CAPITULO 06
Capítulo 03
— Amkaly Aruna, meu nome é Amkaly. —A ruiva falou com a recém chegada que olhava tudo com cuidado.
—Consegue se lembrar como aconteceu o acidente?
—Eu vinha no ônibus na parte de frente próximo ao motorista, conversando no celular com minha mãe. Na hora que o motorista desviou de uma vaca que atravessava a pista, ele bateu na árvore.
—Vaca que vaca? Tem certeza que era uma vaca? —Nara olhou fixamente achando que a garota não estava bem da cabeça, a área da agronomia ficava a três horas de onde estavam, e todos os animais viviam sendo vigiados, não tinha como uma rês desgarrada fugir.
—Mas é claro que tenho eu conheço vaca ainda bem que a gente já tinha atravessado a ponte. A porta do ônibus abriu e eu caí na beira da pista e escorreguei barranco abaixo desse lado. Eu ouvi gritos, acho que a galera que veio lá no fundão caiu dentro do rio. Eu caí do ônibus na hora que ele bateu e vim rolando até chegar aqui. Um raio bateu nessa árvore e ela caiu na hora que eu me levantei. Caí com dor na minha perna tem um pedaço da arvore enfiado na minha perna que acho que também está fraturada
Mostrou a perna, e Nara Shiva ficou de quatro para olhar o ferimento. Amkaly achou linda a forma concentrada que a garota olhava para sua perna, como se pudesse ver por dentro da sua carne. Estava olhando com a cabeça de lado, examinando tudo tão próxima que dava para sentir sua respiração quente perto da sua perna. De repente, a garota se ergueu tão rápido que não deu para acompanhar o movimento, só sabia que ela estava bem próxima do seu rosto e estava com aquele sorriso lindo enquanto explicava:
r13; Você tombou feio, mas ainda bem que veio para esse lado do leito. Aquela outra margem é cheia de animais ferozes, como onça, tigre, leão, e tem quem diga que até urso tem por lá. — E com um sorriso descarado apontou para o local do qual falava e a garota ficou pensando se era verdade ou não acabou por acreditar que a “Jane da selva “deveria estar mentindo so para deixa-la mais apavorada.
Nara Shiva caminhou para as proximidades da mata rasteira ali perto e ficou mexendo nos arbustos, procurando nos matos folhas de uma planta especifica que já tinha visto por ali das vezes que veio pescar no rio, era ótima para estancar o sangue. Acabou encontrando o que procurava. Pegou uma planta e examinou a folha pontuda de “tanchagem”, planta usada para cuidar dos ferimentos de soldados na Segunda Guerra Mundial, onde seu pai havia servido quando moço.
Examinou a qualidade da planta em busca de parasitas, não os encontrando. Cheirou toda a folha e, no final do talo, lambeu a frutinha que ficava na ponta, tendo certeza da maturação do fruto. Satisfeita com o resultado, começou a cortar com os próprios dentes e cuspiu o sumo, doce e amargo ao mesmo tempo, que caiu na sua boca. Assim que descascou tudo, deixou em cima de uma pedra. Pegou outra folha, enrolou e foi à margem do rio, onde encheu a folha com água e levou de novo para perto de garota chamada Amkaly, que, sem Narra Shiva perceber, não tirou os olhos do que a garota estava fazendo de maneira bem concentrada – parecia seu pai no laboratório examinando os frascos com coleta de sangue ou de qualquer outro material colhido para exame. Seu pai era dono de um laboratório particular e amava o que fazia.
Voltou a realidade com a voz da que comparou com a versão do Tarzan em forma de mulher se aproximando.
r13; Vou tirar a árvore de cima da sua perna. Quando eu fizer isso, ela vai jorrar sangue como um balão cheio de água e furado. O que eu estou tentando te dizer é que sua perna vai jorrar sangue, mas será rápido, eu vou estancar com aquela folha ali, tudo bem? — Apontou para a planta descansando na pedra.
r13; Espera! Como é que você sabe que essa planta é boa e pode parar o sangramento? Você não é medica e nem tem cara de quem estuda botânica. Além do mais, aquela plantinha é muito feia para servir para algunha coisa. — Ela estendeu a mão para tocar o braço de Nara Shiva enquanto argumentava, mas foi obrigada a soltar na mesma hora, quando sua mão tocou na pele da garota, recebeu uma descarga elétrica, como um choque, seguida de um formigamento correndo nas suas veias. Nara Shiva sentiu a mesma coisa.
Nara examinou o rosto da garota para conseguir entender o que seu corpo estava enviando como sinal ao ser tocado pela estranha. Nada na garota denunciava arrogância ou que ela estivesse querendo machucá-la de alguma forma. Queria ver se ela estava sendo irônica, mas seus sentidos de loba diziam que a garota estava só com medo – as batidas do coração dela denunciavam, na verdade.
r13; Bem, eu ainda não sou médica, mas vou ser médica neurocirurgiã e sou grande conhecedora de botânica. E, sim, eu estudo botânica; sim, na minha reserva, é obrigado, faz parte da grade curricular. Biologia botânica zootécnica, estudo da terra, meteorologia, essas coisas. E eu já estou no terceiro círculo, portanto sei muito bem o que estou fazendo. Toma, morde isso. — Jogou um pedaço de madeira para a garota enquanto erguia a árvore e a jogava para o lado.
Numa velocidade incrível para os olhos da garota acompanhar pegou a folha com água, lavando o ferimento, colocou um grande pedaço da planta que descansava na pedra na boca, mastigando bem, e com a mão tentou segurar o jorro de sangue. Tirou a mão vagarosamente. Onde ia descobrindo, cuspia dentro do corte um pouco da saliva misturada com tanchagem moída e apertava para dentro do ferimento com a mão desocupada. Sua saliva agia rapidamente, fazendo o corte fechar depressa e se misturando na corrente sanguínea da garota.
Amkaly gemia de dor e não tirava os olhos da garota cuidando da sua perna. Parecia uma selvagem cuidando da presa. Desejou que sua mochila não tivesse sido perdida na queda, queria filmar no celular aquela garota incrível e selvagem lhe fornecendo os primeiros socorros.
Nara Shiva continuava estancando o sangue e enchendo o ferimento com a planta em pedaços miúdos. Sua boca e todo seu rosto estavam sujos de sangue das vezes em que foi preciso mastigar a erva. Em dado momento, seus cabelos caíram em seu rosto, tirando-lhe a visão. Sacudiu a cabeleira para trás e, com as mãos sujas, deu um nó na parte de trás do cabelo, ficando mais confortável.
O vento e os cabelos balançando trouxeram o mesmo cheiro de madeira e terra molhada, dessa vez mais forte, o que fez com que os olhos de Amkaly fechassem lentamente.
Estava quase terminando, faltava pouco. O corte era grande, mas não tinha sido em local perigoso e de grande risco, como a veia aorta. Tinha sido entre um músculo e outro, grande o suficiente para romper algunhas artérias, o que tornava o processo mais delicado.
O vento trazia uma brisa suave, levantou a cabeça para olhar o céu e viu que não choveria nos próximos cinco minutos. Amarrou seu cabelo de qualquer jeito e voltou a fechar o corte com sua saliva, terminando logo em seguida. Limpou as mãos no corpo mesmo e olhou ao redor. Sentiu a mesma sensação de estarem sendo vigiadas. Olhou em todas as direções e mais uma vez não viu ninguém, elas estavam sozinhas. Sentou ao lado da garota, que queria dormir, e puxou assunto. Pretendia deixá-la próximo a estrada. Não podia sair da floresta, era muito arriscado.
Deu um pulo, ficando em alerta. Ouviu galhos quebrando e passos vigorosos se movimentando com cuidado. Sua loba tomou a frente, se abaixou nas patas traseiras, com o focinho rente ao chão. Chegava a babar, todos os seus dentes à mostra enquanto rosnava olhando para a mata no local onde o intruso apareceria a qualquer momento.
O animal saiu da mata saltando no ar e encontrou um lobo na posição de luta. Teve que reconhecer naquele momento que era o mais fraco e não fez questão de querer a presa dos lobos. Os dois animais se encaravam e rosnavam, andando em círculos, um querendo que o outro admitisse ter sido derrotado sem de fato ter havido uma briga. Nara Shiva uivou mais forte e o cachorro reconheceu ter perdido. Saltou mais alto, entrando na mata e correndo.
Amkaly não queria acreditar no que seus olhos estavam vendo. Dois cachorros, um branco, que há poucos minutos falava com ela, e um marrom, menor do que o branco, porém tão feroz quanto. Os dois entraram mata adentro e, quando menos esperava, Nara voltou vestida da mesma forma que saiu e com o mesmo sorriso.
Era como se sua cabeça o quisesse pregar uma peça, aliás, acreditava piamente que estava delirando. Pronto, era isso mesmo, nada do que via ou pensava ter visto foi real, tudo não passou de imaginação da sua cabeça. Estava fraca, tinha perdido muito sangue. Só queria fechar os olhos e dormir. Talvez, quando acordasse, estivesse na sua cama quentinha.
Nara Shiva ergueu o rosto, sentindo o tempo que estava mudando rápido demais – uma hora o céu ameaçava ficar azul e límpido, em outro momento mudava tudo outra vez e nuvens pesadas ameaçavam cair em segundos. Não tinha o tempo que queria. Ela poderia andar dias na chuva que nada acontecia – não gripava nunca –, mas a garota não suportaria enfrentar uma tempestade, pois tinha perdido muito sangue e estava muito fraca. Mesmo assim, tentaria fazer o trajeto o mais rápido possível. Ia chamar a garota para irem andando quando percebeu que ela estava sonolenta.
r13; Não vá dormir, por favor. Já, já, eu posso te remover sem perigo do ferimento abrir. Vou deixar você perto da sua casa ou do seu colégio. Não posso sair da floresta, portanto me ajude. Onde é melhor pra você? — Encarava a estranha.
Estava muito próxima, sentada na grama e segurando os próprios joelhos, com o corpo todo virado de banda para ter uma visão completa da garota quase adormecida.
r13; Eu estou com sono... Acho que vou desmaiar... Você cheira a madeira com terra... —falava arrastado e baixinho. Só a audição perfeita de Nara lhe permitia entender tudo.
Ao ouvir tal confissão, sorriu de peito aberto ao perceber que a ruivinha tinha sentido o cheiro de sua loba, esta, por sua vez, pulava e saltava mostrando contentamento por ter sido reconhecida, queria de todas as formas tomar a frente e assumir seu lado animal.
Nara ficou de pé, impedindo a transformação.
Fim do capítulo
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