Animadas para o desfecho da história?
Contos de um lar despedaçado
Acordei no meio da madrugada, de um sono sem sonhos. Catarina ainda estava do meu lado, dormindo ternamente, suspirando baixo. Fitei o teto por um longo tempo, ouvindo o barulho que vinha de fora dos carros passando, deixando dar voz aos pensamentos que vinham à tona.
Olhei ao meu redor, e só havia a iluminação da parte exterior do lugar. Nada havia sido mexido de quando tínhamos dormido.
E assim seria.
Olhei para Catarina por um longo tempo. Seus olhos fechados, sua boca entreaberta, as mãos colocadas ao lado do rosto, dormido um sono aparentemente leve, mas que sabia que era pesado. Levantei devagar para que não mexesse tanto com ela, e vi que não estava mais com os soros no braço.
Havia uma muda de roupa minha na bancada, e assim me troquei. Quando calçava meu tênis, observei mais uma vez Catarina.
Peguei uma caneta que tinha ali perto, e anotei por um bom tempo em seu trabalho, deixando-o ao seu lado. O cordão que tinha ganho da minha mãe estava na bancada também, e o coloquei nas suas mãos enquanto fui até a sua testa e a beijei, beijando seu rosto enquanto ela resmungava e se mexia.
— Até logo.
E saí do lugar, sem dizer nada para ninguém. Por ser o meio da madrugada ao ver no relógio da recepção, nenhuma pessoa que deveria reconhecer meu rosto estava acordada.
Andar era um pouco difícil, sentia um pouco de enjoo e sede, provavelmente pela intoxicação que tive, mas ainda assim consegui caminhar pela rua sem problemas maiores até chegar no trajeto que dava em casa.
Não havia ninguém em casa, como eu esperava. Entrei e respirei fundo, indo direto pro meu quarto.
Tomei um banho demorado e escovei meus dentes. Sentia-me renovada, então abri meu guarda-roupa e separei algumas roupas, colocando-as na mochila, assim como outras coisas que iria precisar.
Encarei-me, nua, no espelho do banheiro, peguei a tesoura e a máquina de barbear do Alan. Cortei meu cabelo de qualquer jeito, vendo as longas madeixas caírem diante o ladrilho do banheiro.
Então peguei a máquina, e se nenhum remorso, passei por todo meu cabelo, vendo as madeixas caírem mais uma vez e finalmente, depois que terminei aquela ação sem sentimento algum, não reconheci minha imagem no espelho, e sorri.
Joguei o cabelo no lixo, e peguei minha mochila, com tudo que eu achava necessário. Fui até a cozinha e peguei mais comida, e água.
Antes de sair, ao calçar meus sapatos, dei mais uma olhada na casa. Respirei fundo, mordi os lábios e fechei a porta.
Caminhei até o ponto em que queria, e nele eu pensava em várias coisas. Um filme de todos os pequenos detalhes da minha passavam na minha mente, todos os pontos e percalços que mostrariam um destino diferente daquele, mas eu não iria mudar de opinião. Pelo menos não dessa vez.
Cheguei até o terminal rodoviário, e pedi a passagem para qualquer lugar o mais longe possível e que fosse para logo, para não dar tempo de me arrepender caso acontecesse.
Quando chegou o ônibus, entrei sem dizer uma palavra junto com minha mochila, que agora era o que restara do meu pequeno mundo. O dia amanhecia quando foi dado a partida e o ônibus seguiu seu caminho sinuoso até o seu destino, que seria o meu também.
Fechei os olhos ao ver o amanhecer, e murmurei comigo mesmo:
— Vai ser melhor assim.
E assim eu parti.
“Catarina,
Se eu me despedir de você, eu não terei coragem de ir embora, mas eu tenho que ir embora.
Eu não serei diferente, eu não vou ser um ponto fora da curva. Eu vou ser pra sempre essa pessoa problemática, doente e que causa esses transtornos na vida das pessoas que eu amo.
Você é a garota que eu mais amo e provavelmente a que mais vou amar porque desde o momento em que esbarrei com você na faculdade, sabia que era diferente de qualquer outra pessoa que eu chegarei a convencer. Você, Catarina, mostrou que o amor é paciente e se constrói aos poucos.
Você teve a paciência que ninguém na minha vida toda teve. Cuidou de mim de uma forma que só tinha visto meu irmão, sangue maldito como o meu, fazer comigo. Isso fez com que a paixão que já tinha por você escrita nas entrelinhas evoluísse a ponto de que via os detalhes do seu rosto enquanto dormia, e ficava grata por dividir aquele momento com você, e de como eu era grata pelo universo, que tanto fodeu comigo, me dar aquele momento de paz com você.
Mas, claro, eu tive que estragar tudo. Eu sei que você e as outras figuras que me amam me perdoam, e tem esperanças em mim, mas a esperança, aquele único fio que ainda me mantinha aqui, se foi.
Eu não deixei de te amar, e acho muito difícil isso acontecer. Também não deixei de amar Matheus, meu único e melhor amigo, e muito menos Alan, minha fortaleza emocional, a família que eu não tenho.
Eu quero que vocês sejam felizes sem preocupações, e eu vejo que isso só vai acontecer quando eu me afastar de todos vocês e desaparecer. O Alan tem tudo pra ser o sous-chef, o Matheus para fazer o que ele quiser fora do armário e você, a garota que me tira o ar da melhor forma que experimentei, a doutora brilhante que você merece ser.
A única coisa que posso afirmar com certeza é que o vazio no peito da saudade que sentirei de você continuará. Sentirei falta de todos os seus pequenos detalhes que eu tanto amo, o seu riso, o seu cheiro, o seu toque, suas manias, o seu beijo... Isso tudo faz meu coração queimar, me faz querer ser os cosmos da sua vida, só que no momento eu sou apenas o nanquim, tanto pra você, como pra mim mesmo.
E escolhi mergulhar nessa tinta negra sozinha, e não levar mais ninguém comigo. Você não merece isso, você merece um mundo fora disso e assim, eu poder sumir sem dar rastros, como tinha que ser antes de tudo isso acontecer.
Nunca esqueça do quanto eu amo você,
Da sua cobaia mais teimosa,
Alana.”
Fim do capítulo
Essa é a primeira história que posto aqui, e só tenho a agradecer por todos os comentários que recebi até aqui. Foram muitos gratificantes e me ajudaram a continuar postando para vocês, leitoras, essas histórias que tanto gosto de fazer. O final pode soar meio controverso para algumas, mas acredito que ele era necessário, já que foi como pensava desde quando comecei a fazê-la e fiquei feliz por ter alcançado esse objetivo, assim como o objetivo de compartilhar isso com vocês.
No mais, espero que essa seja a primeira de muitas. Até a próxima!
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edjane04
Em: 24/09/2021
"A propósito, caso tenha interesse, a história que estou postando no momento, "Ao norte de lugar nenhum", tem uma personagens importante dessa história no meio dela, como se fosse um "após" os acontecimentos. Caso queira dar uma conferida, posto quase que diariamente."
Opa! Passei por ela há pouco e sou um tanto ansiosa para ler histórias não finalizadas, rs
Maas já que você insiste...
edjane04
Em: 04/09/2021
Que história!! A descobri há 4 horas e estou aqui chorando com o final, esperando que haja alguma continuação e que a Nana tenha uma melhor chance em sua vida. O que vai acontecer com Catarina?
Parabéns pela história, continue escrevendo mais :)
Resposta do autor:
Agradeço pela leitura! E que bom que a história te prendeu!
A propósito, caso tenha interesse, a história que estou postando no momento, "Ao norte de lugar nenhum", tem uma personagens importante dessa história no meio dela, como se fosse um "após" os acontecimentos. Caso queira dar uma conferida, posto quase que diariamente.
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ahannahhcs
Em: 30/08/2021
Autora, eu não aceito nada menos do que uma parte 2 dessa história. Eu imploroooo. A história é maravilhosa.
Resposta do autor:
estou trabalhando em uma história que pode ser chamada de continuação dessa, e em breve estarei postando por aqui. fico feliz que tenha gostado <3
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LeticiaFed
Em: 28/08/2021
Parabéns querida autora! Só descobri a história quando terminada e foi difícil parar de ler. Quanto ao final, nosso lado romântico sempre quer um final feliz, eu também. Mas, na vida real, nem tudo é como gostaríamos e infelizmente nossa protagonista "foi estragada" de tantas formas por quem deveria lhe dar amor que ficaria difícil outro desenlace nesse momento. Meu lado otimista imagina que ela poderá se recuperar um dia, ela no momento perdeu todas esperanças, mas...quem sabe? ;) Volte logo!
Resposta do autor:
agradeço muito pelo comentário, fico satisfeita em saber que a história te envolveu, e o final fica em aberto justamente para pensarmos no que pode ter acontecido, se tudo acabou bem ou mal, que ela tenha conseguido encontrar a paz que procurava, ou acabou afundando ainda mais... tento trazer essa questão mais realista mesmo sendo ficção, acho importante de mostrar que isso poderia ser com qualquer um que conhecemos, no nosso meio e tudo mais...
logo estarei postando outra e essa, sem querer dar muito spoiler, tem uma relação peculiar com esta...
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Marta Andrade dos Santos
Em: 27/08/2021
Parabéns!
Resposta do autor:
obrigada por ter acompanhado até aqui! vi que era a pessoa q mais acompanhou, e desejo que tenha gostado da história que compartilhei tanto quanto gostei de postar <3
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