POV BEATRIZ

 

       Bernardo e eu escolhemos um bar na zona leste, não era o tipo de bar que eu frequentava, mas não queríamos ir pra muito longe e também não iriamos beber muito. O bar não estava tão cheio, mas os únicos lugares disponíveis eram no balcão.

 

-Bê, ficaremos até as dez ok? – Não podia chegar ao meu primeiro dia com cara de ressaca.

 

-Eu sei miga, relaxa tá. – Ele me respondeu mexendo no celular.

 

-Vai beber o que? – Chamei o barman que se aproximou.

 

-Vou de caipirinha. – Pedi duas caipirinhas e Bernardo não largava os olhos do celular.

 

-O que você tanto olha nesse celular? – Ele desviou os olhos pra mim e sorriu.

 

-Ai amiga, estou conversando com um contatinho que está por aqui. – Revirei os olhos e o barman trouxe nossos drinks .  – Ele está bem pertinho daqui, juro que não vou demorar.

 

-Ai Bernardo, você me chamou pra comemorar e vai me deixar sozinha? – Bernardo sempre fazia isso quando saiamos. – Se você demorar muito eu vou embora, você tem vinte minutos.

 

-Aah eu te amo sabia? – Ele me deu um beijo na bochecha e se levantou. – Prometo que não vou demorar.

 

        Bernardo saiu e eu suspirei, dei um gole no meu drink e fiquei pensando na vida. Eu realmente tinha muito que comemorar, eu estava muito feliz com meu novo emprego e tenho certeza de que será uma nova etapa importante na minha vida. Sorri ao lembrar o jeito espevitado de Lívia, com certeza nós duas nos daríamos super bem e eu já o qual talentosa ela é na criação de conteúdo. E por algum motivo desconhecido me veio Marcela em minha mente, o jeito que ela havia falado comido me deixou intrigada com os meus sentidos, por algum motivo inexplicável eu me senti presa ao som da sua voz. Tentei me livrar dos pensamentos e no mesmo momento um homem se aproximou de mim.

 

-Tem alguém sentado aqui? – Ele tinha um copo de uísque nas mãos e um sorriso nos lábios.

 

-Tem, quer dizer tinha. – Me enrolei um pouco e ele riu do meu jeito atrapalhado. – Mas pode ficar eu já estou indo também.

 

-Hey, calma. – Ele se virou no banco e ficou de frente a mim. – Eu também levei um bolo, como sempre.

 

-Na verdade eu estou esperando um amigo voltar, não levei bolo. – Eu sorri e ele balançou a cabeça.

 

-Ai desculpe minha falta de educação. – Ele estendeu a mão em minha direção. – Me chamo Sandro.

 

-Beatriz, muito prazer. – Ele levou minha mão aos lábios e deixou um beijo rápido.

 

-Posso te fazer companhia Beatriz? – Ele perguntou e eu balancei a cabeça que sim. – Até seu amigo voltar é claro.

 

-Pode sim, ele disse que não iria demorar. –Levei o canudo aos lábios e tomei um gole da caipirinha. – Quem sabe a pessoa que te deu bolo não apareça por ai.

 

-Ah nem crio expectativas, minha irmã vive me dando o bolo. – Sandro revirou os olhos. – Eu nem sei por que ainda tento tirar ela de casa.

 

-Entendo.

 

        Sandro e eu engatamos um papo animado, ele me contou que era advogado e tinha um escritório próximo ao centro, conversamos sobre o meu trabalho e um pouco sobre nossas famílias, quando eu vi já estava no terceiro copo de caipirinha e nada do Bernardo voltar.

 

-Está ficando tarde. – Eu disse olhando pro relógio no meu pulso. – Bernardo me paga da próxima vez.

 

-Ainda está cedo Bia, se você quiser podemos tomar um drink em outro lugar. – Sandro tinha dado umas investidas em mim, mas eu não tinha correspondido.

 

-Agradeço Sandro, mas amanhã eu acordo muito cedo. – Ele fez uma carinha de decepção.

 

-Posso te deixar em casa então. – Sandro perguntou um tanto que empolgado.

 

-Não precisa, eu pego um taxi. – Chamei o barman e pedi minha conta.

 

-Você é difícil hein. – Ele deu uma gargalhada e eu sorri junto.

 

-Só um pouco, mas é serio Sandro, não precisa se preocupar. – Tirei algumas notas da carteira e deixei em cima do balcão.

 

-Mas o seu numero de telefone eu posso ter pelo menos? – Ele não ia desistir tão fácil. – Podemos marcar um drink depois, quem sabe.

 

-Ok, você venceu. – Puxei uma caneta que estava no balcão e puxei a mão de Sandro anotando meu numero.

 

Ele ficou bem feliz e nos levantamos saindo juntos do bar, conversamos algumas outras coisas  quando senti alguém me puxar com certa força pelo braço.

 

-Bia vamos conversar? – Me virei e vi Gustavo um pouco alterado pelo álcool. – Você não me atendeu mais.

 

-Gustavo, me solte. – Fechei a cara na hora e Sandro se posicionou ao meu lado. – Já conversamos tudo o que tínhamos pra conversar.

 

-BIA, foi um deslize eu nunca quis magoar você. – dei um sorriso sarcástico.

 

-Você deve estar de brincadeira Gustavo. – Tentei puxar meu braço, mas ele me segurava forte. – Você dormiu com todas as funcionarias da sua mãe e sem contar as modelos e quer dizer que foi um deslize?

 

-Me perdoa amor, aconteceu. – Gustavo me abraçava a força e eu estava envergonhada com a cena. –Para de bancar a namorada ciumenta, vamos pra minha casa.

 

-O RAPAZ, SERÁ QUE DÁ PRA LARGAR A MOÇA? – Sandro falou alto e sabia que o clima iria pesar.

 

-E QUEM É VOCÊ BABACA? – Gustavo passou na minha frente ficando cara a cara com Sandro.

 

-Ninguém que lhe interessa, mas se você não solta-la vai ser pior pra você.  – Sandro peitou ele, e eu tentava interferir entre os dois.

 

-Ela é minha namorada e tenho direito que fazer o que eu quiser. – Novamente ele me puxou meu pulso.

 

-Ex-namorada, Gustavo. – Falei entre os dentes e ele apertava ainda mais. – Me solte antes que fique pior pra você, eu não tenho mais nada pra falar com você.

 

-EU NÃO VOU SOLTAR ATÉ VOCÊ IR PRA CASA COMIGO E ME ESCUTAR. – Um segurança notou a movimentação na porta do bar e se aproximou.

 

-Acho melhor você soltar ela, ou eu chamarei a policia. – Sandro mais uma vez interveio na conversa.

 

-Tudo bem por aqui? – O segurança grandão se aproximou. – Você arrumando tumulto aqui de novo cara? Já falei que não queria ver você aqui.

 

         Gustavo me soltou e encarou o segurança de uma forma amistosa, Sandro ficou ao meu lado e o segurança obrigou Gustavo sair dali, meu coração estava acelerado e eu estava bem envergonhada com a situação.

 

-Fica calma linda, ele já foi embora. – Sandro passou o braço pelo meu ombro e acariciou meu braço. – Agora eu vou te levar ora casa e não adianta contestar.

 

        Concordei com a cabeça e fomos em direção ao carro dele, expliquei pra ele meu endereço e fomos em silencio pelas ruas. Encostei minha cabeça no vidro e só quando ele me cutucou percebi que havíamos chegado ao meu apartamento.

 

-Me desculpa por essa situação Sandro. – Falei envergonhada. – Gustavo é um babaca.

 

-Não tem o que se desculpar, ele um idiota. – Sandro parecia ser um cara legal. – E você sabe que pode dar queixa né? E eu posso te auxiliar a fazer isso.

 

-Não quero me envolver com isso. Ele é um idiota, mas não é do mal. – Ele negou com a cabeça, mas entendeu o que eu disse. – Tem que subir muito obrigada novamente.

 

-Fica bem tá? E espero que nosso próximo drink não  tenha nenhuma confusão. – Sorri pra ele, e me despedi com um beijo no rosto.

 

-Até mais. – Sai do carro e ainda o vi acenar.

 

          Subi pro meu apartamento levemente irritada e se Gustavo acha que não irei contar pra mãe dele o que ele aprontou ele estava bem engando. Bernardo era outro que iria ouvir poucas e boas por ter me deixado sozinha.  Tomei um longo banho vesti meu pijama de cachorrinhos e deitei tentando esquecer tudo que tinha acontecido.

 

WHATSAPP ON:

 

-Ei linda, espero que esteja bem, e obrigado por me fazer companhia depois do bolo que minha irmã me deu. Boa noite e até a próxima.

Beijos, Sandro.

 

 

       Sorri com a mensagem e decidi que responderia na manhã seguinte, acabei pegando no sono rapidamente.

       Acordei com o despertador tocando sem parar e diferente dos outros dias eu levantei no primeiro toque, não quero me atrasar e quero ter tempo de caprichar na minha produção. Peguei o celular e vi algumas mensagens da minha mãe, uma mensagem de Bernardo e varias ligações perdidas de Gustavo, ignorei tudo e segui pro banheiro. Tomei um banho caprichado e fui escolher meu look do dia, optei por um blazer over, um short de alfaiataria e um scarpin, fiz uma make e deixei meus cabelos em um coque com alguns fios soltos. Sai do quarto e Bernardo estava colocando a mesa do café.

 

-Bom dia Bia, me desculpe por ontem. – Eu ainda estava irritada.

 

-Bom dia Bernardo, mas me lembre de nunca mais sair com você.

 

-Eu não fiz por querer amiga, o boy acabou insistindo pra irmos a outro lugar. – Me sentei e me servi um pouco de café.

 

-Eu não devia ter saído de casa ontem. – Comecei a contar o que tinha acontecido e Bernardo ouvia tudo com atenção.

 

-Amiga, me perdoa. – Ele veio até mim e me abraçou. – Eu não devia ter te deixado só.

 

-Já passou Bernardo, e eu conversarei com o Gustavo sobre isso. – Bernardo não gostava do meu ex e agora deve estar o odiando. – Agora eu preciso ir.

 

-Boa sorte amiga, qualquer coisa você me liga. – Mandei um beijo no ar e sai.

 

Cheguei a Cyber alguns minutos antes, e Luciana me recepcionou me entregando meu crachá e alguns panfletos sobre o estúdio agradeci e subi ao andar da presidência.

 

-Bom dia Alice. – Cumprimentei a secretaria assim que as portas do elevador se abriram.

 

-Bom dia Bia, seja bem vinda. – Ela sorriu e eu retribui o gesto. – Marcela aguarda você na sala dela, pode ir até lá.

 

       Agradeci e fui em direção a sala de Marcela, desamassei minha roupa e entrei. Ela tinha a cadeira virada para a Janela e lia algum papel que estava em sua mão.

 

-Bom dia senhora Marcela. – Falei em um tom moderado.

 

-Bom dia Senhorita Mendes. – Ela girou a cadeira e me encarou por alguns segundos. – Sente-se, vou te passar o cronograma da semana e o que você tem que fazer. Isso seria tarefa de Jaqueline, mas ela precisou viajar. – Concordei com a cabeça e ela continuou. – Hoje temos uma campanha de sapatos com uma digital influncer, ela chega daqui a pouco e sua tarefa é ajudá-la com a produção.

 

-Ok. – Peguei minha agenda e comecei a anotar, questionei as preferencias e ela me respondia sem olhar muito pra mim. –Algo mais?

 

-Quero que você acompanhe as fotos de hoje à tarde, Lívia pediu que eu te encaixasse junto a ela. – Sorri de lado e ela continuou. –No mais é só isso, passo no estúdio mais tarde pra ver o andamento de tudo.

 

-Sim senhora.

 

-Sem o senhora, só Marcela. – Pela primeira vez naquele dia ela sorriu rápido pra mim. – Agora vamos trabalhar senhorita Mendes.

 

       Concordei com a cabeça e me levantei em direção à porta, quando abri dei de cara com Sandro e ele abriu um sorrisão assim que colocou os olhos em mim.

 

-Bia, que surpresa boa. – Ele me puxou pra um abraço e eu fiquei sem jeito em retribuir. – Você é a nova modelo da Cyber?

 

-Oi Sandro, bom dia. – Me soltei do abraço e senti Marcela se levantar da cadeira. – Não sou modelo, mas vou trabalhar aqui agora.

 

-Agora eu tenho ainda mais motivos pra visitar minha irmãzinha desnaturada.

 

-Menos Sandro. – Marcela revirou os olhos enquanto analisava nossa interação. – Vocês se conhecem?

 

-Nos conhecemos ontem, quando levei mais um bolo da minha irmã linda. – Ele gargalhou e eu nunca imaginaria que os dois eram irmãos. - Fiquei esperando sua mensagem ontem sabia?

 

-Desculpe Sandro, mas eu acabei pegando no sono. – Respondi meio sem jeito ao sentir os olhos de Marcela pesar sobre mim. – Eu preciso ir agora. Com licença.

 

-Ok, mas não se esqueça de marcar aquele nosso drink. – Balancei a cabeça e me retirei de lá, mas antes ouvi Marcela perguntar o que tinha rolado entre nos dois.

 

Fim do capítulo