CAPÍTULO 39 FAMÍLIA UNIDO
CAPÍTULO 39 — FAMÍLIA UNIDA
Luís Carlos saltou da sua confortável poltrona já puto da vida e falando sozinho:
— Então aquele bandido filho de uma puta! Ele estava brincando com meus nervos fazendo e acontecendo bem embaixo do meu nariz — e nada podia fazer.
Uma porr* que não podia fazer nada.
“Agora eu meto uma bala na cabeça do Alberto com todo prazer” — Pensava enquanto se irava mais — “E se por acaso ele estrupar a ex-esposa como chegou a ameaçar, farei com que cada preso coma aquele filho de uma cachorra e depois meto uma bala na cabeça dele”.
— Quem viu ela pela última vez, dona Luíza? Me conte tudo — por fora perguntava de forma séria, mas seus pensamentos já estavam exaltados.
— Não sei! Uma pessoa ligou se passando pelo segurança dela e avisando da substituição, perguntou a que horas seria a reunião de pais no colégio e que ele iria até o local de trabalho para levá-la — Luíza dizia rapidamente do outro lado da linha demonstrando seu nervosismo.
— Preciso que peça a pessoa responsável pelas câmeras da loja que me envie uma cópia das gravações. Estou enviando para o celular da senhora o endereço que quero que encaminhe, quero isso com urgência! Não podemos demorar, um segundo vale ouro — desligou o telefone e buscou o celular no bolso.
Desbloqueou e enviou o endereço da delegacia, em seguida buscou nos contatos o número do Sales e, antes do agente perguntar algo, já foi logo dando ordens.
— Sales! O desgraçado raptou a ex-esposa. Venha para cá, mas antes passe no hospital e dê uma carona a Evaldo, vou falar com meu amigo de lá para dar uma folga a ele, o diretor do hospital me deve favores.
Sales nem precisou de mais detalhes, entrou no carro, ligou e saiu em disparada para o hospital Gonzaguinha. O delegado seguiu para o próximo contato da sua lista:
— Danielle, preciso que jogue na rede a foto do infeliz o acusando de sequestro e tudo que puder inventar! Ele sequestrou dona Fabiana — procurou na gaveta a arma clandestina, a que não era usada no dia a dia. Pegou um silenciador, enroscou, verificou o tambor das balas e colocou no coldre.
[ ... ]
Marcelo foi o primeiro a chegar, mal entrou já foi logo abraçando a irmã. Se afastou um pouco e perguntou:
— Alguma notícia da mamãe?
— Nada ainda. Já enviei a filmagem da loja para o delegado e tem uma cópia no pendrive aí na TV.
Marcelo passou direto para o quarto, na parte de cima do guarda-roupa havia uma arma. A pegou e colocou no cós da calça na parte detrás e desceu para onde os irmãos estavam.
— Vou na casa do nosso tio. Ele vai ter que dizer para onde o irmão dele levou nossa mãe.
— Cara, ele não vai dizer nada — Bia avisou — você se esqueceu que quando ele descobriu que eu e a Marina estávamos namorando ele ficou do lado do seu pai, mesmo sabendo que a sua prima passou o dia inteiro dando em cima de mim? Eles são tudo farinha do mesmo saco.
— O que não dá é ficar aqui sentado esperando notícias — falou impaciente.
Quando o telefone tocou todos correram ao mesmo tempo, foi um amontoado que quase não sobra espaço para Luíza pegar o telefone.
— Pode falar delegado.
— Conseguimos uma boa pista. Já tenho dois homens por perto prontos para invadir o cativeiro a qualquer momento — o homem falava rápido — assim que se sentirem seguros a senhora e o Marcelo podem ir conosco, acredito que quando a resgatarmos ela vai querer as pessoas que ela ama ao lado. O restante fica em casa que logo, logo estaremos de volta — encerrou a conversa.
— O que foi que ele disse? — Marcelo questionou.
— Acharam minha mãe? Ela está bem? — Marina tinha uma voz aflita.
— Calma gente... eles descobriram o cativeiro e o delegado está indo para lá — olhou para Marcelo que estava uma pilha de nervos — Marcelo, eu e você vamos juntos, ordens do delegado. E vocês, fiquem em casa, Fabiana vai querer ver todos juntos quando chegar — todos concordaram.
Marcelo se adiantou e junto de Luíza deixaram a casa. O telefone fixo da casa voltou a tocar novamente, todos correram para atender na esperança de mais notícias.
— Alô, residência dos Linhares?
— É sim. Aqui é Marina, sou a responsável no momento, pode falar — atendeu educadamente.
— Dona Marina, tem umas moças aqui pedindo autorização para entrar.
— Moças? Que moças são essas? — Não imaginava quem poderia ser e não estava com cabeça para fazer uma social com ninguém.
— Elas dizem ser Rosely, namorada do seu irmão. Helena, namorada da sua irmã e uma moça chamada Sabrina — o porteiro ficou aguardando a ordem para liberar a entrada.
— Pode liberar a entrada — ficou pensativa, o que Sabrina vinha fazer em sua casa?
Alguns minutos seguintes três garotas tagarelas entraram na sala e cada uma agarrou sua cara metade, Sabrina abraçou a todos e ficou por perto onde Marcos estava abatido e com cara de quem chorou. Achou estranho a dorzinha que ameaçava nascer dentro do peito, então percebeu a tristeza e o desespero em que o garoto se encontrava. Estava acostumada com um Marcos rindo e fazendo piada de tudo, vê-lo desse jeito era de cortar coração, não sabia nem o que dizer para levantar o astral do garoto.
— Como é que ficou sabendo das novidades? — Ele a encara com aqueles olhos verdes.
— Não precisa ser um gênio para perceber que as coisas não estavam indo bem depois de ver vocês saírem do jeito que saíram, aí perguntei a Rosely e ela falou por alto. Então pedi para vir junto, fiz mal? — Já estava começando a se arrepender da ideia de vir junto.
— Não, claro que não. Só não sei se serei uma boa companhia, isso tudo tá sendo demais para mim — colocou a cabeça entre as pernas escondendo o rosto.
Sabrina viu que ele chorava baixinho e nem pensou no que estava fazendo, só fez. Também não parou para analisar seus atos, isso iria ficar para depois. Sentou na ponta do sofá, que achou imenso e fora dos padrões, mas que talvez fosse porque aquela família também era imensa, revirou os olhos com os pensamentos bestas. Isso lá são horas de examinar sofá e no tamanho da família? Ela bem que queria uma família grande, em sua casa eram só ela é uma irmã.
Sentou-se quase no colo de Marcos e com delicadeza ergueu sua cabeça, fitou seus olhos inchados com jeitinho, passou o braço ao redor de seu pescoço e abraçou forte. Marcos se deixou ser abraçado e sentiu-se novamente com seis anos deitado no chão ouvindo a mãe dizer “não” e o pai a forçando ter relações com ele. A mesma criança que ouvia os gemidos e palavras obscenas que o pai dizia enquanto realizava o coito sem poder fazer nada, nunca pode fazer nada, sempre foi incapaz de defender a mulher que era o sol na sua vida. O abraço quente, o cheiro de lavanda e a paz que sentiu foi capaz de fazer com que ele contasse seus medos mais uma vez.
— Morro de medo dele estuprar minha mãe outra vez. Justo agora que ela sabe o que é ser amada e sabe o que é ser tocada com carinho, principalmente que sabe o que é o amor — ele olhava dentro dos olhos da garota ruiva de olhos verdes como o seu.
O cabelo incrivelmente bagunçado e sem um pingo de maquiagem, rosto limpo, puro e cheio de sardas. Era perfeita, linda e Marcos estava fascinado.
Sabrina ouvia tudo que ele dizia cheia de perguntas, mas não queria ser invasiva, eles não se conheciam há muito tempo e não se achou no direito de perguntar nada. Esperou que Marcos continuasse o que estava dizendo, se ele quisesse, pois a ela parecia que essas coisas eram o inferno onde o garoto viveu na infância.
— Minha mãe se casou sem amar meu pai, só porque estava com medo de enfrentar a sociedade e quem ela se apaixonou havia ido embora. Eles eram amigos e ela achou que daria certo, meu pai era alucinado por ela. Quando nasceu meu irmão mais velho toda sua atenção foi para ele e meu pai não gostava disso.
— Mas é normal a mulher dedicar seu tempo ao bebê. O marido precisa ter é paciência e ajudar no cuidado da criança — falou sem pensar e se arrependeu logo em seguida — me desculpe, eu não deveria ter dito isso.
— Não, tá de boa. Você pode dizer o que quiser, só disse essas coisas uma vez na vida e agora... com você — sorriu de canto da boca.
Um sorriso tímido que fez voar borboletas no estômago de Sabrina.
— Quando ela começou a se recusar a cumprir seu “papel de esposa” — fez aspas com a mão e continuou — ele começou a forçar a barra. A mamãe tinha filhos de nove em nove meses, ele não respeitava nem mesmo o seu resguardo.
— E sua mãe? Por que não procurou a família, os pais, alguém para contar, uma amiga? — Ela perguntou.
— No começo ela achava que todo casamento era assim. Minha mãe era órfã, foi criada pelos avós que idolatravam meu pai, naquela época não se falava de sex* como hoje em dia. Além de tudo, ela achava que o problema era com ela — Marcos explicava.
— Essas coisas nunca é culpa nossa, os homens é que fazem a mulher achar que ela é a culpada de tudo. Isso é questão cultural, graças a Deus que a mentalidade de algumas pessoas está mudando — falava exaltada, o que deixava um brilho nos olhos do Marcos.
Continua...
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Sem comentários
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook: