POV MARCELA

       Depois que Milena saiu da minha sala eu tentei focar em meu trabalho, mas minha mente estava a mil. Liguei pro meu irmão e pedi que ele fizesse um contrato de acordo, e amanhã eu resolveria minha vida com Jaqueline. Resolvi ir pra casa e não pensar no turbilhão de problemas que estava por vir.

        Sandro não estava em casa, com isso eu poderia me aprontar para o meu jantar com Bia, sem que ele me enchesse de perguntas. Esse era outro problema que eu preciso resolver, pois se eu sempre fui honesta com o meu irmão e agora não seria diferente. Deixei pra pensar nisso depois e logo eu já estava arrumada esperando a hora de ir buscar Beatriz. O local que eu a levaria era um dos meus favoritos e sempre ia lá sozinha, mas agora eu poderia compartilhar esse lugar com ela.

      Pontualmente no horário marcado eu encostava o carro em frente ao seu prédio e liguei pra ela avisando que já me encontrava a sua espera. Não demorou muito e eu senti seu perfume invadir todo o ambiente.

-Oi. – Ela sorriu timidamente e eu aproximei colando nossos lábios em um selinho rápido.

-Oi. – Sorri de volta e dei partida no carro.

-Tá tudo bem? – Balancei a cabeça em sinal positivo. – Aonde vamos?

-Surpresa.

-Vou ficar mal acostumada com esse tanto de surpresa. – Ela disse divertida e eu continuei dirigindo.

        Chegamos e logo avistamos o letreiro do Crème brûlée, o restaurante que ficava na zona sul da cidade e era um dos mais conceituados. Conheci por acaso e logo fiz amizade com a subchefe Petra que cozinhava divinamente bem.

-Que lugar lindo Marcela. – Beatriz olhava maravilhada para a fachada do restaurante.

-É lindo mesmo, mas é ainda mais incrível lá dentro. – Segurei sua mão e caminhamos para entrada. – Vem, vamos entrar.

        Tinha feito as reservas antes mesmo de Bia aceitar o convite, e graças a deus por isso, pois a fila de espera estava grande.  Fomos levadas até nossa mesa e logo o garçons nos recebeu e entregou a cartilha de vinhos e eu o disse que hoje eu iria aceitar a sugestão do chefe.

-É realmente muito lindo! Tô impressionada. – Bia estava encantada com o restaurante e eu estava amando ver a carinha dela.

-Eu amo esse lugar, sempre venho aqui quando quero esquecer meus problemas. – Eu disse e ela me olhou preocupada.

-Tem algo que eu posso ajudar? – Bia segurou minha mão por cima da mesa e fez um carinho sutil.

-Só de você estar aqui comigo, já me sinto melhor. – Retribui o carinho e mudamos de assunto.

       O garçom trouxe nosso vinho e degustávamos nossas entradas antes do prato principal chegar, o Garçom disse que Petra viria trazer pessoalmente e Bia disse que estava se sentindo importante por receber um tratamento assim. Contei a ela que acabei fazendo amizade com a subchefe e que ela amaria a comida dela, assim como eu.

-Marcela, que prazer ter você por aqui. – Petra veio trazendo o nosso jantar. – Já tem um tempinho que não nos vemos.

-Oi Petra, como vai? Estava meio sem tempo. – Ela sorriu simpática e cumprimentou Bia. – Essa é a Beatriz, minha... – Eu não sei o que Bia era minha e Petra pareceu entender.

-Muito prazer Beatriz! Espero que goste do nosso restaurante. – Bia retribuiu o cumprimento e me encarou sem graça. – Hoje trouxe pra vocês um Magret de pato com laranjas e batatas douradas. Espero que esteja do agrado de vocês e qualquer coisa pode me chamar.

         Petra se despediu e prometeu voltar quando tivéssemos terminado. Comemos em silencio e eu acho que Bia se incomodou quando fui apresenta-las. O jantar estava incrivelmente gostoso e Bia concordou comigo nos elogios, o vinho encaixava perfeitamente no paladar.

-Nossa, eu amei. – Bia limpava os lábios no guardanapo. – Ela realmente tem um dom.

-Ela é incrível, Petra merece um restaurante dela, ou pelo menos virar a chefe desse aqui. – Bia acenou com a cabeça. – Bia, àquela hora eu não quis lhe deixar desconfortável.

-Marcela, está tudo bem. – Eu não quero que nosso clima fique pesado. – Eu entendo, a gente está se conhecendo, não fica neurada.

-Ok, não tô neurada.

        Conversamos mais um pouquinho e decidimos nossas sobremesas, Bia me disse que em qualquer lugar em que ela estivesse ela pediria pudim, eu sorri e pedi pudim de leite condensado pra ela, E estava divinamente gostoso também. Eu não queria que nossa noite terminasse apenas com um jantar, mas eu também não queria leva- lá para a casa de Sandro, ou pra um motel qualquer, isso nem passou pela minha cabeça.

-Vamos dar uma volta pela cidade? – Perguntei e ela concordou com a cabeça.

        Pedi o garçom a conta e o pedi que avisasse Petra que estávamos de saída, sei que é chato ficar perturbando o chefe, mas eu fazia questão de agradece-la pessoalmente sempre que vinha aqui.

-Espero que eu tenha agradado o paladar de vocês essa noite. – Ela se aproximou sorridente.

-Você está de parabéns, por mim eu comia aqui todos os dias. – Bia disse divertida e Petra sorriu com o comentário.

-Eu iria adorar, Marcela precisa vir ais vezes e fico feliz dela ter encontrado uma companhia pra trazer aqui. –Ela disse e eu encarei Beatriz sem graça. – Inclusive pensei em você essa semana, minha filhotinha, vai fazer aniversario e eu queria um fotografo de indicação.

-Você está diante da melhor. – Apontei pra Bia e ela agora ela ficou sem graça. – Bia é incrível Petra, ela está trabalhando comigo na Cyber.

-A sabia que você me ajudaria! E então Bia? – Petra perguntou e Bia disse que podia ir sim e passou o contato. –Vou lhe mandar o convite e Bia, você vai como convidada também, as fotos a gente combina durante a semana.

         Ela se despediu e Bia disse que eu sou maluca, e eu disse que ela adoraria fotografar a filha de Petra. Conheci Malu e a criança me encantou logo de inicio e até me fez querer ser mãe de uma criança gerada por mim. Pegamos nossas coisas e saímos do restaurante de mãos dadas, sei que era loucura, pois eu ainda estava casada e até corria o risco de sair alguma fofoca nesses sites que perdem tempo em divulgar a vida alheia, mas Bia me deixava sem juízo, e eu ainda não descobri se isso era bom ou ruim.

-Sabe de uma coisa? – Assim que entramos no carro a questionei. – Alguém me disse hoje mais cedo que eu teria todos os beijos do mundo, porem até agora não recebi nenhum.

         Bia deu uma gargalhada e se aproximou grudando minha boca na dela e me beijou com vontade, eu me viciaria fácil naquele beijo. Nossas línguas bailavam num balé único e meu corpo dava indícios de que só o beijo não era suficiente. Desgrudamos nossas bocas e ela me deu alguns selinhos ainda de olhos fechados.

-Eu acho que não quero dar uma volta pela cidade. – Bia tinha um sorriso sapeca no rosto. – O que você acha de me levar pra minha casa?

-Acho uma ótima ideia. – A beijei novamente e dei partida no carro partindo rumo à casa de Beatriz.  

POV MILENA

         Desde que eu me entendo por gente eu sempre gostei de luxos, na escola eu sempre andei com a galera que tinha um poder aquisitivo maior, para que eu pudesse me sentir melhor também. Minha família não era pobre, mas também não era muito rica aponto de me permitir trocar de carro todo ano por exemplo. O que mais me deixava irritada era as pessoas ao meu redor não pensarem da mesma forma que eu, exceto minha mãe que tinha ambição, essa era a coisa que mais tínhamos em comum. Quando meus pais se separaram eu fiquei desesperada achando que minha vida cairia de nível, mas quando minha mãe chegou em casa apresentando Marcela como sua nova namorada eu pouco me importei se era uma mulher, o meu interesse era em seu patrimônio. Marcela era de família rica, e não era uma simples herdeira qualquer. Marcela era sonhadora e ela alcançou seu patrimônio sem precisar do dinheiro da família. Com isso meu padrão de vida se elevou muito e eu vivia confortavelmente. Eu estava sempre em eventos importantes, viagens caras, festas promovidas por gente famosa e isso era a vida que eu sempre quis.

         Eu pouco me importava pra sentimentos, até conhecer Gustavo, o infeliz era herdeiro de uma das redes de grife do Brasil e a mãe dele tinha um patrimônio incrível também, tudo seria perfeito se o babaca não tivesse uma namorada. Gustavo e eu passamos a nos envolver e quando vi já estava apaixonada, mas ele ainda estava namorando e eu não aguentava mais ser a outra. E como eu sempre tenho tudo que eu quero, com ajuda de uma funcionária da mãe dele, consegui que a namoradinha de Gustavo desse um flagra e o namoro dos dois foi para os ares. Eu não conhecia a moça direito, mas também não me interessava conhecer agora, só queria poder consolar Gustavo nesse momento triste da vida dele.

         A vida ia se encaminhado bem, até minha mãe fazer burrada e Marcela descobri que ela traindo com meu pai, eu até ficaria feliz pelos dois se o dinheiro não fosse mais importante. Não ia deixar Marcela, largar minha mãe, eu não quero voltar para aquela vidinha medíocre de classe media.

-Oi gata. – Hoje e tinha combinado de sair com Gustavo e iriamos á um restaurante renomado. – Tem certeza que quer sair hoje?

       Gustavo entrou em meu apartamento já me agarrando pela cintura, revirei os olhos, pois se dependesse dele ficaríamos só dentro de casa trans*ndo.

-Tenho! Não me arrumei toda pra nada. – Ele suspirou entediado e partimos para o restaurante.

       Depois de alguns minutos, ele parou seu carro importado e jogou a chaves para o manobrista. Nos encaminhamos para a entrada e minha irritação começou quando não tinham vagas e Gustavo não tinha feito as reservas.

-Sou Gustavo Gusmão, não preciso de nome em listas. – Gustavo falava raivoso e a “hostess” mantinha a calma.

-Me desculpe senhor Gusmão, mas essa é a nossa política. – Ele sorriu irônico para a moça e pegou a carteira.

-Quanto você quer? – Ele retirava as notas da carteira e vi ela pegar o radio comunicador.

-O senhor está causando desconforto nos outros clientes, aqui nem com suborno tem como entrar sem respeitar a fila. – Eu não podia acreditar naquela babaquice, e antes que as coisas piorassem pedi Gustavo pra sairmos dali, não podia imaginar meu nome aparecendo amanhã em instagram de fofoca.

-Esse restaurante nem é isso tudo. – Ele cuspiu as palavras na moça e saímos dali, algumas pessoas olhavam curiosas e eu estava extremamente irritada.

-Você é um idiota Gustavo. – Entrei no carro e bati a porta, vi que ele ficou parado olhando para entrada e eu olhei pra onde ele encarava curioso. – O que você tanto olha ai?

-A Bia, acabou de entrar ali acompanhada de uma mulher. – Ele dizia com certa magoa na voz. – Vou lá atrás dela.

-E vai me deixar aqui sozinha? – Falei irritada e puxei-o pra dentro do carro. – Não quero passar por mais constrangimento, vamos embora Gustavo!

Fim do capítulo