CAPÍTULO 41 O PESADELO
Uma jovem negra de 16 a 17 anos, de cabelos afros bem espalhados na cabeça presos ao meio por bandana vermelha amarrada que vinha da parte de trás e ia até o alto da cabeça formando um laço. Estava vestida de uma forma simples que se resumia a um jeans azul básica e uma blusa, também básica, mas que em seu corpo magro ficava elegante. Timidamente deu três batidinhas na porta, aguardou um instante e, como sempre, ouviu a voz da patroa mandá-la entrar.
— D. Fabiana, o seu motorista chegou. Pediu para lembra-la da reunião de pais no colégio dos seu filhos — Fabiana levantou a cabeça dos papéis que ia começar a examinar.
Olhou para a mocinha que deveria ter no máximo 17 anos e que esperava a resposta em pé, sem ousar sentar. Era seu primeiro emprego e estava inscrita no programa “Jovem Aprendiz”, teve a sorte de ser alocada ali naquela loja onde pretendia chegar ao cargo de gerente, se Deus assim permitisse, portanto nada podia fazer para estragar seus sonhos.
— Mas já? Ainda é muito cedo, a reunião e só as 15:00 horas e ainda não são 14:00 — falava enquanto conferia a hora no relógio de pulso — diga a ele que já estou indo, vou só ajuntar umas coisas. Aproveito e dou uma passada no shopping para comprar umas coisinhas enquanto não chega a hora da reunião.
A mocinha saiu fechando a porta vagarosamente e sentou-se, em questão de minutos viu sua patroa abrindo a porta da sua sala e trancando a chave. Guardou a mesma em sua bolsa.
— Valdirene, minha filha, tire a tarde de folga. Como eu vou sair, não vejo necessidade de prender você aqui. Vá pra casa e descanse, amanhã pela manhã eu assino o seu ponto — logo pode ver a alegria estampada no rosto da garota.
Olhando para a menina ali, toda contente, lembrou das filhas e sentiu saudade de casa acompanhada por uma dor no peito.
Esperou Valdirene juntar suas coisas e saíram pela saída dos funcionários, nesse horário em que todos estavam na frente da loja vendendo ou recebendo mercadoria não seria bom atrapalhar, tendo em vista que a tarde o movimento era sempre maior que pela manhã. Saíram e não foram vistas por ninguém.
Fabiana colocou o óculos esportivo preto para diminuir o impacto dos raios solares que estavam especialmente quentes nesse horário, esperou a garota dobrar a esquina e se dirigiu para onde o carro do segurança estava estacionado. Não viu o carro, a não ser um palio cinza que jurava já ter visto antes, deveria ser de algum dos funcionários que preferiu deixar ali mesmo do que colocar no estacionamento próprio para os colaboradores da loja. Já ia voltando quando uma voz paralisou suas pernas as deixando pesadas.
— Boa tarde, meu amor. Hoje eu sou o seu segurança — lentamente fechou a porta do carro e com a mão direita balançava a chave que fazia um barulho irritante.
Chegou bem em frente à Fabiana que estava ofegante e paralisada no mesmo local, só olhando o homem se aproximar.
— Não vai dizer “oi” ao seu marido e pai dos seus filhos? — parou frente à frente com os braços cruzados escondendo a mão enfaixada por dentro do casaco preto que estava usando em pleno sol escaldante.
Ao perceber o olhar de Fabiana falou cinicamente:
— Não se preocupe, a falta dos dedos não vai impedir de te proteger como sempre fiz. Quem te come com os dedos é aquela doente, aliás, eu não entendo o que uma mulher quer se esfregando em outra, para você talvez não faça diferença, nunca gostou mesmo de sex*. Mas como eu sou um homem moderno e durante esse tempo em que estamos separados você só trans* com dedos, eu também vou te dar prazer com os dedos, tá bom assim? — falava como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— O que você quer aqui, Alberto? Vou ligar para a polícia! Você tem uma ordem restritiva, não pode chegar perto de mim, quanto mais falar essas besteiras. Homem, vai viver a tua vida! Me esquece! Não te amo, nunca te amei, casei com você por medo de enfrentar a vida.
Tirou o celular da bolsa e, antes de discar, Alberto também tirou o seu do bolso e abriu o casaco mostrando a Fabiana o revólver.
— Se ligar para a polícia eu ligo para uma pessoa, ele traz pra mim aquela sapatão dos infernos e a filhinha dela. Como eu disse antes, vou comer as duas, frente e traz, quando terminar elas não vão servir para mais ninguém e vou cortar os dedos e a língua delas.
Quero ver como vão fazer depois.
Fabiana parou na hora, sabia que ele estava falando a verdade, pois a voz do outro lado da linha estava pedindo o endereço para ir buscar a “sapatão mãe”. Fabiana não reconheceu o dono da voz, mas sabia que um passo em falso ele pegava sua Lu e isso não ia admitir jamais. Então tomou a decisão mais difícil da sua vida.
— Tudo bem, eu vou com você, mas deixe a Luíza e Bia em paz. Elas não têm culpa de nada — quase implorava e ele deve ter percebido seu desespero, pois tentou acalmar a situação.
— Não se preocupe, meu amor, só você me interessa. Mesmo assim, me entregue seu celular — estirou a mão sadia para pegar o aparelho que relutantemente foi obrigada a entregar, assim que ele pegou, desligou e em seguida guardou no bolso da calça. — Agora vamos indo.
Afastou de lado para que ela fosse em direção ao carro. Quando sentou no banco traseiro ele a puxou com violência deixando marcas no seu braço de pele negra obrigando-a a se sentar a seu lado.
— Para onde está me levando, Alberto? Pensa bem na besteira que está fazendo, você vai acabar sendo preso por sequestro
Queria puxar conversar, assim, com jeitinho, fazer com que o carro fosse registrado nas câmeras espalhadas em frente a sua loja que a cada dois minutos faziam um giro de noventa graus filmando tudo que estava em frente à loja. Por insistência do delegado havia mandado colocar mais duas, uma na loja do fim da rua com autorização do dono e outra no início que ficava em poste de luz. Como eram mudanças pós Alberto, ele nada sabia sobre as câmeras e aí estava toda sua esperança.
— Não tenho mais vida desde que aquela raça se mudou para cá, por isso vamos embora daqui, antes, porém tenho que ir em um canto. A polícia nunca vai encontrar nós dois.
Dirigia rápido e foram se afastando do centro em direção a periferia. Fabiana reconhecia o local, já tinha andado por ali com a Luiza quando estavam olhando uns terrenos para comprar. Depois de meia-hora rodando, eles pararam em frente à uma fábrica abandonada e com muita dificuldade ele pegou uma mochila e jogou nas costas. Quando seu celular tocou, olhou quem era e resolveu atender.
— Fala logo mãe... Não, não sei... Tá bom. Eu vou chegar já... Tá, vou desligar, estou dirigindo.
Chamou Fabiana e fez com que andasse um pouco. Entraram na fábrica abandonada e num canto pode ver uma manta no chão, lençol, uma garrafa de água mineral pela metade, pedaços de frutas espalhadas e depósitos de isopor com restos de comidas estragada. Nessa hora Fabiana temeu por sua vida realmente.
— Aqui dentro dessa bolsa tem roupas e calçados, troque de roupa rápido — enquanto falava apontava uma arma para ela.
Fabiana pegou a bolsa e procurou um local para se vestir conforme ele ordenava.
— Mesmo não achando necessário, já que eu sou o seu esposo e conheço esse corpo melhor que ninguém, mas ali atrás tem uma porta. É lá onde fica o banheiro e já vou logo avisando, não tem janela para sua fuga — apontou a porta.
Fabiana se encaminhou lentamente, uma vez lá dentro, notou a sujeira e abandono do local. As paredes sujas, como em todo local que olhava, ela encontrava casa de aranhas, o fedor do aparelho sanitário fez seu estômago embrulhar e sentiu que a qualquer momento seu almoço sairia para fora. Assim que tirou toda a roupa abriu a mochila que Alberto tinha lhe entregado, olhou e dentro tinha um vestido simples, uma calcinha e um par de sandálias baixinhas, mesmo não entendo o porquê daquilo resolveu fazer o que ele mandava, afinal, assim que sentissem sua falta iriam atrás dela. Só esperava que não demorasse muito para encontrar o seu paradeiro, cada segundo perto daquele homem que um dia foi seu marido e pai dos seu filhos causava lhe ânsia de vômito.
O olhar desse Alberto era um olhar de louco, de um homem cruel capaz das maiores barbaridade possíveis. O pequeno alívio vinha principalmente em saber que passaram por muitos locais com câmeras, era só questão de tempo e, quando isso acontecesse, estaria livre dele. Dessa vez seria preso, tudo dentro da lei, era com isso que contava e rezava.
Fim do capítulo
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