Anos depois...

— Ei! Olha pra cá, amor! Terra chamando!

— Mamãe!

Senti mãos envolverem uma das minhas pernas. Como por instinto, olhei para a frente, lembrando-me de onde estava. Minha esposa, sorrindo alegremente, com uma câmera fotográfica nas mãos e minha filha agarrada em minha perna na tentativa de chamar minha atenção.

— Um real por seus pensamentos! — Deu-me um beijo suave nos lábios servindo as taças sobre a mesa — Você passou o dia inteiro distante, com o olhar longe. Está tudo bem?

— Sim. Só estou nostálgica. Sonhei com o nosso primeiro encontro.

— Outra vez? — Perguntou sorrindo e alisando minha mão.

— Pois é! Mas dessa vez pareceu muito real. O estrondo da porta batendo ainda ecoa no meu ouvido.

— Eu fui muito boba. Me senti uma adolescente com medo de dar o primeiro beijo de língua. — Tirou uma mecha de cabelos do rosto sem perder a conexão com os meus olhos — Não queria acreditar no que tinha acontecido. Não achava possível ter me apaixonado por você de forma tão rápida.

— Não resistiu ao meu charme! — Afirmei sorridente.

— No caso, a sua falta de charme. Você se mostrou bem grossa com a recepcionista, foi grossa comigo inúmeras vezes e ainda me beijou sem nem pedir licença.

— Ah! Que inocente. — Gargalhei sendo seguida por ela — Você correspondeu ao beijo e tenho certeza que foi isso o que te motivou a fazer aquela oferta para o hotel. Deixou mamãe em maus lençóis para desfazer o acordo com os outros compradores. E ainda pediu para tratar da venda diretamente comigo. Você queria apenas me conquistar com aquela compra. Sei disso.

— Falando desse jeito, parece que planejei tudo antes das coisas irem acontecendo em uma sequência na qual não tive nada a ver. Foi a senhora quem fez tudo.

— Falei da venda apenas para você se hospedar. Precisava falar contigo ao menos uma vez.

— Que bonitinha! Depois diz que não me amava em silêncio.

— Tá bom. Confesso que amei você em silêncio por muitos anos. Você mexia com a minha mente. Antes daquele dia, eu te observava de longe. Pra você ter ideia, nem a sua voz eu conhecia. Porém, naquele dia, quando a escutei, tive certeza que era a melodia que faltava na minha vida para que eu fosse feliz. Em um ímpeto, resolvi te abordar da forma que julguei ser a mais sensata. — Respirei fundo beijando sua mão — E que bom que eu tive coragem de fazer tudo aquilo naquele dia ou então não teria a chance de estar ao seu lado agora e termos nossa família.

— Sou muito grata por você ter me devolvido a alegria de viver. Por ter dado cores aos meus dias, prazer em voltar para casa e o nosso bem mais precioso.

Se tivéssemos chamado, ela não teria atendido tão depressa. Enquanto minha esposa falava, nossa filha correu para nós, pulando em nossos colos como gostava de fazer desde que aprendeu a andar.

Sou muito grata ao universo e, principalmente, ao quarto treze do primeiro hotel que minha mãe comprou. Foi nele que roubei o primeiro beijo e também pedi a minha amada em casamento. Hoje, o hotel ainda é dirigindo pela fundação da minha mãe. Ela e minha esposa viraram sócias. Mudamos de cidade antes da nossa filha nascer, e sim, sempre que visitamos a cidade onde nos conhecemos ficamos no hotel da família e ainda nos hospedamos no quarto treze. Onde estamos neste momento.

— Eu te amo, Bárbara! — Me abraçou por trás, envolvendo minha cintura com seus braços e beijando levemente meu ombro.

— Você é o amor da minha vida. Muito obrigada por tanto!

— Vem! Nossa filha quer andar de bicicleta.

— Não! Está frio lá fora.

— Nem adianta vir com manha. Quem prometeu foi você. — Beijou meus lábios indo em direção a porta.

Não me cansava de olhá-la. Desde que nos casamos, a cada dia que passa me apaixono ainda mais por ela. O “sim” dela mudou a minha vida!

— Regina! — Me olhou assustada.

— Algum problema?

— Nada! Só queria te olhar outra vez.

— Boba! Vem. — Encostou a cabeça em meu ombro — Me assustou. Nunca diz o meu nome então achei que fosse algo sério.

— Sempre é, meu amor. Não me canso de te olhar. Te amo.

— Eu amo você!

Eu sou a mulher mais feliz desse mundo!

Fim.

Fim do capítulo