penso alto e sempre acabo verbalizando?
- Se quiser posso conseguir algum sedativo para animais de grande porte pra você. (Minha irmã acabou de me chamar de animal de grande porte???) Sério Kara, você precisa se acalmar. Está parecendo uma garotinha esperando seu par para o baile de formatura. – Ela caminhou até a mim e tirou o copo das minhas mãos e me direcionou até o sofá. Fiquei espremida entre Nia e Maggie.
- Está tão claro assim?
- Sim, e decidimos que você não irá trans*r hoje. – Nia declarou solenemente.
- Oh, o que seria de mim sem vocês decidindo quando e com quem devo trans*r?
- Eu avisei que você está precisando disto mais do ninguém só que fui voto vencido. – Obrigada Sam, por ficar ao meu lado neste plebiscito não solicitado de “Kara Danvers deve foder hoje com Lena Luthor sim ou não?” - E eu já estou atrasada pra buscar Ruby da aulas de softbal mas Kara? Só se tem uma chance na vida de sair com Lena Luthor. Não estrague tudo! – E desligou. Não estrague tudo, não estrague tudo, ok admito que não tenho uma reputação muito boa.
Não há uma evidência científica pra isto mas o cérebro de garotas que amam garotas funciona de um jeito diferente. Quem é que vai se atrever a dizer que não? Era quase meio-dia e por mais que o clima estivesse agradável pela forte chuva do dia anterior e o sol teimasse aparecer por detrás das nuvens eu já estava soando. Até as palmas das minhas mãos estavam molhadas. Tremia ligeiramente de nervosismo. Acho que deveria ter aceitado os sedativos para animais de grande porte que Alex ofereceu.
Decidi esperar por Lena na frente do prédio e sabia que Alex, Maggie e Nia estavam me espiando pela janela da cozinha no meu apartamento no segundo andar. E se eu conhecia Nia estava com o celular apontado para minha direção gravando tudo.
- Ei, Danvers. – Emma acenou para mim antes de subir o pequeno lance de escadas até a entrada do prédio. - Belo vestido! – Sim, é roubado aliás e eu não tive decoro nenhum em me negar a vesti-lo mas obrigada pelo elogio.
- Obrigada! Como está Regina? – Perguntei distraidamente mais por querer parecer educada do que por estar interessada mas ela fechou a cara e se voltou rapidamente pra mim. Acho que não deveria mais fazer perguntas sobre Regina. Nunca mais.
- Está bem e ainda estamos namorando então fique longe dela! – Direta. Algo sobre minha atenção demasiada a depilação íntima da sua namorada naquela noite talvez tenha feito Emma supor que eu pudesse sentir alguma atração por Regina e representava uma ameaça. Droga.
- Ah! Hmm, que ótimo? – Mexi nos meus óculos buscando dizer algo que desfizesse a impressão. - Eu tenho um encontro com Lena Luthor! – Anunciei como se tivesse ganhado na loteria e então percebi que era algo que poderia gabar. Eu iria sair com Lena Luthor. Lena. Luthor. Eu deveria correr a cidade toda com um alto-falante gritando isto mas provavelmente seria ridicularizada. Mulheres apaixonadas são cafonas.
- Lena Luthor... ? A CEO? Da L-Corp? Lena Luthor? – Emma parecia a chocada mas logo em seguida começou a rir. - Esta foi muito boa, eu quase acreditei!
- Estou falando sério! – Cruzei os braços descontente com por Emma duvidar.
- Sim, claro e eu tenho um encontro com Rachel Weisz... – Ela olhou para seu relógio de pulso. E olha só ela já deve estar chegando. – Sabia que ela estava debochando mas o SUV preto de Lena já virava a esquina parando do outro lado da rua e seria a minha melhor resposta.
- Ah, boa sorte com Rachel Weisz, espero que ela seja tão pontual como Lena. – A CEO abriu a porta do carro e atravessou a rua vindo em minha direção e pude ver o rosto divertido de Emma se transformar.
Ela estava literalmente de boca aberta quando uma Lena animada me cumprimentou com um beijo rápido na bochecha.
- Oi, Kara!
- Oi, Lena! – Achei pertinente fazer apresentações para deixar Emma ainda mais desconcertada por que era divertido e, era uma boa oportunidade pra tripudiar, rá! – Esta é Emma minha vizinha!
- Como vai, Emma? – Lena só acenou com a cabeça. Estava linda, obvio. Os cabelos lisos e soltos, uma camiseta social bordô puxada até os cotovelos, calça jeans e um salto baixo que a deixava poucos centímetros mais baixa que eu. Emma mal acenou de volta e subiu os degraus desaparecendo dentro do prédio. - Então... vamos? – Lena mexeu nos cabelos, e estendeu uma mão para mim com um sorriso vacilante. Parecia... nervosa?
- Para onde você quiser! – Eu segurei a mão dela e senti. Seus dedos estavam tão escorregadios quanto os meus.
É mesmo verdade, segurar a mão da garota que você gosta te faz ver o resto do mundo em câmera lenta.
Fim do capítulo
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