CAPITULO 41
Esther corria velozmente na mata, sentindo o cheiro de cumaru impregnado em seu pelo. Era um cheiro paradisíaco, que a levava a adentrar cada vez mais a densa floresta e ao mesmo tempo a arrastava de volta para o caminho que o carro da afilhada seguia, levando consigo a índia.
Sandy, esse era o nome por que a afilhada a tinha chamado. Era o nome da descendente indígena que estava na beira da lagoa se banhando da mesma forma que veio ao mundo, e que belo exemplar de mulher. Sua loba tinha ficado encantada e a mulher tinha ficado toda derretida com sua loba. Fez carinho, cheirou seu focinho, abraçou apertado e montou.
Que sensação maravilhosa ser montada por alguém quando a pessoa não estava usando nada. Não que qualquer outro ser vivente tenha tido a ousadia de passar a perna por cima de sua loba, que muitos diziam ser neurótica e impaciente, isso quando não a chamavam de louca e estranha por ter um olho azul e outro amarelo, isso só na forma de lobo. Toda a sua linhagem tinha essa falha genética para os humanos, mas, para as bruxas, era uma qualidade. Diziam que podia ver em dois mundos diferentes e fora justamente essa diferença que encantou a índia.
Ao longe, Esther presenciou o carro parar em frente à casa sede e, na frente da casa, estava o casal de alfas, esperando descer Nara, sua companheira e Sandy. Todos a cumprimentaram, mas o mais estranho era que seu primo A. Django estava com sua família também. O que diabo estava acontecendo ali? Por que todo mundo abraçava sorridente a índia? Por que seu primo estava com os dentes de fora, sorrindo feito um abestalhado enquanto segurava a mão da sua índia?
r13; EPAAAAA, pera aí.... r13; Esther assustou-se com o próprio pensamento. Desde quando aquela humana era sua. Que loucura era essa que estava passando por sua cabeça?
Caminhava de um lado a outro, mas sempre olhando para os lados onde todos estavam reunidos. Foi assim que viu seu primo passando o braço possesivamente por sobre os ombros da humana e, nesse momento, grunhiu e rosnou. A humana imediatamente olhou para o lado da floresta onde ela estava e foi o suficiente para fazer com que ela corresse em busca da casa onde morava com sua parabatai.
Ananya Kalli juntou várias pastas de exames que tinha espalhado em cima da mesinha de centro e já estava se encaminhando para seu quarto, onde pretendia dar mais uma olhada nos exames de sangue dos humanos que trabalhavam na reserva. A maioria estava reclamando de febre e dor no corpo. Como os sintomas eram muito parecidos, pediu que todos, incluindo os familiares e amigos, fizessem o exame. Pelo que vinha olhando, a cepa era a mesma. O mesmo vírus vinha infectando os seres humanos. Até pela manhã, tinha que soltar um alerta e colocar todos em quarentena para evitar um desastre pior.
Sentiu um puxão na sua ligação com sua parabatai e ficou em alerta. Esther estava com problemas. Colocou as pastas em cima do balcão e abriu a porta. No mesmo instante, uma loba preta com olhos bicolores entrou, olhou para ela e saiu. Em poucos segundos, duas lobas corriam em direção à lagoa.
Enquanto isso, na sede do alfa.
r13; Então ficamos assim: amanhã muito cedo, Esther vem para ver sua mente. Vamos entrar em contato com o jovem Alex para trazer a mãe da Amkaly. Do resto, daqui pra frente, meu pai toma de conta r13; Nara explicava a Sandy, que parecia estar incomodada com o braço de A. D. em seu ombro. Ao perceber, Nara fez a oferta de modo que parecesse casual. r13; Se preferir, você pode ficar aqui conosco. O que não falta são quartos de hóspedes. Aqui mesmo na reserva tem casas desocupadas ou em construção. Você pode escolher uma e ficar o tempo que quiser.
Sandy agradeceu com um sorriso tímido.
r13; Nada disso. Com todo respeito ao senhor e à senhora, meus alfas, acho melhor ela ficar comigo. Temos muito o que acertar. r13; A. D. segurava carinhosamente as mãos de Sandy, que, com jeitinho, retirou-as delicadamente, o que foi percebido por Nádia, que estava mais distante com o marido e toda a família de A. D.
r13; Eu vou aceitar a hospitalidade. Hoje foi um dia muito longo. Amanhã a gente conversa. Eu tenho certeza de que você e seu filho vão se dar muito bem. Ele vai gostar de ter um pai. r13; Depois disso, A. D. não teve mais argumentos.
r13; Gente, vamos deixar que os dois conversem, eles têm muito que pôr em dia. Querida, a Ermelinda vai ficar à sua disposição. Não se sinta com vergonha de nada. Boa noite.
r13; Boa noite, senhora, e muito obrigada por me receber em sua casa.
r13; Que é isso, não fiz nada demais. Os lobos e suas famílias sempre serão bem-vindos à nossa casa. Mais uma vez, fique à vontade. — Nádia se levantou, puxando o marido, que imediatamente se levantou, sendo seguido por Nara e Amkaly.
Quando todos se despediram, os quatro subiram para seus aposentos, deixando o casal na sala. Ao perceberem estar sozinhos, foram para o jardim na frente da imensa casa.
r13; Tem certeza disso? Eu tenho muito pra te explicar. O porquê eu não assumi você e meu filho. Não imagina o quanto me arrependi — disse A. D.
r13; Isso são águas passadas. A Nara me explicou e, mesmo se ela nada tivesse dito, não faria diferença. Não sou dada a romantismo e essa coisa de ser laçada não aconteceu comigo.
r13; Mas eu te mordi e você carrega minha marca. Só não te reivindiquei por que fui um frouxo e fiquei apavorado com tudo que eu estava sentindo.
r13; Mesmo carregando essa marca, eu não te pertenço. Aliás, segundo um amigo e bruxo, essa marca que eu tenho não é a marca de um macho. É uma marca de família, de linhagem, e, como não estou laçada, eu carrego a marca da sua Família e não a sua. Eu convivo com lobos e sei que uma mulher híbrida e laçada não fica muito tempo longe do parceiro e eu, como vê, já vivo muito bem há 30 anos. Portanto, não espere que eu seja sua mulher. Entre nós, o máximo que pode acontecer é uma boa trans*.
r13; Sei nem o que dizer. Eu idealizei tanto esse dia e agora... r13;A. D. estava sem chão, sem nem saber o que pensar. r13; Mas eu respeito sua decisão. Caso mude de ideia, é só perguntar onde eu moro. Todo mundo vai dizer.
r13; Então até amanhã. r13; Sandy estendeu a mão, mas ele a puxou e, sem que ela pudesse evitar, beijou-a na boca. Em beijo rápido. E, quando Sandy o empurrou, ele sorriu e se transformou em um lobo marrom, olhou dentro dos seus olhos e correu, uivando. Outros lobos responderam. Sandy queria saber o que eles diziam. Depois iria perguntar a Nara.
Ficou mais um pouco ali, apreciando a noite. Quando olhou para o lado da floresta, lá estava aquele lindo lobo que vira à tarde na lagoa. Sentado nas patas, olhando em sua direção.
r13; Vem cá, meu lindo, vem r13; chamou Sandy.
O lobo andou devagar. Chegando bem próximo, parou, sentou sobre as patas e ficou encarando-a. Mesmo sentado, a cabeça chegava à altura dos seios de Sandy, que não teve muito trabalho para abraçar aquele lobo que parecia ser um dos que vivem isolados, sem família. Talvez por isso mesmo despertasse o seu lado maternal.
r13; Você mora por aqui? Por que está sozinho por essas bandas? Já sei. Está namorando uma loba e está vindo da casa dela, estou certa? Claro que uma coisa linda como você não poderia ficar solteiro por muito tempo. Eu vou entrar antes que uma fêmea venha atrás de você e crie confusão. Eu sou hóspede do seu alfa. Vá pra casa. Não fique andando por aí.
O lobo ficou todo de pé e o peso de seu corpo fez com que Sandy desse um passo atrás, escorando-se na pilastra do jardim. O lobo ficou inteiro entre seus braços, afundando o focinho nos cabelos dela, que não teve outro jeito a não ser fazer carinho na cabeça dele. Quando desceu, olhou dentro dos seus olhos — o que parecia ser característica dos lobos daquela reserva, olhar a alma das pessoas, ou como se quisesse guardar sua imagem e seu cheiro — e foi embora, uivando. Outros lobos responderam e mais uma vez ele uivou. Um uivo único que a arrepiou dos pés à cabeça.
r13; Minha nossa senhora, que lobo é esse? Cruzes, deu até um calor nas partes de baixo, credo. r13; Ficou se abanando e olhando para o lado por onde o lobo tinha seguido.
Nesse momento, do outro lado da rua, próximo à floresta, uma linda loba malhada passou olhando-a de cima a baixo, como se estivesse examinando-a, e a impressão que tinha era de que a loba sorria para ela. Por isso mesmo, sorriu e cumprimentou-a com um aceno. A loba fez uma reverência e seguiu o caminho do lindo lobo, uivando. O outro respondeu. Sandy não sabia explicar o que a levava a crer que aquele uivo era do seu lobo, mas sabia que era. Seu corpo avisava e respondia a seu chamado.
r13; Bonito, não é? r13; Sandy quase caiu com o susto que a voz da Nara causou, quebrando o silêncio da noite.
r13; Lindo, adoro a calma daqui. A Jana, quando falava da reserva onde sua companheira morava, muitas vezes chegava a chorar de saudade. Ela dizia que nunca veio aqui, só conhecia pelas imagens que dividiram na ligação. Seu sonho era que a filha fosse criada aqui com a mãe. Nas visões de Amkaly, ela desenhava exatamente esse local onde eu estou e a floresta à minha frente, com lobos espalhados por todo canto, ela trazia essas lembranças gravadas na memória do DNA. Falando nisso, onde ela está?
r13; Tentando entrar em contato com os gêmeos outra vez. Ela acha que, se conseguir sonhar, a menina vai dar mais detalhes.
r13; Como é a companheira da Jana? É bonita como ela diz?
r13; Ela acabou de passar aqui. Estava aqui olhando pra você, veio te conhecer. A sua presença aqui mexeu com a cabeça dos lobos. Todos estão falando da sua chegada.
r13; Ah! É? E o que eles dizem? r13; Ela não queria demonstrar curiosidade, mas não deu para evitar.
r13; Você sabe que a nossa audição é sensível, de modo que o vento levou a conversa que teve com o A. D. e, quando ele falou que a companheira dele chegou, todos tiraram onda com ele, que, em resposta, mandou todo mundo se lascar. r13; Nara ria com a situação.
r13; E a companheira da Jana estava falando com quem? Porque ela falava com um lobo em especial e eu já vi esse lobo duas vezes. Quando eu cheguei na lagoa e agora, quando estava conversando com A. D. r13; Sandy observou que Nara Shiva a olhava com a cabeça pendida para o lado, igual o outro lobo fez, como se estivesse tendo a certeza de algo que ela não sabia o que era.
r13; Bom, quanto a isso, você vai descobrir sozinha, mas já vou logo adiantando. Eu fiquei muito feliz. Aliás, todos estamos muito felizes com a sua vinda para a reserva. Agora vem, vamos entrar, que amanhã o dia vai ser longo. A Ermelinda arrumou um quarto ao lado do meu. Espero que não se incomode de ouvir a cama fazendo barulho durante a noite, ou pela manhã. r13; Sandy olhou para Nara, compreendendo o sentido das palavras, e riram alto.
Fim do capítulo
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