Alô Vocês!
Este é o último cap. Vamos ver o que essas duas nos reservaram.
Capitulo 5. Cale a boca e dance
— Reed, não sei o que ela quer, não nos falamos desde aquela vez lá atrás, quando a gente ainda nem se conhecia e que já te contei.
— E se fosse você a atender?
— Pediria que não me ligasse mais.
— Tem certeza?
— Reed, vem cá. — abracei-a — Se eu quisesse esconder algo de você, não pediria que atendesse meu telefone.
— Ok, mas se ela ligar de novo, você me conta?
— Claro que conto.
— Você jura?
— Juro. Agora deixa eu beijar esse biquinho lindo.
— Não quero, tô brava.
— Mas eu quero.
— Não, não, nã...
Beijamo-nos e acabamos caindo no sofá.
— No pescoço é covardia... — disse-me rindo.
Duas semanas depois, foi no meu consultório. A secretária parecia apreensiva, ao me anunciar aquela visita inusitada, justo quando eu atendia meu último paciente do dia.
— Elsie?!
— É... Eu disse que já acabou seu expediente, mas ela insiste.
Pensei por um momento. Aquilo seria um problema com minha ruiva.
— Peça que me aguarde uns instantes, apenas.
— Ok.
Acabei em instantes, mesmo.
— Muito bem, Bob, te aguardo semana que vem, ok?
— Tá bom tia, Gorman. Tchau.
Despedi-me do meu pequeno paciente com um beijo e do avô, que sempre o trazia, com um aperto de mão.
Esperei um pouco, pensando em Tracy, ela não gostava de algumas pacientes minhas e de algumas mães de pacientes também, mas confiava em mim, entretanto, odiava o nome Elsie. Respirei fundo e pedi à secretária que mandasse minha ex entrar.
— Oi, Jackie.
— Oi. Ahh... deixe a porta aberta, sim?
Ela estreitou os olhos e me fitou, como se estranhasse.
— Desculpe-me aparecer assim, mas eu realmente preciso conversar com você.
Eu permaneci em pé e não a convidei a se sentar.
— Podia ter ligado.
— Você está diferente...
— Você também mudou, desde que nos conhecemos.
— É sobre isso que quero te falar. Acho melhor ser direta. Jackie, eu me decidi, eu descobri que é mesmo com você que eu quero ficar. E... queria uma nova chance — fez menção de se aproximar, mas eu me afastei uns passos e ela parou. — Sei que você está com alguém agora, mas eu acho que nós sempre fizemos um ótimo casal, sempre nos entendemos tão bem.
— Também vou ser direta, porque você sabe que sempre jogo às claras. Sinto muito, mas é bem tarde pra gente. Eu tenho alguém, sim. Alguém muito especial pra mim. Eu encontrei a mulher da minha vida, é com ela que eu vou passar o resto da minha vida. Então, não é legal você aparecer no meu consultório assim, sem avisar, ou na minha casa. Ou na minha vida.
Ela deu um riso debochado.
— Achei que essa fosse eu...
— Nós acabamos. É simples assim.
— A gente foi tão feliz juntas... Talvez você esteja confusa ou enganada como eu estive. Tudo que eu te peço é pra tentarmos de novo.
— Eu não estou confusa ou enganada. Se estivesse, minha mulher seria a primeira a saber, eu jamais me declararia para ela, se tivesse um milímetro de dúvida.
Ela ficou parada no meio da minha sala, completamente sem jeito, o olhar baixo.
— Eu poderia ter te falado meia verdade, Elsie, mas nunca quis meias verdades entre nós. Quando você ficou na dúvida, eu pedi sinceridade.
Fitou-me.
— Entendi... Eu fui mesmo muito trouxa de vir até aqui, não é? Você deve estar se divertindo por eu estar rastejando até você.
— E por que eu faria isso agora, se eu sempre a tratei com tanto respeito?
Ela sorriu com uma expressão sarcástica.
— Espero apenas que não se arrependa e que seja feliz com ela.
— Continuarei sendo, obrigada. Espero que você se encontre. Às vezes, Elsie, a gente precisa mesmo é se encontrar, para poder ter certeza de quem a gente quer ao nosso lado.
Ela balançou a cabeça em sentido afirmativo, estampando o mesmo sorriso irônico.
— Adeus, Gorman.
— Adeus.
Ela saiu e encontrou com Navy, que estava ao lado do balcão da recepção, falando com a secretária.
— Oi, Elsie. — minha amiga cumprimentou.
Ela passou pelas duas, sem responder e saiu.
— Filha da mãe. Já vai tarde.
— Que coisa feia, Navy, ela não te fez nada. — falei, assomando à porta do meu consultório.
— Ela te sacaneou e isso é o mesmo que “me” sacanear.
Sorri. Eu amava Navy.
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— Tenho algo pra te contar. — Gorman fitou-me séria, logo depois de chegar à minha casa.
— O quê?
— Não é nada demais, mas não quero que haja segredo entre a gente.
Ela me contou sobre a visita da ex.
Fiquei uma fera, mas me controlei.
— Ok. Foi só isso?
— Foi sim.
— Tá bom.
Ela ficou desconfiada do meu jeito e me perguntou mais de uma vez, se estava tudo bem em relação a isso. Repeti que queria enterrar aquele assunto.
Mas o ciúme é um bichinho traiçoeiro que age silenciosamente, roendo a gente por dentro, se a gente não perceber logo e reagir contra ele, como quem reage a uma infestação de cupins.
Comecei a fazer perguntas esporádicas sobre aquela visita, dia a dia. Gorman começou a se incomodar com aquilo.
— Qual o problema, Reed? — perguntou-me por fim.
— Nenhum.
— Nenhum? Você me faz perguntas sobre o mesmo assunto todo dia. Do que você está desconfiada, eu já te contei tudo que tinha pra contar. Quer olhar meu celular? Quer falar com Navy e com a nossa secretária? Diz pra mim o que você quer, o que você pensa e vamos tentar resolver isso.
— Se ela foi até seu local de trabalho é porque pensou em me evitar. E você não tinha nada que recebê-la em sua sala.
— Por alguns minutos, de porta aberta.
— Aí você pediu pra ela sumir e ela sumiu? Assim? Do nada?
— É, Tracy Lauren, ela sumiu e se não tivesse sumido, eu teria te contado. Eu amo você, Tracy. Preste atenção, eu amo você e só quero você. Eu estou só com você porque é você que eu quero, se eu quisesse outra, eu não estaria aqui. Preciso que confie em mim, ou isso não vai dar certo.
Fiquei em silêncio.
— É difícil confiar em mim, Tracy?
— Não é isso, mas ela...
— Ela o quê?
— Eu não gostei daquele telefonema nem dessa visita.
Ela fechou os olhos e suspirou.
— Eu também não gostei, Reed e fiz tudo de um jeito muito honesto, com ela e, principalmente, com você. Olha, talvez você pense no seu passado, mas eu não sou a Cadence, ok? Eu também sofri e nem por isso, fico com medo de confiar em você. Eu te amo muito e confio totalmente em você.
Ficamos em silêncio por um tempo.
— Quer saber de uma coisa, ruiva? Eu não vou ficar aqui me justificando por algo que eu não fiz, que eu não tenho culpa, que eu não sei como resolver mais do que eu já fiz. Agora é com você. Eu vou embora e quando você resolver se confia ou não em mim, me avisa. Só não esquece que eu te amo. Muito.
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Saí da casa dela sem rumo, segurando um choro que insistia em cair. O que eu tinha feito, afinal? Senti pânico ao pensar em perdê-la para sempre e cogitei voltar e pedir que apagasse o que eu dissera. Mas não fiz isso. Não estava bom do jeito que estava, havia algo muito grande separando-nos, um enorme ponto de interrogação se interpunha entre nós. Minha garota, a mulher que eu amava, temia o passado e aquilo a impedia de confiar em mim. Havia sempre uma sombra espreitando atrás de cada palavra, de cada gesto. Ponderei que nenhum amor no mundo escaparia ileso a um fantasma daquele, acabaríamos nos ferindo gradualmente, até que o amor, fosse sufocado. Era então melhor que nos afastássemos para que Tracy tentasse resolver aquele trauma. Se não conseguisse, seria melhor terminar assim, enquanto as boas lembranças seriam mais numerosas do que as ruins.
Dirigi a esmo, até parar em uma rua qualquer. Chorei até pensar que não havia mais lágrimas em mim.
Três semanas depois, eu estava morrendo de saudade dela, pensando que o seu amor não devia ser tão grande quanto o meu. Eu não fazia mais do que trabalhar. Não queria ir à parte alguma sem ela. Mas começava a me conformar, a despeito de todos os conselhos e opiniões da minha mãe e das minhas amigas, que pensavam que nós ainda íamos nos acertar.
Fui ao niver de um amigo, somente porque ele era meu amigo e porque eu não queria ser essa pessoa amarga e triste que começava a me tornar. Mas parecia que todo mundo percebia meu estado de espírito e tentava me animar.
Animar... achei que uma boa forma de fazer isso, era bebendo. Tomei um porre memorável e fiquei na casa de um casal amigo meu.
No dia seguinte, aquela rotina, enxaqueca, mal-estar...
Tomávamos o desjejum, quando a campainha tocou. Minha amiga foi atender e voltou com a visita.
— Oi... — minha ruiva disse, tímida.
Eu respirei fundo. Ela era tão linda... Porém, não respondi. Não acreditei que meus amigos tinham feito isso comigo, chamando-a até ali.
— Olá, Reed. Entre. Toma café com a gente? — minha amiga convidou.
— Hã... Não, obrigada, eu já tomei.
— Nós também. — minha amiga disse e chamou o marido. — Vem.
— Já? Mas eu ainda não comi nada...
A esposa revirou os olhos.
— Já sim. Vem, preciso te falar algo.
— Ah... tá... claro. Com licença. — foi seguindo a mulher, mas voltou e pegou umas torradas e o copo de suco dela que estava quase intacto — Só isso aqui. — saiu, enfim.
— Oi, Gorman. Não vai me convidar pra sentar?
— Você já foi convidada e recusou.
— Na verdade, eu fui convidada pra comer...
— Sério que vamos discutir detalhes retóricos agora? Pode se sentar, se quiser.
Nossa, eu não me reconhecia, tão amarga assim.
Ela se sentou à minha frente e perguntou com aquela voz que para mim era a mais doce do mundo.
— Podemos falar?
— De preferência não. — respondi um pouco menos azeda.
— Não? Por quê? Você me disse que havia algo que eu precisava decidir e quando o fizesse, que a procurasse.
— Sim, mas isso não inclui sentir pena de mim.
— Pena?!
— É, pena. Esses meus amigos são uns intrometidos, não tinham nada que te ligar pra dizer que tomei um porre por sua causa e te chamar aqui.
— Mas elas não me chamaram aqui.... Você tomou um porre por minha causa?
— Eu sei que chamaram... Não chamaram...?
— Não.
— Então... Como sabia que eu tomei um porre?
— Não sabia.
Fitei-a desconfiada.
— E o que veio fazer aqui?
— Eu te liguei, mas seu celular está desligado.
— Descarregou.
— Então fui até seu apê, você não estava. Aí liguei pra Navy e tava disposta a ligar pra todo mundo, mas ela logo disse que você estava aqui. Então eu vim.
— Ahhh... E... veio fazer o quê?
— Te ver e te dizer que eu sou mesmo uma idiota. Que eu te amo muito, muito, muito demais e que eu sei que você também me ama. E te pedir desculpas por ser tão...
Não a deixei terminar. Levantei-me e a puxei para mim. Beijei-a como se o mundo fosse acabar no próximo segundo.
— Eu te amo tanto, Reed.
— Eu sei que não aconteceu nada, Gorman, e sei disso porque a gente se ama...
O casal meu amigo surgiu na porta.
— Caraca, vamos pro hospital, as gêmeas vão nascer! — disse eufórica, a dona da casa.
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A esposa de Navy deu à luz duas meninas lindas.
Gorman e eu nos casamos dois anos depois. O auge da festa, vocês devem imaginar, foi a gente dançando “Shut Up And Dance”, com nossos amigos.
— Nossa dança, agora, Reed.
Eu segurei seu rosto com as duas mãos.
— Nem se atreva a olhar para trás, Gorman.
— Claro que não. Você é meu destino. Mas... não está se segurando, está, Reed?
— Cale a boca e dance comigo, Gorman.
— Só se for agora até... Para sempre.
Beijamo-nos, ao som de muitos aplausos e assobios.
I said you're holding back
Eu disse que você está se segurando
She said "shut up and dance with me!"
Ela disse, "Cale a boca e dance comigo!"
This woman is my destiny
Essa mulher é o meu destino
She said, oh, oh, oh
Ela disse, oh, oh, oh
"Shut up and dance with me"
"Cale a boca e dance comigo"
Fim do capítulo
Obrigada por lerem. Espero que tenham gostado.
Bjss e até!
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