Atenção, essa história tem a descrição ainda que não aprofundada de cenas de morte. Alerta de gatilhos para quem é sensível a esse tipo de narrativa.
Capitulo 1 - Dancando na chuva
Os passos seguiram lentos pela escada em caracol, não tinha pressa alguma, cerrou as mãos sentindo os dentes estalarem sem nenhum constrangimento, sabia que Coronel Feliciano estava só, sentado em sua confortável cadeira forrada por legítimo couro de um boi premiado americano, dado de presente por um dos seus asseclas. Estava absorto lendo processos e relatórios sobre comunistas, que nada mais eram do que jovens universitários rebelados contra os abusos da Ditadura.
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- Boa noite Coronel Feliciano...
- Mas, quem é você criatura esquisita?. – Ele se preparava para apertar o botão vermelho para chamar os guardas que deveriam estar de prontidão se não estivessem mortos em uma grande poça de sangue.
- Humm, não perca tempo, seus ratos estão mortos na escada.
- Você está blefando, imagina se vou me deixar intimidar por uma mulher.
- Bom, vou mencionar um ditado popular brasileiro que gosto muito, “mato a cobra e mostro o pau”, no caso, mostrarei dois ratos mortos. Não perca tempo em pegar sua arma, no máximo sentirei um leve queimar dos tiros.
- Que espécie de monstro é você?.
- Não pior do que o senhor que mata, tortura, estupra, machuca mulheres que tem a idade de sua filha. Beatriz ela chama, não é verdade?.
- Monstro, não se meta com a minha família, eu te mato...
- Coronel, saiba que seu tratamento comigo vai ser decisivo sobre a sua morte, o senhor está em visível desvantagem.
- E porque não me mata logo?.
- Ora, porque faço questão de te dar o benefício da dúvida, gosto de ver o ser humano se agarrar a última esperança. Me siga, veja seus ratinhos mortos... – A cena era assustadora, os homens inertes mergulhados em uma poça vermelha, mais pareciam saídos de um filme de terror.
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- Mas, mas...o que é isso?.
- Seus ratos, não os reconhece?, Jair e Messias, estão mortinhos. Ah, mas, não se constranja, se aproxime Coronel, veja que trabalho lindo, magnifico diria.
- Você é completamente louca.
- Concordo, uma louca imortal, com sede de vingança e com a força que ganhei ao ser transformada há trezentos anos em uma arma letal.
- Meu Deus, devo estar alucinando.
- Fiz isso e continuarei fazendo em memória da Maria Clara.
- Mas, quem é essa?, meu Deus...
- Não lembra?, loirinha, olhos verdes, cheia de sonhos na cabeça, a delicadeza em pessoa, e o senhor e sua corja a matou, abusou, queimou com cinzas de cigarro.
- De certo era uma comunista, essa raça deplorável.
- Não me faça te matar lentamente.
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O coronel observou os caninos projetado na face branca de Maire, o corpo começou a dar sinais de adrenalina, coração acelerado, tremia e batia o queixo como uma criança assustada.
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- Está com medo?.
- Por favor, poupe minha vida, tenho mulher e filhos, eles dependem de mim para tudo, não me mate, dou um jeito de te mandar para fora do Brasil, com muito dinheiro, te mando para o lugar que quiser, acredite em mim, sou poderoso.
- Ai que delícia ver o Senhor Coronel Feliciano Brasil implorando por sua vida, continue Coronel, estou gostando em demasia dessa cena.
- Você é uma sádica sem coração.
- O senhor também, quem sabe veio comigo do inferno?, queridinho...
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Me aproximei puxando pelo pescoço de forma brutal, no entanto, com muito cuidado pois não queria mata-lo facilmente. De longe ouvi um música que me agradou, sentei em sua cadeira segurando seu pescoço para cantar.
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If you're feelin' sad and lonely
There's a service I can render
Tell the one who loves you only
I can be so warm and tender
Call me, don't be afraid, you can call me
Maybe it's late but just call me
Tell me and I'll be around...
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- Adoro essa música, uma das preferidas de Maria Clara, muitas vezes ela me contou sobre as delícias da Praia de Ipanema ao som dessa música, interessante ter tocado nesse exato momento que estou prestes a matar o seu algoz. Deve ser um sinal divino.
- Não, por favor... – Ele falou tão baixinho que saiu quase como um grunhido.
- Não consigo escutar o senhor, será que pode falar mais alto um pouco?.
- Por favor, me deixe viver...
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Nesse instante cansei, também me recusei a sugar seu sangue, mesmo faminta achei que ele não era digno de me servir de alimento, apenas quebrei seu pescoço com um movimento único, deixando o rosto intacto para a família ter o direito de enterrar o verme, o corpo eu arranhei, estava ensandecida.
Ao sair do QG do Coronel vi uma imensidão “de ratos vestidos de verde oliva”, resolvi não me alimentar, sai sem ermo lendo as mentes dos que passavam despretensiosos por mim, até encontrar a vítima certa, um aliciador de meninas para a prostituição, bebi seu sangue, jogando o corpo na Baia da Guanabara, sai pisando forte, enquanto a chuva molhava meu corpo, limpando o sangue de quem havia ferido, quando cheguei no “aparelho”, nome dado para o esconderijo da minha equipe a chuva havia lavado tudo, restando apenas as lágrimas de sangue pisado em minha face.
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- Maire?.
- Eu matei Théo, me igualei a eles, matei com todo o ódio do coração, sou tão desprezível quanto qualquer um deles...
- Não fala assim, eu sinto, você é diferente, tenho certeza que eles mereceram a morte.
- Eu tento ter respeito pela vida humana, não queria que fosse assim, você não sabe o que sou Théo.
- Vanessa, esse é o meu verdadeiro nome, não me importo com o que seja, me importo com sua essência, sei que você é boa Maire, esse é teu nome verdadeiro?.
- Sim...é o nome que carrego há mais de trezentos anos...
- Eu desconfiava, só não tinha certeza, vem comigo, deixe que a chuva leve sua tristeza, não tenha vergonha de ser quem é...
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Sorri tristemente enquanto ela me puxou pela mão, dançamos ao mesmo tempo que cantávamos:
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Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase Dezembro
Eu vou...
Fim do capítulo
Quase na hora do gol, mas, cheguei...rsrsrs
Espero que gostem...
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kasvattaja Forty-Nine
Em: 16/06/2021
Olá! Tudo bem?
Arrepio-me ainda com histórias de vampiros. Quando jovem — nem vem, sem spoilers, ok? — não tive mais coragem de assistir a nenhum outro filme de vampiros depois de assistir a um com Christopher Lee como vampiro-mor.
Assustador.
Porém, vou dar uma chance para sua vampira.
É isso.
Post Scriptum:
''Sempre precisei
De um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto... ''
O Teatro Dos Vampiros,
[Marcelo Augusto Bonfá/Renato Manfredini Junior/Eduardo Dutra 'Dado' Villa Lobos]
Resposta do autor:
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Ah, o Drácula do Christopher Lee é realmente assstador, mas, a minha está mais para uma vampira cheia de dúvidas e contradições em relação a sua natureza, só 300 anos, ainda novinha para os padrões vampirescos...rsrsrs mesmo assim, obrigada por acompanhar minha Maire.
caribu
Em: 16/06/2021
Adorei!
Se eu fosse vampira mataria os ratos com esses nomes (que não repito pq dá cinco anos de azar rsrs), e tb não me daria ao trabalho de beber sangue de coronel não... Deve dar indigestão, até pra quem já está morta rsrs
Beijos!
Resposta do autor:
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SIM...rsrsrs acho que os ratos devem voltar no último capítulo reencarnado em uma só criatura rsrsrs.
Ah, acho que o sangue ruim talvez acabasse com a imortalidade dela, quem sabe? rsrsrs.
bjs
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StellaGB
Em: 16/06/2021
Sabrina,
Achei incrível a construção da personagem, acredito que ela está no limite entre deixar fluir seu lado mais sombrio ou deixa-lo encoberto, fico pensando, será que ela está apenas fingindo, ou é real seu arrependimento?. Acreditando que o amor move até a mais fria das vampiras prefiro crer que a paixão por Théo, Vanessa, tocou seu coraçãozinho vampiresco. kkkkkkkk
beijos
Resposta do autor:
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Stella,
Obrigada pelo comentário pertinente, Maira é vampira, mas, ainda sente forte os traços de humanidade dentro de si, não acho que esteja finjindo, mas, meus personagens me surpreendem,
bj
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Rosa Maria
Em: 16/06/2021
Brina...
Que maravilha, quanta criatividade, os capangas adorei os nomes de Jair e Messias, pura coincidência né? Será mesmo que Maire ficou confusa por ter matado, com o pensamento de ter "se tornado" igual?
Beijo
Rosa
Resposta do autor:
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Rosa,
Fico tão feliz que tenha gostado, quanto aos campangas rssrsrs coincidência demais, se existe outros ratos com esse nome, ném sei kkkkk
Maire ainda tem traços bem humanos, comparada a outros vampiros, com 300 anos, ela ainda é bastante jovem, mas, ainda manteve intacto o rosto do coronel para a família não se chocar tanto.
beijos
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thaloren
Em: 16/06/2021
Sá,
Eu amei essa narrativa, forte e tão interessante, adorei essa escrita, gostei demais da Maire e suas reações, ela se considera um monstro,mas, dentro da sua condição, ela é bem mais sensível do que muitos. E será que a Vanessa entendeu o que ela é?.
bj grande
Resposta do autor:
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Acho que a Vanessa ainda não sabe o que ela é kkkkk
bjs
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Lara Lefevre
Em: 16/06/2021
Uma dúvida, será que a Vanessa achou que quando Maire contou que tinha 300 anos era em sentido figurado?.
Xêro
Resposta do autor:
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Estou achando que ela não atentou ao sentido real de sua idade rsrsrs.
bj
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florakferraro
Em: 16/06/2021
Lindona,
Te aplaudi de pé, incrível essa capítulo, manda muito bem, espero que continue produzindo muito, sua narrativa é espetacular, amo suas histórias e seu jeito de escrever e ser.
Bjusssss
Resposta do autor:
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Obrigada Flora.
bjs
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Gabriella Herculano
Em: 16/06/2021
Minha amiga linda,
Eu amei esse segundo capítulo, a crise de consciência de Maire, o acolhimento de Vanessa, foi lindo, intenso, a prova que mesmo sem hot você sabe mexer com o imaginário.
Bjssssss
Resposta do autor:
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Obrigada minha amiga, pelo comentário e por curtir tanto minhas histórias.
beijos
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Lara Lefevre
Em: 16/06/2021
Oi Sabrina,
Eu amei esse segundo capítulo, é intenso, forte, cheio de expectativa e com suspense na medida certa, fiquei com dó da Maire, ela não é assassina por opção como o coronel, por isso, sente-se mal.
Incrível narrativa, parabéns
Beijos
Resposta do autor:
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Vamos deixar que o próximo capítulo chegue, ainda não sei ao certo onde os dilemas de Maire vai dar. obrigada pela participação sempre.
bj
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