POV LÍVIA 

Depois de tudo que Bia me contou, minha cabeça parecia dar voltas e voltas e não saia do lugar. Ouvir aquelas coisas sobre minha família não era bom, mas Bia não mentiria pra mim, não teria motivos pra ela fazer isso, mas também minha mãe não teria motivos pra fazer tudo isso que Bia disse que ela anda fazendo. 

Flashback on:

-Bia, por que você não me conta o que aconteceu? - Questionei, pois demissão dela foi algo repentino. 

-Você gosta mesmo de mim Liv? - Ela estava apreensiva e eu segurei suas mãos. 

-Claro Beatriz, eu não menti quando eu disse que estava apaixonada, e mesmo não sendo recíproco, gosto da sua amizade.

- Eu também gosto da sua amizade, e antes de contar tudo o que eu tenho que contar eu preciso que saiba que eu não quero destruir seu lar, ou fazer algo do tipo. - Fiquei confusa, mas eu tinha que ouvir o que ela queria dizer. 

-Estou aqui pra ouvir. - Respondi e me endireitei no tapete. 

-Lívia, Marcela e eu tivemos um envolvimento e eu jamais aceitaria ficar com ela se ela ainda fosse casada com sua mãe. = Bia começou a falar e eu ouvia. - Eu fui reticente a isso, mas aí ela me contou que sua mãe estava tendo um caso com seu pai e depois de descobrir isso ela se afastou da sua mãe. 

-Minha mãe e meu pai? - Perguntei incrédula.

-Sim, e tem mais uma coisa. - Bia pareceu pensar no que me dizer. - Recentemente sua mãe me pediu pra fazer um trabalho por fora, e esse trabalho me deixou intrigada, decidi descobri o que era e…

-E o que, Bia? Fala. - Perguntei impaciente. 

-Sua mãe está aliciando mulheres, uma espécie de book rosa. -  Beatriz falou de repente e eu demorei pra assimilar tudo. - Igual naquela novela. 

-Como assim? Você quer dizer que minha mãe é uma cafetina? - Me levantei nervosa. - Bia isso é uma acusação grave. 

-Eu sei Lív, mas eu não te contaria isso se eu não tivesse certeza. - Beatriz se levantou ficando em minha frente. - É o pior é que Gustavo está envolvido, eles estão juntos nisso. 

-Eu não sei o que pensar Bia. -Eu tentava absorver cada palavra que ela dizia. - O que você está me contando é muito grave.

-Eu sei Lív, mas eu não posso mentir pra você mais. - Beatriz estava nervosa. - Eu sei que é muito pra você processar, mas saiba que eu jamais faria algo pra prejudicar você.

-Eu vou pra casa, preciso pensar um pouco. -Juntei minhas coisas e fui em direção a porta. - A gente se fala depois.

-Espera Lív. - Beatriz tentou me impedir, mas foi em vão.

-Agora não Bia, preciso absorver tudo isso que você acabou de me contar.

Sai do apartamento dela tentando esfriar a cabeça, metade  de mim não queria acreditar, mas outra metade acredita que Bia não inventaria uma história tão louca assim. 

FLASHBACK OFF:

Os dias se passaram e eu não tive tempo de conversar com Beatriz novamente, as coisas que ela me disse ainda martelavam minha mente e eu ainda não tive tempo de questionar as acusações para a minha mãe. Essa semana aconteceria o desfile de Inverno de Maria Amélia Gusmão, e estávamos atoladas de trabalho, e graças a Laís eu conseguia me distrair sem surtar. 

-Gatinha, vamos almoçar? - Estava pensando nela quando ela entrou em minha sala. 

-Vamos, só vou passar na sala da minha mãe antes. - Peguei minha mochila e subi no elevador, quando me aproximei da porta ouvi ela falando ao telefone e resolvi ficar pra escutar o que ela dizia. 

-Orlando não seja bobo, as meninas vão desfilar para os empresários. Esse desfile de Maria Amélia é a oportunidade que queríamos para mostrar mais a nosso mercadoria. - Ela dizia tranquila e sem se preocupar com nada. - Marcela nem desconfia e agora que Bia não trabalha mais aqui não corro o risco de ser descoberta, sei que ela não contaria nada pra ninguém, ela não teria coragem.

As palavras da minha mãe me deixaram desnorteada, Bia tinha razão e eu só queria entrar naquela sala e gritar com ela. Limpei a lágrima que rolou do meu rosto e sai dali o mais rápido que eu pude.  O desfile seria hoje a noite e eu não tinha cabeça pra assistir sabendo que minha mãe estava se beneficiando de uma forma cruel. Avisei Laís que não poderia ir almoçar e fui tentar me acalmar antes de tomar qualquer decisão. 

Passei horas sentada no mesmo lugar sem me mexer chorei até não ter mais lágrimas pra rolar, sempre lutei pelo direito das mulheres e agora descobrir isso sobre a minha própria mãe me deixava sem chão eu não fazia ideia do que fazer. Alcancei meu celular e vi que já estava tarde, resolvi mandar mensagem pra única pessoa que poderia me ajudar. 

POV BEATRIZ

Lívia me esperava na porta do meu apartamento e quando ela me viu correu até mim e me abraçou apertado, ela chorava copiosamente e eu tentava acalmá-la. 

-Hey, eu estou aqui. - A abracei apertado. 

-Você estava certa Bia, eu ouvi ela tramando com meu pai. - Lívia falou entre as lágrimas. 

-Vem vamos subir, está frio aqui fora. 

Levei Lívia pro meu apartamento e fui preparar um chá de camomila pra ela. Livia estava transtornada e eu queria muito saber como ela tinha descoberto tudo. Ela estava sentada com as mãos no rosto e parecia pensar em tudo. 

-Quer me contar como descobriu? - Entreguei a caneca para ela e me sentei ao seu lado. 

-Eu ouvi quando ela falava ao telefone com meu pai. - Lívia limpava os olhos com a manga da camisa. - Ela disse coisas horríveis Bia, se referia as meninas como mercadorias e isso me deixou tão decepcionada com ela. 

-Eu imagino, me senti assim quando descobri.- Alisei seu ombro. - De início meu instinto foi sair de lá correndo, mas eu precisava me manter firme para poder ajudar as meninas. 

-Você sabe quantas são? 

- No começo eram apenas três, mas ela já conseguiu ampliar pra sete e provavelmente esse número vai aumentar.

-Eu não quero vê-la nunca mais, eu posso ficar aqui?  

-Claro que pode, vou te levar pra tomar banho. - Levei Lívia para o meu quarto e mostrei ela onde ficava o banheiro. - Tome um banho e vou preparar algo pra você comer, aposto que não comeu nada o dia todo. 

-Seu amigo não se importa se eu ficar aqui? - Ela perguntou fungando. 

-O Bernardo viajou, só volta na próxima semana. - Fui até ela e a abracei novamente. - Você pode passar o tempo que quiser aqui. 

Lívia se acalmou depois do banho e eu contei a ela tudo o que eu sabia, inclusive contei que fui dopada por Gustavo e descobri isso fazendo alguns exames, ela ficou horrorizada e percebeu que estávamos lidando com gente que não presta. Também contei sobre Marcela e ela concordou em não contar nada pra ela, pois Marcela agiria no impulso e isso poderia acabar com a nossa chance, falei sobre Rafa estar me aconselhando e me ajudando a coletar o máximo de informações possível pra acabar com esse plano sujo. 

A semana passou rápido, com o sucesso do desfile eu tive trabalho em dobro, quase não tive tempo pra descansar, Lívia ainda estava em minha casa e não queria voltar pra casa de Jaqueline tão cedo. Durante a semana recebi um telefonema da Jaqueline querendo me encontrar, eu decidi aceitar, queria parecer que estava ao lado dela. 

-Bia, quem bom que veio. - Tinhamos marcado de nos encontrar em um bar no centro da cidade. - Aposto que você estava cheia de trabalho, o desfile foi um sucesso. 

-Oi Jaqueline, vim assim que pude. - Eu tentava fingir, mas minha repulsa pela mulher era enorme. 

-Não vou tomar muito seu tempo, tenho uma proposta. - Ela sorriu e acenou para um homem que estava na outra ponta do balcão. - Quero te apresentar alguém. 

Um homem moreno de barba cerrada se aproximou, ele estava bem vestido dentro de um terno bem cortado, tinha um sorriso galanteador e uma cara de quem não prestava. 

-Esse é o Juan Muñiz, veio diretamente da Colômbia apenas pra conhecer você. - O homem se aproximou e estendeu a mão. - Ele ficou encantado quando viu você em um de nosso eventos e insistiu para te conhecer pessoalmente. 

-Muito prazer Sr. Muñiz. - Sorri falsamente e o homem deixou um beijo no dorso da minha mão. 

-O prazer é todo meu Srtª Mendes, mas me chame apenas de Juan. - Ele se sentou e Jaqueline pediu mais um rodada de uísque. 

-Bia, Juan é um dos maiores herdeiros do ramo hoteleiro e está no Brasil para alguns investimentos. - Jaqueline falava exaltando o homem e eu não entendia o motivo daquela apresentação. - Bom, vou deixá-los sozinhos para se conhecerem melhor. 

Ela saiu sem ao menos dar tempo de contestar algo, o homem me encarava e eu estava ficando desconfortável.

-Então Bia, Jaque me disse que você trabalha com ela.  - Ele falava com um pouco de sotaque e na hora saquei qual era a real daquele encontro. 

-Olha sr.Muñiz eu trabalho sim para Jaqueline, mas não da forma que você está pensando. - Respondi de forma grosseira e peguei minha bolsa tentando me levantar. 

-Calma, podemos pelo menos tomar um drink e depois você decide se quer ir ao meu hotel ou não. 

-Não, eu não quero ir ao seu hotel.- Peguei minha bolsa e saí de lá sem olhar pra trás deixando o homem com cara de bobo. 

Agora Jaqueline passou de todos os limites possíveis. 

Fim do capítulo