A ampla sala pintada de marfim, tinha o chão todo revestido de mármore rosa e estava bastante disputada nesse dia, na frente a professora organizava as alunas para mais uma aula de dança do ventre, o aquecimento já tinha acontecido quando Vanessa chegou já pedindo desculpa pelo atraso, ela estava lindamente vestida e irradiava alegria, a roupa azul royal chamava atenção pela beleza e se ajustava com perfeição ao corpo, o bustiê e o cinturão em veludo era todo bordado com delicadas estrelinhas além de pedrarias, e a saia bordada de duas camadas era esvoaçante com duas fendas laterais que deixavam as torneadas pernas de fora.

           Aisha, a professora sorriu em sincero carinho com a entrada da aluna.

         - Vanessinha, que bom que chegou, venha, fica aqui na frente, quero que faça uma demonstração da dança para as novatas, você poderia dançar a Dança Sagrada de Ísis comigo para começar?.

         - Claro

         A professora pediu que todas se afastassem um pouco e seguiu para pôr a música e acompanhar a aluna querida, depois foi a vez de Vanessa coreografar solo "Azez Alaya", a morena posicionou as mãos para cima e começou os movimentos de forma graciosa, todas olhavam com admiração seus movimentos precisos e aos mesmo tempo delicados, a coreografia inicial foi um sucesso, e a aula transcorreu cheia de alegria e deslumbramento, no intervalo Vanessa caminhou até sua bolsa, pegou a garrafinha com água e com as pernas cruzadas sentou no sofá para descansar um pouco, nem percebeu quando uma loira bonita sentou ao seu lado.

         - Oi, sei que deve ter escutado isso muitas vezes, mas, dança muito bem, não quer me ensinar uns passos?, eu sou muito desajeitada para esse negócio de dança do ventre.

         - Não se cobre muito, vá com calma que você aprende, se você entender os movimentos iniciais você consegue aprender os demais, vou te mostrar, segura ai a minha garrafinha. Não tem como fazer uma aula e não se apaixonar pela sua dança, seus movimentos, seu ritmo e alegria, vamos a eles?.

         Vanessa levantou sorrindo ao mesmo tempo que falou.

         - Como a Aisha falou, as mãos na Dança do Ventre marcam o espaço, o ar e a sua respiração enquanto dança, são as mãos que trazem a poesia a coreografia, presta atenção nas minhas mãos, ela vai transmitir a emoção que quero passar, a movimentação é que traz a mágica, além do fascínio, encanto e leveza para quem está assistindo. Entende o que digo?...como é teu nome mesmo?.

         - Cristina...mas, pode me chamar de Cris.

         - Então Cris, começa aprendendo a mexer as mãos, veja, elas  são como uma moldura para sua dança, seus acabamentos e finalizações são importantíssimos para trazer a beleza da dança, vem, faz comigo...

         - Que música é essa que está tocando?.

         - Maktub...que significa está escrito...vamos, levanta...hahahaha.

         Cristina levantou desajeitada, os olhos lascivos desejavam Vanessa, tinha que dar um jeito de leva-la para cama, foi naquela hora que se tornou obcecada pela beleza da morena.

         - Vanessa, você pode só explicar os movimentos iniciais?, a professora mostrou, mas, não consegui...

         - Claro presta atenção, vou explicar um a um...esse primeiro é o redondo, veja o que a minha cintura faz, não dá essa sensação de um movimento bem redondinho?.

         - Ó, se faz Vanessa, repete que vou tentar.

         Vanessa repetiu o movimento e Cristina tentou acompanhar, melhorando bastante a sua coreografia desde a primeira tentativa, vez por outra observava a morena discretamente imaginando como ela devia ser deliciosa.

         - Muito bem Cris, o próximo movimento chama Tremido, preste atenção como minha cintura dá uma tremidinha, esse passo é bem conhecido.

         - Estou entendendo, você pode virar para eu ver como a coreografia funciona atrás.

         Vanessa não percebeu o olhar lascivo e virou sem saber que Cris mordia os lábios ao ver a bunda redondinha e definida da morena, que logo virou, mas, não a tempo de perceber a excitação de Cris.

         - Esses passos que vou fazer agora chamam Batida na lateral e Básico egípcio, percebe?, são passos conhecidos, faz comigo Cris, não se envergonhe, estamos só nós duas aqui, vamos...

         Cris acompanhou perguntando em seguida.

         - Eu posso colocar as mãos na tua cintura para sentir os movimentos?.

         - Claro...

         A morena estava se preparando para o próximo passo quando a professora chamou para finalizar a aula, Aisha olhou Cristina bem dentro dos olhos e percebeu que não sabia bem porque mas não gostava naquela aluna, balançou a cabeça para afugentar o pensamento, não sem antes dizer para si "Insh'Allah, Deus queira que esteja errada", assim, voltou para a sala de aula ladeada por Vanessa, deixando Cris para traz. A última coreografia foi animada, todas estavam suadas e animadas com o ritmo árabe, antes de liberar as alunas para que tomassem banho, sorriu dizendo.

         - Assalamu Aleikon (A paz esteja convosco) e até a próxima aula.

         Aisha cruzou com Cristina sentindo um arrepio gelado passar por sua coluna, mas, a aluna fez questão de puxa-la pelo braço para dizer.

         - Estou adorando a sua escola de dança.

         - Shúkran!.

         - Não precisa agradecer...é verdade.

         - Ma'assaláme, tchau...preciso ir.

         A professora sentiu novamente um arrepio seguido do pensamento recorrente "chu sár, o que acontece que estou com um pressentimento tão ruim em relação a essa moça". Em seguida pegou o carro e saiu imediatamente da escola, precisando parar em um acostamento para vomitar.

         Vanessa seguiu para o chuveirão, tirando a roupa e expondo a nudez do corpo moreno, em seguida colocou a roupa de dança em uma sacola, guardando tudo na mochila para lavar em casa. Cris chegou em seguida, tirou a roupa rapidamente, passando a mão entre os seios sensualmente, Vanessa olhou e sem malícia nenhuma comentou.

         - Suou bastante, hein?, a dança movimenta o nosso corpo e isso é ótimo, vi que no final da aula já estava mais solta, muito bom.

         - Eu sou um pouco tímida.

         - Hahahahah. Desculpe se tiver julgando, mas, não me parece.

         - Pois sou, eu me esforço para me comunicar.

         - Fica em paz, se você diz eu acredito...

Cristina escondeu o sabonete na bolsa quando percebeu que Vanessa se encaminhou para o banho com o shampoo e o sabonete líquido em mãos, em seguida entrou rápido no chuveiro ao lado e gritou.

- Ai, droga, não acredito...

- O que foi Cris?.

- Esqueci o sabonete...droga e a água do meu box está gelada.

          Vanessa se encaminhou para o box ao lado e olhou para cima, percebendo o fio partido.

- Puxa, o fio está descascado, e os outros box estão lotados, faz assim, vem aqui no box comigo, é espaçoso...se não tiver problemas para você, também te empresto o sabonete líquido.

          Cris entrou no box e se encostou na parede fingindo vergonha, mas, ao se virar novamente sorriu meio de lado, lembrando que havia puxado o fio do chuveiro ao lado.

- Não fica tímida Cris, somos mulheres, não tem nada que você tenha que não conheço, relaxa, não precisa constrangimento.

          Vanessa afastou e deixou que a loira entrasse debaixo da ducha, ainda olhou o corpo bem feito de Cris, mas, não sentiu nada, estava pensando em Liz, tinham marcado um cinema no comecinho da tarde.

- Van, posso te chamar assim?.

- Claro...

- Você não quer dar uma volta e fazer um lanche mais tarde?.

- Ah Cris, eu agradeço, mas, já marquei um encontro com uma pessoa.

- Está namorando?.

- Ainda não, mas, quem sabe?.

- Ele é um cara de muita sorte...

- Não quero te assustar, nem precisa sair correndo desse banheiro por conta disso, mas, vou encontrar com uma menina...

- Então, era só isso que precisava saber...

          Cris empurrou Vanessa em direção a parede e tentou beija-la, a morena se esquivou e delicadamente a empurrou.

- Minha querida...você confundiu tudo por conta da dança, mas, não fica constrangida, essas coisas acontecem.

- Eu quero você Vanessa, fiquei louca desde que te vi entrando com aquela roupa de dança do ventre na sala, me dá um beijo, nem que seja o último da vida, preciso de você...

- Cris, o que é isso?, desculpa...não posso, lamento muito. Bom, acabei o banho, vou sair, pode ficar com o sabonete líquido...vamos ser amigas, tudo bem?.

         Depois que Vanessa saiu, Cris esmurrou a parede, mas, estava com tanto tesão que se tocou ali mesmo, sentindo o cheiro do sabonete, imaginando que a morena estava em seus braços.

- Ela vai ser minha, ah, se vai...

Vanessa saiu da academia e não acreditou quando viu que Liz a esperava do lado de fora, encostada na porta do carro.

- Liz...não acredito, você veio me buscar!.

- Sim querida, mas, dessa vez o assunto não é muito agradável, liga para tua mãe avisando que vai almoçar com uma amiga, precisamos conversar, é sobre a Léo...vamos deixar o cinema para outra ocasião.

- Ai céus, o que minha irmã está aprontando?.

- A coisa é muito séria, como sabe, Léo faz faculdade de Química e é muito inteligente, segue boatos na Federal que ela está produzindo uma droga sintética com uns amigos.

- Que absurdo Liz, deixa ligar para a mamãe avisando e vamos conversar sobre isso...

          E assim foi feito, as duas escolheram um restaurante de frutos do mar, escolhendo uma peixe na manteiga com legumes para almoçar.

- Van, desculpa te dar uma notícia desse tipo, eu não tinha como te esconder o que soube, e principalmente, não tinha como te preparar.

- Que é isso Liz, eu agradeço, vou ver o que posso fazer para ajudar a minha irmã.

- Tem outra coisa...

- O que?.

          Liz falou puxando uma caixa rosa e lilás de dentro da mochila, entregando para Vanessa.

- Você quer namorar comigo Van?.

         A morena recebeu a caixa e antes de responder sorriu ao ver os chocolates, assim como ursinho com um laço no pescoço e um diário.

- Que lindo Liz, estou emocionada, muito obrigada.

Vanessa deu o sorriso mais lindo que poderia dar e delicadamente deixou a mão descansar por cima da de Liz.

- Então, você aceita namorar comigo Van?.

- Aceito sim linda, claro que aceito...

        Depois do almoço seguiram até o carro e trocaram o primeiro beijo, embora gostoso Vanessa sentiu que faltava algo, mas, pensou, "quer saber?, vou me conformar com os 80% que tenho".

- Liz, desculpa, mas, preciso ir, quero resolver esse problema com a Léo, mais tarde nos falamos querida.

- Só deixo ir se me der um beijinho.

       Vanessa sorriu, deu um beijinho nos lábios de Liz, e antes de entrar em casa fechou os olhos em oração, depois respirou fundo e seguiu, reparou que os pais não estavam, encontrou apenas Léo que estava esparramada no sofá ouvindo Bob Marley com uma latinha de cerveja na mão.

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Get up, stand up: stand up for your rights!

Get up, stand up: stand up for your rights!

Get up, stand up: stand up for your rights!

Get up, stand up: don't give up the fight!

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- Léo precisamos conversar.

- O quê??, não estou te ouvindo irmã.

- Precisamos conversar.

- Não estou te escutando.

         Vanessa cansada foi até o som e desligou, voltando até onde a irmã estava.

- Léo, pelo amor de Deus Léo, o que você está fazendo da sua vida?.

- Estou tomando uma cervejinha, depois de ter passado o dia inteiro naquela faculdade horrorosa, porque, não posso?, bota o Bob para tocar, que absurdo.

- Léo, eu sei que está traficando na universidade, o que você quer?, estou te alertando, você vai acabar presa, ouviu isso??, presa!!.

- Isso, vai praguejando a irmã, vai...

- Não estou praguejando Léo, estou te mandando a real, eu sinto isso minha irmã, para de aprontar, você tem um futuro lindo, é super inteligente, não dê esse desgosto aos nossos pais.

- E quem te contou?, me fala...ah, já sei, foi aquela ridícula da Liz, e quer saber pode ficar com a piranha, sou cheia de mulheres atrás de mim.

- Nunca deveria chamar alguém assim, ainda mais alguém que já namorou, puxa Léo, você está desviando do assunto para fugir, não faz isso, eu só quero te ajudar.

- Santa Vanessa, não dou conta de você, agora que já terminou o discurso, eu vou saindo...dá licença.

         Sem nada mais a ser feito Vanessa seguiu para o quarto, puxou um livro de desenhos e buscou os lápis de cores, gostava de pintar quando queria ocupar a mente, era o desenho de uma sereia, sentada em umas pedras, depois respirou fundo, colocou Elis Regina como fundo musical e passou a colorir o desenho, não demorou Léo bateu na porta, pedindo licença.

- Mana, com licença, posso entrar?.

- Claro Léo, resolveu aceitar a minha ajuda?.

- Ai Van, queria uma opinião tua...você acha que se eu tiver uma namorada assim bem legal, que eu desisto dessa vida perigosa que levo e posso ser uma pessoa melhor?.

- Sim, um amor muda tudo...

- Irmã, você está disposta, este é o começo de tudo, então, fico feliz.

- Sabe, tem uma menina gente boa, queria leva-la só para fazer um lanche e tal, mas, o dinheiro do estágio acabou, você pode me emprestar algum?, te pago assim que puder.

- Claro, te empresto com prazer, e pague quando puder, no seu tempo...

- E se puder me emprestar aquela jaqueta jeans eu agradeço, fico com uma cara mais séria com ela.

          Vanessa sorriu desconfiada, mas, resolveu que não custava nada emprestar, mesmo sendo a sua preferida e apesar de ter juntado dinheiro para compra-la.

- Pode usar, mas, olha, cuidado, eu gosto muito dela.

- Não me preocupe mana...

         A morena sorriu novamente ao ver a irmã saindo de casa feliz, indo em direção a sua moto, Léo acenou para a janela da irmã dando um tchauzinho feliz, depois pegou o celular e ligou.

- Oi gata, consegui o dinheiro do beck.

- E quem te deu?.

- Minha irmã, eu gastei demais esse mês, não importa, estou chegando ai, seus pais já viajaram?.

- Já sim, pode vir e arrumei uma moça para a nossa festinha.

- Beleza, se arruma que estou chegando...

Fim do capítulo