Dois dias depois

Papai teve que participar de uma reunião na construtora, então somente eu acompanhei mamãe nos exames. Quase quatro horas depois estávamos voltando para casa. Seu oncologista falou que assim que tivesse os resultados, entraria em contato, como ele tinha pedido urgência, no máximo em uma semana, teríamos os resultados. Estávamos muito cansadas quando chegamos em casa.

Cinco dias depois

Estávamos sentados em frente ao dr. Thiago que é oncologista da mãe, ele estava com o resultado de todos os exames, sua assistente tinha me ligado no dia anterior solicitando o nosso comparecimento, apesar da sua neutralidade na ligação, eu não tive um bom pressagio. Aqui estamos nós, das três cadeiras que estavam de frente para o médico, mamãe ocupava a do centro. Depois dos cumprimentos, ele começou a falar.

-          Eu sei o quanto vocês estavam ansiosos pelos resultados dos exames, então assim que os recebi, pedi para minha assistente entrar em contato. Mas agora vamos ao ponto que nos trouxe aqui. – Nesse momento eu pausou, nos olhou nos olhos e disse. – Infelizmente a quimioterapia não surtiu o efeito esperado. – Papai e eu estávamos segurando nas mãos de mamãe, eu a senti estremecer, respirei fundo e falei.

-          Quais as nossas opções? – Dr. Thiago olhou para mamãe e respondeu.

-          Antonele, nossa melhor chance agora é a mastectomia, pedi para que outros dois colegas olhassem seu caso, e eles concordam comigo. Entretanto, se vocês quiserem, podem pedir outra opinião, mas eu vos digo, estamos correndo contra o tempo. – Papai que até então se mantinha calado, se pronunciou.

-          Para quando podemos marcar a cirurgia?

-          Se nos exames pré-cirúrgicos, mostrarem que está tudo centro, próxima semana podemos faze-la. – Para aumentar o nosso desespero com toda aquela situação, mamãe disse.

-          Dr. Thiago, eu preciso pensar. – Eu não acreditei em suas palavras, então acabei questionando.

-          Pensar em que mamãe? Não tem o que pensar, vamos seguir as orientações médicas! – O tom de minha voz estava ficando cada vez mais alto. Mesmo diante das minhas palavras ela voltou a falar.

-          Filha, eu preciso pensar, eu preciso... – Ela falou isso e começou a chorar. Dr. Thiago vendo a situação falou.

-          Darei alguns minutos de privacidade para vocês, assim conversam mais à vontade. – Papai disse um obrigado e quando o médico saiu, ele falou com mamãe.

-          Você vai fazer essa cirurgia, Antonele. – Mamãe continuava a chorar, mas mesmo entre lágrimas ela respondeu.

-          Eu tenho o direito de querer pensar! – Papai não deixou barato.

-          Tem, tem sim, mas não tem o direito de nos causar essa angustia toda! – Mamãe o olhou com cara de magoa e falou.

-          Olavo, Pietra e você não são os únicos angustiados aqui! E o mínimo que você devia fazer é me apoiar.

-          Pois eu não apoio! – Vi que a conversa entre eles já estava virando uma briga, então me pronunciei.

-          Papai, por favor, se acalme, estamos todos nervosos, e de certa forma surpresos com o resultado, talvez seja melhor falarmos disso mais tarde. – Mamãe voltou a pronunciar a frase que estava nos angustiando.

-          Eu preciso pensar, eu não estou dizendo que não farei a cirurgia, mas eu preciso ter um tempo para pensar. – Com essas palavras, papai levantou da cadeira e disse.

-          Espero vocês lá fora para irmos embora. – Ele não esperou resposta, apenas saiu da sala nos deixando a sós. Mamãe em um tom muito baixo, falou.

-          Me desculpa minha filha, sei que estou magoando vocês.

-          É melhor irmos embora, talvez seja melhor conversarmos em casa. – Ela secou os olhos, esperei ela levantar, e fiz o mesmo, abri a porta, esperei que ela saísse, papai estava conversando com o dr. Thiago, mas quando nos viu se calou. Nos despedimos do médico ali mesmo e seguimos para o carro, o silêncio até em casa foi incomodo, ninguém disse uma palavra.

Quando chegamos eu fui direto para o meu quarto para tomar um banho, ainda debaixo do chuveiro as lagrimas começaram a cair, tomei meu banho e deitei na cama, sabe quando a gente chora tanto que acaba dormindo? Bom, foi isso que aconteceu comigo.

Acordei sentindo um incomodo na barriga, estava com fome, pois minha única refeição foi o café da manhã, olhei pela janela do quarto, já estava tudo escuro, o tempo tinha mudado, percebi que caiu uma chuva leve, levantei e fui fechar a janela antes que o volume da chuva aumentasse e molhasse o quarto, olhei meu despertador, nele marcava 18:35h, eu tinha dormido bastante, fui até a minha bolsa e tirei meu celular que estava no silencioso.

Nele havia algumas ligações perdidas, quatro de minha amiga Dani, uma de Claudia, duas de Carlos, duas de Larissa, três do gabinete de Luísa, três do seu próprio celular, e duas da Tânia, sua assistente. Olhei para a tela, e decidi que só retornaria para a minha amiga, não queria falar com Luísa no estado em que eu estava. Liguei para Daniela que no segundo toque me atendeu falando.

            “Oi amiga, estava preocupada, você sumiu.”  

            “Desculpa amiga, cheguei muito mal da consulta da mamãe, deitei para descansar e acabei apagando.”

            “Fiquei sabendo, depois de Tânia me ligar, pois tentaram falar com você e com seus pais, mas ninguém atendia, liguei para o tio Olavo e ele me falou o que aconteceu. Quer que eu vá até aí para conversamos?”

            “Quero sim amiga, estou precisando de você.”

            “Daqui a cinco minutos estou chegando, mesmo se você dissesse que não queria me ver, eu iria, quero lhe dar um abraço.”

            “Obrigada, te amo.”

“Sei que ama, e depois de falar com o tio Olavo, pedi para a Tânia falar para Luísa que você estava bem, mas que possivelmente queria ficar sozinha e que tinha certeza que logo você entraria em contato”

“Obrigada, estou te esperando.”

Luísa

Estava exatamente com cinco dias que eu não trocava uma palavra com Pietra, isso estava me corroendo, mas vou esperar ela entrar em contato, fiquei sabendo por meio de Claudia que a quimio de Antonele não tinha funcionado, queria muito está com Pietra, a apoiando, mas serei paciente, e o pior é que fui convidada para um congresso de seis dias em São Paulo, serei uma das palestrantes, então terei que está lá com no mínimo três dias de antecedência da abertura do evento. Viajo amanhã, no início da noite.

Cheguei em casa a pouco tempo, jantei, tomei um banho e já estou pronta para tentar dormir. Lari está de férias, aproveitou para passar uns dias com os avós paterno. Tive um dia corrido, uma audiência em cima da outra, bate-boca entre as partes, uma baixaria só, tive que chamar a atenção várias vezes das partes, e outras vezes ameacei encerrar a audiência se continuassem descendo o nível. Mas na verdade não sei se estou me sentindo assim cansada só por conta da minha rotina, ou se é também pelo fato de estar sem contato com Pietra. De repente meu pensamento foi interrompido pelo toque do celular, quando visualizei o nome na tela, meu coração disparou, mas logo atendi.

-          Oi. – A ouvi suspirar no outro lado da linha.

-          Oi, desculpa ter sumido esses dias, mas eu... – Eu a interrompo.

-          Não precisa explicar, fiquei sabendo por alto o que está acontecendo, e se você não estava pronta para dividir comigo, eu entendo.

-          A questão não era essa Luísa, só estava tentando não surtar de medo, queria me sentir melhor antes de falar com você.

-          Ok, mas quero que você saiba que quero dividir com você todos os momentos da sua vida, quando você não estiver bem, não se afaste, me deixe ao menos tentar lhe ajudar. – Quando falei isso, um silencio incomodo se formou. Quando percebi que ela não responderia, mudei o foco da conversa. – Como está Antonele?

-          Nos angustiando, mas está bem dentro do possível.

-          Ela ainda não aceitou fazer a cirurgia?

-          Não, e sempre que tentamos tocar no assunto, ela diz que ainda está pensando, e encerra a conversa.

-          Complicado tudo isso.

-          Muito.

-          Estou com saudades.

-          Também estou Luísa.

-          Almoce amanhã comigo.

-          Isso foi um convite ou um pedido?

-          As duas coisas. Rsrs.

-          Então eu aceito. Mas você sabe que não posso demorar.

-          Nem eu, amanhã estarei viajando para São Paulo, volto em alguns dias.

-          Nossa. – Não sei o que ela pensou, então fiz questão de completar.

-          Vou a trabalho, Tânia e Miguel iram comigo.

-          Ahh, vai para o congresso anual?

-          Sim, fui convidada para palestrar.

-          Isso é maravilhoso, Luísa! Parabéns! – Fiquei feliz com suas palavras.

-          Obrigada. Quem sabe próximo ano você me acompanha.

-          Quem sabe. – Pietra falou isso e deu uma risada, depois completou. – Vou deixar você descansar, que horas será nosso almoço, mesmo?

-          Passo as 12:00h na sua casa, aproveito e dou um beijo em sua mãe.

-          Ok, boa noite Luísa, beijos.

-          Boa noite meu bem, beijos. – Senti vontade de chama-la de meu bem porque realmente ela o é. Estou notando que a melhor coisa que estou fazendo é deixar a Pietra ter o espaço dela, pois quando a pressiono, as coisas saem do controle.

Fim do capítulo