Música do capítulo – UB40 – Can’t help falling in love

Parte I

 

Passei a tarde angustiada com a falta de notícias, avisei na faculdade que não estava bem e faltaria, Marina também estava uma pilha de nervos, sentia-se culpada.

- Você não tem que se sentir assim, é tão vítima como todo mundo.

- Mas fui casada dois anos com ele e nunca percebi nada. Ela andava de um lado para o outro.

- Vem cá.

Marina sentou-se em meu colo, eu estava com a cabeça fervendo, cheia de perguntas, mas precisava passar tranquilidade para Marina.

- Se acalma, tudo vai se resolver.

- Te amo tanto Duda!

- Eu te amo mais.

 

Perto das oito horas Lara chegou, prendi a respiração e fiquei aguardando ela falar.

- Duda foi muito difícil, muito mesmo, o promotor queria te tirar do caso imediatamente e te afastar, mas conseguimos convencê-lo que seu envolvimento com Marina não interferiu em nada, mas ele alertou que os advogados do César vão usar isso para refutar as provas encontradas.

Soltei o ar aliviada, sorri e abracei Marina.

- Nossa nem sei como agradecer!

- Agradeça ao Lemos e à Marcelle, eles foram fundamentais. Até o secretário te defendeu.

- Não seria justo se afastassem ela. Disse Marina.

Lara sorriu e respondeu:

- Com certeza não. Agora ouçam vocês duas, mais do nunca vão precisar manter a descrição e quanto à você Marina, será chamada para depor.

- Eu? Mas não sabia de nada.

- Fica calma, é mais para esclarecer tudo, o promotor deve te chamar nos próximos dias, aconselho a ir acompanhada de um bom advogado.

- Tudo bem.

Marina estava meio perdida com tudo, segurei sua mão para passar segurança.

- Se precisarem de alguma indicação, a prima da Janine é advogada e das boas.

- Queremos sim.  Respondi – Agora quais são os próximos passos?

- O promotor vai pedir um mandato para revistar o apartamento onde vocês viviam.- Respondeu olhando para Marina – A partir daí, poderá ser expedido um mandato de prisão contra o César.

- Nunca imaginei uma coisa dessas.

- Não se chateie Marina e dê graças a Deus por você não saber de nada. Por um acaso você assinou algum documento ou papel em branco à pedido dele?

- Não.

- Ótimo, agora preciso ir. Te vejo amanhã Duda e Marina se cuidem tá?

- Lara?

Minha amiga estava de costas e virou para encarar Marina.

- Obrigada por tudo, nem como agradecer!

Lara ficou sem graça e respondeu:

- Cuidando bem dessa maluquinha.

Lara bagunçou meu cabelo e saiu, nos deixando mais tranquilas.

No dia seguinte fui trabalhar, deixei Marina na clínica e quando cheguei vi uma grande movimentação, Lemos acenou e fui até ele.

- Que bom tê-la aqui, temos muito trabalho. O juiz expediu o mandato ontem à noite e hoje fomos até o apartamento onde César mora ou morava, encontramos um cofre com muitos documentos e anotações, recolhemos um notebook e achamos também um anel.

Meus olhos brilharam com a informação, sentia que estava chegando perto de solucionar aquele caso.

- Lara está examinado os documentos, quero que você ajude em tudo o que ela precisar.

Fui imediatamente até sua sala e encontrei minha amiga e sua equipe, debruçada sobre vários papéis, para variar estavam em códigos.

Todos os documentos apreendidos levaram alguns dias para serem decodificados e ao final o resultado foi meio frustrante, apesar de todas as evidências de César fazer parte da quadrilha e ser um membro ativo, nada apontava quem era o tal duque, César era marquês também e se reportava a alguém.

Porém a sorte me sorriu uma semana depois, estava periciando o anel e percebi uma linha em volta, parecia que estava soldado ou colado. Pedi ajuda ao Edu e conseguimos abrir o anel, que ao contrário dos outros anéis encontrados, esse era mais grosso. Dentro do anel, havia um pedaço de papel com a seguinte inscrição: Duque “104422” , fiquei olhando tentando entender e decifrar o que podia ser.

Levei até Lara, ela olhou com interesse e pensamos em várias coisas, alguma data de nascimento ou alguma data específica.

- Deixa comigo Dudinha, vou descobrir o que é, minha menina prodígio. – Disse piscando.

- Boba! Estamos todos juntos nisso.

 

Nesse mesmo dia, chegou uma outra caixa, dessa vez endereçada ao departamento em geral, foi encontrada próximo à portaria, as câmeras de segurança flagraram um homem de estatura mediana, boné enterrado na cabeça, largando a caixa e correndo em direção a um sedã cinza estacionado do outro lado da rua, não foi possível identificar a placa.

Novamente o esquadrão anti bombas foi acionado, mas não havia uma bomba lá dentro e sim um pássaro morto, mais nada.

- O que eles querem com isso?  Perguntou Lorenzo.

- Nos assustar, mas não vão conseguir. Respondeu Lemos.

Voltamos para nossos afazeres e no final da tarde, enquanto escrevia um relatório, uma luz se acendeu, corri até a sala da Lara, entrei sem bater.

- Lara acho...

Parei na hora, sentados estavam além dela, meu chefe e o secretário de segurança, falavam sobre o caso.

- Como vai Maria Eduarda? Pergunto o secretário todo simpático.

Apertei a mão e dele e fiquei sem graça.

- Aconteceu alguma coisa?  Perguntou meu chefe.

Falava ou não falava? Fiquei em dúvida, mas resolvi falar.

- Acho que sei o que significa aqueles números que encontramos dentro do anel do César.

O secretário me olhou desconfiado e Lemos mexeu na gravata.

- Pode falar Duda, somos todos ouvidos. – Disse o secretário.

Lara acenou e eu continuei:

- Acho que é uma conta numerada, pelas características e de algum banco suíço.

Lara sorriu, e quando ela sorria daquele jeito, era sinal de que concordava comigo.

- Como não pensei nisso antes? Você tem razão!

- Muito bem Duda, vamos ver o que conseguimos com nossos colegas da Suíça. Disse Lemos.

- Agora se me dão licença preciso ir...

- Que nada, já íamos te chamar, sente aqui. Apontou Lara para uma cadeira.

Sentei e Lemos começou a falar:

- Duda o juiz expediu um mandato de prisão para o César, como ele está foragido, vamos colocá-lo na lista de procurados da Interpol, se conseguirmos prendê-lo, daremos um grande passo para descobrir quem é o duque.

- O depoimento da Marina foi muito esclarecedor. – Completou o secretário.

Um dia antes, acompanhada da advogada, doutora Natália, Marina foi até o gabinete do promotor e prestou esclarecimentos, segundo a advogada, tudo correu perfeitamente bem.

A reunião terminou e Lara pediu que eu ficasse.

- O que foi? Perguntei desconfiada.

- Serei direta Dudinha, estamos muito perto de pegar o César.

- Me explica isso direito.

- Lorenzo conseguiu uma informação na Espanha, o César estava lá, na cidade de Valência, deve ter desconfiado de alguma coisa e veio para a Argentina, conseguimos rastreá-lo em Córdoba, agora que saiu o mandado de prisão, ele deve se movimentar.

- Tomara que peguem logo esse desgraçado.

- Mas não é só isso. Duda acho prudente você pedir uma licença na faculdade.

- Mas por que?

- Você está sendo seguida, desde que aquele relógio chegou, o Lemos pediu secretamente para te monitorar, descobrimos e prendemos um sujeito na porta do seu prédio.

Gelei, tinha a sensação de estar sendo vigiada, mas achei que era só impressão.

- E só agora você me avisa? Estava irritada.

- Não se chateie, fizemos isso para te proteger.

Ainda estava incomodada, mas Lara não tinha culpa e fez o que fez para me proteger mesmo.

- O que o cara falou?

- Basicamente nada, disse que era seu fã e te acompanhava há muito tempo e foi só. Logo chegou o advogado, um dos melhores que conheço, foi inclusive meu professor na faculdade.

- Que estranho né?

- Estamos investigando isso também, na casa do cara encontramos algumas coisas a seu respeito e fotos em restaurante, no shopping e num bar junto com a Marina.

- A quem interessa minha vida?

- Duda presta atenção, você levantou a lebre logo que o deputado morreu, estão de olho em você desde então. Por isso que peço para você se afastar da faculdade, até o César ser preso e informar quem é o duque.

Ponderei um pouco e Lara tinha razão, não podia me colocar em risco e nem Marina, acabei aceitando, fui até a minha sala e enviei um e-mail ao coordenador, explicando toda a situação e pedindo afastamento não remunerado por três meses.

Em casa contei a novidade para Marina, omitindo a parte do doido que estava me seguindo, minha ruiva ficou feliz.

- Que bom amor, assim posso curtir você por mais tempo.

- Vai ser bom, teremos mais tempo para nós e para cuidarmos do nosso casamento.

- Já encomendei meu vestido.

- Vai ficar linda meu amor, vou ter que pegar leve na maquiagem, senão vai borrar tudo.

- Você não vai mesmo dizer onde vai ser a cerimônia? Escolhi meu vestido no escuro.

- Seja o que for, vai ficar perfeito em você! E já disse no dia você vai descobrir.

- Minha mãe só disse para escolher um modelo leve e não comprar sapato, o que me faz crer que deve ser num sítio ou fazenda.

Não respondi, preferi agarrar minha ruiva e enchê-la de beijos.

- Ai Duda você é tão tarada! Disse mordendo meu ombro.

- Você que me deixa assim.

Beijei cada parte do corpo da minha ruiva, dei uma atenção especial em sua tatuagem linda, deixava Marina ainda mais sexy.

Nos entregamos a uma noite de luxúria, Marina me deixou cheia de marcas, fomos dormir com o dia clareando, sabia que em poucas horas teria que levantar para trabalhar.

 

Acordei com a campainha tocando de forma frenética, olhei assustada e Marina dormia pesado, olhei para o celular e não era nem seis horas. Levantei, vesti rapidamente o pijama e fui abrir, Lara entrou feito um furacão.

- Por que você não entende a porr* do seu celular? Perguntou nervosa.

- Bom dia pra você também Lara! Respondi sarcástica.

- Duda é sério, cadê a Marina?

- Está dormindo...

- Vá acordá-la, agora.

Seu tom autoritário me deixou surpresa, fui acordar Marina, que meio sonolenta foi comigo para sala e para nossa surpresa Natália tinha acabado de entrar. Percebi na hora que algo muito ruim tinha acontecido.

- O que foi gente?

Natália pegou o celular e abriu num portal de notícias e quando li, senti o sangue sumir, se não tivesse sentada, acho que teria desmaiado, peguei o celular e fiquei enojada com o que estava escrito. Em matéria de capa, aparecia uma foto minha com Marina, tirada no dia do aniversário da Bia, a legenda já era péssima: Perita criminal envolvida com a esposa do principal investigado. A matéria falava que eu estava emocionalmente envolvida com Marina e por isso não tinha menor condição de chefiar o departamento de perícia de uma investigação tão séria.

Em outro portal, de um grande jornal, o tom era o mesmo e o editor exigia a minha saída das investigações, pois segundo ele, eu estava arruinando todo um trabalho de meses da polícia.

Marina arrancou o celular da minha mão e devolveu para Natália.

- Amor isso não tem nada a ver, todo mundo sabe.

Não tinha reação, pedi para ver mais, mas Lara não permitiu.

- Dudinha você vai precisar se afastar por um tempo...

- Não! Por favor Lara, não fala isso, você sabe, o Lemos sabe...

- Todos sabemos minha querida, mas nesse momento queremos te preservar e por isso esse afastamento é essencial.

Fiquei tão revoltada com tudo aquilo, era injusto demais, olhei para Natália esperando uma palavra de consolo.

- Duda é o seguinte, nesse primeiro momento você e a Marina precisam se isolar, se possível saiam de São Paulo, fiquem longe de televisão e internet, fujam de entrevistas, até a poeira baixar.

- O que o promotor acha disso?

- Ele tem certeza de que tudo isso foi uma grande armação, por isso ele pediu seu afastamento, assim a investigação deve ser concluída e será provado que você foi isenta do início ao fim.

- Tudo bem, vamos fazer isso.

- Marina você também, eles virão pra cima de você. Conversei com o promotor e ele acha uma boa ideia, você conceder uma única entrevista para o programa jornalístico de domingo à noite, lá você esclarece tudo e ajuda a Duda.

- Faço o que precisar para ajudar.

- Não precisa se expor linda, sei que você não gosta...

- Eu quero e eu preciso fazer isso.

Natália acenou e disse que deixasse tudo por conta dela, que marcaria a entrevista, mas as perguntas deveriam ser entregues antes. Concordamos, logo depois elas saíram e ficamos nós duas em silêncio, volta e meia meu celular tocava, mas eu não quis atender.

Flavinha e Bia apareceram na hora do almoço, perguntaram se não queríamos ficar no apartamento delas, já que a porta do nosso prédio estava repleto de jornalistas, recusamos, não queríamos expor nossas amigas.

Assim que elas foram embora, fiquei pensando em uma alternativa, não podia ficar ali, ir para Brasília ou Goiânia era fora de cogitação, não podia expor a minha família. Meus pais insistiram bastante, mas disse que nesse momento era complicado. Laís e Vítor também ofereceram o apartamento e recusamos.

 

Fim do capítulo