POV PETRA

 

 

       A festa Malu estava incrivelmente linda, eu acabei me atrasando alguns minutos, pois tinha combinado de dar uma carona para Andrea. Minha filha estava uma graça vestidinha de samurai e eu nem preciso comentar sobre o quão linda Mariana estava.  Ela vestia uma calça jeans e um cropped, era algo simples, mas não precisava de muito para que ela ficasse linda. Tentei afastar aqueles pensamentos e fui cumprimentar alguns convidados. Andrea estava meio deslocada, então ela me acompanhava pela festa toda. Eu já saquei quais eram as intenções dela comigo, mas eu não estava aberta para nada disso, eu ainda não conseguiria seguir minha vida, Mariana ainda é a única mulher que ocupa meus pensamentos.

 

      Cumprimentei Julia e Fernanda, e elas disseram que tinham algo pra me dizer mais tarde, fiquei curiosa, e elas riam da minha cara. Marcela e Bia chegaram e tratei logo de apresentá-las ao pessoal.

 

-Petra sua filha é muito fofa. – Bia estava encantada com as graças de Maria Luiza.

 

-Charme da mãe. – Sorri e Marcela negou com a cabeça.

 

-Charme da mãe Mari né? – Marcela tirava onda com a minha cara.

 

-Mas era dela mesmo que eu estava falando. – Suspirei e Bia apertou meu ombro.

 

-Separações não são fáceis, e eu falo isso por experiência própria. –Marcela me contou que ela e a ex mulher também estavam passando por um período de separação, e que ela e Bia estavam se conhecendo. – Mas eu acho que vocês precisam conversar mais Petra, vocês tem uma filha pra criar.

 

-Eu não sei Marcela. – Suspirei e dei um gole na minha água. – Mariana já está seguindo a vida dela, eu acho que nosso casamento desde o inicio tinha tudo pra dar errado. A família dela foi contra desde sempre, a gente sofreu muito pra chegar até aqui.

 

-E vocês vão jogar todo o tempo de luta no lixo assim? – Marcela e eu acabamos criando uma afinidade. – Tá escrito na sua cara que você a ama, então lute por isso.

 

-Não é tão fácil assim Marcela. – Bia observava calada nossa conversa. – Mariana é decidida, e ela já até deu entrada no pedido de divorcio.

 

-Isso pode ser anulado, Petra. – Neguei com a cabeça e Andrea se aproximou. – Você sabe o que é melhor pra você, eu só estou dizendo o que eu penso. E apesar de tudo eu sempre estarei com você.

 

-Obrigado Ma, é muito bom ter sua amizade. – Abracei minha amiga e Bia foi fotografar mais.

 

        Andrea estava grudada em mim, não que eu estivesse achando ruim, mas tenho certeza que Mariana não está feliz com a presença dela aqui. Ela mal cumprimentou a mulher e vez ou outra eu sentia seus olhos observando de longe. Minha vó também não tirava os olhos de nós duas e eu sei que levaria bronca mais tarde. 

 

       Malu se divertia e isso era a minha alegria, ver minha filha feliz. Beatriz tirava varias fotos e de longe eu observava com cara de boba com os dois amores da minha vida fazendo pose pra câmera.

 

-PETRA. –Bia me gritou e eu sai do transe. – Agora uma foto de família.

 

      Corri e me juntei a elas, só de estará próximo a Mariana meu coração apertava, pois eu sei que perdi uma parte dele quando sai de casa. Bia pediu que juntássemos mais, e eu tomei coragem e coloquei a mão sobre as costas delas. Sorri e Bia capturou varias fotos de nós três.

 

-Desculpa. –Pedi sem graça pelo contato.

 

-Está tudo bem. –Ela sorriu lindamente e meu coração aqueceu. – Vou ligar para o meu pai, já está quase na hora dos parabéns e eles ainda não chegaram.

 

- Por falar no diabo. –Mariana tinha acabado de fechar a boca e a dupla infalível entrou pelo portão, eu não me sentia bem na presença da família de Mariana.

 

-Petra. –Ela me disse em tom apreensivo e eu me retirei com Malu no colo.

 

 

FLASH BACK ON:

 

-Petra você tem certeza que quer voltar ao Brasil? – Era a quarta vez que meu pai me perguntava isso. – Você terá muitas oportunidades aqui, seu curso terminou e você pode se especializar em outros.

 

-Eu vou voltar. – Eu já tinha me decidido, quase dois anos depois eu voltaria para os braços da mulher que eu amo. – Eu preciso voltar, Mariana disse que ia me esperar.

 

-Você vai desperdiçar varias oportunidades por esse namoro que nem existe mais. – Meu pai estava nervoso. – Você acha mesmo que essa menina está lá te esperando? Não seja tola minha filha.

 

-Você nunca amou na vida? – Perguntei e ele se calou no mesmo momento. – Você nunca sentiu que pertencia alguém de tal forma, capaz de colocar seus sonhos em segundo plano?

 

-Filha, você sabe que a mãe dela não vai aprovar isso. – Meu pai dizia em um tom mais calmo. – Eu só quero a sua felicidade.

 

-Minha felicidade é ao lado dela. – Coloquei a ultima peça de roupa na mala e passei o zíper.

 

-Ok, já vi que não chegaremos a lugar algum com essa conversa. – Meu pai espalmou as mãos na cintura derrotado. – Te vejo no Brasil em algumas semanas, vou resolver a sua parte na herança da sua mãe.

 

      Deitei na minha cama e meu pensamento vagava na pessoa que era dona do meu corpo, alma e coração. E essa pessoa era Mariana.

 

 

Flashback off:

 

 

-Tá tudo bem? – Andrea me despertou das minhas memórias.

 

-Está sim, só estava pensando longe. – Nesse momento olhei na direção da mesa em que Mariana estava com as amigas. – Precisa de algo?

 

-Cerveja. – Andrea se aproximou e cochichou no meu ouvido. – Mas acho que não vou conseguir por aqui.

 

-Mariana comprou vinhos. – Andrea fez careta.

 

-Detesto vinhos. – Sorri simpática e Malu veio me pedindo colo.

 

-O que foi meu amor? – Malu estava cansada de tanto correr.

 

-O Vovô Antônio é um chato.  – Minha filha disse espontânea e eu esbocei um sorriso. – Ele disse que minha roupa é de menino.

 

-Não ligue pra ele minha gatinha. – Beijei o rostinho dela. – Ele não entende nada de moda. Vamos chamar a mamãe pra cantar parabéns?

 

      Malu concordou com a cabeça e pulou no chão novamente, avisei Andrea dos parabéns e fui até minha vó que conversava animada com Paola depois de algumas taças de vinho.

 

-Vovó, vamos cantar os parabéns. – Me aproximei dela e ela me olhou com um olhar um tanto que assustador.

 

-Nós duas iremos conversar depois viu senhorita Petra. – Balancei a cabeça e suspirei, sabia que minha vó ia falar até no meu ouvido. – Acho bom você ir ficar ao lado da sua família um pouco, não vi você conversar com Mariana uma vez se quer. Não vou falar mais de uma vez.

 

-Ok vovó. – Minha vó bebeu mais um gole e eu fui fazer o que ela havia mandado.

 

        Mariana e eu não tínhamos muito que conversar, desde o dia em que sai de casa nosso dialogo era apenas para tratar de assuntos sobre Maria Luiza. Eu parecia uma adolescente idiota que não sabia como agir, nem parecia àquela jovem decidida a largar tudo pra vir atrás dela. Estava me sentindo frustrada em ser tão fraca perto da mulher que eu amava. 

 

-Mariana, acho que já está na hora de cantar os parabéns. –Me aproximei da mesa que Mariana estava e toquei no seu ombro. – Aconteceu alguma coisa? Você está bem? – Meu coração se comprimiu quando notei seus olhos cheios de lágrimas.

 

-Não é nada. – Mariana disse com certa rispidez, provavelmente a mãe dela tinha dito algo desagradável. – Vamos cantar parabéns, Malu já está exausta.

 

       Não disse mais nada e Julia me olhou com um olhar de pena. Juntamos todos em volta da mesa do bolo e cantamos parabéns, hoje era o dia da minha filha e nada ia tirar a minha alegria de vê-la sorrir. Mariana estava ao meu lado e eu estava com Malu no colo enquanto todos cantavam os parabéns da minha filha.

 

-VIVA MALU. – Os convidados gritaram em um coro só.

 

-Faz um pedido Princesa, antes de apagar a vela. – Fernanda disse e Malu parecia pensar no que pedir.

 

-“Quelo que a mamãe Peta e a mamãe Mali vilem momoladas” de novo. – Malu pegou todos desprevenidos e o clima ficou estranho entre os adultos.

 

-Preciso ir ao meu quarto. – Mariana disse baixinho e saiu entre os convidados me deixando com Malu no colo.

 

        Depois do climão, Brenda serviu o bolo e algumas pessoas já se despediam e só restaram Minha avó, Paola, Val e o marido Andrea e nossas amigas.  Malu cochilava no meu colo, enquanto Marcela, Bia, Julia, e Fernanda conversavam sobre seus respectivos trabalhos. Andrea estava conversando com o marido de Val, e ela já tinha me dito que queria ir embora, mas eu não queria sair sem sabe se estava tudo bem com Mariana.

 

-Ju, oque você acha de ir ver como a Mari está?  - Perguntei no ouvido da minha amiga.

 

-Acho que não vai ser preciso. – Ela voltava acompanhada de Valeria.

 

-Desculpe gente, tive um probleminha. – Ela tinha os olhos vermelhos, eu conheço Mariana como a palma da minha mão e sei que ela havia chorado.

 

-Tá tudo bem amiga? – Ouvi Fernanda perguntando e ela acenou que sim. – Já que você desceu, Julia e eu temos um convite a fazer.

 

-Primeiro temos um convite pra Malu. – Julia disse sorridente. – Depois de muita historia eu decidi pedir a mulher da minha vida em casamento e estamos noivas. – Fernanda e Julia juntaram as mãos mostrando o anel de noivado. – Nós queremos que Malu seja uma das nossas daminhas.

 

-Parabéns meninas. – Eu estava muito feliz por elas duas. – Até que enfim, ein Maria Julia.

 

-Vai te catar Petra, nem demorei tanto assim. – Fernanda botou a mão na cintura e eu gargalhei.

 

-Demorou sim amor. – Todos os presentes sorriram e Fernanda continuou. - E também temos outro convite, nós queremos vocês duas como nossas madrinhas, vocês aceitam?

 

-Claro. – Mariana que estava calada abriu um sorriso lindo e aceitou o convite. – Ai eu estou tão feliz por vocês.

 

-Eu também aceito. – As meninas abraçou a gente e continuamos o papo.

 

       Malu pegou no sono e a conversava continuava animada na mesa sobre o casamento das meninas. Val e o marido se despediram e Brenda aproveitou o embalado se despedindo e levando a galera do Buffet junto.

 

-Petra você vai agora? – Andrea se aproximou e minha vó me olhou de cara feia.

 

-Vamos conosco menina, Paola te dá uma carona. – Minha vó respondeu por mim. – Petra tem que ajudar Mariana com a bagunça, Mariana não fez filha sozinha.

 

-Vovó... – Tentei argumentar, mas minha vó me interrompeu.

 

– Sem discussão. --  Minha vó se levantou e se aproximou  de Mariana – Mari a festa estava linda, e vê se aparece lá em casa, essa velhota aqui te ama apesar de tudo. – As duas se abraçaram e Mari combinou de passar lá durante a semana. – Vamos Paola, vamos professora.

 

-Tchau Petra, me liga depois. – Andrea me deu um beijo na bochecha e o movimento não passou despercebido, minha vó faltou puxar a mulher pelo cabelo. – Tchau pessoal e obrigado.

 

-Vamos que eu não tenho a noite toda. – Minha vó disse grosseira e Marina sorriu discretamente.

 

       Marcela e Bia também se despediram e marcamos de sair qualquer dia desses. As duas não demonstravam muito o que rolava entre elas, mas eu sentia Marcela muito mais empolgada do que das outras vezes em que nos encontramos. Fernanda e Julia nos ajudaram a subir com os restos das coisas e eu subi com Malu no colo.

 

-A festa estava linda. – Entramos no meu antigo apartamento e Fernanda comentou. – Já quero o contato da Brenda.

 

-Vou te passar depois. – Ainda estava com Malu no colo e minha filha estava pesadinha. –Mariana, vai acorda-la pra tomar banho?

 

-Sim, ela estava pregando de suor. – Chamei Malu com calma, pois ela sempre acordava irritada quando interrompiam seu sono.

 

-Meninas, nós também já estamos indo. – Julia e Fernanda se despediam. – Vamos marcar um jantar pra fazer o pedido oficial, te ligo pra marcar as reservas lá no restaurante Petra, e vamos programar nossa despedida de solteiras.

 

          Acertamos os detalhes e elas saíram, me deixando sozinha com minha ex esposa e minha filha adormecida. Depois de muito sacrifício consegui dar banho em Malu e vesti um pijaminha nela. Minha filha fez birra antes de dormir e só se acalmou quando eu coloquei um desenho e deitei ao lado dela na caminha minúscula de princesa. O cheirinho do seu cabelo me acalmava e me trazia a lembrança de que aquele era o meu lar e eu sentia falta disso todas as noites. Me certifiquei que ela dormiu, levantei com cuidado e sai do quarto deixando um beijinho de despedida. O dia foi exaustivo e eu ainda precisava dirigir até a casa da minha avó. Desci as escadas e vi a silhueta de Mariana na bancada da cozinha.

 

-Ela dormiu, depois de muito custo. – Me aproximei e notei que ela bebia vinho.

 

-Aceita uma taça? – Mariana não me encarava.

 

-Não, eu ainda tenho que dirigir. – Ela sorriu irônica. – Obrigada!

 

-Não precisaria ir embora, se colocasse a família em primeiro lugar. – Marina estava áspera, não acredito que ela queria brigar uma hora daquela.

 

-Acho melhor você parar de beber. – Ela encheu mais a taça ignorando o meu comentário. – Eu não quero discutir, na verdade não tem o porquê a gente discutir esse assunto novamente.

 

-Você tem razão. – Mariana se levantou e seu olhar tinha fúria. – Agora suas discussões são com a sem sal da Andrea né? Como você arrumou tempo pra ela? Ela entende seus horários complicados no restaurante? Ela espera você todas as madrugadas pra fazer massagem em seu ombro dolorido? Ela deve se mais compreensiva que eu não é mesmo?

 

-Você está bêbeda Mariana. – Ela veio pra cima de mim e me empurrou. – Está agindo como uma adolescente mimada.

 

-Você é uma idiota Petra, você é a pessoa mais idiota que eu conheço. – Mariana me dava socos no peito descontando sua raiva. – Na verdade eu sou mais idiota, por ter me apaixonado por você.

 

-PARA. – Segurei seus braços e ela chorava compulsivamente. – Já chega Mariana, não vou ficar aqui ouvindo suas ofensas.

 

-Vá embora então, corre lá para os braços daquela piranha. – Ela se soltou e limpou os olhos.

 

-É impossível ter algum tipo de diálogo com você. – Suspirei e sai batendo a porta.

 

 

Fim do capítulo