Capitulo 4
— Eu vou tomar banho primeiro. — Disse Tailine já remexendo em sua bolsa de viagem, procurando roupas.
— Não, os mais velhos primeiros. — Informou Ana Paula passando por ela com seu roupão branco e uma necessaire em mãos.
— Eu estou imunda! Eu rolei naquele chão imundo para proteger nossas vidas!
— Você é tão dramática. — Ana disse já dentro do banheiro, fechando a porta. — Prometo não demorar.
Tailine sacou o notebook e começou a enviar mensagens para os editores do canal, repassando as informações daquele dia, escrevia com um sorrisinho radiante, haviam conseguido um grande furo!
Ana Paula saiu do banho também pensando nisso, e foi logo comentando, enquanto enxugava o cabelo.
— Precisamos gravar amanhã para finalizar a matéria com essa revelação, Jorge vai ficar faceiro com nossas descobertas, que furo de reportagem, hein?
— Estava falando com ele e com Edneia, ficaram surpresos mesmo. — Rebateu Tailine, fechando o notebook.
— Ah é? Que rápida, você. É para ficar com o mérito sozinha?
— Por que você sempre pensa o pior de mim? — Rebateu ofendida Tailine.
— E posso esperar o que?
— Salvei sua vida hoje, que tal?
— Ok, agradeço seu gesto. Se importa com o barulho do secador?
— Vai fundo. — Respondeu e entrou no banho.
Já deitadas e com a noite avançada nas horas, as duas jornalistas permaneciam de barriga para cima observando o teto, as mentes cheias.
— O que Jorge respondeu? — Perguntou Ana Paula.
— Disse que fizemos um bom trabalho e que superamos as expectativas.
— No mínimo ele esperava uma briga generalizada na cidade, iniciada por nós.
— Acho que ele esperava que pedíssemos demissão.
— É, talvez. Que ridículo, somos duas repórteres competentes, vamos mostrar nosso potencial finalizando amanhã a matéria, vai ficar ótima.
— Vai sim, fomos bem. — Sorriu Tailine.
— Eu vi você tomando vários remédios, para que são? Desculpe se eu estiver sendo invasiva.
— Para desacelerar. Tenho ansiedade severa, síndrome do pânico também, nos últimos meses piorou, muito estresse, tive uma crise feia.
— Foi por isso que você faltou por uma semana no início do ano?
— Foi sim.
— Você tem hobbies?
— Não tenho tempo, sou casada com o jornalismo e...
— Namora com a verdade, eu sei, você sempre fala isso nos bastidores. Nosso meio é terrível mesmo, estressante demais, correria, ofensas, portas batendo na nossa cara, sem uma válvula de escape é complicado permanecer nesse ritmo por muito tempo.
Tailine ficou pensativa por um instante.
— Preciso de um hobbie, se as coisas continuarem como estão, não aguentarei, eu sou obcecada em correr atrás dos fatos. Você parece tranquila, o que você faz?
— As coisas ficaram mais tranquilas depois que tirei a profissão do topo das minhas prioridades. Já fui como você, não vale a pena. Sabe o que me distrai? Brincar coma minha filha, ela tem onze anos, e o melhor momento do dia é estar com ela, longe do celular, longe do notebook... A gente adora montar quebra cabeças juntas, quando estou em casa com a Yasmin eu esqueço que tenho uma profissão, é extremamente desgastante ser repórter de rua.
— Me empresta a Yasmin? — Disse Tailine, ambas riram. — Por que você continua lá?
— Porque preciso, o pai da Yasmin paga uma merreca de pensão, são muitos gastos...
— Seria melhor para você trabalho interno?
— Com certeza.
— A TV Central suga nossas almas...
— Já pensou em se dedicar a fotografia? — Perguntou Ana Paula. — Vi umas fotos lindas no seu Instagram, pode ser um bom hobbie.
— Eu gosto de fotografar... Mas não sou boa nisso.
— Não precisa ser uma fotógrafa excelente para praticar, e eu acho que você é boa sim.
— Posso fazer um curso, desses que sai um grupo fotografando a cidade e tal... Vou procurar cursos.
— Seria ótimo.
Tailine suspirou e disse:
— Vamos dormir, já é tarde.
— Vamos sim, boa noite.
— Boa noite. E tente roncar menos essa noite.
— Eu ronco porque você quebrou meu nariz.
— Sério?
— Sério.
— Me desculpe... — Pediu Tailine sem jeito.
— Ok.
— Eu não deveria ter feito aquilo, foi ridículo, você me perdoa?
— Isso é importante para você?
— É sim.
— Já perdoei.
— Obrigada. Queria que soubesse que eu não odeio você.
— Só não gosta de mim.
— Eu gosto, e te admiro, você é uma mulher incrível. — Disse Tailine com a voz baixa.
— Você está fazendo alguma piada que eu não entendi?
— Não, eu gosto sim.
Ana Paula não respondeu, num gesto discreto correu a mão para o lado e segurou a mão de Tailine sobre a cama. Não disseram nada, mas em suas mentes imaginavam que soltar as mãos seria a pior catástrofe que poderia acontecer naquele momento.
— Eu gostei quando você segurou minha mão lá na casa. – Disse Tailine.
— Eu também.
Silêncio.
— Ana, você é hetero?
— Essa é sua melhor cantada?
— Não.
Tailine virou-se e ficou por cima de sua colega, a encarou por dois segundos e disse:
— Tenho uma melhor.
E a beijou.
O beijo foi muito bem aceito pela outra parte, que custava a acreditar que aquilo estava acontecendo, mas estava adorando cada segundo.
Ana Paula virou para cima da colega, ergueu-se e tirou a parte de cima do baby-doll.
— Você achava mesmo que eu era hetero? Você é repórter investigativa.
Tailine gaguejou e finalmente respondeu.
— Você é uma péssima fonte.
— Tailine, você me flagrou olhando seus peitos hoje.
— Você estava olhando mesmo, não estava?
— Estava sim, do mesmo jeito que você está olhando os meus agora. — Riu.
Tailine subiu uma mão pelo abdome de Ana e passou a acariciar um dos seios.
— Eu estou um tanto enferrujada nisso, tudo bem?
— Está na hora de você pedir divórcio do jornalismo e tratá-lo apenas como bom amigo.
— Já pedi. — Tailine disse e inclinou-se para frente, a beijando enquanto Ana estava sentada em suas pernas.
A deitou delicadamente, tirou o que restava do baby-doll de Ana e subiu suas pernas com beijos, fazendo seus poros arrepiarem imediatamente.
Aquele dia repleto de emoções não poderia terminar diferente, com uma noite cheia de amor.
Ao acordarem com o despertador do celular de Ana, Tailine virou-se sonolenta para o interior da cama, Ana percebeu que ela a fitava, e virou-se na sua direção também.
— Aconteceu mesmo, não aconteceu? — Perguntou Tailine.
— Não notou que estamos sem roupas? — Percebendo o tom não amigável, Ana Paula tentou consertar. — Aconteceu sim, e eu gostei.
Tailine acariciou seu rosto com um semblante contente, sem dizer uma palavra. Ana chegou mais perto e a beijou.
— Esse é o verdadeiro furo de reportagem. — Tailine disse e riram. — Vamos, temos um grande dia pela frente.
— Quero que você fique com os créditos. — Ana comunicou.
— Não, a matéria é nossa, nós duas descobrimos.
— Graças a sua persistência e coragem. Sei que meu nome também estará creditado, mas quando perguntarem, vou dizer que o mérito foi todo seu, é merecido.
— Vamos fazer isso juntas.
Durante o dia, gravaram mais imagens na casa e voltaram a cidade para gravar na delegacia e com alguns moradores. A matéria foi ao ar naquela noite e foi um grande burburinho em todo o estado, o assunto esteve entre os mais comentados nas redes socias.
Todos os quatro funcionários voltaram para a capital no final da tarde, chegando de madrugada em suas casas. Na manhã seguinte, Jorge chamou novamente as duas em sua sala.
— Esperava nada menos que sangue e suor de vocês, mas não dessa forma, parabéns pela matéria, ficou excelente, trouxeram alguns patrocinadores de volta. — Ele disse.
— Colocamos nossas vidas em risco para investigar esse caso, Tailine quase levou um tiro, o reconhecimento agora é mais que válido, é merecido. —Disse com firmeza Ana Paula.
— Como vocês sabem, Ana Beatriz está de férias e Ferreti assumiu a apresentação do JMD, porém ele já disse que não quer continuar, portanto preciso escolher alguém para apresentar até o final do mês.
— Ana Paula é a melhor opção, Jorge. —Disse Tailine sem pestanejar, atraindo um olhar surpreso da colega ao lado.
— Que milagre é esse? – Riu Jorge.
— Quero aproveitar a ocasião para pedir que me coloque como repórter de rua.
— Por que?
— Eu me dei conta que gosto de estar onde a vida acontece, não dentro do estúdio, gosto de seguir a trilha da notícia, me sinto melhor na rua.
— Você que sabe, mas gostaria de ter sido uma mosquinha para saber o que aconteceu nesses dias em São Pedro do Passa Quatro, vocês voltaram tão mudadas.
— Apenas coisas improváveis aconteceram. — Encerrou Ana Paula, com um sorrisinho.
Três meses depois.
— Parece que Ana Beatriz pediu para sair do jornal. — Disse Ana Paula dentro da sala de edição, que estava vazia naquela manhã. — Talvez eu assuma.
— Seria ótimo! — Vibrou Tailine com um copo de café na mão. — O salário é bem maior, seria muito bom para você, tenho certeza que Jorge vai te chamar, você se saiu bem cobrindo as férias dela.
— Com o aumento eu poderia colocar Yasmin numa escola melhor.
— Já deu certo. — Tailine largou o copo e se aproximou de Ana, colando seu corpo no dela e dando um beijo. — Você merece.
— Yasmin perguntou se você vai lá em casa hoje à noite.
— Só Yasmin quer que eu vá? — Disse com um sorrisinho bobo.
— Não, estou contanto os minutos para ficar a sós com você de novo, dormir com você...
— Então eu vou, passo na minha casa e apareço na sua casa no horário de sempre.
— Nada de ficar trabalhando até tarde.
— Perdi esse hábito depois que me divorciei do jornalismo. — Riu. — Tenho uma pretendente muito mais atraente agora.
— Espero que esteja falando de mim.
Tailine a beijou.
— Te vejo mais tarde, pretendente.
No meio da tarde, Ana Paula se preparava para sair com a equipe de cinegrafia, seus dois colegas já estavam ao seu lado aguardando.
— Vamos? — Disse Tailine entrando com uma câmera fotográfica pendurada no pescoço.
— Onde você vai com essa câmera?
— Jorge autorizou que eu saísse com as equipes para fazer fotos, estou aprendendo a ser fotojornalista.
— Sério?
— Por que não unir as duas coisas? O jornalismo é meu bom amigo.
As duas saíram aos risos em mais um dia de trabalho, a pauta de hoje? O amor.
Fim
Fim do capítulo
Obrigada pelas leituras e comentários! Faz muito tempo que não escrevo nada, então foi um grande desafio!
Em breve juntarei as 4 partes em uma só.
Comentar este capítulo:
Zaha
Em: 13/07/2021
Oieee, darling!!!(Carol kkk)
Amei,amei, amei!!
Foi rápido o lance delas, mas o conto pedia isso. Tai n brinca em serviço!! Partiu logo pro beijoo..direta! E Paula me surpreendeu com Yasmin, mt lindinho!!!
Nunca pensei que Tai tivesse tanto estresse, que bom que encontrou seu lugar no mundo e um amor!!!
Até um novo contooo!!!! Volte com tudo quando puder!!
Beijoooo
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Zaha
Em: 13/07/2021
Oieee, darling!!!(Carol kkk)
Amei,amei, amei!!
Foi rápido o lance delas, mas o conto pedia isso. Tai n brinca em serviço!! Partiu logo pro beijoo..direta! E Paula me surpreendeu com Yasmin, mt lindinho!!!
Nunca pensei que Tai tivesse tanto estresse, que bom que encontrou seu lugar no mundo e um amor!!!
Até um novo contooo!!!! Volte com tudo quando puder!!
Beijoooo
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Gio
Em: 12/07/2021
Gostei!
Eu não consigo me lembrar de foi 2121 que me levou para "A aposta", ou se foi a partir dele que cheguei em 2121 *inserir aqui uma expressão pensativa*
Enfim, esse raciocínio era para dizer que embora a gente fique pedindo por sagas completas, de preferência trilogias com distopia, fantasia, intrigas, mistérios ou pelo menos alguns elementos de Sci-fi, nem sempre a gente precisa. (Mas né, gostamos).
Então, fique à vontade para escrever contos curtos também, em um desses pode surgir inspiração para uma nova saga e mesmo que não apareça, sempre é legal te ler *wink* (embora na vida real eu não seja capaz disso kkkk)
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