Dedicado a Olivia, com a promessa de postar regularmente.
Capitulo 4 - Comemoração
Dizem por aí que, planos, vontades, raízes, são palavras mutáveis no dicionário dos sagitarianos, sou obrigada a concordar em parte. Muitas vezes, faço plano e desfaço, tenho vontades que passam em questão de segundos, e muitos dizem que sagitarianos não criam raízes são seres livres, que amam a liberdade. Posso concordar, porque estar sozinha é uma escolha que pode durar anos, e também discordo, pois quando estou apaixonada, quero enraizar, quero mergulhar de cabeça e nem sempre as águas são claras.
Sabe a simples vontade de sentar na moto, tomar uma água de coco e ver o mar? Passou, e cá estou eu entrando na Barra do Jucu, tentando equilibrar no tanque da moto pizzas, porque a comemoração sozinha, pelo primeiro dia de trabalho, vai virar uma comemoração coletiva.
A Barra do Jucu é o tipo de lugar pra quem gosta de tranquilidade, um vilarejo com casas simples, uma pracinha que nos finais de semana rola um som, na maioria das vezes reggae, alguns bares e pousadas, uma padaria incrível onde na segunda semana todo mundo já sabia o meu nome, de onde eu vinha, o que eu fazia. Uma praia mais afastada onde em altas temporadas rolava um campeonato nacional de surf, e se acordar cedo, consegue ver os pescadores chegando do mar, com peixes de encher os olhos.
Com o tempo, é comum passar pelas ruas e as pessoas conhecerem a moto, a dona da moto, e não tem como não responder ao bom dia, boa tarde, boa noite. Não tem como não acordar durante a madrugada, após perder completamente o sono, e não sentar na porta de casa e ficar ouvindo um grupo de garotos tocando e cantando...como um girassol...girassol amarelo...
Parei na padaria para comprar algumas cervejas, e isso tentando não ficar batendo papo com os funcionários, porque a maluca número zero, a dona Flávia, com certeza vai reclamar da pizza gelada e a Karina, da cerveja quente.
Quando eu chego buzinando, todo mundo sabe que eu preciso de ajuda, e dessa vez quem apareceu foi o Carlão. Sempre ranzinza, porém solicito, claro que não deixaria por menos.
_ Esse barulho todo para trazer pizza gelada e cerveja quente? É sério?
_ Também te amo. Boa noite pra você também?
_ Você não muda? Sabia que esse seu deboche me irrita?
_Carlão, sabia que o seu humor me deixa apaixonada, seu eu fosse hétero casava com você!
_ Cala a boca, vai tomar banho, enquanto eu esquento as pizzas e chamo as meninas.
Após um banho demorado e merecido, desço para o apartamento das meninas, quando abri a porta e vi os três juntos, foi impossível não me sentir acolhida, amada por pessoas que, até dois anos atrás eu nem conhecia.
_ Eu amo vocês...
O que era pra ser emotivo, virou uma palhaçada., eu e Flavinha chorando, e Karina e Carlão rindo horrores de nós duas. Conversamos por algum tempo, rimos de tudo e quando senti o sono dar sinal, fui pra casa e pela primeira vez, tinha a certeza de que teria uma noite perfeita, que conseguiria dormir o suficiente pra acordar muito bem.
Quem tem depressão, sabe o quanto é difícil dormir o suficiente, na hora certa, coisas que são absolutamente comuns passam a ser torturantes. Geralmente as pessoas desenvolvem hábitos que pioram muito o quadro depressivo, e comigo não foi diferente.
Lembro, perfeitamente, que bem no início, quando eu nem ao menos sabia que estava com depressão, adquiri o hábito de dormir ouvindo música, depois comecei a dormir com todas as luzes da casa acessas, e quando comecei a ter pensamentos suicidas, percebi que estava doente e que era muito sério.
Acordar todos os dias pensando que aquele seria o último, é a pior sensação que o ser humano pode sentir. Foi quando admiti que estava com depressão e procurei ajuda. Para minha sorte, procurei a pessoa certa, que me encaminhou para a especialista certa. Todo dia era uma batalha, e durante a minha primeira consulta, descobri que a quilômetros de distância, sem saber o que acontecia comigo, minha mãe me dava forças e coragem para lutar, e a meu pensamento diário era: Minha mãe não merece passar por isso, não merece sentir essa dor.
Hoje posso dizer que muita coisa mudou, lutei muito, lutei mesmo quando não tinha mais forças, e hoje posso dizer que ganhei uma nova chance, e sou imensamente grata por isso.
Talvez esse seja o motivo, que faço tudo com tanta intensidade, que vivo com tanta intensidade. Principalmente no meu trabalho dou sempre o que tenho de melhor, faço questão de dividir meu conhecimento, trato as pessoas com todo o respeito que elas merecem. Claro que tenho meus momentos de stress, de agitação, de falta de paciência, e caso isso fuja da normalidade, aprendi a consertar minhas falhas olhando nos olhos da pessoa e reconhecendo meu erro.
Exerço uma função onde um simples descontrole, uma falta de atenção pode causar a morte de alguém, destruir uma família, por fim a uma carreira que lutei tanto para construir. Por isso álcool, envolvimentos no trabalho, noites mal dormidas e falta de responsabilidade, não combinam com a minha profissão.
Tantos pensamentos, só poderiam causar uma coisa, insônia. Peguei o celular e vi que não estava tão tarde. E decidi ir até a praia. Mesmo a noite, a praia da concha era bem tranquila, geralmente tinha algum bar aberto, onde o pessoal ficava conversando, o que me dava uma certa tranquilidade.
Coloquei um short e calcei uma sandália, desci as escadas tentando não fazer barulho. Abri o portão parecendo uma fugitiva, não queria deixar o pessoal preocupado, só queria dar uma volta, relaxar um pouco, e não conhecia um lugar melhor do que a praia.
De longe já conseguia ouvir a música, as vozes e o barulho do mar. Quando me aproximei reconheci alguns pescadores e todos me cumprimentaram. Avisei que não iria longe, e sentei em um tronco, em uma parte mais alta na beira mar, esse definitivamente era o meu lugar preferido. Em nenhum lugar do mundo eu me sentiria tão protegida, tão acolhida, chegava a ser engraçado, ver sempre algum dos pescadores levantar, pra ver se estava tudo bem comigo, e depois voltar para a roda de conversa.
Fiquei por quase trinta minutos sentindo aquela brisa, e resolvi voltar para casa, pois logo os meus fieis escudeiros partiriam para o mar. Quando levantei com a intenção de voltar para casa, ainda de costas, tive a sensação de estar sendo observada e mais uma vez, não me senti bem. Era uma sensação de ser observado por olhos que me causavam dor, e quando virei, pra tentar apagar essa sensação, paralizei.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
olivia
Em: 03/07/2021
Boa noite Aline, obrigada pelo capítulo maravilhoso. Nossa protagonista tem o signo do bem, impõe respeito é determinada,tem a coisa mais preciosa amigos ! Nem um autor escreveu um personagem do meu signo leão, diga-se de passagem é ô signo kkkkk! Estou apaixonada pelo seu romance ! Vou ler outro amanhã, estou acamada, coisa de gente velha!! Bjão para você!!!!
Resposta do autor:
Olivia, acabei de postar outro capítulo fresquinho...amanhã provavelmente posto outro. Depende muito da inspiração...kkk
Melhoras querida
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