Dafne caminhava apressadamente pelo gramado do internato a qual morava. A lua já se fazia presente e a escuridão dominava tudo a sua volta. Em suas mãos uma pequena lanterna pra ajudá-la chegar ao seu destino, a sala da diretoria.

Mesmo tendo a brisa fria tocando sua pele, era possível sentir pequenas gotas de suor escorrendo por seu rosto. Ela estava nervosa. Engolindo seco, colocou a mão no bolso do seu casaco e puxou de lá um pequeno grampo. Era hora de colocar em prática o que havia aprendido nos tantos filmes de ação que via. Sentindo as mãos tremerem, conduziu o pequeno objeto até a fechadura da porta e depois de insistir um pouco, por fim conseguiu abrí-la. Com cuidado, para não chamar a atenção dos seguranças do colégio, adentrou a sala sentindo sua respiração acelerar. Puxou seu celular do bolso da calça quando sentiu o mesmo vibrar.

Olhando pra tela, soube através da mensagem de uma amiga, que a diretora havia acabado de entrar no pátio acompanhada de mais dois homens. Ela sabia que tinha pouco tempo. A essa hora, Jordana Albuquerque com certeza sabia da sua pequena invasão e estava indo atrás dela pra pará-la. Mas ela não ia se deixar acuar, sabia que mesmo tendo poucos minutos era capaz de concluir seu plano.

Sem mais demora, puxou a pequena escuta que carregava na bolsa e a prendeu debaixo da mesa da diretora. Em seguida, abriu o notebook da mais velha e fez o login. Tinha levado bastante tempo pra conseguir a senha, mas tudo foi por um motivo maior. Conectou o pen drive e iniciou a cópia dos dados. Enquanto o download era feito, ela revezava seu olhar entre a porta e o computador, temendo ser pega antes de terminar. Quando o download foi concluído, ela guardou o pendrive dentro da bota que usava e se apressou em sair dali. Fechou a porta e seguiu apressada até uma escada que dava aos fundos do internato. Porém, antes que alcançasse o primeiro degrau, sentiu um aperto forte em seu braço.

- Pensou mesmo que invadiria minha sala e sairia como se nada tivesse acontecido?

A voz rouca da diretora ecoava pelo corredor que antes se encontrava vazio. Aos poucos, as luzes forem se acendendo e Dafne fechou os olhos em reflexo, soltando um longo suspiro em seguida. Não sabia se respirava aliviada por ter conseguido concluir o que queria ou se prendia o ar de medo da postura imponente da diretora, que parecia querer lhe fuzilar com os olhos.

Percebendo que a garota não falaria nada, Jordana a puxou em direção a sua sala, que agora se encontrava aberta e com as luzes acesas. A diretora passou os olhos por todos os cantos daquele cômodo procurando algo que indicasse ter sido violado, mas tudo parecia exatamente igual. Soltou suas mãos do braço da jovem, que se jogou na cadeira em frente a mesa da mais velha. Jordana passou as mãos sobre o rosto, cansada.

Ainda era madrugada. Estava dormindo quando foi informada pela empresa de segurança que trabalhava pro colégio, que o mesmo havia sido invadido. Na hora temeu por suas alunas, mas quando foi informada de que uma delas era a invasora, não teve dúvidas. Sabia que era Dafne Amorim.

Levantou-se as pressas e seguiu sem titubear pra lá. Por sorte, chegou a tempo de encontrar a garota no corredor. Agora, esgotada mentalmente, pensava no que faria com a menina. Levou os olhos até o relógio sabendo que em menos de uma hora o dia amanheceria.

- Posso saber o que veio fazer em minha sala? - se sentou em sua cadeira, massageando as têmporas.

- Ah Jordana, eu...

- Eu quero a verdade, por favor. - mantinha sua voz e postura seria.

- Vim atrás do gabarito da prova de amanhã ué.

- Eu não estou acreditando - suspira - É sério que se arriscou desse jeito por causa de um gabarito?

- Me desculpe diretora Jordana. - ela sorria de canto, mantendo uma expressão cínica no rosto.

- O que faço com você Dafne? Sinceramente, não sei mais o que faço pra te colocar na linha. Cada semana é um problema diferente com você.

- Pode me expulsar daqui se quiser.

- Isso era tudo o que você queria não é? - em seus lábios, um singelo sorriso em deboche crescia - Pois saiba que você não irá ser expulsa.

A garota revirou os olhos, antes de deixar a cabeça cair pra trás na cadeira. Após uma pequena pausa, ajeitou seu corpo.

- Era melhor me mandar pra casa, diretora. Assim ficaria em paz por uns dias.

- Nem sua mãe está aguentando essa sua rebeldia sem causa.

Assim que deixou essas palavras escapar, Jordana se repreendeu mentalmente. Sabia que havia pego pesado. Estava ciente da relação complicada da jovem com sua mãe.

A garota a olhava com ódio, ela podia sentir. Tentando acabar com o clima pesado que havia se instaurado ali, se levantou e abriu a porta.

- Vá pro seu dormitório. Amanhã, ou melhor, daqui a pouco, antes de entrar pra sala de aula, quero falar com você de novo. Irei pensar com cuidado em qual será seu castigo dessa vez.

- Tanto faz - resmungou dando de ombros, antes de se levantar e sair em direção ao dormitório que dividia com outras duas meninas.

Assim que entrou em seu quarto, retirou suas botas e tratou de guardar o pen drive em uma caixa no fundo de uma gaveta. Retirou suas calça apertada e se jogou na cama. Antes de fechar os olhos, enviou uma mensagem de texto pra sua amiga, que tinha lhe avisado da chegada da diretora e em seguida, adormeceu.

Fim do capítulo