Acordar cedo não era uma tarefa fácil, ainda mais quando a insônia é a minha companheira constante. Mas o primeiro dia em um novo trabalho, merece o meu melhor, ainda mais quando passei tanto tempo tentando me recolocar no mercado de trabalho.

Nos últimos meses, minha vida não foi nada fácil, e por quase dois anos, entre trancos e barrancos, venho tentando consertar mais uma vez, um velho coração que insiste em quebrar.

Meu nome é Nicole, tenho 35 anos, cabelos curtos, morena  clara, característica essa  que muitos duvidam que eu moro em Vila Velha no Espirito Santo, cidade que escolhi como Porto Seguro e pela qual sou completamente apaixonada. Engenheira de Segurança do Trabalho por vocação, apaixonada pela vida, por minha família, especialmente pelos meus sobrinhos. Sou a terceira dos quatro que a minha mãe criou com muito esforço, o que a tornou sem sombra de dúvidas a minha heroína.

Sou pernambucana raiz, amo o meu Nordeste, mas por ironia do destino acabei caindo de para quedas, nessa cidade maravilhosa, claro, tem suas imperfeiçoes, mas fui acolhida de tal forma, que decide aproveitar tudo que ela tem pra oferecer.

Contrariando a minha preguiça, pulo da cama, pois estou em cima da hora para a minha apresentação no primeiro dia na construtora. Como sempre acabei cedendo a mania de acordar e ficar ouvindo o barulho do mar, sentindo o cheiro da maresia, o que pra mim é quase como um ritual. Desde a primeira vez que acordei nesse pequeno paraíso chamado Barra do Jucu, uma pequena vila afastada de Vila Velha, fico pelo menos dez minutos na cama, cumprindo o meu ritual diário.

Conheci esse lugar através da minha ex-mulher, alguma coisa boa tinha que sobrar da nossa história, e uma delas foi ela ter me apresentado esse paraíso, mas, essa é uma outra história, para um outro por do sol...

Abro a janela do quarto,  e vou direto para o banheiro, tenho trinta minutos para chegar a construtora, isso quer dizer que um banho rápido e um café quente é o que me resta. Por sorte, deixei tudo organizado, já prevendo um atraso. Saí do banheiro e coloquei  uma calça jeans básica e uma camisa de mangas compridas, a velha bota, EPI mais do que essencial na minha profissão, capacete personalizado na mochila, junto com a carteira e o celular, e paro trinta segundos pedindo proteção para desempenhar minhas funções, principalmente a mais importante de todas, preservar a vida de todos que fazem parte da equipe.

Moro em uma pequena vila de apartamentos, a quinhentos metros da praia, no total são 8 apertamentos, como costumamos falar, uma vizinhança incrível, que com o passar do tempo se transformou em uma grande família, todos se ajudam, se  acolhem, protegem e os puxões de orelhas também são bem vindos. Cada um no seu espaço, mas sem deixar de “invadir” quando necessário o espaço do outro.

O proprietário da vila, o Carlão, mora em um dos apartamentos e se tornou o paizão de todos. De cara, fiz amizade com um casal de garotas, bem mais novas do que eu, Flávia tem 23 e Karina 27 anos.  Muitas vezes nós três ficamos ate tarde na praia, conversando, contando nossas aventuras pela vida a fora. Muitas vezes as duas, me apoiaram nos meus dias de dores pós término de um casamento falido.

Desço as escadas praticamente correndo, habito que ainda vai me causar problema, já perdi as contas de quantas vezes esbarrei em outros moradores, quebrei coisas. Digamos que uma característica bem marcante em mim é ser desastrada. Vivo derrubando coisas, e quando fico nervosa então, aí as coisas pioram.

Mal chego no portão principal, escuto um grito.

_ Vai sair sem tomar café ? _ Flavinha e sua mania de aparecer do além...

_ Estou atrasadíssima! _ Respondo já colocando o capacete.

_ Te amo, boa sorte!

_ Eu sei, mas deixa a Karina escutar isso.

_ Eu também te amo_ responde a maluca da Karina.

Como não amar essas criaturas ?

Subo na moto, uma 500 cilindradas preta, minha paixão, arrumo o capacete, coloco a mochila nas costas e sigo para o bairro de Itapuã, mas precisamente no terreno onde será construído um luxuoso edifício, o mais novo  empreendimento da construtora, local onde vou me apresentar, e será o meu local de trabalho por pelo menos dois anos.

Fim do capítulo