Com certeza, até agora, esse foi o capítulo mais dificil de escrever. Ele mostra a maturidade da Nicole, a capacidade que ela teve de não julgar, de se perimitir.
Capitulo 22 - Saudades
Se antes de começar a reunião eu já estava nervosa, depois que terminou, eu não conseguia nem mesmo raciocinar. Um problema que poderia ter sido resolvido, tomou proporções desnecessárias e a reunião foi finalizada em pouquíssimo tempo e sem uma solução para o problema.
A tensão entre os irmãos era evidente, e mesmo buscando a opinião dos que estavam presentes, era visível que a decisão final, seria da Aline. O Igor deixou isso claro, quando questionou o fato dela tomar partido, optando por ficar do lado do que era mais sensato. O que me surpreendia era o fato de Aline mostra certeza da sua decisão, e nunca ter deixado transparecer. Embora não tenhamos nos aprofundado nesse assunto quando estivemos juntas, ela pareceu muito decidida quando bateu de frente com o irmão. Ele por sua vez, parecia estranho, estava visivelmente estressado, e não fez questão de ser cordial. Muito pelo contrário, teve um comportamento desnecessário quando se dirigiu a irmã, deixando ela constrangida a ponto de ir embora sem falar com ninguém. Apesar de saber pouco sobre a relação entre os irmãos, ficou claro que alguma coisa estava errada. A conversa entre os dois a portas fechadas, me deixou muito preocupada com ela, com a nossa situação. Minha sexto sentido me alertava que ele estava desconfiado de alguma coisa.
Achei melhor deixar ela a vontade, dar um tempo para ela esfriar a cabeça. Por isso, assim que a reunião foi finalizada, fui para o almoxarifado, levando comigo um projeto para começar a preparar as instalações para o inicio da construção do esqueleto. Eu não tinha a menor ideia se ela iria me procurar, se telefonaria, e esse tipo de situação para quem é ansioso, é terrível. Algo que me deixa mal, são histórias mal resolvidas. Isso de sair batendo porta, um falando e outro se fingindo de morto, não rola. Gosto de DR, gosto de olhar no olho e resolver o problema, e hoje a Aline fez exatamente o contrário, e como a decisão de fugir foi dela, eu iria esperar o tempo dela.
A semana se arrastava, e eu procurei mergulhar de cabeça no trabalho. Um dia depois da reunião, sentei com o restante da equipe, mestre de obra, engenheiro, técnico de segurança e uma pessoa do RH, pedi também a presença de uma pessoa do administrativo, ou alguém que pudesse representar o Igor e a Aline e decidimos tomar uma atitude, pois o Igor estava viajando e a Aline provavelmente não iria aparecer. Obviamente não caberia a nós tomar decisões, nossa intenção era buscar a melhor solução para aquele impasse. Na parte da tarde, reunimos toda a equipe e passamos toda a situação, e depois de muita conversa, a equipe decidiu que realmente a melhor opção seria fazer como eu havia sugerido, uma hora extra antes e uma depois, ou seja, entrariam uma hora mais cedo e sairiam uma hora mais tarde e a empresa daria a assistência necessária.
Quando eu estava pegando minha mochila, entrou um rapaz, vi que era um dos que estavam na reunião e explicou sobre a parte burocrática, e disse que informaria ao Igor sobre a alteração do cronograma. Apesar de não ter falado com ele pessoalmente, de cara percebi que ele é gay. Ele até tentava disfarçar, mas pra quem tem o gaydar apurado, era evidente.
_Oi, você deve ser a Nicole_ Falou me avaliando
_Sim, muito prazer, você é...
_Ricardo, melhor amigo e braço direito da nina.
_E quem seria nina?
_Dra. Aline Caire, a morena gostosa que você está tentando arrastar para o brejo.
_Entendo que seja amigo dela, e que ela tenha falado sobre nós, mas isso não te dar o direito de falar comigo como se eu tivesse forçado, ou induzido ela a ir pra cama comigo. Estou apaixonada por ela, e apesar dela ter passado a semana inteira sem dar noticias, isso não quer dizer que eu vou desistir dela, muito menos por sua causa, ou de quem quer que seja.
_Parabéns racha, passou no teste!!! _falou estendendo a mão na minha direção.
_Cara, você é maluco, ou está testando minha paciência.
_Pelo que me contaram, ela quebrou o pau com o irmão, e pelo que eu conheço da gostosa, deve tá mal pra caramba, ela é louca pelo irmão.
_Eu imagino...
_Então faz alguma coisa_ falou enquanto ia ate a mesa e rabiscava alguma coisa em um papel e me deu.
_Vai atrás dela, eu conheço ela mais do que a mim mesmo, e sei que ela não veio por medo. E tem mais, se você fizer ela sofrer...
_Relaxa, sou louca por ela_ Falei abrindo um sorriso.
Achei melhor procurar ela somente no final de semana e pra não dar muito na cara, levaria os papeis da compra das estruturas que usaríamos para iniciar o trabalho em altura.
Eu não suportava mais ficar longe da Aline, a semana inteira sem ver a morena estava me deixando péssima, e por mais que eu estivesse triste com a atitude dela, chateado por ela não ter confiado em mim, eu tinha a sensação que os meus sentimentos estavam guardados e intocáveis, e não seriam os problemas com o Igor, com a construtora que iriam mudar o que eu sentia por ela. Mesmo sabendo que nossas vidas poderia mudar muito quando todos soubessem que estamos juntas, quer dizer, eu acho que estamos juntas, ou pelo menos tentando ficar juntas, eu não pensaria duas vezes, em abrir mão do meu emprego pra ficar com ela. Naquele momento seria muito mais fácil pra mim, abrir mão de qualquer coisa por ela, até mesmo o do meu emprego, para ficarmos juntas. A possibilidade dela cortar os laços afetivos ou profissionais com o irmão por minha causa, estava fora de cogitação, jamais permitiria isso.
Depois do interrogatório da borboleta colorida, onde apesar de deixar bem claro que não admitiria que eu a fizesse sofrer, ele me deu o endereço dela e me convenceu a ir procura-la. Já havia pensando nessa possibilidade, e pensava em fazer isso nesse final de semana. Só precisava arranjar uma desculpa e conseguir o endereço. De início, iria apenas para ver como ela estava, e se ela desse abertura, iria conversar sobre nós duas.
Em algumas situações, eu era firme como uma rocha, mas tudo que estava relacionado a Aline, me deixava nervosa, apreensiva. Eu sabia exatamente o que queria, mas como nunca conversamos sobre relacionamento, eu tinha medo de estar sendo precipitada. Vivíamos em mundos completamente diferentes, os julgamentos seriam inúmeros, as acusações, as insinuações seria inevitáveis, mas estava decidida a conquistar a morena.
Esperar mais dois dias para ver a morena, me deixou uma pilha, e encontrei nas corridas e no trabalho a minha válvula de escape. Acordava cedo, corria por uma hora, ia trabalhar e só voltava pra casa quando já estava exausta, acabava saindo mais tarde todos os dias. Por esse motivo no sábado não fui trabalhar, precisa resolver minha situação com a Aline, saber o que realmente tinha acontecido e principalmente decidir o que faríamos a partir daquela conversa. A única certeza que eu tinha, é que seria impossível continuar da forma que estava.
Quando cheguei em frente a casa dela, desci da moto, e quando ia tocar o interfone, desisti e subi na moto de novo. Minhas mãos transpiravam, sentia um frio na barriga, sinal evidente de nervosismo. Mas já que estava ali, iria até o fim. Desci novamente da moto, e toquei o interfone, enquanto aguardava observei que pelo tamanho do muro, a propriedade deveria ser relativamente grande, e havia poucas casas construídas na rua, mas as que tinham, eram de alto padrão, o que não deveria ser diferente com a dela. Após cinco minutos aguardando, ouvi a voz de uma senhora avisando que abriria o portão para que eu entrasse. Estacionei a moto atrás do carro da Aline e me aproximei da senhora.
_Bom dia senhora. Meu nome é Nicole, sou engenheira na construtora, preciso que a Dra Aline assine uns documentos_ Falei apertando as mãos que estavam geladas.
_Bom dia minha filha, ela acabou de acordar, entre, vou chamar ela. Aceita um café?_ falou me observando
_Obrigada. Senhora desculpa a pergunta, mas não é perigoso abrir a porta para uma desconhecida?
_Vi você pela câmera, senti que podia confiar.
_Mesmo assim é perigoso.
Ela pediu que eu aguardasse, me levou ate o escritório e subiu as escadas, creio que foi até o quarto da Aline. Achei aquela atitude estranha, mas imaginei que teria seguranças e câmeras suficientes na casa, por isso a tranquilidade da senhora.
Estava distraída vendo algumas fotos, quando ouvi o barulho da porta sendo aberta, e quando virei, Aline estava parada me olhando com cara que quem não estava entendendo nada. Provavelmente, achou que seria a Alice, ou qualquer outra pessoa, menos eu.
_Bom dia Aline! Desculpa vir sem avisar. _ Falei hipnotizada.
Era incrível como ela conseguia ficar ainda mais linda a cada dia, estava um pouco abatida, mas continuava iluminada, perfeita.
_Nos reunimos com o pessoal, conseguimos o apoio de todos. Vamos começar a fazer hora extra na segunda, só preciso que assine esses papeis para firmar o acordo.
Mal terminei a frase, vi que escorria uma lágrima no canto do olho dela, e mesmo que eu não tivesse com a intenção de conversar, tentar fazer as pazes, a reação dela me desestruturou de uma forma que eu não consegui falar mais nada, sem que eu esperasse, ela se aproximou e me abraçou. Apertava tão forte que chegava a doer, e caiu em um pranto que partiu meu coração.
_Ei calma meu anjo!_ falei tentando me afastar um pouco pra olhar pra ela.
_Não sai por favor...
_Só preciso que se acalme, não vou embora, precisamos conversar.
_Eu sei que não deveria ter fugido daquela forma, muito menos ficar sem dar notícias_ falou ainda chorando
_Acha mesmo que foi a melhor solução? Tudo bem que estava nervosa, agitada, mas se tivesse ligado teria vindo ver você. Se não vim antes, e porque que queria te dar espaço.
Quando vi que ela estava mais calma, me afastei e a conduzi até o sofá. Ela sentou com os braços apoiados nos joelhos e segurando a cabeça com as mãos. Ali percebi que ela realmente não estava bem. Aos poucos ela foi se acalmando, e eu pedi que ela ficasse de frente pra mim, sentei dobrando uma perna em cima do sofá e olhando pra ela.
Eu sabia que a briga com o Igor tinha sido seria, caso contrário, ela jamais sairia daquela forma e ficaria dias sem dar notícias. Embora não tivéssemos definido o que tínhamos, estávamos apaixonadas, e isso era mais do que motivo para se estabelecer, mesmo que involuntariamente o mínimo de respeito e consideração. Sentia que a discussão tinha alguma coisa a ver comigo, eu não havia comentado nada com ela, mas a alguns dias, senti o olhar questionador de algumas pessoas na obra, e uma certa vez quando cheguei no refeitório pra tomar café, ao sentar em uma mesa os operários pararam de falar.
Somente agora, lembrei que o segurança provavelmente viu a situação do dia que ela caiu, e como aquele lugar era cheio de câmeras, provavelmente, mais alguém deve ter visto pelo monitoramento, e mesmo sem ter acontecido algo de concreto, as especulações deveriam ser muitas.
_Está mais calma, quer que eu pegue uma água?
_Não, só preciso que fique comigo, que não sai, que me escute...
_Vim aqui pra isso, os documentos foram só uma desculpa, estava morrendo de saudades, mesmo estando chateada com você.
_Eu já estava enlouquecendo, não conseguia fazer nada, só pensava em você, me perdoa.
_Para, não precisa pedir perdão, não cabe a mim te julgar, sei que aconteceu alguma séria. Não vim antes porque estávamos tentando convencer o pessoal a nos ajudar. Reunimos um batalhão, e conseguimos, a partir de segunda iremos começar os trabalhos as seis e finalizamos as dezessete. O Ricardo autorizou a contratação temporária de mais duas pessoas na cozinha...
_Quem?
_Ricardo, seu melhor amigo e braço direito, a borboleta colorida. _Falei imitando ele. Pedimos alguém do administrativo e do RH, e ele foi para a reunião junto com uma moça, muito bonita por sinal.
_Sério que ele fez isso, eu sabia que estava demorando, aposto de fez um interrogatório.
_Não só fez um interrogatório, como também me ameaçou, a única coisa boa é que ele me trouxe até você._ falei sorrindo.
_Ele assim mesmo, vai se acostumando, protege tanto que sufoca.
_Gostei dele, apesar de maluco, parece ser gente boa.
_Então estamos bem? Fala que não vai me deixar.
_Sim, e não, não vou te deixar, mas ainda precisamos conversar.
_Pode ser mais tarde.
_Pode ser quando eu voltar, estou indo ver uns amigos em uma cidade aqui perto, só precisava deixar os documentos e te ver. Ter certeza que estava bem.
_Fica! _ a Lurdinha foi visitar a irmã dela. Teremos tempo de sobra pra conversar e você me faz companhia, descansa, sei que se enfiou no trabalho. Parece exausta, pegar a estrada seria perigoso.
_É melhor não, seu irmão pode aparecer e não vai entender nada.
_Não vou deixar meu irmão interferir nas minhas escolhas, nem que para isso seja necessário deixar a construtora. Para mim seria até mais fácil cuidar apenas do hospital. Dividindo-me entre os dois, acabo não fazendo tudo como eu gostaria. E preciso cuidar da minha vida, me dedicar mais ao hospital, viajar, quem sabe me especializar, e agora tem você.
_Espera, espera..._Falei, fazendo um gesto com a mão para que ela parasse.
_Como assim Aline, tá querendo dizer que o seu irmão, meu chefe, esta sabendo que nós ficamos. E você fala isso com essa naturalidade?
_Nicole, é a minha vida, não posso deixar ele interferir. Ele não falou nada, mas jogou algumas indiretas, quando for o momento vamos conversar com ele.
_Eu sei, entendo você, mas a situação é delicada. E parece que todos já estão comentando na obra. Não ouvi nada, de fato, mas é visível o comportamento de alguns.
_Vai dar tudo certo, confia em mim.
_Preciso acreditar que tudo vai dar certo _falei levantando do sofá e acolhendo ela em um abraço.
_Ainda não tomei café, me acompanha? a Lu deixou tudo pronto _falou me puxando pela mão.
Fim do capítulo
Eu só iria postar esse capitulo a noite, mas...vocês merecem esse mimo.
Um grande dia a todas.
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