POV MARCELA

 

 

         As horas se arrastavam pelo dia, meu celular não parou de tocar e por fim decidi desliga-lo. Eu ainda estava de cabeça quente e precisava agir certo, eu preciso me segurara pra não agir por impulso. Jaqueline e eu tínhamos casado com comunhão parcial dos bens, e se eu fosse pedir o divorcio ela ficaria com metade de tudo que sempre foi meu. Praguejei por ter sido tão burra e não escutado os concelhos do meu pai. Mas Jaqueline iria me pagar caro e ela não teria nada do que é meu. Sandro era outro que estava na minha lista de traíras, ele devia ter me contato o que tinha visto. Tentei não ficar pensando demais e me concentrei no trabalho, teria uma reunião logo mais e não posso perder esse contrato.

 

-Desculpe o incomodo Marcela. – Alice tinha certo receio na voz ao me interfonar. – Mas Cristina Meester já se encontra a sua espera, na sala de reuniões.

 

-Avise que estou indo. – Falei ríspida, mas logo me arrependi. – Obrigada Alice.

 

        Ninguém tinha culpa dos meus problemas, inclusive a forma com que tratei Beatriz mais cedo foi horrível, e eu não sou essa pessoa que desconta as coisas em outras pessoas. Fui ao banheiro que tinha em minha sala e tentei ficar mais apresentável pra reunião.

 

          Cheguei à sala de reuniões e Cristina me aguardava com seu agente, faríamos uma campanha grande o marketing seria todo da nossa parte. Todos já estavam em seus respectivos lugares, só estavam aguardando minha chegada.

 

-Boa tarde. – Falei seria e todos me responderam. – Podemos começar?

 

        Demos inicio a reunião e por algum motivo meus olhos estavam fixo em Beatriz que estava ao lado de Lívia fazendo algumas anotações em sua agenda e eu sabia que ela sentia meu olhar sobre ela.

 

-Pensamos em fazer a campanha em Nova York. – Felipe, era o gerente de marketing e era o melhor. – Acha que seria possível Marcela?

 

-Marcela? – Lívia me chamou e eu despertei do transe.

 

-Claro, pode ser. – Me endireitei na cadeira e depois pediria a Alice que me informasse com clareza as pautas da reunião. – Organize tudo e me apresente tudo até amanhã Felipe.

 

        Encerrei a reunião e sai de lá, eu estava ficando louca, esse tanto de coisa acontecendo na minha vida estava me fazendo perder a sanidade. Peguei meu celular e liguei pra minha amiga Melissa, era uma das poucas pessoas que me entendia.

 

-Marcela Ferraz me ligando? Está rolando algum furacão no Brasil que eu não esteja sabendo? – Melissa era minha melhor amiga desde o colegial.

 

-Só preciso de um colo de amiga, tem ai pra mim? – Falei manhosa e ela sorriu pelo telefone.

 

-Sempre tem minha amiga, estou chegando ai em vinte minutos. – Desligamos e eu virei minha cadeira olhando a cidade de cima.

 

 

POV BEATRIZ

 

         Depois que Marcela chamou minha atenção no elevador, meu dia ficou cinza. Eu não esperava por essa recepção, ainda mais depois de ontem, depois dela ter me deixado em casa. Suspirei fundo e fui fazer meu trabalho, hoje eu estava montando algumas produções pra postar nas mídias da Cyber.

 

-Hoje você está tão calada Baby! – Lív me abraçou por trás e colocou o queixo em meu ombro. – Aconteceu algo?

 

-Nada demais, um pouco cansada talvez. – Ela sorriu em passou os braços pela minha cintura, e meu corpo enrijeceu. – Lív, estamos trabalhando.

 

-Só estou te abraçando Bia. – Ela sorriu divertidamente. – Não farei nada que você não queira.

 

-Lívia. – A repreendi e Alice apareceu nos chamando pra reunião.

 

         Ela cutucou minha cintura e peguei minha agenda subindo pra sala de reuniões. Ninguém menos que Cristina Meester estava e eu confesso que estava empolgada em trabalhar com ela. Todos falavam e opinava na próxima campanha, a única pessoa que estava totalmente calada era Marcela e eu não sei por que ela me olhou o tempo inteiro, e aquilo me deixava desconfortável. Felipe a chamou e eu sustentei o olhar dela por alguns segundos, a reunião foi encerrada e ela saiu sem me olhar novamente.

 

-Bia, meu aniversário está próximo. – Lív passou o braço no meu e fomos pro elevador. – Quero sua ajudar pra decoração.

 

-Ajudo sim. – Ela sorriu pra mim. – Já tem um tema?

 

-Pensei em pool party. –Ela estava bem empolgada com isso. – Quero fazer na minha casa mesmo.

 

-Amo festas na piscina.

 

-E eu quero você presente, nem adianta recusar. – Ela fazia cocegas em mim.

 

-Fazer o que né? – Fiz uma cara de entojada e ela me olhou indignada. – Vai contar como hora extra?

 

-Ah palhaça, vou lembrar as suas palavras quando Marcela perguntar sobre seu desempenho. – Gargalhei alto e chegamos ao sexto andar.

 

          O resto do dia foi tranquilo, e calmo. Lívia estava envolvida no marketing com Felipe e eu continuei minha tarefa. Não vi a hora passando quando dei por mim já se passava das sete da noite, e mais uma vez eu passei do meu horário sem ao menos perceber. O estúdio estava praticamente vazio e Lívia já tinha saído há umas duas horas antes, peguei minhas coisas e sai, dando de cara com Marcela na porta da sala que eu estava.

 

-Boa noite senhorita Mendes, ainda por aqui?  - Ela tinha uma expressão de cansada. – Já deu a sua hora.

 

-É pra compensar meu atraso. – Rebati um pouco irritada, pois ainda estava chateada pela forma que fui tratada mais cedo.

 

-Entendo. – Balancei com a cabeça e apertei o botão do térreo. – Vai parar no térreo por quê?

 

-Uai, prefere que eu durma aqui, pra evitar atrasos? – Respondi de forma debochada e ela sorriu.

 

-Não vai querer carona? – Marcela deve ter algum problema.

 

-Não, obrigada. – As portas do elevador se abriram e eu já ia me retirando.

 

-Eu vou te deixar em casa. – Sua fala foi firme. – E não é um pedido.

 

 

POV MARCELA

 

            Melissa não demorou muito e logo ela entrou em minha sala, minha amiga me conhecia melhor do que ninguém e logo foi me interrogando sobre o que estava acontecendo, contei tudo, contei sobre a possível traição de Jaqueline e a briga com meu irmão.

 

-Marcela, eu nunca me meti em seu casamento, muito pelo contrario, sempre apoiei todas as suas escolhas. – Me servi mais uma dose de uísque e ela continuou. – Mas sendo bem sincera, eu nunca conseguir acreditar de fato no “amor” de Jaqueline.

 

-Todo mundo sempre me diz isso, por algum motivo. – Revirei os olhos. – Mas eu sei que você foi a única que nunca me julgou.

 

-Eu jamais farei isso, sou sua amiga. – Mel tinha um olhar quase de pena, e eu odiava quando alguém sentia pena de mim. – Eu vou estar sempre ao seu lado! Mas o que você pretende fazer?

 

-Eu não sei Mel, se eu perguntar ela vai negar até a morte. – Melissa concordou com a cabeça. –Um pedido de divorcio arruinaria minha empresa, e isso é a ultima coisa que eu quero.

 

-Talvez Jaqueline tenha um pingo de dignidade e aceite um acordo. – Ela sugeriu e eu parei pra pensar. – Um acordo entre ambas as parte, mantem  o casamento, mas só pelos negócios.

 

-Preciso conversar com meu advogado sobre isso. – Me lembrei que meu advogado era meu irmão. – Na verdade preciso de um advogado novo.

 

-A única coisa que não vou passar mão na sua cabeça e essa briguinha com Sandro. – Lá vem Melissa com sermão. – Não faz sentido algum, você culpa-lo pelo erro de Jaqueline.

 

-Ele devia ter me contado, não faz sentido ele ter me escondido isso.

 

-Você teria acreditado? – Ela foi incisiva e eu abaixei a cabeça.

 

-Não. – Virei o resto do liquido do copo nos lábios e continuei. – Eu estava cega, eu passei sete anos da minha vida completamente cega.

 

-Mas agora está de olhos abertos e fará o que tem que ser feito. – Concordei com a cabeça e pensei em como abordaria o próximo assunto.

 

-Tem mais uma coisa. – Ela me olhou curiosa e eu suspirei antes de prosseguir. – Tem uma garota, que... bem... é... eu...

 

-Fala sem enrolar Marcela. – Eu tropeçava nas palavras.

 

-É uma garota que contratamos e eu não sei o que acontece quando estou próximo a ela. – Falei tudo de uma vez.

 

-Foi antes ou depois de você descobri sobre a traição? – Melissa questionou e eu parei pra analisar.

 

-Foi antes. – Suspirei novamente. – Foi no primeiro dia em que nos vimos.

 

         Melissa me olhou surpresa e eu comecei a contar o que acontecia comigo em todos os nossos encontros, contei sobre o cheiro dela que se instalou em meu carro e por isso eu não fiz besteira ontem. Mel ouvia tudo com calma e tinha um sorriso ligeiro nos lábios.

 

-Gente, confesso que estou surpresa. –Ela se levantou e pegou mais um café. – Sete anos de casada e nenhum desses anos eu nunca vi você falar de outra mulher que não fosse Jaqueline.

 

-Pois é eu não me reconheço quando estou perto dela. – Beatriz me deixava nervosa e isso era algo raro.

 

-Você algum tipo de atração por ela, isso é nítido.

 

-E eu não acho que seja só eu. – Mel se arrumou na cadeira e eu me lembrei de como Lívia elogiou Beatriz em seu primeiro dia na Cyber. – Lívia e Sandro também estão encantados por ela.

 

-Meu Deus, então ela é um tipo de Megan Fox brasileira. – Sorri da forma afoita que Mel disse. – Preciso conhecer essa gata também, quem sabe não mudo de lado. – Sorrimos juntas e realmente a Beleza de Beatriz era algo quase que surreal. – E o que você pretende fazer?

 

-Nada. –Melissa me olhou como que se perguntasse, “como assim nada?” – Eu ainda estou casada, e fora que ela deve achar que eu sou uma chefe insuportável que trata mal os funcionários.

 

       Comecei narrar o acontecido de mais cedo que ocorreu no elevador e Melissa balança a cabeça em negação.

 

-Com certeza ela deve estar te odiando Marcela. – Suspirei derrotada. – E nem vem com esse papo de “sou casada”, eu acho que você já respeitou demais esse seu casamento.

 

-Melissa, eu não sou esse tipo de pessoa que paga na mesma moeda.

 

-Mas devia ser Marcela, mas primeiro resolva seus conflitos internos. – Melissa era sabia, não era atoa que ninguém nunca lhe passou pra trás. –E não se esqueça de se desculpar com sua funcionaria.

 

         Conversamos mais um pouquinho e ela precisou ir embora pra pegar o filho no colégio. Fiquei analisando suas palavras após sua saída e em partes ela tinha razão, eu tenho que me resolver com Sandro, preciso resolver minha vida com Jaqueline e eu devo desculpas pra Beatriz.

 

           Passei o resto do dia trancada no escritório e se Tiana descobrisse que passei o dia sem comer e ainda tomando uísque ela brigaria comigo até amanhã de manhã, peguei minha bolsa desliguei tudo e desci. Estava planejando em pedir desculpas pra Beatriz amanha de manhã, mas o destino quis dar um empurrão antes.

 

-Boa noite senhorita Mendes, ainda por aqui?  -Hoje eu realmente fui injusta com ela, já que ela não se preocupava com o horário de ir embora. – Já deu a sua hora.

 

-É pra compensar meu atraso. – 1x0 pra ela.

 

-Entendo. –Ela estava irritada e eu sou péssima em pedidos de desculpas. – Vai parar no térreo por quê?

 

-Uai, prefere que eu durma aqui, pra evitar atrasos? –Sorri de sua forma debochada de me responder.

 

-Não vai querer carona? – Perguntei mesmo sabendo da resposta, mas eu não queria Beatriz chateada comigo.

 

-Não, obrigada. – As portas do elevador se abriram e Beatriz arrumou a bolsa no ombro preparando pra sair.

 

-Eu vou te deixar em casa. –Falei firme e pude ver ela estancar na porta. – E não é um pedido.

 

-Marcela, eu realmente agradeço, mas não preciso de carona. – Ela saiu e nem olhou pra trás.

 

-Merda. –Falei ficando sozinha no elevador.

 

 

Fim do capítulo