2. O assalto
Havia uma gangue especializada em roubar joias preciosas desde a época que a palavra tinha acento. Tinham feito meia dúzia de emboscadas bem sucedidas, porque eram comedidos, e porque cada assalto rendia um bom tempo de luxos que só quem está desacostumado a ter, tem. Não podiam dar na pinta, para não dar na cara, então se esbaldavam nos iogurtes caros, nos Ifood todo dia, só bebiam água de garrafinha importada. Uma vida mediana para sujeitos acostumados à adrenalina do crime. Então decidiram por mais um.
Um diferente, quase inédito, em bairro de classe média para baixo, num prédio de uma avenida que quando chove muito, alaga, cidade inteira conhece – até quem é de fora já ouviu falar. Mora lá uma Fulana que herdou umas bugigangas que, segundo o seu Instagram, pertenceram à família real e o escambau. Coisa fina, de primeira, que ela ostenta entre as fotos compartilhadas com qualquer um, com quem quiser ver (e quem não quer ver, vê também. É impressionante as coisas que as pessoas expõem sobre a própria vida na internet, de graça).
Oitavo andar de um prédio de nove andares. Só esse começo já deixou geral eriçada: como assim, nove, e não dez andares? Quem projeta uma coisa dessas? Uma entrada para carros, uma para pedestres, porteiro só virtual. Ficar de tocaia foi fácil, na esquina fica o estádio do Guarani, time da série J do Campeonato que não passa na tevê. Vira e mexe tem ali uns tiozinho da prefeitura que sazonalmente arrancam as flores mortas do canteiro e plantam outras (eles eram mais frequentes que o caminhão-pipa que regava as pobrezinhas). Algum tipo de lavagem de dinheiro, certeza, mas esse já é outro tipo de roubo. Um de cada vez, vamos com calma.
Dia do crime, tudo certo com o plano, a entrada seria suave, sem chamar atenção, coisa que pretendiam resolver em dez minutos, se o elevador não enguiçasse na subida. E teria sido, não fosse uma testemunha ocular, que morava próximo dali, em dias secos: Navegantes, o morador de rua que avisou à polícia, que sempre lhe dava coxinha.
Um cerco policial foi montado, grades de contenção foram postas, todo um aparato policial esquematizado para frustrar a tentativa dos ladrões, que se viram acuados e tiveram que se render. Ao todo, 12 homens de touca foram detidos, e aquela certamente seria mais uma história que aquele homem que lembrava um pirata contaria, e ninguém ia acreditar ser verdade.
*
Ao terminar de escrever, Clarisse voltou para a janela, de onde via, contra a luz acesa do estádio, que anunciava um jogo, o giroflex de quatro carros da polícia. Protegiam um ônibus, de um time da capital que ganhou de 1x0 do time da casa (que perde até para o time dos bombeiros.). Acenou de longe para Navegantes, que retribuiu com um sorriso.
Fim do capítulo
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cris05
Em: 06/05/2021
Mulher, eu amei Clarisse!
Autora, na medida do possível, você está bem?
Eu estava preocupada com você, ia até mandar um email. Quando vi que tinha um conto novo fiquei aliviada, mas não consegui ler ontem e estava em cólicas rsrs.
Eu amo os seus textos. Já disse isso, mas não me canso de repetir rsrs.
Beijos e fique bem!
Resposta do autor:
Clarisse nasceu assim, na observação dos pedintes, eu sendo curió na janela em dia de jogo rsrs Que bom que gostou!
Na medida do possível estou bem, só que trabalhando muito, aí chega o fim do dia e eu não tenho olho pra mais nada rs
Pelo menos peguei um trabalho de ghost writter, então tô ganhando pra escrever (ainda que não seja o tipo de texto que eu gosto, e escrevo de graça rsrs).
Mas tenho trabalhado, quando dá, no Amor Incondicional. Em breve solto mais um capítulo!
Fico feliz que goste dos meus textos! Eu gosto dos seus comentários!
Me segue no insta, vamos ser amigas de rede social rsrs
Um beijo, e até logo! Se cuide!
P.S. Espero que esteja melhor da cólica!

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