POV MARIANA

 

 

Acordei com a cabeça pesando uma tonelada, meus olhos inchados denunciava que chorei até dormir, na verdade eu cochilava, pois meu sono não foi nada tranquilo. Depois de passar no quarto de Malu me tranquei no meu quarto e nem vi quando Petra foi embora. Tomei um banho quente, tomei um remédio e desci sem vontade de encarar o dia.

 

-Bom dia Val. -Valeria preparava a mesa do café.

 

-Bom dia Mari, conseguiu descansar? -Ele perguntou se aproximando. 

 

-Nem um pouco. -Suspirei e passei a mão no rosto. -Onde Malu está? Passei no quarto e não a vi.

 

-Foi na padaria com Petra, as duas já devem estar voltando. -Valeria disse com tranquilidade. 

 

-Ela dormiu aqui? -Me surpreendi com a informação.

 

-Quando cheguei ela estava aqui, cochilando no sofá. -Ela deu os ombros, e a chave fez barulho na porta. 

 

Petra entrou com algumas sacolas e Malu no colo, já vestida para ir pra escola, as duas se aproximaram e minha filha me deu os braços pedindo colo.

 

-Oi meu amor. -Beijei seu rostinho e a abracei. Dormiu bem?

 

Malu apenas afirmou com a cabeça e não disse nada. Minha filha estava tristinha  eu sabia o motivo, ela já estava apegada ao José, e eu odiava minha mãe por deixa ela daquele jeito.

 

-Bom dia, Mariana. -Petra disse baixinho e eu acenei com a cabeça. -Eu vou deixar Malu na escola.

 

-Obrigada. -Agradeci, nós duas estávamos numa situação tão estranha que nem sabia explicar. 

 

-Mamãe eu não "quelo" ir. - Malu disse manhosa. 

 

-Você precisa ir pra escola meu amor. -Acariciei seu rostinho e ela embirrou. 

 

-Acho que posso ficar com ela hoje Mariana. -Val observava a conversa e se pronunciou. 

 

-Eu não vou pro escritório hoje, preciso ver com Júlia como fica a situação do meu pequeno. 

 

Decidi que Malu também não iria na escola, minha filha estava muito tristinha pra isso. Petra se acomodou ao meu lado e começou a preparar o cereal de Maria Luiza. A mesa era um perfeito silêncio, até minha filha que falava pelos cotovelos estava caladinha. Eu só conseguia pensar se o José estava bem, se minha mãe tinha feito a mamadeira do jeito certo, se deu banho na temperatura correta, minha mente não parava, só me despertei quando a campainha tocou.

 

-Bom dia meninas. -Julia passou pela porta, com uma expressão séria. -Desculpe o horário. 

 

-Bom dia Ju, alguma novidade? - Me levantei indo até minha amiga. 

 

-Sim, e não são tão boas. -Valeria logo pegou Malu e levou pra ver desenho, Petra cumprimentou Júlia e nos sentamos pra ouvir o que ela tinha pra dizer. - Sua mãe entrou com o pedido de guarda há alguns dias, ela tem um dossiê completo de tudo relacionado ao menino. E ela tem amizades influentes que fizeram o processo andar mais rápido.

 

-Eu não acredito que minha mãe pode ser tão baixa. - Minha raiva visível.

 

-Baixa ela sempre foi, sempre tentou destruir tudo. -Petra disse com certo rancor na voz. -Eu não duvido das coisas ruins que ela pode fazer. 

 

-Ontem quando sair daqui busquei me informar como ela conseguiu, também tenho amigos influentes. -Julia me entregou uma pasta. -Tomei liberdade e entrei com um pedido de guarda, vamos brigar por ele. 

 

-Você tem total liberdade Ju. -Abracei minha amiga fortemente. - Eu nem sei como te agradecer, eu não conseguiria sozinha. 

 

-Obrigado Ju. -Petra agradeceu e eu sabia que ela também se apegou ao José. 

 

-Me agradeçam quando ele estiver aqui e ir levar minhas alianças no dia do casamento. -Sorrimos e eu me emocionei. -Mas temos um pequeno problema. 

 

Não estava preparada pra ouvir mais um problema, minha cabeça estava a mil, eu não suportaria tanta desgraça de uma vez só. 

 

-O divórcio de vocês. -Petra se remexeu no sofá desconfortável. -Sua mãe usou isso contra vocês, alegou que esse lar é desestruturado, é incapaz de criar mais uma criança. 

 

-Ela pode fazer isso? -Perguntei incrédula. 

 

-Ela vai jogar sujo Mari, sua mãe não entrou nisso pra perder, ela já ganhou a primeira batalha. -Coloquei as mãos na cabeça tentando me controlar um pouco. -Pensei em uma solução. Vocês precisam anular esse pedido, sua mãe vai usar todas as armas, e isso é algo a favor dela.

 

-Mariana já assinou. -Petra que ouvia tudo se pronunciou com voz carregada de mágoa. -Acho que não tem muito o que fazer.

 

 

-Petra, podemos anular isso. -Ela se levantou com a mão no cabelo e a culpa pesou sobre meus ombros. - Daremos um jeito de apagar isso, é uma chance de ter o Zé de volta, vocês esquecem esse divórcio e voltam a morar juntas. Não precisam ser um casal, apenas fingir que está tudo bem. Eu irie entrar com um pedido de adoção. 

 

-Eu não sei Julia. -Ela andava de um lado para o outro nervosa. -Isso não daria certo.

 

-Daria sim, faremos dar certo. -Júlia se levantou e pôs as duas mãos nos ombros de Petra. 

 

-Eu preciso pensar, tá? -Ela desfez o contato e pegou o capacete. 

 

Ela saiu sem ao menos dar tchau, e eu sei que se ela não aceitasse a culpa era toda minha, foi eu quem pediu o divórcio, eu continue com isso e já assinei o papel. Petra estava magoada e eu sabia disso. 

 

-Ela não vai aceitar Ju. -Falei tentando secar as lágrimas. -Ela está com raiva e com razão. 

 

-Não fique assim Mari, mesmo se ela não aceitar eu prometo que ele vai voltar pra você. 

 

Julia ficou ali comigo tentando me acalmar e eu só pensava na burrice que fiz ao pedir o divórcio naquela noite, o arrependimento me corroía, e eu não tinha muito o que fazer.

 

 

POV PETRA 

 

 

Sai da minha antiga casa com a cabeça a mil, o fato de Mariana ter assinado o divórcio mexia comigo, me sentia rejeitada por ela, eu estava magoada. Eu não sabia o que pensar, tudo era muito confuso e complicado. Andei pelas ruas da cidade em busca de respostas, pedindo aos céus uma luz, o que eu precisava fazer.

 

Cheguei em casa e encontrei minha vó regando as plantas, dona Helena me conhecia de ponta a cabeça, ela me lançou um olhar que me leu inteira, desligou a mangueira e se aproximou. 

 

-O que aconteceu minha filha? -Ela passou a mão no meu rosto e eu deixei uma lágrima rolar. 

 

-O José vovó. -Comecei a contar que a Jabiraca tinha tomado o José de Mariana, minha vó ficou indignada, e se deixasse ela iria até lá dar uma surra na mulher. 

 

-Eu queria ter a oportunidade de descer o braço naquela megera. -Sorri imaginando a cena. -Como um juiz deixa aquela Vaca cuidar de uma criança? 

 

-Pois é vovó, ela tem amigos influentes. -Suspirei pesado. -Ela não ao menos avisou que faria algo do tipo, apenas tirou o menino dos braços de Mari.

 

-Mas tem como recorrer né? Mariana deve estar arrasada. 

 

-Malu também está bem tristinha. -Lembrei da carinha triste da minha filha. -Julia deu entrada nos papéis pra recorrer. 

 

-Então tenho certeza que logo ele volta pra Mari. -Minha vó disse e eu acenei com a cabeça.

 

-Mas tem um problema. -Falei me lembrando do pedido de Julia. - O divórcio que Mariana assinou. 

 

-Como assim Petra? 

 

-A megera usou isso contra Mariana, disse que nosso lar era desestruturado. -Falei e minha vó ficou ainda mais indignada. -Ela usou o divórcio contra Mariana.

 

-Eu sabia que esse divórcio era um erro, eu sempre soube. -Neguei com a cabeça e ela continuou. -Essa briguinha de vocês podia ser resolvido na conversa, mas vocês logo foram pelos caminhos mais fáceis e olha no que deu. 

 

-Não foi eu quem pediu o divórcio vó. -Falei irritada. -Mariana já até assinou, ela queria isso.

 

-E você fez o que pra mudar isso dona Petra? Não tire o seu da reta. -Dona Heleninha entrou pela cozinha irritada comigo agora. -Agora por culpa de orgulho uma criança que não tem nada a ver vai pagar pela bobeira das duas. 

 

-Não é bem assim vó. -As palavras de Julia ainda martelava minha mente. -Julia acha que consegue reverter, mas eu teria que voltar pra casa de Mariana e fingir que esse divórcio nunca existiu.

 

-E o que você ainda está fazendo aqui Petra? -Ela colocou as mãos na cintura como se falasse óbvio. 

 

-Vó, Julia quer entrar com um processo de adoção, o José vai ser meu filho também. -Tentava explicar o óbvio pra ela. -Vamos sustentar essa mentira e depois dar continuidade no divórcio? 

 

-Mas o Zé ser criado pela Jabiraca e o Palerma do Antonio é bem melhor né?- Minha vó alterou a voz e eu me encolhi. -Você já foi mais inteligente Petra, se sua mãe estivesse aqui ela já tinha feito de tudo pra tomar o José das garras daqueles dois. 

 

Falar da minha mãe era meu ponto fraco. Eu sempre quis conhecê-la, sempre ouvi tantas coisas boas dela, e eu só queria dar orgulho a ela. 

 

-Minha filha, eu sei que é difícil a vida de casada, mas não deixe as crianças pagar o pato por isso. -Minha vó viu que eu fiquei balançada e me abraçou forte. -Faça isso pelo Zé, meu netinho precisa de você. 

 

Sorri e sequei minhas lágrimas, eu faria isso pela Malu e o José, eu não podia deixar Jaciara estragar a vida do meu garotão.

 

-Vou fazer as malas. -Minha vó sorriu e deu graças aos céus.

 

Arrumei minhas coisas, não ia levar tudo de uma vez, só o essencial depois eu vejo se levaria o resto. Tomei um banho e resolvi descansar antes de voltar a minha antiga casa. Hoje eu teria que ir ao restaurante, e isso era outra coisa que estava me fritando os neurônios, eu estava querendo sair de lá e focar no projeto do meu restaurante. Descansei a tarde toda, eu não tinha dormido direito, tinha passado a noite no sofá. As cinco eu dava tchau a minha avó e subia na moto rumo ao meu antigo atual apartamento, isso me causava um misto de sentimentos que eu não sabia definir. 

 

Com um frio na barriga e um certo medo do que iria acontecer daqui em diante eu toquei a campainha e com minha mala ao meu lado. Val abriu a porta e me olhou confusa, ela me deu passagem e Malu que estava no colo de Marina, deu um pulo quando me viu. 

 

-Mamãeeee! -agarrei minha filha e a enchi de beijinhos.

 

-Oi meu amor! -Mariana olhava nossa interação curiosa. 

 

-A gente vai viajar? -Ela apontou pra minha mala. 

 

-Não meu amor, a mamãe vai ficar uns dias aqui com você. -Mariana fez cara de confusa e sorriu logo depois. 

 

-Ebâ! “Agola” eu não vou mais ficar com “sodadi” mamãe. -Dei mais um beijo em sua bochecha. -Só falta o “Jusé”, podemos buscar ele? 

 

-Em breve iremos buscá-lo. -Marina se levantou e respondeu a pergunta de Malu. Obrigada Petra. 

 

-Estou fazendo isso pelas crianças. -A mágoa ainda estava em meu coração, mas eu farei de tudo pra trazer o Zé de volta. 

 

 

Fim do capítulo