Ela é a sensação
Não sabia como ia agir mesmo depois da noite pensando no que iria fazer. Na verdade, não tinha o que podia ser feito além de pensar em como lidar com tudo isso.
Quando cheguei na sala, mesmo no segundo horário, não a vi, então voltei para a frente da escola.
— Procurando por sua amiga?
Era o porteiro. Já havia visto Amanda conversar com eles algumas vezes. Eles pareciam ser próximos, mas ele nunca havia falado comigo.
— Sim, ela veio hoje?
— Não – ele negou com a cabeça, voltando a tomar o achocolatado de caixinha que tinha em mãos.
— Certo... – balancei a cabeça.
— Não vai ficar pra assistir a aula?
— Não, eu... – dizia, receosa – Não estou muito a fim.
— Se ela aparecer, eu aviso que você estava procurando-a.
— Agradeço – disse, sorrindo, e voltei para a casa.
Liguei para Jude, que logo atendeu.
— Já sei, matou aula e ligou pra sua melhor amiga por que quer aprontar?
— Gosto do fato de que você me conhece tão bem...
— Aparece aqui em casa, vou estar te esperando.
*
— HÇŽi yún, vai com calma.
A pequena reunião na casa de Jude estava se arrastando até de noite. Havia bebida e cigarro o suficiente para todas que estavam ali, e eu segurava uma garrafa de vinho, que virava quente mesmo.
— Eu, com calma? – dizia, pegando um cigarro da sua carteira, limpando o vinho que escorria entre meus lábios.
— É sua segunda garrafa, caramba.
Revirei os olhos e acendi o cigarro na brasa do cigarro que ela tinha nos lábios.
— E?
— Eu te conheço – ela cerrava os olhos, se jogando no sofá – Aconteceu alguma coisa contigo.
Joguei a fumaça para cima, sentando ao seu lado.
— Estou ótima.
— Você simplesmente resolveu se embebedar por que está ótima? – ela me olhava de canto.
Dei os ombros, e ela suspirou pesado.
— Rolou alguma coisa entre você e a Amanda?
— Não quero falar sobre isso.
Levantei e, ainda virando o vinho em minha boca, caminhei até a sacada de sua casa, olhando para a vista. Traguei o cigarro profundamente, e expirei por um bom tempo.
— HÇŽi yún – disse Jude atrás de mim, ficando ao meu lado. Continuei em silencio, bebendo e Jude colocou a mão em meu ombro.
— Você está apaixonada por ela, não está?
Mordi os lábios, suspirando. Senti meus olhos umedecerem em seguida e fiquei em silêncio. Encostei-me no apoio da sacada, olhando para o lado.
— E se eu estiver? – dizia, murmurando.
— Qual o problema em estar? – Jude afagava meus ombros, pegando o vinho de minhas mãos.
— Nossa, são tantos... – franzi a sobrancelha, voltando a olhar para ela – Primeiro que ela nem deve gostar de mim assim.
— O que aconteceu entre vocês hoje, afinal?
— Nada, só levei ela na livraria e... – balançava a cabeça, tentando recordar dos fatos – Aí eu senti ela tocando na minha mão, e quando eu olhei pra ela, ela estava...Diferente.
— Diferente como?
— O jeito que ela me olhava era diferente, era como se ela... – respondi com certa vergonha – Ela desejasse aquilo, e eu gostei.
— E depois disso?
— Ela ficou sem graça, então eu pedi para que ela me deixasse em casa, e ela aceitou.
— E aí?
— E aí que... – dizia, ofegante – Quando ela me deixou, eu beijei o rosto dela.
— Sério? E o que ela fez?
— Eu não sei, eu entrei em casa e nem olhei para trás.
Passamos um tempo em silêncio, até que Jude voltou a falar, com um sorriso nos lábios:
— HÇŽi yún, ela gosta de você, tenho certeza.
— Ela é uma pessoa muito gentil e educada, pode ser só isso – tragava o cigarro, mordendo os lábios logo em seguida.
— E se ela estiver esperando uma atitude sua?
— Eu ter atitude? – perguntei, rindo.
— Você teve coragem de beijar o rosto dela, por que não teria de falar que gosta dela?
— Tenho medo da rejeição. Como vai ficar o clima se eu levar um fora?
— De fora você já entende – ela entregou a garrafa para mim – O negócio é se você não levar um fora.
Suspirei alto, e Jude segurou meus ombros, me virando para olhar para sua frente.
— Não fuja dos seus sentimentos, você sabe que isso não dá certo.
Olhei impaciente para os lados, e virei mais uma vez o vinho.
— Falo isso pro seu bem.
— Tá, tudo bem...
— Agora, porque eu amo muito você...
Jude puxou o vinho de mim, afastando-me de perto dela.
— É melhor parar de beber assim, ou acha mesmo que a cristã vai querer você bêbada como um gambá e fedendo a cigarro molhado?
— Vai se foder, Jude – respondi, rindo.
— Vem, vou fazer um café pra você.
Fim do capítulo
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