Já faziam quatro diasque eu estava na chácara com Aline, ocupávamos nosso tempo lendo, ouvindo música, assistindo filmes e series ou aproveitando a piscina. A convivência era muito tranquila, mas mesmo assim era estranha. Decidimos não falar sobre o nosso relacionamento, e evitamos dividir a mesma cama. Em uma determinada noite começamos a tomar vinho e a conversar, a conversa era tão leve, que quando percebemos, já estávamos na terceira garrafa. A Nick mais enrolava do que bebia, e eu acabei me empolgando e bebendo um pouco além da conta.

_Acho que já bebi demais _ minha voz já estava manhosa.

_Estamos em casa sozinhas e não trabalharemos amanhã.

_Esse é o problema Nick.

_Não precisar trabalhar amanhã pra mim é um problema, mas você é a dona, pode se dar a esse luxo.

_Não estou falando disso garota, o problema é estarmos sozinhas.

_Como assim_ gargalhei _ estamos sozinhas desde o inicio da semana.

_Vai se ferrar, você entendeu.

_Olha o vocabulário Dra. Aline.

_Sabia que você está muito chata hoje?

_Eu sou chata todo dia, não percebeu ainda? _resolvi perturbar ela um pouquinho, era engraçado ver ela tão solta por causa do vinho.

_Você é chata, linda, gostosa, divertida, faz besteira, mas eu continuo apaixonada por você_ não sei se por causa do álcool ou das palavras, mas vi os olhos cheios de lágrimas.

_Eu sei que te machuquei demais, mas pode ter certeza que está doendo muito mais em mim _também não consegui segurar as lágrimas.

_Faltou alguma coisa, eu sabia que iria conseguir te satisfazer...

_Não, de forma alguma, você é maravilhosa.

_Por que?

_Não sei, talvez o momento, a pessoa, eu estava muito carente, chateada, me culpava por ter pedido um tempo, não havia sentimento, foi o tipo de coisa que você faz e se arrepende um minuto depois.

_Que droga_ me assustei quando vi ela jogar a taça contra a parede.

_Ei calma, por isso evitei tocar nesse assunto, a ultima coisa que eu queria era te ver assim_ sentei do lado dela no tapete.

_Você não entende, por mais que você tenha errado, eu sinto que se arrependeu, eu sei que não vai se repetir, o mais difícil é admitir que eu nunca consegui sentir raiva de você, jamais conseguiria te odiar. Sinto tanto a sua falta que chega doer. A noite passada eu tive um pesadelo com você, e o medo de te perder era tanto que quando eu despertei tinha a sensação de não conseguir respirar.

_Por isso estava nadando tão cedo.

_Depois do pesadelo eu fui ao teu quarto, fiquei horas olhando você dormir, eu só queria ter a certeza de que você estava bem.

_Por que não me acordou?

_Você estava em um sono tão tranquilo, eu fiquei até amanhecer e fui para a piscina.

_Vai ficar tudo bem_ abracei Aline de forma protetora.

_Olha a bagunça que eu fiz, vou apanhar os cacos de vidro...

Quando Aline levantou, não percebeu que tinha um vidro próximo do tapete, e acabou pisando em cima.

_Ai...que droga...

_Levanta o pé, não toca no chão.

Quando vi o pé dela sangrando muito, levantei, a peguei no colo e a coloquei sentada na mesa.

_Espera, vou pegar a caixa de primeiros socorros_ ver tanto sangue me deixou apavorada.

_Calma amor, é apenas um corte, esqueceu que eu sou médica, pega a caixinha lá meu banheiro que eu mesma faço o curativo.

Quando eu voltei, vi que não parava de sair sangue, e ela com uma tranquilidade única, começou a limpar o corte.

_Viu,  o corte foi pequeno, sangrou muito porque deve ter atingido um vasinho, eu vou sobreviver.

_Engraçadinha... _deixa que eu faço o curativo.

Limpei o corte com cuidado e após terminar o curativo, guardei o material.

_Quer ficar aqui na sala ou vai para o quarto?

_Eu quero que a minha namorada me beije.

_Vou fazer um café e..._Não entendi, você falou o que?

_Eu não consigo passar nem mais um minuto sem beijar você.

_Aline, você bebeu, não quero que faça nada que possa se arrepender.

Eu ainda estava sentada na mesa, e aproveitei a altura perfeita em que estava e abracei o corpo da Nicole, puxando ela pra perto de mim. Segurei o rosto dela com as duas mãos e olhei nos olhos dela.

_Eu só quero que você me beije.

Eu não podia e não queria resistir a um pedido daqueles. Tomei a boca da Aline em um beijo cheio de saudade. Segurava a cintura dela não permitindo que ela se afastasse, enquanto ela as mãos dela passeavam pelas minhas costas provocando calor, arrepios e um sentimento de alivio por ter a mulher que eu amava outra vez nos meus braços.

Quando paramos o beijo para podermos respirar, ela me olhou nos olhos, fazia carinho no meu rosto enquanto a outra mão segurava com firmeza a minha nuca, eu senti que naquele momento ela estava passando por cima de muita coisa pra tentar salvar o nosso amor.

_Eu amo você de uma forma que você nem imagina, mas essa é a primeira e ultima chance que eu te dou. A partir de agora trate o nosso relacionamento como um cristal, se você deixar ele quebrar...

_Eu também te amo muito, muito mais do que pensei, te perder seria a mesma coisa que desistir de mim mesma.

Abracei Aline, apertei ela em meus braços, chorávamos em silêncio, ninguém além de nós duas sabia o quanto era difícil recomeçar, principalmente ela que estava passando por cima de muita coisa,  pra poder nos dar outra chance.

Ela estava com a cabeça apoiada no meu ombro, e eu fazia carinho no cabelo dela, adorava sentir o cheiro, a maciez.

_O pé está doendo?

_Não, só que vou tomar banho, vai molhar o curativo.

_Eu te ajudo a subir, você toma banho e depois eu faço outro.

No quarto ajudei Aline a separar uma roupa e fui com ela até o banheiro.

_Enquanto você toma banho aqui, vou tomar no outro banheiro e depois vou fazer um café. A porta vai ficar aberta, qualquer coisa grita.

_É impressão minha ou você está fugindo de mim.

_Claro que não mocinha, mas se você não tomar um café bem forte, vai acordar com uma baita ressaca. Se não conseguir tomar banho por causa do vinho e do corte, eu te ajudo.

_Consigo sim, vai lá.

Tomei um banho rápido e fui fazer o café, quando voltei para o quarto de Aline com uma xícara na mão, ela já havia tomado banho e estava terminando o curativo novo, parei no meio do cômodo e fiquei observando a cena.

Aline vestia um baby doll preto, penteava o cabelo, e não percebeu a minha presença, parecia mais tranquila, o que me deixou menos apreensiva.

_Quer comer alguma coisa?

_Estou um pouco enjoada, sem fome e com sono.

_Toma o café que eu vou secar o seu cabelo.

_Não sabia que você manda bem com secadores?

_Claro que não, mas é melhor você não dormir com o cabelo molhado.

Enquanto secava o cabelo dela, falávamos sobre coisas leves.

_Quer dizer que a Flavinha foi sua cumplice?

_Não fica brava, ela fez apenas o que eu pedi.

_Eu sei, a Karine é que não gostou muito, mas elas se entendem. Flávia não quis ir ao hospital, disse que iria esperar você voltar.

_Eu quero que ela venha trabalhar comigo, preciso de uma secretária particular para organizar as minhas coisas no hospital e ajudar o Rick.

_Ela vai adorar, e eu fico muito feliz com a sua atitude, e quanto ao carro, vou devolver, não posso aceitar um carro daquele como presente, é muito caro.

_Podemos falar sobre isso depois?_ falou com o dengo de sempre.

_Sim, mas não vai fugir.

Enquanto secava o cabelo dela, ia mexendo o mesmo com a mão e esse chamego deixou ela sonolenta, e quando eu percebi que ela não ficaria muito tempo acordada, desliguei o secador e organizei a cama para que ela ficasse confortável. Olhei mais uma vez o pé dela, minha preocupação era que o corte ficasse inflamado.

_O vinho deixou a senhorita relaxada, provavelmente vai dormir a noite inteira, caso sinta dor, me chama.

_Não vai dormir aqui?

_Melhor não, fico com medo de machucar o seu pé.

_Fica, é um corte simples, eu estou bem, mas dorme aqui essa noite.

Como resistir a um pedido daqueles, como resistir a aquela mulher dengosa e linda. Desde que demos o primeiro passo para uma reconciliação eu decidi ir pelo tempo dela, não queria forçar a barra e fazer besteira, mas do que eu já tinha feito. Liguei o ar e apaguei as luzes, as portas já estavam todas fechadas. Entrei embaixo do edredom, e quando fiquei na posição que sempre dormia, senti ela se aninhar nas minhas costas e colocar o braço na minha cintura. Entrelacei a minha mão na dela e puxei fazendo com que os nossos corpos ficassem mais próximos. Ter ela outra vez perto de mim era uma sensação única, e faria o impossível para que essa reaproximação fosse definitiva.

Fim do capítulo