TO VIVA!!!!!
Covid não me pegou gente >< Mas a saúde mental nesses tempos de pandemia ficou comprometida por longos períodos.
Nem vou pedir desculpas pq eu nem sei como me desculpar, eu nem acho q tem desculpa kkkkk pq eu sumi mesmo kkkk, mas não fiquem muito brava ok? Pfvr.
Mas então, já fiquem avisados aqui nas notas iniciais mesmo, vou retornar com a publicação de Who You Are quinzenalmente, ou seja, todo dia 01 e todo dia 15, então fiquem com os olhos bem abertos que eu vou finalizar a trajetória do Arthur esse ano!
É isso gente,
Bjs e até mês que vêm
;]
Capitulo 35 - O Currículo
Fazia duas semanas que Jill e eu havíamos tido aquela conversa. Eu havia convencido ela a me deixar ajudar eles a montarem um currículo e distribuí-lo em plataformas online além deles o levarem até agências de empregos. Ela já havia comentado comigo todas as coisas com as quais seu tio já havia trabalhado na vida e, bem, eu tinha uma opção interessante. Aparentemente ele havia trabalhado como segurança em uma boate a uns 10 anos trás, antes deles se mudarem para cá, e dois dias atrás eu havia descoberto que Alex estava abrindo um processo seletivo para encontrar um novo membro para a equipe porque Reed, um dos mais antigos na nossa equipe de segurança, estava pedindo demissão para procurar um serviço fixo onde não tivesse que viajar porque a esposa estava para ter um bebê e ele queria poder estar mais próximo na criação do filho.
Combinamos que eu iria para a casa dela depois da aula levando meu notebook para que pudéssemos fazer o currículo da melhor forma possível com as informações que o tio dela teria sobre os ex-empregadores. Eu não tinha muita certeza de que ela havia conversado com seu tio, ela não havia me dito nada, então quando a porta da frente do pequeno apartamento no segundo andar de um prédio no subúrbio se abriu após eu bater na madeira já estava preparado para uma recepção não agradável. Foi Jill quem abriu, minha amiga me deu um sorriso sem graça e passou a mão pelos cabelos curtos tirando-os da frente de seu rosto enquanto me dava passagem para dentro do lugar. Eu a segui depois da porta ser fechada e trancada, minha mochila no meu ombro direito. Entramos na sala e eu o vi pela primeira vez deitado num velho sofá de dois lugares em frente a uma TV ligada em um programa aleatório. Ele me encarou, tinha os mesmos cabelos negros e lisos de Jill, mas os olhos eram castanhos. Antes dele se levantar com uma expressão irritada eu pude notar a barba rala por fazer, o pulso envolto em ataduras e alguns curativos na sobrancelha e no rosto.
- Quem é esse garoto? – ele perguntou, a voz não tão grave quanto sua postura poderia sugerir – Achei que o combinado era que não teríamos visitas desconhecidas nessa casa – ele completou encarando minha amiga que soltou um suspiro cansado como se esperasse aquela reação.
- Difícil você achar que alguém é conhecido quando se recusa a conhecer qualquer um, não é Tio? – ela respondeu cruzando os braços, ela estava usando uma blusa de mangas mais larga que parecia ter sido um vermelho e que agora só estava muito desbotado – Esse é o Arthur, é um amigo. Arty, esse é meu tio Martin Laars.
- É um prazer conhecer o senhor – me adiantei estendendo a mão, mas ele não devolveu o gesto e apenas encarou a sobrinha ainda sério, eu apenas recolhi a mão percebendo que a situação não seria muito tranquila.
- O que o garoto faz aqui? Vocês vão fazer algum trabalho? Podia ter avisado antes que eu não estaria em casa ou ao menos teria ficado no meu quarto – ele resmungou se virando para pegar alguns remédios que estavam na mesa de centro da sala, aparentemente para sair do cômodo.
- Arthur e eu não vamos estudar nada – Jill falou andando até o tio e afastando os frascos das mãos dele para devolvê-los ao lugar onde estavam antes – Ele veio aqui para fazer algo por mim. Para ajudar a gente.
Obviamente que Martin Laars não reagiu nada bem àquela declaração. Ao que parece ele e a sobrinha eram muito mais parecidos do que ambos gostavam de admitir. Houve uma pequena troca de farpas e palavras irritadas; as vozes se ergueram e eu apenas me mantive em silêncio, apesar de tudo eles não pareciam estar realmente bravos, era mais como se Martin estivesse se sentindo insultado e Jill tentando não se irritar com a intransigência do mais velho.
- Chega, Tio Martin! – ela finalmente se estressou o bastante erguendo ainda mais a voz – Arthur está aqui só para nos ajudar a montar um currículo decente pra você! Não é nada demais. Ele apenas tem um computador que podemos usar e conhece algumas formas de distribuir um currículo online. É só isso! Não tem sentido essa sua reação.
- Eu não quero esmolas Jill! Você sabe muito bem que não vou aceitar algo assim, eu sou capaz o bastante de conseguir me virar sozinho! – ele respondeu pronto para sair da sala sem nem levar os remédios.
- Só que o senhor não está sozinho – eu falei, meu tom não foi alto como o deles apesar de não ter sido baixo tampouco, mas acredito que foi o fato de eu ter me posicionado que fez com que ambos paralisassem me dando a chance de continuar – Eu não o conheço, mas eu conheço Jill e eu sei o tipo de pessoa que ela é. E, pelo pouco que sei da história dela, é óbvio que o senhor teve grande contribuição na criação dela para que ela se tornasse a pessoa que é hoje – a alça da mochila escorregou pelo meu braço e eu a soltei com cuidado no chão ao meu lado porque meu computador estava ali dentro, então voltei a alternar meu olhar entre os dois, mas focando mais em Martin – Nas últimas semanas ficou claro que algo estava acontecendo com Jill. Eu, como amigo, não poderia só ficar assistindo sem fazer nada para ajudar. Ela se preocupa muito com o senhor, é toda a família que ela tem. E, apesar de eu saber que ela não é o tipo que demonstra, eu consigo perceber o quanto ela se importa. Por isso eu digo que o senhor não está sozinho, tem sua sobrinha com você, sempre e para o que quer que for porque eu acredito que ela nunca te abandonaria. Além disso, apesar de eu ter chegado a tão pouco tempo na vida da Jill, eu a considero uma das minhas melhores amigas e eu não deixo um amigo sozinho nunca. É por isso que eu estou aqui, por ela e, dessa forma, por você também. E isso não tem nada a ver com pena ou esmola ou algum tipo de generosidade pura e simples. Não vim trazer uma salvação para o futuro de vocês, eu vim apenas tentar ajudar, pela amizade e lealdade que é parte de quem eu sou, do que minhas mães me ensinaram a ser. Não posso forçar que aceite a ajuda, mas acho válido que entenda que ela – apontei para minha amiga que estava de novo de braços cruzados e, acho que se ela não fosse quem é, provavelmente estaria com algum tipo de expressão emocionada no lugar da séria – Ela não vai te deixar sozinho porque vocês são a família um do outro.
Houve um silêncio longo depois disso. Martin parado a dois passos do sofá e Jill ainda de braços cruzados segurando a expressão séria, mas não mais irritada. Eu me abaixei para pegar minha mochila e quando me ergui a joguei sobre o ombro outra vez.
- A escolha ainda é sua – disse o encarando com seriedade – Vai aceitar a ajuda de quem te quer bem ou vai ignorar a lealdade e que sua sobrinha está mostrando pela família de vocês?
Aquele silêncio foi bem longo, Jill tentou não se mover, demorou um pouco até Martin se decidir, ele baixou a cabeça soltando um suspiro antes de voltar para seu lugar no sofá e se sentar. Jill me indicou a poltrona ao lado do sofá de dois lugares, ela deu a volta nos móveis para se sentar entre seu tio e eu.
Meu primeiro passo a seguir foi abrir meu notebook e então começamos a escrever o currículo de Martin Laars. Não muito mais do que 20 minutos depois paramos, haviam três referências de empregos, uma de mais de 10 anos atrás e duas outras de cinco anos, todas referentes a serviços de limpeza ou empacotador. Eu parei, encarando os dois, pensando como iria questionar esse ponto. Precisávamos de referências mais atuais e, principalmente, mais referências além dessas. Tomei coragem e os questionei sobre o assunto, eu já havia falado um pouco com Jill sobre os trabalhos do tio dela e sabia que ele havia passado por vários lugares nos últimos anos. Aparentemente havia algum problema envolto nisso porque os dois se entreolharam e a expressão de Martin ficou tensa, eu diria que até que ele ficou um pouco tímido, como se envergonhado de algo, mas nem um pouco disposto a contar. Houve uma pequena conversa silenciosa entre os dois, Jill chegou a se virar para o tio, percebendo que ele não estava confortável comigo eu decidi dar alguma privacidade a eles.
- Posso usar o banheiro? – perguntei sem esperar a resposta de ambos e coloquei o computador sobre a mesa de centro antes de me levantar.
Jill me indicou onde e eu vi o agradecimento no olhar dela por eu deixá-los sozinhos. Achei o banheiro e fechei a porta, não era que eu precisasse urgentemente, mas também não fique apenas parado lá. Demorei mais do que o necessário mesmo assim e apertei a descarga do vaso sanitário antes de levar minhas mãos para garantir que eles percebessem que eu estava saindo do banheiro e voltando a sala. Quando entrei os dois já não estavam mais conversando, mas Martin olhou rapidamente para Jill, parecia estar buscando uma confirmação para algo que eu vim a saber em seguida o que era.
- Eu não tenho como comprovar minha experiência em várias coisas porque quando trabalhei em outros lugares não fui registrado como funcionário – ele falou incomodado com o assunto e eu tentei pensar numa forma de resolver a situação.
- Não precisa da confirmação em si de que você foi registrado – falei tentando amenizar a situação, era interessante que ele tivesse as comprovações, mas não era essencial – Tudo o que precisamos é colocar os contatos dos empregadores para que possam entrar em contato e confirmar suas referências.
Percebi a nova troca de olhares entre os dois e Martin parecia tenso e contrariado, mas ele voltou a me encarar soltando um suspiro e senti um certo ar de desânimo e desistência na voz dele.
- Não acredito que meus antigos chefes vão falar algo bom de mim ou sequer confirmar que trabalhei nesses lugares – ele me falou, mas logo desviou o olhar encarando o piso embaixo da mesa de centro; eu esperei que houvesse uma explicação, mas ela não veio.
- Eu acho que preciso entender o porquê – falei em um tom brando tentando fazer com que eles não recuassem no assunto, eu tinha que ter a referência que Jill havia citado sobre ele ter sido um segurança em algum lugar, era fundamental se eu queria ajudar como pensei - Não quero pressionar vocês, mas eu acredito que eu precise entender o que está acontecendo.
Parecia que eles ficaram ainda mais desconfortáveis, Martin principalmente. Não havia contado a minha amiga sobre a vaga da qual eu tinha conhecimento, então ela parecia não estar entendendo totalmente minha insistência, mas eu percebi que havia algo acontecendo, algo sendo escondido, e não me senti confortável em continuar isso sem saber o que era. Por fim o homem mais velho pareceu desistir e eu vi os ombros caírem.
- Eles não vão querer admitir que me contrataram – ele disse e era notável o tom triste na voz – Pelo mesmo motivo que me demitiram. Por eu ser quem sou – ele me encarou e eu senti que queria ter sustentado o olhar, mas seus olhos caíram sobre a mesa antes que ele continuasse revelando algo que eu não tinha esperado ouvir – Porque eu sou um homem trans e todos me demitiram assim que descobriram.
Houve um pequeno choque da minha parte, eu definitivamente não esperava nem pela revelação tão rápida e menos ainda pelo conteúdo dela, mas imediatamente senti minha revolta surgindo. Fechei os olhos respirando fundo para não me exaltar e encarei os dois.
- Então acho que esses lugares não merecem ser divulgados nem em um simples currículo – falei olhando para Martin que ergueu o olhar para mim confuso e surpreso, não era hora de eu ficar bravo com a ignorância alheia, por isso sorri calmamente – Vamos então pensar se existe algum lugar que você possa se lembrar de ter trabalhado e sido bem recebido, sim? Precisamos de mais um pouco de informação, o máximo que pudermos pelo menos.
Quando desviei o olhar para Jill ela estava com um sorriso contente, eu diria quase orgulhoso. Martin ainda ficou um pouco confuso e sua surpresa o deixou sem jeito. Dava para perceber que ele não sabia se ria, sorria ou tentava manter a expressão séria. Por fim conseguimos acrescentar mais duas referências, tão antigas quanto as outras, mas uma delas era a que eu estava esperando. Aparentemente, a quase 15 anos atrás, Martin havia trabalhado como segurança em uma casa de shows em Nevada, que era onde ele e Jill haviam morado na época em que a mãe dela ainda era viva. Conversamos um pouco mais e eu já distribuí o currículo por algumas plataformas online. Expliquei a Jill como ela poderia consultar e tornar a enviar os currículos e deixei um pen-drive com eles com uma cópia para que Martin pudesse distribuir eles impressos por onde ele encontrasse vagas abertas.
O que eu não havia contado aos dois, e não contaria a não ser que algo acontecesse, era que eu sabia de uma vaga para segurança que estava aberta na equipe de Alex. Eu havia ouvido uma conversa dela com alguém ao telefone, em que combinavam que alguém deixaria os currículos dos candidatos à vaga no escritório dela, em casa, para que ela escolhesse quais passariam ou não para as próximas fases da seleção. Meu plano era simplesmente imprimir um dos currículos de Martin e colocar no meio de todos os outros. Não avisaria ninguém e se ela o escolhesse seria por ele próprio e não por mim.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Marta Andrade dos Santos
Em: 16/07/2021
Atitude humana!
Resposta do autor:
Muito bem criado esse menino
;]
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 15/07/2021
Olá! Tudo bem?
Saudades — e muita — de ter Alex e Erika — e também do Arthur, ok? — nas minhas leituras. Que bom que voltou. Fico feliz com o seu retorno e torcendo muito para que agora tudo de certo até o final.
É isso!
Post Scriptum:
''Quando você voltar outra vez veja se você me traz uma maçã bem verde, a mais verde que você encontrar, uma maçã que leve tanto tempo para apodrecer que quando você voltar outra vez ela ainda nem tenha amadurecido direito. ''
Caio Fernando Abreu,
Jornalista, Dramaturgo e Escritor.
Resposta do autor:
Oiiie.
Saudades deles tbm, e de vcs aqui nos comentários. Esteve meio conturbada as coisas aqui pra mim, mas eu estou organizando pra voltar em definitivo sem ter mais esses sumiços. Espero que não me abandonem hehe.
;]
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