Capitulo 2 - Primeiro Dia
Percorrer a orla de Vila Velha de moto, ultimamente, era a minha maior terapia, e mesmo estando com pressa, ansiosa, era impossível não aproveitar aquele breve momento. Mesmo um simples passeio me trazendo tantas recordações de um tempo que eu achava que era feliz, tentava abstrair os pensamentos que tanto me machucavam.
Um percurso que faria em vinte minutos, infelizmente, ou felizmente, não seria regado com uma água de coco, mas com certeza, não faltariam oportunidades, já que nos últimos meses, por diversas vezes recusei convites de amigos, e nada mais justo do que retribuir a paciência, o carinho de todos com um luau, ou um churrasco regado a um bom pagode.
Tudo que eu venha a fazer por cada um deles, será mínimo, levando em conta tudo que eles fizeram por mim, afinal de contas, após o fim de um casamento e uma fase desempregada, onde a depressão parecia lutar bravamente contra tudo e contra todos, eu estou olhando essas pessoas, esse lugar, tive mais uma vez a certeza de que Deus se encarregou de colocar anjos em minha vida e esses anjos, Flavinha, Karina, Cristal, Kamila, Carlão e Nina , fizeram toda a diferença, salvaram a minha vida.
Ver toda a agitação da orla, por incrível que pareça, conseguiu me deixar menos nervosa, a ponto de desligar um pouco a ansiedade.
Quando cheguei em frente ao terreno onde seria construído o edifício, senti uma energia extremamente positiva, certeza de que a minha boa e velha intuição estava na ativa outra vez, característica de todo sagitariano, embora muitos não acreditem, eu nunca deixei a intuição de lado quando era algo relacionado a pessoas e trabalhos, tenho uma intuição muito aguçada, e já tomei grandes decisões, somente pelo fato de olhar pra alguém e intuir.
Como eu já estava com o crachá de identificação, prontamente, o portão foi aberto e eu entrei, e logo um senhor de cabelos grisalhos se aproximou.
_ Bom dia! _ a senhora deve ser a Dra. Nicole, o Dr. Igor avisou que a senhora começaria hoje.
_ Bom dia!_ cumprimentei o senhor, e de cara já percebi que era um conterrâneo, um Nordestino como eu.
_ Sim, sou a Nicole, o Sr. Só errou duas coisas...não sou doutora e muitos menos senhora, acha mesmo que sou tão velha?_ falei abrindo um sorriso largo e estendendo a mão.
_ Desculpa D. Nicole...
_Nicole apenas, Sr. Antonio, falei olhando para o crachá dele.
_ O Dr. Igor está aguardando no alojamento, a primeira porta é o escritório.
O terreno era imenso, o que já dava uma dimensão da magnitude do empreendimento, da estrutura que envolvia um projeto daquele porte. Impossível, não sentir orgulho da conquista de poder fazer parte daquele projeto.
Mesmo em fase de construção da estrutura do prédio, ou seja, a fundação ou alicerce, que serve para distribuição e sustentação do edifício, a movimentação de pessoas, já era de surpreender quem não estivesse acostumado com aquele ambiente. Claro que essa fase está longe de ser a primeira, antes disso, é feito o projeto, logo depois, o orçamento, e os serviços preliminares, que envolvem contratação das pessoas, aluguel ou compra de máquinas e todas as ferramentas e EPI´s.
Como a minha contratação demorou alguns dias para ser finalizada, eu acabei não acompanhando a fase mais importante da minha função, que é a compra de todos os equipamentos de proteção individual e coletivo, também não foi possível fazer um treinamento inicial, mas, como eu já tinha vários projetos elaborados, essa seria a parte mais fácil.
Por alto, arrisquei que a obra naquele dia teria pelo menos cinquenta pessoas envolvidas diretamente, fora, escritório, almoxarifado, cozinha, manutenção, limpeza, segurança e saúde, que contava com médico, enfermeiros, etc.
A medida que me aproximava do alojamento, mais precisamente do escritório, cumprimentei alguns operários, e apesar da dinâmica de tudo que envolvia aquele local, e de todos estarem sempre com pressa, ocupados, fui bem recepcionada, o que pra mim já era um bom sinal, pois o sucesso do meu trabalho exigia a colaboração em massa, e meu entrosamento com todos era de extrema importância.
Bati na porta que o Antônio havia indicado, e ouvi uma voz liberando a minha entrada.
Quando entrei, como de costume observei o ambiente, que mesmo sendo um lugar sem luxo, era muito organizado e confortável, com algumas mesas com inúmeros documentos, pastas, projetos e alguns objetos que se encaixavam perfeitamente naquele ambiente.
_ Bom dia, meu nome é Nicole, sou a nova Engenheira de Segurança do Trabalho, eu tenho hora marcada com o Dr. Igor.
_ Bom dia, ele já foi avisado e aguarda a Sra._ Falou uma jovem morena, bonita, que por sinal, parecia me “comer” com os olhos.
_ Posso entrar? _ perguntei tentando disfarçar o constrangimento inicial.
_Claro, e seja bem vinda.
Quando entrei na sala do Dr. Igor, ele estava se costas, analisando as imagens de um projetor, e ao ouvir o barulho da porta, se virou com um sorriso, que era a marca registrada do meu novo chefe.
Após uma breve conversa sobre os pontos mais urgentes, ele fez uma ligação e em questão de minutos entrou na sala um operário que era o mestre de obras do empreendimento, que tempos depois, se tornaria um grande amigo, e que de cara mostrou o quanto era competente e apaixonado pela profissão.
Mário conhece absolutamente todos os operários daquela obra e tratava todos de forma igualitária, sem distinção de cor, de raça, de cargo. Como falamos nesse meio, o Mário é os olhos do patrão.
Depois de visitar o local onde seria construído o edifício, a obra propriamente dita, fui para a outra parte do alojamento, onde ficava o escritório onde servia de base para os funcionários administrativos, o almoxarifado, a cozinha, consultório médico, banheiros, e um galpão onde era utilizado para as refeições de todos, e os operários utilizam para descansar, jogar baralho, dominó, ou simplesmente jogar conversa fora.
Fiz uma reunião breve com algumas pessoas, e logo após, fui ao almoxarifado conhecer o nosso estoque de EPI’s, fazer pedidos conforme a necessidade primária, e passar algumas orientações sobre a distribuição e fiscalização de todo material usado na segurança e proteção de todos os envolvidos na obra.
Aproveitei para agendar uma reunião com todos os operários, e o único momento apropriado pra conseguir reunir todos seria no horário de almoço, adiei a volta de todos as atividades para passar algumas orientações e alinhar um dia e horário especifico para iniciar os treinamentos. Que muitas vezes eram recebidos com certa resistência, mas que são essenciais para preservar a saúde e o bem estar de todos.
Eu sempre acreditei que a melhor forma de lidar com uma equipe de operários que trabalham na construção civil, é me colocar no lugar deles, entender suas dificuldades, suas limitações, seus sonhos, conhecer, por mínimo que seja, suas histórias.
A parte mais difícil da minha manhã, com certeza foi separar, organizar, e listar tudo que era preciso comprar, e mesmo não sendo uma tarefa obrigatória minha, era algo que eu sempre fazia questão de participar. E com a ajuda do Felipe, responsável pelo setor de almoxarifado, tudo ficou muito mais fácil. Entre, botas, capacetes, luvas, talabartes e uma boa conversa, tive a chance de conhecer um pouco de um jovem com sonhos infinitos, extremamente responsável e dedicado.
Antes do almoço, eu precisava urgentemente de um banho, e como estou mais do que habituada com esse tipo de ambiente, sempre trago na mochila tudo que preciso. O calor estava escaldante, e aparecer para uma conversa com os operários naquelas condições, seria no mínimo constrangedor.
Não foi difícil encontrar o vestiário, e quando entrei, dei de cara com a jovem secretária do Dr. Igor.
_ Oi!_ Preciso de um banho, pode ser aqui?
_Deve!_ É o nosso vestiário!
_ Eu ainda não sei o seu nome_ Falei de forma Natural
_ Alice_ respondeu me encarando_ o que fez com que o meu gaydar desse todos os sinais possíveis e imagináveis, afinal de contas, sempre defendi a ideia de que trabalho e prazer não se misturam, e quando se misturam o resultado nem sempre é bom.
Terminei o banho o mais rápido possível, e sai em direção ao refeitório, com a certeza de que era observada, só não queria e não iria olhar para trás.
Fim do capítulo
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