Andréia

Acompanhei Bianca até a varanda e a conduzi a uma poltrona confortável...

- Senta aqui que vou pegar seu suco. Quer de que? – perguntei

- Se tiver água de coco, eu prefiro...Pietra me deixou viciada - soltou uma leve risada.

- Seu pedido é uma ordem, Milady- brinquei

Peguei um copo e a jarra de água de coco e retornei até a italianinha.

- Aqui está seu vício – Disse já despejando o conteúdo da jarra no copo e a servindo.

- Obrigada – bebeu um pouco do líquido e fechou os olhos – huuum...delícia! ainda mais geladinha assim.

- Pietra fez questão de plantar coqueiros aqui, pois ama água de coco e essa é docinha, né?

- Maravilhosa!! – suspirou - agora senta aqui ao meu lado.

Olhe desconfiada pra ela e pensei...aí tem!

- Pois não, senhorita – me ajeitei ao seu lado.

- Déia, vou ser direta. Pietro é realmente apaixonado pela prima?

- Sim - respondi sem titubear.

Ela respirou fundo.

- Bom, vou lhe contar algo...não sei se Pietra lhe falou ou não... Essa noite dormimos juntas e em nenhum momento pensei em Pietro e hoje, me senti culpada, mas não arrependida.

Eu a olhei surpresa por tanta sinceridade.

- E tem mais...sua amiga bagunçou meus sentimentos... - continuou – Conversarei com Pietro e vou pedir pra ele ir atrás do que o faz feliz, pois vou fazer o mesmo. Não sei como vai ser entre mim e Pietra...mas vou tentar!

- É assim que se fala! Quando eu crescer quero ser igual a você - falei empolgada!

Escutei a gargalhada de Bianca.

- Você é uma figura, dona Andréia.

- Faz parte do meu charme, dona Bianca - pisquei pra ela.

- Ainda bem que tenho você e a nona como minhas aliadas

- Como se precisasse disso - balancei a cabeça

- Como não preciso? – perguntou

- Pietra é apaixonada por você, Bianca – falei sério a encarrando.

Ela arregalou os olhos

- Sério?

- Seríssimo! Pode acreditar! – respondi

- Bom saber! Essa Baiana que me aguarde! Ela não perde por esperar! – sentenciou

- Vou acompanhar de camarote, junto com Gabi...e claro! – falei esfregando as mãos uma na outra.

- Por falar em Biela, onde ela está? Pensei que estava com vocês.

- Estava, mas foi dar uma checada na produção dos queijos - informei.

Ficamos conversando por um bom tempo.

Foi assim que a Gabriela, sua mãe e o pai da Bianca nos encontraram.

- Mas olha só – falou sentando perto da amiga – Dei duro no trabalho,  fui buscar nossos pais e encontro as duas nesta folga toda!

- Ciao papà – Bianca levantou indo ao encontro do pai que abriu os braços – saudades, o senhor me esqueceu!

- Isso que falei com minha mãe também – reclamou Gabi.

- Olha nossas filhas carentes, patrão – a minha sogra falou sorridente – Que eu saiba, vocês estão vivendo os momentos e nem se lembram dos velhos pais aqui.

- Verdade, querida Antonia – o Senhor Matteo, pai da Bianca, falou olhando com um carinho exagerado pra funcionária me fazendo inclinar a cabeça atenta enquanto as filhas nada percebiam – Mas agora estamos aqui, juntos e matando saudades! Mas, já aviso que voltarão a ficar saudosas de nossa presença...

- Perché papà? – Bianca curiosa olhando-o.

- Perché quero incontrare um pouco mais do Brasile?! O Gio, me convidou a viajar com sua moglie para ilha de Taparica onde tem casa na praia da Penha; eu e a Antonia partiremos com eles depois de amanhã e ficaremos fora 2 semanas.

- Ilha de Itaparica! – corrigi rindo – Tia Patrícia tá precisando espairecer mesmo.

- Mamma também vai? – Gabriela franzindo o cenho surpresa – Não gosta de sair...

- Antonia precisa riposo – Matteo intrometeu-se – E Patrícia a convidou.

- Isso é verdade – Bianca indo até Antonia e a abraçando – Ela precisa descansar, espero que vocês se divirtam muito lá na ilha.

- Oh coisa maravilhosa, família reunida – Vovó entrando na sala em companhia da Pietra que buscou imediatamente a Bianca com os olhos sendo retribuída.

Matteo e Antonia cumprimentaram a senhora com abraços e começaram uma conversa animada. Pietra se aproximou da Bianca.

- Está tudo bem? – minha amiga indagou tocando-lhe o ombro – Saiu cedo...

- Si, sto bene! – a italiana respondeu sem olhá-la – E tu?

- Bem, também – Pietra com o semblante apreensivo – fiquei preocupada ao acordar e não te encontrar...

Bianca ergueu o olhar encarando-a em silêncio.

- Non preoccuparti – Bianca tocou-lhe a mão com carinho pra acalmá-la – Va tutto bene, viu?

- Queria ter tido tempo pra conversarmos, sobre... – Pietra olhou em volta pra ter certeza que ninguém lhe ouvia e eu disfarcei fingindo participar da conversa com Antonia e Gabriela, mas estava ligada no que elas falavam – o que vivemos ontem! Mas você não me deu oportunidade, fugiu do quarto.

- Conversaremos mais tarde, capisce? – Bianca sussurrou apreensiva com o teor da conversa em meio a todos que estavam perto – Prometo, que falaremos do assunto.

- Eu acho que me juntarei a vocês nesta viagem – a voz da avó de Pietra interrompeu a conversa do casal – Que acha Pietra, será que suporto tantos dias na proximidade com teu pai sem nos matarmos?

Todos gargalharam e o ambiente ficou leve com as brincadeiras.

Eu me aproximei da Gabi e me espantei com a atitude dela de disfarçadamente se afastar, franzi o cenho confusa e tentei nova aproximação e fui rechaçada delicadamente.

- Déia, mia madre está aqui! – ela sussurrou chateada quando em meio a conversa coloquei o braço em teu ombro.

Cerrei os dentes magoada e dei alguns passos afastando-me dela; depois disso a Glória trouxe um lanche para todos e eu tão gulosa não tive apetite.

Pietra me olhou estranhando meu silêncio atípico e eu desviei os olhos evitando ter que responder seu questionamento mudo do que eu tinha. Fui salva de suas perguntas com a chegada da Letícia; nós iríamos discutir detalhes do contrato dos projetos do vapor do vinho e o Hotel, visto que em poucos dias Lorena viria pra assinar todos os documentos de parceria.

- Gente, com licença, mas vamos trabalhar agora – Pietra sorrindo e sendo seguida pela Gabriela - vumbora Déia!

- Eu vou resolver algumas pendências no escritório, my sister. – Declinei disfarçando minha dor – Essas questões contratuais você sempre tirou de letra, sou dispensável. Beijinhos pra todos, terei que deixá-los sem minha deliciosa presença.

Sai apressada evitando tanto uma réplica da Pietra que me olhava preocupada quanto da Gabriela que abriu a boca e tornou a fechar temerosa.

Ao chegar ao carro, deitei a cabeça no volante por alguns momentos tentando deglutir a verdade por trás daquela indiferença da minha italiana na frente dos outros.

- É Dedéia, já fizestes muitas sofrer e agora parece que chegou sua vez – dialoguei comigo mesma – a única mulher que você resolveu levar a sério, tem vergonha de assumir uma relação contigo.

Liguei o carro me afastando da casa com um gosto amargo na boca como nunca havia sentido antes, enquanto uma verdade martelava em minha cabeça machucando-me:

- Ela tem vergonha de mim, será que é minha cor ou o fato de ter que assumir-se lésbica para todos? Talvez as duas coisas juntas... O fato é que a Gabi não quer que a mãe; que ninguém saiba do nosso envolvimento.

E lágrimas banharam meu rosto naquela hora e me acompanhou durante todo aquele dia...

Fim do capítulo