Logo após o ocorrido, enquanto a Aline socorria a namorada, um Igor furioso entre em casa esbravejando.

_Aquela filha da mãe não perde por esperar, vou acabar com a raça dela, ela jamais irá colocar a mão no que é meu.

_Vou vasculhar a vida daquela desgraçada até encontrar algo pra esfregar na cara da minha irmã, vou transformar a vida dela em um inferno.

Igor andava em círculos dentro escritório, com um copo de whisky na mão, era visível o descontrole dele. Durante a briga ele ficou tão desnorteado que não lembrava da presença da Fernanda na casa da irmã. E enquanto isso ela tentava se acalmar, e acalmar as crianças que acabaram presenciando a parte final, quando a Nicole já estava desmaiada.

_Mamãe porque a Nick, estava no chão e a tia nina estava chorando. _ Vitória questionava com os olhos cheios de lágrimas.

_Meu amor, a tia Nick ficou um pouquinho dodói, e a nina ficou preocupada, mas elas estão bem, a tia nina levou ela pra tomar remédio no hospital.

_Então o papai também está dodói, porque ele tá bravo e a boca dele tem sangue.

_O papai machucou a boca, mas a mamãe vai colocar remédio.

_Agora a mocinha já tomou banho, tá cheirosa, e vai dormir pra mamãe poder ir cuidar do papai, tá certo.

Quando a Fernanda saiu do quarto da Vitória, o Gabriel estava parado no corredor, e ele seria mais difícil de enrolar.

_O meu pai bateu na Nick porque ela tá namorando a minha tia.

_Eu ainda não sei o que realmente aconteceu na casa da sua tia, vou conversar com o seu pai e com a sua tia, e prometo que tento te explicar depois, pode ser?

_Tá bom!

_Ótimo, agora já pra cama rapaz.

_Te amo mãe.

_Eu também meu amor.

Ficar com as crianças para tentar acalma-los serviu para que Fernanda ficasse mais tranquila e pudesse conversar com o marido, o motivo da briga era obvio, Igor não aceitava que a irmã estivesse namorando uma mulher, mas provavelmente o motivo real era muito maior. Fernanda precisava entender o que estava acontecendo pra poder ajudar de alguma forma. A atitude do Igor era inadmissíveis, esse lado truculento do marido era totalmente desconhecida para Fernanda, e ela jamais apoiaria a postura dele em relação a irmã.

_Podemos conversar_ Fernanda abriu a porta do escritório encontrado o Igor ainda alterado.

_Desde quando você sabia? Descobriu no dia da festa ou já era conivente com essa palhada a mais tempo.

_Primeiro você vai se acalmar e baixar o tom da voz.

_Apoia esse namoro ridículo?

_Sua irmã é adulta, ela não precisa que eu ou quem quer que seja apoie as escolhas dela, quem decide com quem se relacionar é ela, nossa obrigação é respeitar.

_Acha mesma que a Nicole gosta dela, é claro, que ela quer dar um golpe.

_Como consegue julgar sem conhecer ela, isso chega a ser ridículo e vergonhoso.

_Vergonhoso é como você está se comportando, é triste ver você se voltando contra a única família que você tem, já não basta o tanto que a Aline sofreu com a morte dos pais de vocês, agora você resolve transformar a vida dela em um inferno.

_Vai ficar mesmo do lado dela, você é minha esposa tem que apoiar minhas decisões.

_Apoio o que for coerente, o que for para o bem da nossa família, jamais vou apoiar essa atitude, esse preconceito absurdo contra a sua irmã.

_Vou provar que essa garota não vale nada, vou oferecer muita grana pra ela sumir, a primeira vez ela não entendeu o meu recado.

_Você está me dizendo que ofereceu dinheiro pra ela se afastar da Aline?

_Ofereci, mas ela recusou.

_Eu não conheco você, a pessoa por quem eu me apaixonei era outra completamente diferente. Eu sinceramente não sei o que dizer. Vou deixar você sozinho pra que possa repensar em tudo que fez, você poderia ter matado aquela garota, tem noção da gravidade dos seus atos.

_Ela me agrediu primeiro, queria que eu fizesse o que.

_Eu queria que você respeitasse a sua irmã, eu quero que você a apoie no que ela precisar, pois foi isso que ela fez por você a vida inteira.

_Apoiar nunca, aceitar menos ainda.

_Se você continuar com essas atitudes não é só a sua irmã  que você vai perder. Vou deixar suas coisas no quarto de hospedes, tenha uma boa noite.

Para todos, a noite foi longa, enquanto Igor passou a noite em claro tentando achar uma forma de acabar com o namoro da irmã. Aline tentava descansar, para no dia seguinte começar a se dedicar integralmente a namorada.  Seria o mínimo a ser feito, embora sua dedicação não apagasse as atitudes do Igor, era o mínimo que ela poderia fazer.

Quando recebi alta, sai do hospital cercada das pessoas que eu amava, e de uma certa forma esse gesto de carinho e de cuidado por parte dos meus amigos era reconfortante.

Apesar de tudo que havia acontecido, jamais passou pela minha cabeça culpar a Aline, eu fui o alvo direto do Igor, mas com certeza a dor física que eu senti, jamais poderia ser comparada a dor psicológica e emocional que ela estava sentindo.  Descobrir esse lado do irmão dela, traria muitas consequências, e eu estaria do lado independente do que viesse a acontecer.

Aline pediu que Karina fosse dirigindo o carro dela, e que Flávia fosse no banco da frente, e nos duas fomos no banco de trás, eu fui o caminho inteiro com a cabeça no colo da Aline, e mesmo assim por mais cuidado que a Karina tivesse, todo movimento mais brusco, provocava uma fisgada na minha cabeça. O médico havia alertado que nos próximos dias alguns sintomas seriam comuns, dor de cabeça, enjoos e tontura seriam comuns, mas caso houvesse alguma coisa além desses sintomas, seria necessário voltar para o hospital com urgência.

Em casa já deitada confortavelmente na minha cama, e após ter tomado os remédios, já estava sentindo a dor de cabeça diminuir. Até então eu não sabia exatamente o que tinha acontecido, lembrava vagamente da discussão, do soco que dei no Igor, mas depois disso não conseguia lembrar-me de nada. Lembro também de ter acordado no hospital e a Aline estar do meu lado.

_Amor, pega água pra mim por favor.

_Esta com fome, quer uma fruta?

_Só água mesmo.

_As meninas irão trazer um colchão, é melhor eu dormir no chão, tenho medo de machucar você.

_Nem pensar, vai dormir comigo, você quase não se meche durante a noite.

_Depois resolvemos isso, só quero que descanse, creio que em dois ou três dias estará bem.

_Já está querendo pedir demissão do cargo de  enfermeira?_ falei para descontrair o ambiente.

_De enfermeira sim, porque quero ver você bem, mas de namorada essa função é exclusivamente.

_Deixa essas coisas aí deita aqui perto de mim, sinto sua falta.

_Não sai do teu lado um só minuto, tive tanto medo, não me perdoaria se alguma coisa acontecesse com você.

_Sabe a culpa não foi tua, eu deveria ter saído, ter vindo embora e ter deixado ele falando sozinho.

_Mas ele estava errado, não tinha o direito de destratar vocês, a casa é minha.

_Não vamos falar sobre isso agora, só preciso de você perto de mim.

_Eu jamais vou te deixar, e ele vai ter que aceitar isso.

_Pode esquecer o seu irmão e me beijar, porque ainda não comemoramos o pedido de casamento.

_Você lembra? _Aline falou com o rosto corado.

_Acha que eu esqueceria?

Cinco dias após o ocorrido na casa de Aline, eu já estava totalmente recuperada, não apresentei nenhum sintoma além do que era previsto. Durante a semana inteira Aline ficou cuidando, e as vezes que precisou sair, sempre pedia pra Karina ou Flávia me fazer companhia. Porém um fato começou a chamar a minha atenção, a impressão que eu tinha é mesmo estando a semana inteira juntas, alguma coisa estava estranha, o carinho era o mesmo, o cuidado e o amor eram evidentes, porém a química parecia ter mudado, algumas vezes tive a impressão de que estávamos convivendo como amigas, além dos beijos nada mais tinha acontecido, até mesmo pra evitar esforço.

Senti Aline mais fechada, talvez por carregar uma culpa que nem mesmo cabia a ela. O pior de tudo era não saber o que realmente se passava na cabeça dela, e ficamos a semana inteira nesse impasse. O clima era tão estranho que em nenhum momento conversamos sobre o que havia acontecido, o que seria natural, até mesmo porque eu não quis ouvir da Karina esperando que ela abordasse o assunto, mas Aline não disse nada.

_Vai mesmo pra casa hoje? _falei não conseguindo mais me omitir.

_Preciso amor, cheguei de viagem vim pra cá, depois aconteceu tudo aquilo e vim cuidar de você, tenho algumas coisas pendentes.

_Tipo, a conversa com o seu irmão?

_Essa é a principal delas.

_O que você decidir eu te apoio.

_Como assim, o que eu decidir?

_Eu não preciso decidir nada, amo você e se ela não quiser conviver conosco, eu não pensarei duas vezes em me afastar da construtora e me dedicar somente ao hospital.

_Você não pode fazer isso, é o seu irmão, vocês administram tudo juntos, não pode simplesmente deixar tudo pra trás.

_E eu posso desistir de você, de nós?

_Quer que eu carregue a culpa por separar vocês dois.

_E você quer que eu faça o que, espere ele te machucar de novo, se eu não tomar uma atitude ele não vai parar, eu nunca vi aquele olhar no Igor.

_Se o problema sou eu paramos por aqui, não quero ver você sofrendo por ter que escolher entre nós dois, seria cruel demais.

_Não faz isso amor, me escuta _ Aline tentava me abraçar.

_Se acalma, vamos fazer o seguinte: durante uma semana, você vai resolver as suas coisas, conversar com ele, se dedicar ao hospital, e eu vou procurar emprego, depois sentamos e conversamos.

_Nicole, você tá pedindo um tempo, ainda não fizemos um mês de namoro e você já quer um tempo.

_Mais ou menos isso, será apenas para colocar as coisas no lugar, pensarmos, será bom pra nós duas. Foi tudo muito rápido, e sabíamos que essa paixão avassaladora teria consequências.

_Paixão, é isso que sente por mim.

_Não dificulta as coisas Aline, estou tentando dizer que precisamos ir com calma.

_Se é isso que quer, vai ter o tempo que pediu _falou pegando a chave do carro, a mala, e saiu sem olhar pra trás.

Ver Aline sair daquela forma, fez com que o meu mundo desabasse de uma só vez. Mas, eu não podia permitir que ela se afastasse do irmão, e principalmente das sobrinhas, eu iria preferir cortar a minha própria carne do que ver ela cortar a dela. Depois que ela conseguisse se entender com o irmão, talvez nosso namoro ainda tivesse uma chance de sobreviver.

Fim do capítulo