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Palavras: 838
Acessos: 1130   |  Postado em: 07/07/2021

Ela é a sensação

 

Não sabia como ia agir mesmo depois da noite pensando no que iria fazer. Na verdade, não tinha o que podia ser feito além de pensar em como lidar com tudo isso.

Quando cheguei na sala, mesmo no segundo horário, não a vi, então voltei para a frente da escola.

— Procurando por sua amiga?

Era o porteiro. Já havia visto Amanda conversar com eles algumas vezes. Eles pareciam ser próximos, mas ele nunca havia falado comigo.

— Sim, ela veio hoje?

— Não – ele negou com a cabeça, voltando a tomar o achocolatado de caixinha que tinha em mãos.

— Certo... – balancei a cabeça.

— Não vai ficar pra assistir a aula?

— Não, eu... – dizia, receosa – Não estou muito a fim.

— Se ela aparecer, eu aviso que você estava procurando-a.

— Agradeço – disse, sorrindo, e voltei para a casa.

Liguei para Jude, que logo atendeu.

— Já sei, matou aula e ligou pra sua melhor amiga por que quer aprontar?

— Gosto do fato de que você me conhece tão bem...

— Aparece aqui em casa, vou estar te esperando.

*

— Hǎi yún, vai com calma.

A pequena reunião na casa de Jude estava se arrastando até de noite. Havia bebida e cigarro o suficiente para todas que estavam ali, e eu segurava uma garrafa de vinho, que virava quente mesmo.

— Eu, com calma? – dizia, pegando um cigarro da sua carteira, limpando o vinho que escorria entre meus lábios.

— É sua segunda garrafa, caramba.

Revirei os olhos e acendi o cigarro na brasa do cigarro que ela tinha nos lábios.

— E?

— Eu te conheço – ela cerrava os olhos, se jogando no sofá – Aconteceu alguma coisa contigo.

Joguei a fumaça para cima, sentando ao seu lado.

— Estou ótima.

— Você simplesmente resolveu se embebedar por que está ótima? – ela me olhava de canto.

Dei os ombros, e ela suspirou pesado.

— Rolou alguma coisa entre você e a Amanda?

— Não quero falar sobre isso.

Levantei e, ainda virando o vinho em minha boca, caminhei até a sacada de sua casa, olhando para a vista. Traguei o cigarro profundamente, e expirei por um bom tempo.

— Hǎi yún – disse Jude atrás de mim, ficando ao meu lado. Continuei em silencio, bebendo e Jude colocou a mão em meu ombro.

— Você está apaixonada por ela, não está?

Mordi os lábios, suspirando. Senti meus olhos umedecerem em seguida e fiquei em silêncio. Encostei-me no apoio da sacada, olhando para o lado.

— E se eu estiver? – dizia, murmurando.

— Qual o problema em estar? – Jude afagava meus ombros, pegando o vinho de minhas mãos.

— Nossa, são tantos... – franzi a sobrancelha, voltando a olhar para ela – Primeiro que ela nem deve gostar de mim assim.

— O que aconteceu entre vocês hoje, afinal?

— Nada, só levei ela na livraria e... – balançava a cabeça, tentando recordar dos fatos – Aí eu senti ela tocando na minha mão, e quando eu olhei pra ela, ela estava...Diferente.

— Diferente como?

— O jeito que ela me olhava era diferente, era como se ela... – respondi com certa vergonha – Ela desejasse aquilo, e eu gostei.

— E depois disso?

— Ela ficou sem graça, então eu pedi para que ela me deixasse em casa, e ela aceitou.

— E aí?

— E aí que... – dizia, ofegante – Quando ela me deixou, eu beijei o rosto dela.

— Sério? E o que ela fez?

— Eu não sei, eu entrei em casa e nem olhei para trás.

Passamos um tempo em silêncio, até que Jude voltou a falar, com um sorriso nos lábios:

— Hǎi yún, ela gosta de você, tenho certeza.

— Ela é uma pessoa muito gentil e educada, pode ser só isso – tragava o cigarro, mordendo os lábios logo em seguida.

— E se ela estiver esperando uma atitude sua?

—  Eu ter atitude? – perguntei, rindo.

— Você teve coragem de beijar o rosto dela, por que não teria de falar que gosta dela?

— Tenho medo da rejeição. Como vai ficar o clima se eu levar um fora?

— De fora você já entende – ela entregou a garrafa para mim – O negócio é se você não levar um fora.

Suspirei alto, e Jude segurou meus ombros, me virando para olhar para sua frente.

— Não fuja dos seus sentimentos, você sabe que isso não dá certo.

Olhei impaciente para os lados, e virei mais uma vez o vinho.

— Falo isso pro seu bem.

— Tá, tudo bem...

— Agora, porque eu amo muito você...

Jude puxou o vinho de mim, afastando-me de perto dela.

— É melhor parar de beber assim, ou acha mesmo que a cristã vai querer você bêbada como um gambá e fedendo a cigarro molhado?

— Vai se foder, Jude – respondi, rindo.

— Vem, vou fazer um café pra você.

 

Fim do capítulo


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